Um búfalo-africano encara os visitantes em uma reserva adjacente do Parque Nacional Kruger, na África do Sul. Seu olhar é direto e impõe respeito (Foto: © Haroldo Castro/Época)
O búfalo-africano (Syncerus caffer) ou búfalo-do-cabo é um dos animais mais ameaçadores da África. O maior bovídeo africano, por ser forte e combativo, faz parte da categoria Big Five, lista na qual os caçadores definiram os cinco animais africanos mais perigosos.
Mas, de todos os Big Fives, o búfalo-africano é o animal menos emblemático. Afinal, quem, durante um safári, vai perder tempo fotografando um bicho que mais parece com um touro? Certo, os chifres em forma circular são imponentes, mas são tão familiares que chegam a perder o encanto. Ao compararmos o búfalo-africano com o tamanho do elefante, com a presença mágica do leão ou do leopardo ou até mesmo com a robustez do rinoceronte, encontrar o bovídeo na savana provoca poucas emoções nos visitantes.
Talvez a única situação que chame um pouco mais a atenção seja quando nos deparamos com um rebanho formado por algumas dezenas de animais. E, geralmente, bloqueiam a estrada. Além da necessidade de manter uma distância razoável do grupo e estar atento ao fato que nenhum macho se aproxime, é importante não irritar ou assustar os animais para evitar reações imprevisíveis.
O búfalo é relativamente parecido com nosso conhecido Bos taurus,o animal domesticado pelos seres humanos há mais de 10 mil anos. Mas a sequência do genoma do búfalo determinou que a divergência entre as duas espécies aconteceu em algum momento entre 5,7 e 9,3 milhões de anos atrás.
O banho de lama que búfalos costumam tomar é uma prática benéfica para o animal. Um dos objetivos é deixar uma camada de terra sobre o pelo que, depois de seca, dificulta o trabalho de moscas e outros insetos que tentam morder o corpo do bovídeo.
Quando o animal se esfrega na poça, o banho de lama serve para retirar parasitas e carrapatos que ficam presos à pele. O mergulho na água também reduz a temperatura corporal.
Duas espécies de pássaros são constantes companheiros dos búfalos-africanos. Tanto o pica-boi-de-bico-amarelo (Buphagus africanus) como o pica-boi-de-bico-vermelho (Buphagus erythrorhynchus) são endêmicos da África subsaariana e possuem a mesma missão: retirar carrapatos, insetos e larvas que infestam os corpos de grandes mamíferos.
Além de se alimentar dos insetos cheios de sangue, os pica-bois também podem se nutrir do sangue das feridas do próprio mamífero. Aparentemente, o búfalo aceita que os pássaros realizem o ritual de limpeza, mesmo se algumas gotas de sangue façam também parte do pagamento. Mas o serviço é bem feito: um pássaro adulto pode retirar por dia até 100 carrapatos carregados de sangue.
Se o búfalo-africano é paciente e doce com os picas-bois, aceitando suas pequenas beliscadas, o mesmo não se pode dizer de búfalos machos que vivem isolados. Esses touros mais idosos foram, algum dia, expulsos à força do rebanho por machos mais jovens que queriam mais espaço. É sabido por naturalistas, guias e principalmente caçadores profissionais, que os animais que mais representam perigo para os seres humanos são justamente essesmachos experientes que vivem sozinhos, sem nenhum rebanho ao redor. Das duas centenas de ataques fatais que acontecem por ano na África, a grande maioria é realizada por animais com esse perfil.
Foi justamente um desses machos isolados que atacou os experientes fotógrafos e cineastas Dereck e Beverly Joubert, mundialmente reconhecidos por seus filmes de vida selvagem e de conservação da natureza. O acidente quase fatal aconteceu no Delta do Okavango, em Botsuana, onde o casal trabalha há mais de 30 anos, em um terreno extremamente bem conhecido por ambos.
Segundo relato de Dereck, o búfalo atacou-o primeiro. Um segundo depois, voltou-se contra a esposa, Beverly, acertando-a embaixo do braço: o chifre penetrou até a boca e a bochecha. O pior foi a espera, pois não havia como o casal sair do lugar por ser noite. Foram 11 horas em plena escuridão até que a emergência médica chegasse ao amanhecer.
Nove meses depois do acidente, o casal está retomando o trabalho de proteção da natureza, prioridade em suas vidas. Em uma de suas entrevistas após a estadia de cinco semanas no hospital, Dereck declarou, com sua alma conservacionista, que os animais selvagens também estão na UTI. “Precisamos evitar que a caça e o tráfego ilegal acabe com nossas savanas.”
fonte: Época
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