Segundo novo estudo, uma em 560 iranianas fez uma cirurgia cosmética do nariz em 2011. No ano seguinte, uma em 1.250 estadunidenses passaram pelo mesmo procedimento. Os melhores cirurgiões plásticos, 3 mil no total, operam em Teerã. Uma plástica do nariz pode custar entre 800 e 8 mil dólares. A moda criou outra moda: aquelas sem meios para uma rinoplastia cobrem os narizes com gessos nasais vendidos em loja.
De qualquer forma, falar de plástica não é tabu. Ao contrário. É para quem pode ou quem sonha, visto que o salário mínimo é de 134 dólares por mês. Estamos no espaçoso apartamento de Leila ao norte de Teerã, onde uma terceira irmã, Mahbubeh, também ela empresária, 26 anos, fez uma operação para deixar o nariz mais arrebitado. “Era muito chato.” Ela se sente melhor? “Não fez muita diferença”, rebate. Leila discorda. Sim, ao contrário das irmãs teve de tomar anestesia geral. Leva três meses para tirar os pontos. Às vezes o nariz incha e injeções são necessárias.
Em alguns casos, diz o doutor Kamran Khazeni, os pacientes emitem sons nasais. Felizmente, os iranianos falam o farsi, língua sem vogais nasais. Mesmo assim, há certos termos que podem sofrer alterações. Leila, que como Saqar achava a parte superior de seu nariz saliente, diz: “Fundamental é que a operação não afete a respiração. E o nariz tem de ficar simétrico, é claro”. Pergunto a Saqar se ela está sentada em uma poltrona que a deixa levemente de perfil para mostrar o nariz. Sorriso nos lábios, ela diz: “Agora, atravesso a rua sem problemas e sempre que posso mostro meu perfil”.
As três irmãs estão à vontade com um estrangeiro. Apenas Mahbubeh é muçulmana praticante. Reza, como manda o xiismo, três vezes ao dia. Classe social à parte, as iranianas são independentes. Sentam no Parlamento, trabalham, votam, têm conta bancária e dirigem. Quanto ao divórcio, elas precisam ter o aval do marido, inclusive para a custódia dos filhos. Cerca de 60% dos acadêmicos são mulheres. A lei islâmica, a sharia, pode ser, porém, inflexível: uma adúltera pode ser apedrejada até a morte, mesmo se tiver sido violada. Elas podem se casar a partir dos 13 anos, o que talvez explique o elevado número de divórcios. Minhas três interlocutoras são divorciadas.
Seus hijabs coloridos não escondem franjas brilhantes, uma proibição da “polícia moral”, esta formada por voluntários encarregados de verificar se as roupas das mulheres correspondem ao código de vestimentas da lei islâmica. Na verdade, o hijab virou um acessório de moda. E o presidente Hassan Rohani, eleito em junho de 2013, pretende esfriar o poder da “polícia moral”, que “antagoniza nossa sociedade”. O plano de Rohani tem criado, no entanto, confusão entre jovens e voluntários. Mulheres são detidas por horas e depois soltas sem nenhuma explicação. Uma colega estadunidense foi presa em uma sala com outras moças que haviam desrespeitado regras. Ao ser solta recebeu um abraço de uma voluntária vestida com um chador. A jornalista detectou o cabelo tingido da voluntária da “polícia moral”.
Mitra, de 44 anos, me recebe ao lado de seu marido. Também ela, como Mahbubeh, optou por um nariz arrebitado. O marido, Reza, de 52 anos, observa: “No começo eu era contra, mas ela ia fazer uma cirurgia de sinusite a aproveitou para fazer rinoplastia”. Reza, olhos fixos na mulher, acrescenta: “Ela ficou ainda mais bonita”. Mitra, embaraçada, desvia o assunto. “Eu queria me livrar da sinusite, mas meu nariz era saliente na parte superior.” Mitra conta que a acharam meio idosa para a cirurgia, visto que a média varia de 18 a 45 anos. “Não entendo o motivo. Quanto mais velha eu ficar mais plásticas farei.”
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