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Calote do goveno, universitários negros e de baixa renda estão abandonando seus cursos

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EXCLUÍDO 
O quilombola Agnaldo Guimarães, 25, passou em duas 
universidades federais, mas não pôde se matricular nos 
cursos por não ter garantia de receber a bolsa-auxílio
No começo dNo começo de 2015, as cotas para jovens negros e pobres ajudaram a estudante Thais Vieira Costa, de 18 anos, a realizar um sonho: ser aprovada no vestibular do curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A alegria da jovem, porém, durou pouco tempo. Chegando a Salvador, ela não conseguiu obter da instituição os auxílios de residência e alimentação que contava receber. Essa ajuda possibilita a alunos de baixa renda manter os estudos longe de casa. Thais procurou estágios e trabalhos em outras áreas, sem sucesso. Chegou até a morar de favor, mas em maio do ano passado a situação ficou insustentável. Voltou para a casa da mãe, na zona norte de São Paulo (SP), e atualmente está desempregada. Para piorar, o abandono ocorreu antes da conclusão do primeiro semestre da faculdade, o que a coloca às vésperas de ser jubilada. “Eu passei na prova, mas o acesso me foi negado”, diz. “Fiquei muito frustrada. Tive depressão depois disso.” Como Thais, milhares de universitários de todo o Brasil que entraram no Ensino Superior graças à Lei de Cotas estão sob ameaça de deixar seus cursos por não terem como custear despesas sem auxílio federal. “Estamos prejudicando o futuro do País porque o número de pobres abandonando os cursos é escandaloso”, afirma frei David Santos, diretor-executivo da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro). O educador contabiliza ter conversado com cerca de 50 pessoas na mesma situação da jovem paulistana. “As cotas são uma política necessária. No entanto, se não forem aperfeiçoadas, podem ser um tiro no pé.” 

O problema é endêmico e se espalha por diversas universidades federais do País. Na de Pernambuco (UFPE), por exemplo, 7,2 mil alunos serão afetados a partir do próximo mês com o corte R$ 3,4 milhões no orçamento para as bolsas. Em alguns casos, os pagamentos cairão para um valor quase dez vezes menor. O estudante de engenharia elétrica Péricles da Silva Barbosa, 29 anos, foi um dos prejudicados. Antigo morador do conjunto habitacional gratuito do campus de Recife, ele precisou deixar a residência por causa de uma reforma que começou em 2012 e até hoje não foi concluída. Desde então, passou a receber cerca de R$ 900 da instituição, porém o benefício será diminuído a um valor entre R$ 100 e R$ 400 em maio. A poucos meses do fim do curso, Péricles teme ser despejado da casa onde vive após a redução da ajuda. Só o aluguel custa R$ 700, bem mais do que ele receberá da universidade daqui para frente. “Se eu não conseguir dinheiro estarei na rua. Temo pelo dia em que não vou ter onde morar,” diz. “Não quero nem pensar em desistir, mas sei que, se não houver um lugar para ficar, não haverá outro jeito.”

Outros alunos nem precisaram começar as aulas para perceber que, sem ajuda, não haveria dinheiro para pagar as contas. Aos 25 anos, o quilombola Agnaldo Guimarães cresceu estudando em escolas públicas na zona rural de Cavalcante (GO) e, devido à pobreza, ficou longe da sala de aula por quatro anos antes de concluir o colegial. Depois de uma tentativa frustrada, foi aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Engenharia Florestal na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e para Matemática na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Mas conversando com discentes dos dois campi soube que as coisas não seriam tão fáceis. “Cheguei a fazer matrícula na UFSC e liguei para lá perguntando sobre a bolsa-auxílio”, afirma. “A moça que me atendeu falou que os benefícios demorariam de três a quatro meses para sair. E que nem havia garantia de que eu os receberia.” Guimarães acabou desistindo porque não teria dinheiro para fazer a mudança e se manter em outra cidade. Ele hoje faz faculdade numa universidade particular paulistana graças a uma bolsa de estudos da Educafro. “Eu me senti traído. Como é que o governo fala que a educação é para todos?”

Sancionada em 2012, a Lei das Cotas garante 50% das vagas do Ensino Superior federal a alunos pobres, negros e indígenas. Mas a disponibilidade das bolsas não acompanhou a necessidade da legião de recém-chegados. “Se você dobra o número de vagas e coloca um processo de inclusão, é preciso aumentar o apoio”, afirma Renato Hyuda de Luna Pedrosa, coordenador do Laboratório de Estudos em Educação Superior da Universidade de Campinas (Unicamp). “Não adianta só criar as cotas.” Outras modalidades de auxílio, além das de moradia e alimentação, também estão sob ameaça em diversos campi. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, estudantes de baixa renda manifestaram preocupação ao parar de receber ajuda de custo para compra de material acadêmico, e já fazem contas para fechar o apertado orçamento mensal. Procurado, o Ministério da Educação afirma que os recursos estão sendo repassados às instituições, que são as responsáveis pela sua aplicação. E que eles inclusive aumentaram nos últimos anos (leia quadro). O fato, no entanto, é que as verbas não estão chegando ao bolso dos estudantes carentes. Procuradas, nenhuma das universidades mencionadas na reportagem respondeu aos questionamentos enviados por ISTOÉ. Com jovens impedidos de estudar, não se vê melhora num dos raros consensos nacionais em época de crise política: o de que só a educação é capaz de fazer do Brasil um país melhor.

Fotos: FELIPE GABRIEL; João Castellano/Istoé  e 2015, as cotas para jovens negros e pobres ajudaram a estudante Thais Vieira Costa, de 18 anos, a realizar um sonho: ser aprovada no vestibular do curso de Comunicação Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A alegria da jovem, porém, durou pouco tempo. Chegando a Salvador, ela não conseguiu obter da instituição os auxílios de residência e alimentação que contava receber. Essa ajuda possibilita a alunos de baixa renda manter os estudos longe de casa. Thais procurou estágios e trabalhos em outras áreas, sem sucesso. Chegou até a morar de favor, mas em maio do ano passado a situação ficou insustentável. Voltou para a casa da mãe, na zona norte de São Paulo (SP), e atualmente está desempregada. Para piorar, o abandono ocorreu antes da conclusão do primeiro semestre da faculdade, o que a coloca às vésperas de ser jubilada. “Eu passei na prova, mas o acesso me foi negado”, diz. “Fiquei muito frustrada. Tive depressão depois disso.” Como Thais, milhares de universitários de todo o Brasil que entraram no Ensino Superior graças à Lei de Cotas estão sob ameaça de deixar seus cursos por não terem como custear despesas sem auxílio federal. “Estamos prejudicando o futuro do País porque o número de pobres abandonando os cursos é escandaloso”, afirma frei David Santos, diretor-executivo da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro). O educador contabiliza ter conversado com cerca de 50 pessoas na mesma situação da jovem paulistana. “As cotas são uma política necessária. No entanto, se não forem aperfeiçoadas, podem ser um tiro no pé.” 


O problema é endêmico e se espalha por diversas universidades federais do País. Na de Pernambuco (UFPE), por exemplo, 7,2 mil alunos serão afetados a partir do próximo mês com o corte R$ 3,4 milhões no orçamento para as bolsas. Em alguns casos, os pagamentos cairão para um valor quase dez vezes menor. O estudante de engenharia elétrica Péricles da Silva Barbosa, 29 anos, foi um dos prejudicados. Antigo morador do conjunto habitacional gratuito do campus de Recife, ele precisou deixar a residência por causa de uma reforma que começou em 2012 e até hoje não foi concluída. Desde então, passou a receber cerca de R$ 900 da instituição, porém o benefício será diminuído a um valor entre R$ 100 e R$ 400 em maio. A poucos meses do fim do curso, Péricles teme ser despejado da casa onde vive após a redução da ajuda. Só o aluguel custa R$ 700, bem mais do que ele receberá da universidade daqui para frente. “Se eu não conseguir dinheiro estarei na rua. Temo pelo dia em que não vou ter onde morar,” diz. “Não quero nem pensar em desistir, mas sei que, se não houver um lugar para ficar, não haverá outro jeito.”
Outros alunos nem precisaram começar as aulas para perceber que, sem ajuda, não haveria dinheiro para pagar as contas. Aos 25 anos, o quilombola Agnaldo Guimarães cresceu estudando em escolas públicas na zona rural de Cavalcante (GO) e, devido à pobreza, ficou longe da sala de aula por quatro anos antes de concluir o colegial. Depois de uma tentativa frustrada, foi aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Engenharia Florestal na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e para Matemática na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Mas conversando com discentes dos dois campi soube que as coisas não seriam tão fáceis. “Cheguei a fazer matrícula na UFSC e liguei para lá perguntando sobre a bolsa-auxílio”, afirma. “A moça que me atendeu falou que os benefícios demorariam de três a quatro meses para sair. E que nem havia garantia de que eu os receberia.” Guimarães acabou desistindo porque não teria dinheiro para fazer a mudança e se manter em outra cidade. Ele hoje faz faculdade numa universidade particular paulistana graças a uma bolsa de estudos da Educafro. “Eu me senti traído. Como é que o governo fala que a educação é para todos?”
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Sancionada em 2012, a Lei das Cotas garante 50% das vagas do Ensino Superior federal a alunos pobres, negros e indígenas. Mas a disponibilidade das bolsas não acompanhou a necessidade da legião de recém-chegados. “Se você dobra o número de vagas e coloca um processo de inclusão, é preciso aumentar o apoio”, afirma Renato Hyuda de Luna Pedrosa, coordenador do Laboratório de Estudos em Educação Superior da Universidade de Campinas (Unicamp). “Não adianta só criar as cotas.” Outras modalidades de auxílio, além das de moradia e alimentação, também estão sob ameaça em diversos campi. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por exemplo, estudantes de baixa renda manifestaram preocupação ao parar de receber ajuda de custo para compra de material acadêmico, e já fazem contas para fechar o apertado orçamento mensal. Procurado, o Ministério da Educação afirma que os recursos estão sendo repassados às instituições, que são as responsáveis pela sua aplicação. E que eles inclusive aumentaram nos últimos anos (leia quadro). O fato, no entanto, é que as verbas não estão chegando ao bolso dos estudantes carentes. Procuradas, nenhuma das universidades mencionadas na reportagem respondeu aos questionamentos enviados por ISTOÉ. Com jovens impedidos de estudar, não se vê melhora num dos raros consensos nacionais em época de crise política: o de que só a educação é capaz de fazer do Brasil um país melhor.
Fotos: FELIPE GABRIEL; João Castellano/Istoé  

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ELAS

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