COBALT SURPREÊNDEU O MERCADO
Dúvida: renovar ou manter a tradição?
Henrique Lourenço Januario, colaborador da revista Monet FONTE AUTOESPORTE
Há pelo menos cinco anos convivendo com dois sedãs de entrada – primeiro um Classic e atualmente um Prisma–, finquei na cabeça a ideia de dar um passo adiante e comprar um sedã mais parrudo e espaçoso. Logo despontaram como opções os recentes lançamentos Nissan Versa e Chevrolet Cobalt.
Se fosse ignorar todos os outros critérios que entram em discussão na hora de comprar um carro, decidiria imediatamente na compra de um Cobalt. Parrudo ele é, até demais no meu gosto. O design conservador e a robustez amparados por rodas comuns contrastam muito, tirando um pouco da harmonia do conjunto. No entanto, esse tamanho todo tem uma razão e quando entrei no carro entendi isso.
Acostumado a ficar apertado no posto de condutor do Prisma, cheguei a estranhar o espaço que tinha para meu braço esquerdo, que no novo modelo fica livre, leve e solto. O descanso para os pés – e quem fica mais de uma hora parado no trânsito vai entender a importância disso – é muito confortável. Sem contar a posição dos pedais, bem mais ergonômica que no meu atual automóvel.
E o conforto se espalha por todos os outros lugares. Os passageiros contam com espaço de sobra, inclusive para o coitado que um dia andará atrás de mim (eu normalmente coloco o banco todo para trás). Esse aí não sofre nem um pouco no Cobalt.
O painel central é moderno, os comandos de fácil acesso e as cores de iluminação dos botões e do painel digital muito bem escolhidas. Ser bem acolhido e ainda com estilo, é o que todo mundo quer. E até os gadgets e bugigangas são agraciados com espaços abaixo do console, entre os bancos dianteiros e no porta-luvas iluminado. A tomada de 12v entre os bancos também é bem localizada, deixando um lugar bom para o celular enquanto tem sua bateria recarregada.
O porta-malas é outra coisa de louco. Acostumado a fazer verdadeiras mudanças mesmo em um passeio de bate e volta, não teria problemas em arrumar tudo nos 541 l de capacidade bem estruturados e sem grandes avanços internos dos espaços das rodas ou da estrutura de fechamento da tampa.
Apenas duas coisas contaram contra o Cobalt: naquela checagem geral ao entrar no carro, ao abrir e fechar porta-luvas ou o quebra-sol, entre outras coisas, ouvi um barulho estranho, como um eco metálico. Creio que seja um problema de isolamento acústico entre o forro do teto e a lataria. Outra coisa é a potência do motor, que sofreu na retomada com o ar-condicionado ligado. Na reta a coisa vai, e vai bem.
Reconheço que, mesmo sendo membro de uma família de entusiastas da Chevrolet (desde a década de 1950 meu avô não sabe o que é outra marca), estava inclinado a comprar um Nissan Versa, cujas linhas, opcionais e preço me atraem mais. Mas após esse teste, fiquei em dúvida. Nesse momento, levando em conta os prós e contras do modelo, é bem possível que continue seguindo a tradição familiar.
Superou minhas expectativas
Hairton Ponciano Voz, editor de Autoesporte
Quando vi as primeiras fotos do Cobalt, confesso que não fiquei muito empolgado. Basicamente, achei o estilo pouco inspirado – para dizer o mínimo. Mas não é que o carro me surpreendeu? Sobre o visual, continuo com minhas ressalvas. O design não me agrada. Acho que qualquer objeto – seja carro, fogão, batedeira – deve ter ao menos um detalhe que atraia. Não dá para ser bonito por inteiro? Então capriche em algum aspecto. Vasculhei oCobalt de para-choque a para-choque e não achei nada.
Este Chevrolet é um carro pragmático: a função levou a melhor sobre a forma. O objetivo era oferecer espaço para pessoas e carga, para concorrer com o Renault Logan. Ele conseguiu o feito. E – justiça seja feita –, ao menos no quesito visual, o Cobalt dá uma surra no Logan. Merecida, aliás.
Achei que as qualidades do sedã terminavam aí, mas andando o sedã revelou outras. Para começo de conversa, o carro tem bom isolamento acústico. É boa a sensação de ver a velocidade subir sem o consequente aumento do som.
Internamente, o revestimento usa plástico rígido. Deixa claro que o projeto previa um carro simples, para ser barato e vender bem. Tudo isso foi conseguido. Custando a partir de R$ 39.980, o modelo já aparece na lista dos dez mais vendidos em janeiro.
Voltando ao tema estilo, por dentro ele é bem melhor do que por fora. Lembra o que eu disse sobre ter ao menos um detalhe legal? Pois ele está no quadro de instrumentos. Ele é pequeno, mas bem resolvido. O conta-giros analógico forma um belo par com o velocímetro digital. O marcador de combustível “fecha” o círculo formado pelo conta-giros. Ficou interessante.
O câmbio tem bons engates, e me lembra bastante o do meu velho Astra 2002, em engates e curso de alavanca. Foi uma boa recordação. Claro que ele não anda tanto quanto o veterano Astra 2.0, mas, para um 1.4 (102 cv com etanol), o Cobalt até que vai bem. A suspensão também agrada, tanto em silêncio como em conforto e estabilidade. Os pneus 195/65 R15 são largos o suficiente para proporcionar uma boa área de contato com o solo (bom para estabilidade e segurança nas frenagens).
Tem, porém, um aspecto que deve ser revisto pela Chevrolet: embora as respostas sejam boas, nas saídas o Cobalt sofre um pouco, principalmente em rampas. Nessa situação, é preciso elevar a rotação do motor. Por conta disso, em situações extremas (partida em rampa, carro cheio e ar-condicionado ligado), é preciso até “queimar” um pouco de embreagem. O resultado é que a vida do conjunto platô-disco pode sofrer desgaste prematuro. Talvez uma relação mais curta da 1ª marcha pudesse amenizar o sintoma. Vamos ficar de olho nisso.
Carro “emergente”
Fiquei espantado na primeira vez que vi o Chevrolet Cobalt. E não foi pelo design, que desagradou alguns (especialmente a dianteira). Foi pelo tamanho. Um sedã “compacto” de longos 4,48 metros, com generosos 2,62 metros de entre-eixos? Vamos combinar, essas não são medidas de carro compacto. Então, em que categoria está o novo sedã da General Motors? Sejam bem-vindos ao fabuloso mundo dos carros “emergentes”.
Pois é, eles são maiores, mais espaçosos e ao mesmo tempo acessíveis, feitos para vender maiores volumes. No Brasil, esse segmento nasceu com o Renault Logan, projeto da marca romena Dacia (que pertence ao grupoRenault-Nissan) e que têm feito grande sucesso no leste europeu. Só que o Cobalt tem algo mais. Algo intrigante. Ele não é popular e espartano como o Logan, e também não é sofisticado como um sedã médio.
Na verdade, o Cobalt faz uma “ponte”. O interior é agradável e espaçoso, há itens muito interessantes, mas nada assim tão surpreendente. Pense numa receita básica de sucesso: direção hidráulica, ar-condicionado, “trio” elétrico, faróis de neblina, rodas de liga leve aro 15, computador de bordo, rádio/CD com entradas auxiliar e USB, airbags frontais e freios com ABS e EBD. Em resumo, tudo que um carro deveria trazer de fábrica.
Muito bem, agora passamos à mecânica. Dimensões avantajadas, 1.073 kg de peso na versão LTZ que está em testes no Quarentena, e… Enfim, o primeiro choque de realidade: motor 1.4 litro flex de 102 cv de potência (com etanol). Certo, não vou desdenhar, até porque sempre gostei desse bloco 1.4 da GM. No Cobalt, não é diferente, o sedã roda numa boa com ele. Só nas ladeiras o modelo sente falta de uma cavalaria maior.
Mas, convenhamos, só um motor compacto desses modernos, com sistema de injeção direta, comando variável de válvulas e turbocompressor, poderia fazer o Cobalt causar sorrisos e suspiros ao volante. E ainda assim não seria nada miraculoso! Contudo, se a ideia é circular mais na cidade e viajar um ou outro fim de semana, o motor 1.4 flex tem seus predicados. No breve contato que tive, o visor no painel marcou média de 11,2 km/l.
Aliás, o painel do Cobalt é o ponto alto na minha visão. É simples, traz apenas as informações básicas, é fácil de ler e ainda transmite modernidade, com a grande tela azulada do velocímetro e do computador de bordo – que foi inspirada nas motos. Já o interior, de modo geral, é bem a cara dos Chevrolet. Tons de pastel misturados com cinza, bancos robustos e tecidos agradáveis. O acabamento segue a trilha, é simples.
Fazendo um “resumão” desse primeiro contato, gostei do Cobalt. Em movimento, o sedã até me surpreendeu, é bastante estável e sólido, quase não entorta a carroceria nas curvas e frenagens. Mas não espere encontrar um nível extraordinário de requinte: o Cobalt é confortável, bastante espaçoso e ponto final. A farta lista de equipamentos tenta justificar os R$ 46.480 pedidos na versão top LTZ, que merecia um motor mais potente. No fim das contas, o novo Chevrolet aposta na relação custo/benefício, como o Logan.
GM de volta ao jogo
Daniel Messeder, editor de Autoesporte
Faz algum tempo que ouvimos falar da tal “nova GM”, como a marca gosta de chamar sua fase pós-crise da matriz. Mas, para o consumidor brasileiro, os efeitos dessas mudanças só começaram a ser sentidos no final do ano passado, no lançamento do Cruze. Enfim, chegava um Chevrolet em sintonia com o restante do mundo, um carro moderno, bem construído, bom de dirigir e capaz de fazer frente aos orientais que hoje dominam o segmento de sedãs médios.
Quando vi o Cobalt pela primeira vez, confesso que senti receio. Com essa cara de Agile, seria ele um GM da eraAgile ou da era Cruze? Pois felizmente minha preocupação foi apagada assim que dirigi o carro pela primeira vez, ainda no Campo de Provas da GM, em Indaiatuba. Fruto de uma nova plataforma, a GSV (Global Small Vehicle), o sedã não tem nada a ver com Agile (que usa a base do velho Corsa de 1994), exceto pelo motor 1.4 flex e pela dianteira com visual parecido. Aliás, achei desnecessária essa aproximação visual com o hatch, já que os dois estão longe de serem irmãos. Na própria apresentação do Cobalt, o designer Carlos Barba mostrou desenhos bem mais interessantes, ainda na fase de projeto, do que a versão final. Vai entender a escolha…
Mas a praia do Cobalt não é emocionar. Ele é um sedã racional, que nasceu para fazer tudo certinho e agradar às famílias de classe média. E nisso ele manda bem. Com, 4,479 m de comprimento por 1,735 m de largura, o novo sedã oferece maior volume interno que o falecido Vectra e o moderno Cruze. E quem garante isso é a própria GM. Além de espaçoso, o Cobalt ainda se candidata a ter o maior porta-malas do Brasil, com 541 litros aferidos por AE.
Se os passageiros dispõem de espaço, o motorista é cercado por um painel agradável e de bom acabamento. Gostei do tato das peças plásticas, dos apliques na cor cinza escuro e do ótimo volante de três raios herdado do Cruze. A posição de dirigir é boa, bem melhor que a do Agile (com seu volante torto), mas achei o banco um pouco alto mesmo na posição mais baixa. Outra falha de ergonomia aparece nos comandos dos vidros elétricos, que ficam recuados na porta. Mas isso é detalhe. No geral, o interior do Cobalt é bastante interessante, com destaque para o quadro de instrumentos que lembra o de uma moto esportiva (herdado do Sonic norte-americano).
Rodando pelas ruas de São Paulo, confirmei as boas impressões que tive a bordo do carro na pista fechada. OCobalt é muito confortável. Os comandos são leves, a suspensão é macia e o interior fica extremamente bem isolado – o silêncio impressiona. O câmbio recebeu novo seletor de engate em relação ao Agile, e o resultado são mudanças bem mais suaves. Já o motor 1.4 (102 cv e 13,0 kgfm) agrada na cidade, só com o motorista, mas tenho minhas dúvidas quanto ao desempenho na estrada, com a família a bordo e porta-malas cheio. Quanto ao comportamento, não desconfie da maciez do sedã. Com bitolas largas e pneus 195/65 R15, o Cobalt viaja bem postado ao chão e faz mais curva do que você pode supor.
Chevrolet Cobalt chega para 40 dias de avaliação
Palpite certeiro da maioria dos quarentenados: o Cobalt é o novo avaliado do blog. Recém-chegado ao mercado, ele tem atingido boas vendas: foram 2.762 unidades somente na primeira quinzena de janeiro – em seu segmento, só perdeu para Chevrolet Corsa Sedan (4.514) e VW Voyage (3.176). Isso significa que a meta de alcançar 3.500 unidades/ mês deve ser cumprida com facilidade.
O grande apelo da novidade da não está na forma, mas na função. E o espaço é o grande trunfo que a Chevrolet pretende trabalhar para conquistar consumidores – para se ter uma ideia, o porta-malas é o maior da categoria e comporta 541 litros (aferidos por Autoesporte). O preço também parte de um patamar interessante. A versão básica, LS, custa R$ 39.980; a intermediária (LT), R$ 43.780, e a topo de linha (LTZ) sai por R$ 46.480. A última é a que estacionou por aqui. A pintura azul metálica soma R$ 903 ao seu preço.
“Nosso” Cobalt vem com computador de bordo, som double din, faróis de neblina e maçanetas internas cromadas. Sistema de freios com ABS e EBD, ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas também estão presentes, assim como o banco traseiro bipartido (40/ 60).
O sedã tem motor 1.4 de 102 cv e 13 kgfm e deve ganhar versão 1.8 8V no segundo trimestre – será o antigo propulsor do Corsa rebatizado de Econo.Flex. Confira os números de teste do Cobalt logo abaixo e escreva o que você gostaria de saber sobre o modelo.
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