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‘Porta dos Céus’: a internet ri com o humor evangélico


Em uma sala, Xuxa se encontra com Edir Macedo. Os dois discutem os pormenores do contrato que levou a apresentadora, por quase trinta anos uma das maiores estrelas da concorrente Globo, à Rede Record. "Irmã Maria, agora vai começar uma nova fase na sua vida. Você tem tudo para colher bons frutos. Você ficou muito tempo na Globo, a emissora do capeta, do cão purinho", diz o pastor com cara de rabino, uma clara alusão à adoção de símbolos judaicos pelo bispo-chefe da Igreja Universal. Dos itens da negociação entre Macedo e Maria das Graças Meneghel, aqui vestida de Paquita, constam a mudança em letras de canções e a proibição de que suas músicas sejam tocadas ao contrário - o que, reza uma lenda, faria com que invocassem o coisa-ruim. "Demônio só tem vez aqui quando a gente o chama para fazer talk-show", diz o bispo. Minissaia também está proibida: "Já basta a Sabrina com roupa vulgar". Por fim, a apresentadora é surpreendida com o seu salário, que sai por 900 000 e não pelo valor de 1 milhão de reais combinado. "É que aqui a gente retém o dízimo na fonte", diz o novo patrão. A cena faz parte de um dos esquetes do canal Desconfinados, um dos grupos de humor gospel que vêm crescendo na internet ao dobrar a resistência de religiosos ao riso e se convertendo, assim, em um universo ao paralelo ao de gigantes como o profaníssimo Porta dos Fundos.
Criado em Marília, no interior de São Paulo, o Desconfinados é gerenciado pelo advogado Jonathan Nemer, evangélico da igreja Comunidade Ágape, e pelo produtor Thiago Baldo, católico, ambos com 29 anos. Os dois amigos decidiram criar o canal para suprir uma lacuna deixada pelo humor convencional, que, ao lançar mão de chacotas por vezes apelativas, afasta o público religioso. Que o diga o Porta dos Fundos, alvo constante de evangélicos como o deputado Marco Feliciano. "Nossos esquetes não têm palavrão nem apelo sexual, são censura livre. Esse é o nosso único compromisso com a religião", diz Nemer, que garante não ter grandes tabus na hora de escolher a temática dos vídeos. "Falamos dos erros da religião, de igrejas. Queremos levar as pessoas a refletir. Nossa ideia não é fazer evangelismo, é abrir os olhos dos cristãos. Por isso o nome, queremos tirar as pessoas de confinamentos mentais", conta.
O canal existe desde 2013, mas foi apenas no último semestre que ganhou fôlego, com o impulso das redes sociais e serviços de mensagem como o WhatsApp, que se tornaram uma ferramenta de divulgação fundamental para o estilo. "Há seis meses, a nossa audiência média mensal era de cerca de 1 milhão de visualizações. Hoje, temos 3 milhões", diz Nemer, que durante o dia advoga no escritório que dirige com o pai e nas noites e fins de semana faz o papel de humorista. No total, o canal já soma 19 milhões de views.
O número, que parece pequeno quando comparado ao de grupos como o de Fábio Porchat, é visto como uma vitória para os comediantes, especialmente por causa do público a que se destinam as piadas. "O cristão tem uma resistência com a comédia na igreja, sente como uma mistura de profano e sagrado. Existe um tabu, mas eu decidi encarar o desafio", conta o paulistano Dennys Ricardo, 39, pioneiro no stand-up comedy gospel, lançado por ele em 2009.
Temas - Idealizador do espetáculo Pecado É Não Achar Graça!, Ricardo é humorista, publicitário e pastor. Antes de arriscar a sorte no humor, ficou famoso por sermões divertidos, proferidos em igrejas, teatros, acampamentos espirituais e no templo que dirige, a Comunidade Apostólica Livre, em São Paulo. Ao contrário do canal Desconfinados, Ricardo usa o humor para conquistar novos fieis, especialmente jovens, e evita fazer anedotas com o nome de outras igrejas. "Faço piada com temas generalizados, posso até estereotipar um tipo de pessoa, sei que a carapuça vai servir, mas evito dar nomes para não fechar portas no futuro", diz. Hoje, Ricardo tem na sua agenda uma média de três shows mensais, ao cachê de 1 000 reais cada um.
As indiretas são quase uma regra dentro do estilo, uma maneira encontrada para fazer rir sem desagradar a gregos e troianos, já que o público cristão é amplo, composto de grupos maiores ou menores, com ideias e doutrinas distintas. O canal Desconfinados é um dos poucos que se propõe a conquistar cliques fora das paredes das igrejas. "O limite do humor é subjetivo. Há temas de que tratamos que não julgo ofensivos. Outros abordamos com o pé atrás, mas foram bem recebidos", conta Nemer. O humorista se vale da máxima de Jerry Seinfeld, de que judeu pode fazer piada de judeu - logo, evangélico tem autoridade para rir dos colegas de religião. "Como sou do meio cristão, posso falar com mais propriedade da religião, ao contrário de outros humoristas, que se descolam da verdade. Eu estou dentro e vejo o que acontece. A grande sacada dos nossos vídeos é fazer a pessoa se identificar e querer compartilhar nas redes sociais."
Mais cauteloso que o Desconfinados, o canal Porta Estreita - nome que faz referência a um versículo bíblico do livro de Mateus, mas também lembra o grupo que se tornou o humorístico-símbolo da internet - prefere não fazer piadas com dízimo, pastores e outras religiões ou vertentes espirituais. "Nosso foco é mostrar os erros cotidianos de um evangélico. É um canal de humor com exortação sobre o caráter", diz o fundador e diretor Gilson Munhoz Andreazzi, 51, da igreja Batista Filadélfia.
Pela curadoria restrita de temas, o canal de Andreazzi, que conta com mais de 16 milhões de visualizações desde o seu lançamento, em 2013, faz piada para convertidos. "Quando um não cristão cai no canal sem querer, ele não entende a nossa proposta. Critica dizendo que somos uma cópia mal feita do Porta dos Fundos", conta.
Redes sociais - A movimentação de fieis que tentam emplacar vídeos e espetáculos de stand-ups no meio evangélico começou entre 2009 e 2010, mas os números de acessos na internet e de contratações para espetáculos passaram a ser expressivos somente no fim de 2014.
O aumento de cristãos em redes sociais como o Facebook é um dos responsáveis pelo aumento de popularidade do estilo. "Temos um vídeo com mais de 6 milhões de visualizações no Facebook, número que ainda não conseguimos em uma única produção no YouTube", conta Nemer, do Desconfinados. Apesar de não dar retorno financeiro, a divulgação em redes sociais é responsável por encaminhar novos assinantes ao canal do grupo no YouTube, onde eles podem obter receita, além de convites para apresentações. Além de advogar e fazer vídeos de humor, Nemer anota cerca de 10 shows por mês em sua agenda em todo o Brasil . É com esses shows que ele diz ganhar de fato alguma coisa, geralmente investida de volta nos vídeos.
"Produzimos as esquetes com o nosso bolso", diz Andreazzi, do Porta Estreita. "O YouTube paga muito mal e a gente não tem suporte de um grande canal de humor, pois é difícil conseguir patrocínio para conteúdo cristão." O jeito encontrado por ele e por Nemer para seguir produzindo, enquanto a bonança não vem, é contar com a velha mãozinha de amigos, que são convidados para atuar, filmar, editar e até ajudar com figurino e locação.
Outra maneira de aliviar e fortalecer o caixa é investir no comércio de produtos, como camisetas, canecas e outros souvenires. "Também começamos a receber pedidos de apresentações em congressos, acampamentos e outros eventos cristãos, onde também conseguimos uma renda", conta o fundador do Porta Estreita, que afirma não ter um cachê fixo, mas negociar o preço de acordo com o tamanho do evento e com o valor do ingresso cobrado pelo local.
Entre os que conseguiram se estabelecer no meio e sobreviver da carreira de comediante gospel está Paulo Zamparo, 24, criador do espetáculo de stand-up Santo Riso. Há dois anos, o jovem de Itapecerica da Serra (SP), que hoje mora em Osasco e frequenta a igreja Quadrangular, abandonou a profissão de administrador de empresas para se dedicar totalmente ao humor. Além de fazer espetáculos em igrejas, Zamparo se apresenta em bares e teatros, com piadas adaptadas, mas que seguem o mesmo estilo comportado. "No começo, recebi críticas de pessoas dizendo que stand-up sem palavrão não é stand-up. Mas hoje sinto que o público está ficando cansado dos excessos de alguns humoristas e meu espetáculo é mais bem aceito, pois sou diferente", conta o ator, que também participa de pegadinhas em programas e quadros de TV como o Táxi do Gugu, na evangélica Record.
Para o futuro, o humorista, que é um dos roteiristas do Porta Estreita, pretende entrar também no mercado de vídeos na internet, mas com monólogos em vez de esquetes. "Também quero dar cursos sobre humor, passar adiante o conhecimento que tenho", conta. Dennys Ricardo, do espetáculo Pecado É Não Achar Graça!, tem planos parecidos. "Estou negociando com uma produtora para fazermos vídeos com esquetes", diz. "Sou o pioneiro do stand-up no Brasil, mas, se eu bobear, com o mercado aquecido, ficarei para trás."

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ELAS

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