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A escritora Mayra Dias Gomes, 25 anos, filha do dramaturgo Dias Gomes – um dos mais populares autores teatrais e de novelas do país decreve sobre o abuso sexual que sofreu aos 15 anos

A escritora Mayra Dias Gomes (Foto: Ana Paula Negrão/Arquivo pessoal) 
A escritora Mayra Dias Gomes, 25 anos, filha do dramaturgo Dias Gomes – um dos mais populares autores teatrais e de novelas do país –, recebeu um convite da revista "Glamour" para escrever sobre o abuso sexual que sofreu aos 15. Uma das editoras da revista era amiga de Mayra nessa idade e já conhecia sua história, cuja descrição foi publicada no site nesta terça-feira (6)
Em entrevista ao G1, ela conta por que quebrou o silêncio dez anos depois do estupro. "Decidi que iria enfrentar meu medo, e mostrar para mim mesma que superei o ocorrido". Mayra, que mora em Los Angeles e é casada com o ator e cantor Coyote Shivers há quatro anos, diz que seu marido foi compreensivo quanto ao ocorrido. "Ele sempre me assegurou de que não havia sido minha culpa. Agora ele está muito orgulhoso da minha iniciativa de falar publicamente", conta.
Autora de "Fugalaça" (2007) e "Mil e uma noites de silêncio" (2012), ela afirma que sua mãe, a atriz Bernadeth Lyzio, a incentivou a escrever sobre o assunto. "Senti que havia deixado muitos fantasmas no papel. Foi quando encontrei meu propósito, que é escrever". Mayra diz que a repercussão de seu depoimento a levou a pensar "em como levar isso adiante, e usar minha experiência para ajudar outras pessoas". Abaixo, leia a entrevista na íntegra:
Mayra Dias Gomes, autora de 'Fugalaça' (Foto: Ana Paula Negrão/Arquivo pessoal)Mayra Dias Gomes, autora de 'Fugalaça' (Foto: Ana
Paula Negrão/Arquivo pessoal)
G1  O 'Fugalaça' foi seu primeiro livro e também foi a primeira vez que você escreveu sobre o estupro, mesmo ficcionalmente. Seria ele um desabafo anterior a essa declaração?
Mayra Dias Gomes 
 Com certeza. "Fugalaça" foi uma grande catarse. Escrevi este livro aos dezesseis anos, apenas um ano depois de ter deixado a escola, durante o auge de uma depressão. Foi uma época muito difícil para minha família, pois o que estava acontecendo comigo afetava todos em minha casa. Eu estava muito deprimida e agressiva, e não via propósito na minha vida. Minha mãe foi quem me incentivou a escrever "Fugalaça". Depois que finalizei o livro, em apenas seis meses, senti que havia deixado muitos fantasmas no papel. Foi quando encontrei meu propósito, que é escrever.

G1  Quando você decidiu largar a escola, já sabia que queria ser escritora? Você já tinha planos?
Mayra Dias Gomes 
 Minha mãe ficou muito triste quando deixei a escola, pois minha família investiu muito na minha formação. Eu estudei em um dos melhores colégios do Rio de Janeiro e tinha planos de fazer uma faculdade nos Estados Unidos. Só que, aos quinze anos de idade, depois do ocorrido, não havia maneira de me convencer a voltar. O ambiente escolar, de repente tão hostil, já não fazia mais sentido pra mim. Minha mãe chegou a me matricular em outro colégio, mas isso durou somente alguns meses, pois eu fugia da escola todos os dias e passava o dia inteiro escondida, escrevendo. Eu sempre escrevi, desde criança. Escrevia em diários, escrevia músicas, peças, roteiros, poemas. Quando era mais nova acreditava que seria vocalista e guitarrista de uma banda de rock, mas assim que saí da escola e comecei a colocar meus sentimentos no papel, soube que este era mesmo meu destino.

G1  Você continua fazendo terapia? Como isso ajuda na sua rotina?
Mayra Dias Gomes 
 Parei de fazer terapia antes de me mudar para os Estados Unidos. Fiquei com a mesma terapeuta por cinco anos e evoluí muito emocionalmente. Posso dizer que, junto com a escrita, a terapia ajudou a salvar minha vida. Também dou créditos a minha terapeuta, que foi uma das outras pessoas que me incentivou a escrever e publicar "Fugalaça".

G1  O que a impulsionou a revelar ter sofrido abuso sexual?
Mayra Dias Gomes 
 Há dois anos, fiz uma breve revelação na coluna que tinha na "Folha de São Paulo". Só que foi uma revelação breve mesmo, e não causou tanta repercussão, pois não dei muitos detalhes. Há algum tempo que tenho tido vontade de falar abertamente sobre este assunto. Quando recebi o convite da revista "Glamour", vindo de uma das editoras que me conhecia na época da escola e sabia sobre minha história, pensei duas vezes, fiquei com muito medo. Mas decidi que dessa vez gostaria de falar ao invés de ficar em silêncio, e que iria enfrentar meu medo, e mostrar para mim mesma que superei o ocorrido. Pensei também que ser honesta e transparente pudesse ajudar a gerar um debate necessário sobre o assunto, e que talvez inspirasse outras mulheres que estão sofrendo em silêncio a quebrar o silêncio.
Decidi que dessa vez gostaria de falar ao invés de ficar em silêncio, e que iria enfrentar meu medo, e mostrar para mim mesma que superei o ocorrido"
Mayra Dias Gomes, escritora
G1  No depoimento, você diz que, se tivesse revelado antes sobre o estupro, talvez pudesse ajudar outras garotas que também passaram por isso. Como você acha que as mulheres devem lidar com a questão do abuso?
Mayra Dias Gomes 
 Esta é uma questão muito delicada, pois penso que minha decisão de não ir à polícia deveria servir de exemplo negativo para outras mulheres. Ao mesmo tempo não tenho crença no sistema judicial e carcerário brasileiro, e acredito que apesar da justiça ter o poder de fazer o que é certo, ela não tem o poder de curar feridas internas. Até hoje penso no que teria acontecido se eu tivesse tido coragem de denunciá-lo, mas não posso voltar atrás e me culpar por ter tido medo.
Na época implorei para minha mãe não denunciá-lo, pois tive muito medo de como isso iria afetar minha vida, e também a vida de pessoas ligadas a ele. Nós estudamos por muitos anos no mesmo colégio, e tínhamos muitos amigos em comum. Uma revelação dessas afetaria muitas e muitas pessoas conhecidas e eu não estava preparada para passar por isso. Na época eu ainda acreditava que era culpada pelo que havia acontecido, pois estava ficando com ele. Como disse na matéria, só passei a entender que o que havia ocorrido era de fato estupro, depois de muitos e muitos anos. É muito comum que isso aconteça com vítimas de abuso sexual, principalmente quando o abuso vem de alguém próximo, por quem você costumava ter sentimentos.

G1  Você pensa em escrever mais sobre o assunto da violência contra a mulher? Você participa de debates sobre o tema?
Mayra Dias Gomes 
 Tudo que está acontecendo agora é novidade. Eu nunca havia participado de discussão alguma sobre o assunto. Mesmo tendo a noção de que minha declaração poderia causar um debate, não imaginava que a repercussão seria tão grande. Desde que a matéria saiu, recebi muitos e-mails de mulheres e homens que foram abusados sexualmente, e hoje estou pensando em como levar isso adiante, e usar minha experiência para ajudar outras pessoas.

G1  Seu marido [Coyote Shivers] já sabia sobre essa história da sua adolescência? Se sim, o que ele pensa?
Mayra Dias Gomes 
 Logo no início do nosso namoro, contei para ele toda a história da minha adolescência. Sou uma pessoa sincera e transparente, e não tenho problemas em contar minhas histórias, sejam boas ou ruins. Ele sempre foi compreensivo, e sempre me assegurou de que não havia sido minha culpa. Agora ele está muito orgulhoso da minha iniciativa de falar publicamente, e continua me apoiando.

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ELAS

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