"O Pan é uma miniolimpíada." A frase do
nadador Thiago Pereira, estrela da equipe de natação do Brasil que
disputará os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, a partir desta
semana, não deixa dúvidas sobre a importância do evento. Neste ano, a
afirmação é especialmente correta. Aos 42° de latitude norte, na
exuberância do verão canadense e às margens do Lago Ontário, muitos dos
601 brasileiros que participarão das provas terão a cabeça voltada para o
sul. Faltando pouco mais de um ano para a abertura da Olimpíada do Rio
de Janeiro, em 5 de agosto de 2016, o Pan servirá como um teste de fogo
para os atletas que passaram anos treinando e recebendo investimentos
inéditos com o único objetivo de conquistar um resultado histórico na
capital carioca. Para eles, é preciso sair do Canadá com ainda mais
força e motivação. E nada é melhor para isso do que uma ou mais medalhas
no peito.
A delegação brasileira que luta pelos
degraus mais altos do pódio em Toronto só não é maior do que aquela
disputou os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007 (confira
quadro). O objetivo do Time Brasil está muito bem traçado: ficar entre
os três países com mais medalhas. Na última edição do Pan, em
Guadalajara-2011, o País já conseguiu o feito – garantiu a segunda
posição pelo critério de número total de premiações (141) e a terceira
considerando apenas as medalhas de ouro (48). Igualar esse resultado
será um desafio particularmente complicado porque um dos concorrentes
diretos está muito motivado. “O Canadá, por competir em casa e por
querer sediar uma Olimpíada em breve, vem com tudo”, diz o
superintendente executivo de esportes do Comitê Olímpico do Brasil
(COB), Marcus Vinicius Freire. Ao mesmo tempo, o dirigente salienta que a
posição no quadro de medalhas não deve servir para criar expectativas
sobre o desempenho brasileiro na Olimpíada. No Pan, são 42 nações
participantes. Nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, foram 204.
Ao contrário do que ocorreu em Pans
anteriores, a competição em Toronto não é tão importante para o Brasil
no que diz respeito à conquista de vagas para os Jogos Olímpicos.
MISTER PAN
No Canadá, o nadador Thiago Pereira pode se tornar o atleta com
mais medalhas na história dos Jogos Pan-Americanos
Por
sediar o evento em 2016, o País já tem a ampla maioria das posições
garantida. A exceção fica por conta da equipe masculina de hóquei sobre a
grama, que precisa desesperadamente de um bom resultado para atingir os
critérios mínimos exigidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Enquanto isso, as seleções brasileiras de basquete estão no fio da
navalha por outra razão: o calote de R$ 2,17 milhões que a Confederação
Brasileira de Basquete (CBB) deu na federação internacional da
modalidade (Fiba). A quantia representa parte do valor cobrado pela
entidade pelo “convite” para que o Brasil participasse do Mundial
Masculino de 2014, para o qual o time nacional não tinha se
classificado. CBB e Fiba prometem se reunir em Toronto no dia 10 de
julho para tentar chegar a um acordo.
A relativa tranquilidade com as vagas para
os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro significa que alguns atletas
estrelados puderam se dar o luxo de abrir mão do Pan para priorizar
competições em que a concorrência é mais forte. O nadador Cesar Cielo
foi um dos que preferiram se poupar com vistas ao Campeonato Mundial de
Esportes Aquáticos, em Kazan, na Rússia, que será disputado entre os
dias 24 de julho e 9 agosto. Já a Confederação Brasileira de Judô (CBJ)
diz que preferiu não convocar Sarah Menezes para o Pan de Toronto, de
olho no Campeonato Mundial de Astana, Cazaquistão, entre 24 e 30 de
agosto. A seleção brasileira de vôlei masculino vai com um “time C” –
nem mesmo o técnico Bernardinho estará presente – porque disputa as
fases decisivas da Liga Mundial. Já o time de basquete masculino não
contará com as estrelas da NBA. “Os critérios para definir quem vai ou
não foram discutidos conjuntamente pelo COB e pelas confederações”, diz
Freire. “Além de ser ano de Pan, 2015 é ano de mundiais muito
importantes.”
Essas ausências não tiram a relevância dos
Jogos Pan-Americanos nem reduzem a motivação dos atletas brasileiros que
estarão no Canadá. “O Pan é a principal competição do ano para a nossa
equipe e estamos focados para fazer história”, diz Gustavo Grummy
Guimarães, um dos destaques da seleção brasileira de polo aquático, que
acaba de conquistar a medalha de bronze na Super Liga Mundial, na
Itália. O time derrotou a campeã olímpica Croácia no torneio e agora
carrega o peso de ser um dos favoritos ao ouro em Toronto. Logo na
primeira partida, no dia 7 de julho – antes mesmo da abertura oficial
dos Jogos, no dia 10 – o Brasil enfrenta o Canadá.
Para Thiago Pereira, o impulso vem da busca
por um recorde pessoal. O nadador quer se tornar o atleta com o maior
número de medalhas em Pan-Americanos em toda a história, superando o
ex-ginasta cubano Eric López, que tem 22 (18 de ouro, 3 de prata e 1 de
bronze). Thiago acumula 18 premiações (12 ouros, 3 pratas e 3 bronzes) e
precisa “medalhar” em cinco das sete provas que deverá disputar. “Seria
a concretização de um objetivo pessoal, além de um feito histórico e
importante para o Brasil”, diz. Mesmo se conquistar apenas duas
medalhas, Thiago já superará a estrela das piscinas Gustavo Borges como o
brasileiro com maior número de pódios em Pans.
Quem também vai com força total a Toronto é
a equipe brasileira de atletismo, a maior da delegação, com 88 atletas.
Além de contar com a presença da estrela do salto com vara Fabiana
Murer, o selecionado poderá colocar à prova o time de revezamento
feminino 4 x 100 m e 4 x 200 m, considerado o mais promissor das
últimas décadas no País. Faz parte dele a velocista Rosângela Santos,
ouro nos 100 m rasos em Guadalajara-2011. Em 2015, ela bateu o recorde
pessoal da prova quatro vezes e ainda melhorou o tempo nos 200 m,
alcançando pela primeira vez o índice olímpico e mundial. Ainda entre as
mulheres, vale ficar de olho na dupla da vela Martine Grael e Kahena
Kunze, campeãs mundiais da classe 49er FX em 2014. As jovens buscam
ganhar no Pan a dose de experiência necessária à conquista da tão
almejada medalha de ouro no Rio. Para elas e tantos outros atletas, o
caminho para 2016 definitivamente passa por Toronto.
Fotos: Rogerio Cassimiro; Marcio Scavone/Ag. Istoé
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