Em 2006, Matthew Quick tinha 30 anos e uma crise pessoal a enfrentar. Dava aulas de inglês num colégio em South Jersey, nos Estados Unidos. Os alunos o adoravam e ele tinha prestígio com a direção. Mas a rotina o consumia. Tinha outros dois problemas: o casamento com Alicia entrara numa rotina perigosa, e o velho sonho de virar escritor ficava para trás. “Decidi abandonar o trabalho para escrever um livro”, disse Quick a ÉPOCA. “Amigos e familiares achavam que eu estava louco. Como poderia me arriscar dessa forma? Vinha de uma família pragmática, e literatura não fazia parte da lista de desejos de meus pais. Contei com Alicia, que tem uma cabeça mais livre que a minha. Ela me ajudou a tentar outra vida. Até porque precisávamos salvar nosso relacionamento.” Alicia também queria ser escritora, e os dois foram viajar por Amazônia, África e, por fim, Grand Canyon. Nada de aparecer enredo para o sonhado livro.
“Não tinha ideias”, diz Quick. “Passei três anos vivendo do dinheiro de Alicia, zombado por todo mundo. A inspiração apareceu enquanto passeava pela natureza, numa tarde nublada. Divisei entre as nuvens uma linha de luz. Para nós, americanos, essa linha(silver lining) tem a ver com um provérbio: ‘Toda nuvem tem um fio prateado de luz’. Há sempre uma esperança. De repente, a história do romance me apareceu inteira.” Surgia O lado bom da vida (Silver lining’s playbook, título cuja tradução para o português poderia ser Diário das linhas prateadas ou Cartilha dos pensamentos felizes). O livro acompanha a vida de Pat Solitano, doente mental de 30 anos. Ao ganhar alta da instituição psiquiátrica, ele quer reconquistar a mulher, mas encontra Nikki, que o convida a dançar com ela e voltar a viver de verdade. “A história de Pat era a metáfora do que se passava comigo”, afirma Quick. “Eu tinha 30 anos, era tido como louco e queria mudar a vida. Nikki é a um só tempo meu amor por Alicia e pela literatura.”
Não se tratava de um livro comum, muito menos pensado para virar best-seller. “É narrado do ponto de vista de um louco, numa linguagem intrincada”, diz. “Sou exigente com o que leio e queria fazer ficção de qualidade. Só não esperava que faria tanto sucesso.”
Em 2008, Quick encontrou um agente nova-iorquino com ligações com os influentes estúdios da Weinstein Company. “Antes de o livro chegar às livrarias, ele fechou contrato para que fosse filmado em Hollywood.” O longa-metragem estreou em 2012, com enorme sucesso. Estrelado por Bradley Cooper (Pat) e Jennifer Lawrence (Tiffany), recebeu oito indicações ao Oscar e deu a estatueta de Melhor Atriz a Jennifer. Tudo isso ajudou a transformar o romance em best-seller, traduzido para 25 idiomas. Só no Brasil, vendeu 160 mil exemplares. “Os fãs do filme passaram a ler o livro”, afirma Quick. “Eles se espantaram ao descobrir como é diferente do filme.”
>> Histórias adultas para crianças e vice-versa
O sucesso trouxe tranquilidade e fortuna ao casal. Alicia Bessette publicou em 2011 seu primeiro livro, o romance A pinch of love (sem tradução para o português), e Quick consolidou a nova carreira. Aos 39 anos. A conselho de seu agente, escreveu três romances para o público adulto jovem: Sorta like a rockstar (2010), Boy 21 (2012) e Perdão, Leonard Peacock(Intrínseca, 288 páginas, R$ 24,90), que acaba de ser lançado no Brasil. Os três obviamente contam com protagonistas jovens. “Mas é só isso que os distingue dos livros adultos”, diz. “Não faço diferença entre ficção adulta e jovem adulta. Ela está só na faixa etária dos personagens. Como professor, orientei adolescentes problemáticos. Tinha muito a contar sobre isso.”
>> Leia trecho do livro Perdão, Leonard Peacock
O sucesso trouxe tranquilidade e fortuna ao casal. Alicia Bessette publicou em 2011 seu primeiro livro, o romance A pinch of love (sem tradução para o português), e Quick consolidou a nova carreira. Aos 39 anos. A conselho de seu agente, escreveu três romances para o público adulto jovem: Sorta like a rockstar (2010), Boy 21 (2012) e Perdão, Leonard Peacock(Intrínseca, 288 páginas, R$ 24,90), que acaba de ser lançado no Brasil. Os três obviamente contam com protagonistas jovens. “Mas é só isso que os distingue dos livros adultos”, diz. “Não faço diferença entre ficção adulta e jovem adulta. Ela está só na faixa etária dos personagens. Como professor, orientei adolescentes problemáticos. Tinha muito a contar sobre isso.”
>> Leia trecho do livro Perdão, Leonard Peacock
O personagem-título de Perdão, Leonard Peacock é um jovem de 18 anos que planeja matar um colega que o persegue. Quick conta o progressivo desarme e educação de Leonard. “Toda vez que ocorrem tiroteios numa escola, todos se perguntam de onde surgem esses monstros”, diz Quick. “Quis mostrar que a posse de arma gera violência e chamar a atenção para que os adolescentes sejam tratados como seres humanos. É uma história positiva.”
Quick esteve no Rio de Janeiro no fim de agosto para se encontrar com os leitores na Bienal do Livro. “Os leitores me contaram experiências de loucura e violência nas escolas”, afirma. Nesta semana, inicia a turnê de divulgação pelos Estados Unidos. No último fim de semana, o romance foi recomendado pelo jornal The New York Times. Quick é considerado pelos críticos um autor raro, por hamonizar talento narrativo com a capacidade de atrair milhões de leitores.
Ele mesmo não se identifica com o modelo “autor de sucesso”. “Não faço concessões. Meu compromisso é com a verdade do que escrevo. O segredo do sucesso é conseguir contratos com o cinema, não agradar ao público”. Em fevereiro, ele lançará seu segundo romance adulto, que sairá no Brasil na mesma época. Quick já assinou contrato de adaptação para o cinema com o estúdio DreamWorks. O livro conta as aventuras de Bartholomew Neill, de 38 anos, um homem com problemas mentais. Ao perder a mãe, não sabe como agir. No fim da vida, a mãe, demente, chamava-o de Richard. Remexendo na gaveta de roupas íntimas dela, Neill acha uma carta dirigida ao ator Richard Gere. Neill então passa a escrever cartas a Gere, como se o ator mantivesse uma conexão cósmica com seu passado. “Sou atraído por figuras desajustadas”, diz Quick. “Elas trazem uma versão diferente e iluminadora do mundo. É isto que desejo: mostrar aos leitores que a realidade, como a ficção, nunca deve ser banal.”
Quick esteve no Rio de Janeiro no fim de agosto para se encontrar com os leitores na Bienal do Livro. “Os leitores me contaram experiências de loucura e violência nas escolas”, afirma. Nesta semana, inicia a turnê de divulgação pelos Estados Unidos. No último fim de semana, o romance foi recomendado pelo jornal The New York Times. Quick é considerado pelos críticos um autor raro, por hamonizar talento narrativo com a capacidade de atrair milhões de leitores.
Ele mesmo não se identifica com o modelo “autor de sucesso”. “Não faço concessões. Meu compromisso é com a verdade do que escrevo. O segredo do sucesso é conseguir contratos com o cinema, não agradar ao público”. Em fevereiro, ele lançará seu segundo romance adulto, que sairá no Brasil na mesma época. Quick já assinou contrato de adaptação para o cinema com o estúdio DreamWorks. O livro conta as aventuras de Bartholomew Neill, de 38 anos, um homem com problemas mentais. Ao perder a mãe, não sabe como agir. No fim da vida, a mãe, demente, chamava-o de Richard. Remexendo na gaveta de roupas íntimas dela, Neill acha uma carta dirigida ao ator Richard Gere. Neill então passa a escrever cartas a Gere, como se o ator mantivesse uma conexão cósmica com seu passado. “Sou atraído por figuras desajustadas”, diz Quick. “Elas trazem uma versão diferente e iluminadora do mundo. É isto que desejo: mostrar aos leitores que a realidade, como a ficção, nunca deve ser banal.”
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