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Exército sem poder de polícia: Rio vive epidemia de roubo de carga, até com 'roleta russa' de produtos

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Numa noite de 2017, por volta das 22h, o caminhoneiro Pedro, 50, dirigia pela rodovia Presidente Dutra, que liga o Rio a São Paulo. Carregava peças de automóvel quando, de repente, quatro motos se aproximaram. Duas delas se posicionaram ao lado do caminhão, e duas, atrás. Um homem apontou um fuzil para Pedro e ordenou que ele seguisse o comboio. Do contrário, atiraria.
Pedro (nome fictício) foi guiado pela rodovia e, em seguida, para dentro de uma favela. Passou por ruelas e chegou em uma clareira. “Eles me perguntaram se o caminhão tinha rastreamento”, disse, numa referência ao sistema de monitoramento via satélite que alerta quando um veículo sai da rota ou tem suas portas abertas em endereço que não o destino. “Respondi que sim. Como eles já sabem como funciona, pediram para eu sair pela janela. Nem eu sabia que, se abrisse a porta, poderia acionar um alarme.”
Pedro foi levado para “um barraco”, onde ficou sob a vigia de homens armados “por umas duas horas”, enquanto, do lado de fora, outros esvaziavam a carga de peças.
Pedro foi conduzido de volta ao caminhão e liberado para deixar a favela. “Fisicamente, não me fizeram nada, mas a cabeça fica como?”. Caminhoneiro há 30 anos, nunca havia passado por situação de violência até aquela noite. “Pensei muito em sair da profissão. Só não saio porque não sei fazer outra coisa.”
Milhares de caminhoneiros já viveram o que Pedro descreve. Em 2017, foram 10.599 casos, o equivalente a 1 roubo a cada 50 minutos —52% deles foram registrados em 11 das 138 unidades policiais.

ROUBO DE TUDO

O Rio passa por uma grave crise política e econômica e, desde meados de fevereiro, está sob intervenção federal na segurança pública. O comando das polícias e das penitenciárias está nas mãos de um general do Exército.
No estado, rouba-se de tudo, de frango a iPhones. Em alguns casos, os grupos buscam um produto específico (peça de carro, por exemplo). Em outros, atuam no estilo “roleta russa”, como diz a polícia —param qualquer caminhão e roubam o que tiver ali.
As vítimas estavam principalmente na Dutra e na avenida Brasil, nos trechos próximos aos bairros da Pavuna, o mais ao norte da capital, na divisa com a Baixada Fluminense, e Acari. A região é a que tem o maior número de roubos de carga no estado, posição que pode perder, logo mais, para São Gonçalo, na região metropolitana, que tem tido explosão desse tipo de crime nos últimos meses.
De maneira geral, no estado, rouba-se em rodovias, principalmente nos trechos margeados por favelas controladas por criminosos.
Há décadas se rouba carga na divisa do Rio com a Baixada. Cariocas lembrarão do funk “Feira de Acari”, do MC Batata, dos anos 1990: “Ele disse que na feira/ Pelo preço de um bujão/ Eu comprava a geladeira/ As panelas e o fogão/ Tudo isso tu encontra/ Numa rua logo ali/ É molinho de achar/ É lá na feira de Acari”. O mercado a céu aberto é montado nos fins de semana e vende desde pão de forma até eletrodomésticos, tudo a preço abaixo do mercado.
A região tem todas as características favoráveis a esse tipo de crime. Fica no meio ou pelo menos perto de todas as principais vias de acesso à cidade (Dutra, avenida Brasil, rodovia Washington Luiz e Linha Vermelha), por onde veículos de transporte de carga têm que passar quase obrigatoriamente. Por sua localização, muitas transportadoras têm lá suas sedes.

BAIRROS VIOLENTOS

Os bairros à beira das vias (Pavuna, Acari, Costa Barros, Coelho Neto) têm alguns dos complexos de favelas mais violentos e ignorados pelo poder público. 
De um lado da linha de trem está o Complexo do Chapadão, conjunto de favelas comandado pelo Comando Vermelho; do outro, o da Pedreira, conjunto de favelas hoje comandado por uma facção rival, TCP (Terceiro Comando Puro). Em ambos não se entra sem passar por barricadas instaladas pelo tráfico.
Ainda que o problema não seja novo, os roubos de carga no estado como um todo explodiram principalmente a partir de 2014. Policiais militares atribuem o aumento principalmente a um traficante, Celso Pinheiro Pimenta, conhecido como Playboy, morto pela polícia em 2015.
Playboy era membro da facção ADA (Amigos dos Amigos) e chefiava o Complexo da Pedreira. Egresso da quadrilha de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom, que durante anos aterrorizou moradores do Rio invadindo casas para roubar, Playboy tinha a expertise do roubo.
“Com a chegada da UPP nas favelas da zona sul e algumas da zona norte, essas outras favelas, mais distantes, receberam muitos bandidos, e ficaram com uma mão de obra ociosa. O Playboy botou eles para trabalhar no roubo de carga”, diz o coronel da reserva Venâncio Moura, diretor de segurança do sindicato das empresas de carga do Rio.
Segundo a PM, a quadrilha que chefiava o complexo vizinho, o Chapadão, percebeu o lucro fácil que faziam os rivais e começou a atuar no roubo de carga também.
Hoje os ladrões não apenas estão bem armados como sabem driblar os sistemas de segurança das empresas e a legislação. Eles colocam menores de idade para render motoristas, para que não sejam presos, caso detidos, e às vezes usam armas de brinquedo, para que o roubo fique mais difícil de provar.

CRISE

avanço do roubo de carga coincidiu com o enfraquecimento das forças de segurança devido à crise política e de cofres públicos por que passa o Rio. Um exemplo: o batalhão da região da Pavuna, o 41º —historicamente o que mais registrou mortes por policiais no estado—, trabalha hoje com menos da metade da frota de viaturas que deveria. Estão quase todas quebradas. Os policiais fazem ronda a pé ou em carros mais cheios, mas o batalhão perdeu a capilaridade.
A Força Nacional começou a apoiar o patrulhamento das vias mais críticas no final do primeiro semestre. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que os números chegaram a cair, mas a tendência passou longe de ser revertida, os crimes voltaram a subir, e o ano terminou com o segundo maior número de registros. Foram 1.153 roubos de carga em dezembro, contra 1.240 em maio, o pior mês de 2017. De acordo com policiais da região, o trabalho da Força não é dispensável, mas tampouco é suficiente.
Um PM que pediu para não ser identificado disse que os homens da Força ficam muito tempo no mesmo local e trabalhando nos mesmos horários. Mas, segundo ele, a criminalidade é dinâmica, sabe onde estão e quando, por isso é preciso ser mais ágil e imprevisível para contê-los.

ECONOMIA

Na outra ponta do problema estão os receptadores das cargas roubadas, sobre os quais a polícia tem grande dificuldade de agir, pois são muito pulverizados. São desde pequenos mercados, passando por camelôs, até moradores das favelas para onde a carga é levada.
Tudo isso afeta empresários e a economia local, que já sofre com acentuada queda de arrecadação e altas taxas de desemprego. Segundo estudo da Firjan (federação das indústrias Rio), o custo desse tipo de crime em 2017 para o estado foi de R$ 607,1 milhões. 
Esse tipo de delito foi o que mais afetou as empresas industriais fluminenses em 2016: 17% do total, mais que a média nacional (7%).
Desde março de 2017, transportadoras de cargas cobram uma taxa extra para transportes com origem ou destino na capital fluminense, a Taxa Emergencial Excepcional.
Transportadoras também passaram a adotar uma série de medidas de segurança: instalar rastreadores, contratar escolta armada, distribuir a carga num número maior de caminhões para reduzir o dano caso sejam roubadas, mudar horários de transporte, trocar rotas —até se recusar a entregar em certos bairros.
Deixa-se de buscar a forma mais eficiente de transportar um produto e passa-se a buscar a forma mais segura”, diz Sérgio Duarte, vice-presidente da Firjan. “Nós, empresários, falamos muito no tal do custo Brasil. Aqui, falamos também no custo Rio.”
fonte: Folha de São Paulo

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