02/02/2012
às 14:31 \ Tema LivreMulheres ricas não estão gostando do programa “Mulheres Ricas”
Amigos, segue reportagem de capa de VEJA SÃO PAULO desta semana – publicação que acompanha a edição principal de VEJA em boa parte do Estado de São Paulo, mas não circula em outros Estados, com personalidades da elite criticando o reality show Mulheres Ricas, da Band. A reportagem é de Daniel Bergamasco, com colaboração deRicky Hiraoka. O título original vai abaixo, em negrito.
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O champanhe esquentou
Em meio a joias, aviões, caviar e bom ibope, o reality show Mulheres Ricas é fuzilado por representantes do universo que se propõe a retratar
Cena 1: em seu escritório, nos Jardins, a arquiteta Brunete Fraccaroli diz a um funcionário: “Você pede para trazer uma água para a Sissi?”, servindo a bebida em uma taça de vidro à sua cadelinha da raça maltês.
Cena 2: em viagem a Buenos Aires, a socialite Val Marchiori faz cara de nojo diante de um típico prato de chorizo: “Não vou comer linguiça. Coisa de pobre!”.
Cena 3: a mesma Val, agora no Rio de Janeiro, observa a vista de Copacabana pela janela e insiste que adoraria “jogar Dom Pérignon no povo”, enquanto aponta a garrafa do champanhe para a rua.
Cena 4: a joalheira Lydia Sayeg conta que toma banho com água mineral e celebra: “Eu nasci em berço de ouro, literalmente. Ser rico é maravilhoso! É uma bênção!”.
Sucesso de repercussão na internet e dono de bom ibope para os padrões da Band, com picos de 8 pontos, o reality show Mulheres Ricasse propõe a retratar um mundo repleto dessas extravagâncias, em que seria normal bebericar espumantes o dia inteiro ou trocar de avião em uma simples tardinha de compras.
Em suma, é uma peça em formato pretensamente documental sobre a vida dessas assim chamadas milionárias de São Paulo, onde vivem quatro das cinco participantes. Não faltam, para isso, situações ambientadas em restaurantes estrelados e ruas cheias de grifes, como a Oscar Freire.
É tudo teatro, com o mais deslavado exibicionismo das tais “ricas”. Não por acaso, é das esquinas de nossos bairros nobres que partem as críticas mais ferozes às estrelas da atração, em especial pelas cenas de ostentação desmedida.
Uma das primeiras a se manifestar sobre o tema foi a consultora de etiqueta Claudia Matarazzo, cerimonialista do Palácio dos Bandeirantes.
Com um artigo em seu blog, hospedado em VEJA SÃO PAULO, intitulado Ricas? Não sei onde, ela disparou: “Sinto-me ultrajada como espectadora, como mulher e como mulher rica. Sim, pois em um país como o nosso alguém que tem casa e carro próprios, um emprego em que ganha o suficiente para pagar as contas, viajar com a família uma vez por ano e comer fora de vez em quando pode ser considerado rico”.
Em outro trecho, resumiu: “Esse festival de mau gosto, com aviões particulares e grifes manjadas, é coisa de gente sem imaginação, pobre de espírito e ignorante”.
A empresária Maricy Trussardi, cujo tradicionalíssimo clã inclui dez filhos, 27 netos e vinte bisnetos, afirma ter opinião semelhante à da blogueira. Para ela, as cenas exibidas “celebram o ter e não o ser” e representam “um adultério à vida”, com influência “possivelmente nefasta para garotas que só pensam em se casar com homem rico”.
Dona Maricy, como é chamada, legítima representante da mais tradicional sociedade paulista, pergunta indignada: “O objetivo é mostrar que as mulheres são vazias, ocas?”. Ela conta que se surpreendeu com as declarações de Val Marchiori. Em 2010, recorda, a moça era repórter do Programa Amaury Jr., da RedeTV!, e a entrevistou na creche Nossa Senhora da Conceição Aparecida, fundada pela matriarca.
“Ela havia se mostrado educada, gentil. Durante muitas semanas doou toda a carne que as crianças consumiam”, relata. (A caridade foi encerrada há alguns meses, quando Val se separou do bilionário dono do frigorífico Big Frango.)
- No reality show, porém, Val passa longe da filantropia. Aparece sempre mergulhada em compras e é a que mais fala mal das, digamos, colegas. Dona Maricy lamenta. “Não é bonito fazer pouco do helicóptero do outro”, exemplifica, sobre o episódio em que a loira chama de “apertadinho” o interior da aeronave de um amigo de Narcisa Tamborindeguy, a carioca da trupe.
Na ocasião, a famosa moradora de Copacabana, conhecida pelo bordão “Ai, que loucura!”, retribuiu o desaforo à sua maneira: ordenou que o piloto fizesse manobras de gelar a espinha, para desespero da convidada.
As bizarrices são tantas que a pilhadíssima Narcisa, figura folclórica da aristocracia fluminense, acaba por vezes ofuscada pelas demais participantes – menos pela ex-sem-terra Débora Rodrigues, que leva uma vida mais comum e se tornou uma espécie de café com leite do grupo.
Nos corredores da São Paulo Fashion Week, na semana passada, a novidade televisiva era um dos principais assuntos. “Soube que a mulher do frango está causando”, comentava Donata Meirelles, casada com o publicitário Nizan Guanaes.
Brunete Fraccaroli não fica muito atrás no ranking das ultrajadas. No episódio mais recente do programa, que vai ao ar às 22h15 de segunda-feira [já foi ao ar], enalteceu as maravilhas de consumir champanhe enquanto faz compras e, com grande refinamento, chegou a virar a bebida no gargalo, numa das inúmeras sequências movidas a álcool que chegam a lembrar os episódios mais edificantes do Big Brother Brasil.
“A impressão que fica é que o rico acorda tarde, não se preocupa em trabalhar e bebe o tempo inteiro”, diz a empresária Sandra Bork, uma das que se surpreenderam com as cenas protagonizadas por Brunete, tida como trabalhadora incansável na vida real. “Da forma como é feito, sem mostrar esse outro lado, o programa vira uma bobagem”, conclui.
Na conta de Lydia Sayeg, os instantes de gastança explícita nem são o que há de pior.
Seu apego fervoroso por armas de fogo é o que mais repercute. “Me assusta ver a Lydia falando de forma tão simplista sobre matar”, diz a arquiteta Fernanda Marques, a respeito das vezes em que a joalheira grita “que delícia!” ao imaginar que está abatendo um bandido em aulas de tiro, nas quais ressalta que é “neurótica por segurança” ao mesmo tempo que expõe seu patrimônio e conta que gosta de alugar uma Ferrari para o marido dar uma voltinha.
“A caricatura que se faz dos paulistanos é uma grande distorção”, aponta Fernanda. “Sou amiga de mulheres extremamente ricas, que vivem de forma discreta, e não alardeando suas posses”, complementa Kika Rivetti, que comanda a grife francesa Longchamp na cidade – e, por bom-senso, vetou a utilização de sua loja no Shopping Cidade Jardim como locação de um capítulo.
Na visão de Kika, como na de quase todas as entrevistadas para esta reportagem, o reality show beira a baixaria. “Achei tudo muito vulgar”, sintetiza ela. Não por acaso,Mulheres Ricas teve sua pior audiência até agora (3,3 pontos de média, ante 5, no melhor desempenho) ao concorrer com a noite do BBBem que um confinado foi expulso sob suspeita de abusar sexualmente de outra participante sob o edredom. Chama atenção o fato de o público do
programa da Band ser para lá de “qualificado” financeiramente: registra 51,7% de seus espectadores da Grande São Paulo nas classes A e B, em comparação com os 39,3% da média da emissora.
Por outro lado, ele é praticamente ignorado pelas classes D e E, que somam 2% do bolo, enquanto a fatia desse segmento na audiência geral da casa é de 13,6%.
Para a cronista Danuza Leão, a coincidência entre a fração que mais assiste às aventuras de Val e sua turma e a que mais as rejeita não acontece por acaso. “As mulheres que se incomodam são as que, de alguma forma, se enxergam no que é exibido”, acredita Danuza, que diz ter visto alguns trechos no YouTube após ouvir sua cabeleireira falar longamente sobre o tema, mas logo perdido o interesse.
Na imprensa internacional, o fenômeno é levado a sério, tomado como símbolo de um país que já soma cerca de 145 000 milionários, quase 30 000 deles na capital paulista. A lista de veículos que procuraram as participantes e a Band, aliás, vai do jornal The New York Times à emissora árabe Al Jazira.
A boa repercussão era esperada pela Band, que transmite o último dos dez episódios no dia 5 de março.
Nos Estados Unidos, onde foi criada sob otítulo The Real Housewives (“As verdadeiras donas de casa”), a série também registra bons índices e é ainda mais controversa, a ponto de ter exibido uma sequência de brigas de um casal participante mesmo sabendo que o marido havia se suicidado após o término das gravações. Na edição brasileira, os conflitos estão na troca de veneno entre o elenco.
Um dia desses, Narcisa declarou que prefere receber mendigos em seu apartamento a ter Val Marchiori por lá. As rusgas, contudo, não deverão impedir a segunda temporada de ir ao ar.
As cinco protagonistas já começam a ser sondadas e, perguntadas, afirmam que “talvez” repitam a experiência. Entre os senões está justamente o paredão a que ficam expostas. Sobre as críticas feitas pela elite paulistana, aliás, as respostas estão na ponta da língua. Val: “Hello, nem dou bola”. Brunete: “Será que essas mulheres não se irritaram porque a carapuça serviu?”.
Narcisa: “Eu entendo a preocupação das ricas tradicionais paulistanas, também fico bastante constrangida ao ver como agem as outras participantes”.
Tomatômetro
As campeãs de rejeição (e também de repercussão)
Val Marchiori, socialite
É a que mais incomoda, pela ostentação despudorada. “Para mim, é como comprar uma blusa, sabe?”, diz, ao negociar a aquisição de um avião novo
Comentário: “A maioria dos meus amigos tem avião, e nenhum fala assim. Quem tem muito dinheiro sabe dar valor às coisas”. Kika Rivetti, responsável pelas lojas da grife Longchamp na cidade, casada com Paulo Rivetti, que atua no ramo aeronáutico
Brunete Fraccaroli , arquiteta
Frequentemente vestida de cor-de-rosa, adotou o apelido de Barbie, boneca com a qual se identifica por ser “autossuficiente e frágil ao mesmo tempo”
Comentário: “Como disse o José Simão, ela pensa que tem 15 anos. Deve ser por isso que se veste como debutante”. Fernanda Marques, arquiteta
Lydia Sayeg, joalheira
A dona da Casa Leão protagoniza cenas de compulsão de consumo, nas quais profere em lojas frases como: “Esta malha aqui eu quero. Não sei para quê, mas eu quero”
Comentário: “Rico pode até gastar muito, mas não sai contando”. Kika Rivetti
Narcisa Tamborindeguy, socialite
A carioca exibe o prédio onde mora, os lugares que frequenta e as compras que faz
Comentário: “Deve ser verdade que flash vicia, para que elas se exponham assim num país com tanta insegurança”. Sandra Bork, dona das lojas de design Montenapoleone e Kartell
Débora Rodrigues, piloto de Fórmula Truck
É a que menos provoca comentários. Irrita alguns por abrir demais o cotidiano da casa, como a relação com o filho de 23 anos que não trabalha e não estuda
Comentário: “A elite não expõe a família. Ao contrário, foge disso”. Claudia Matarazzo
Hello, rainha!
Versões impressas e on-line de ao menos três veículos da Inglaterra publicaram reportagens sobre o programa
Faz paralelo entre o show e o aumento de milionários no Brasil
Analisa as pérolas do inglês peculiar de Val, como “My Godji”
Daily Mailfonte revista veja
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