O homem mais poderoso do mundo age como se tivesse de defender sua posição, diariamente, no Twitter. Ao atacar e revidar o ataque de qualquer um, imprime um tom personalista e mercurial à Casa Branca
Entre as 9h48 e as 9h59 do dia 2 de novembro, 2017 se tornou um ano mais calmo. Um funcionário do Twitter, em protesto por ter sido demitido, apagou a conta de Donald Trump. “Desculpe, essa página não existe!”, dizia uma tela azul da rede social de mensagens curtas. “Minha conta de Twitter foi desativada durante 11 minutos por um funcionário desonesto. Eu acho que minhas palavras finalmente devem estar se espalhando e causando algum impacto”, tuitou Trump quando o serviço foi restabelecido. Com mais de 2.500 mensagens no ar desde janeiro, média de sete por dia, Trump cumpriu, de forma inesperada – até para ele –, a promessa de ser um presidente anticonvencional. Foi o tuiteiro em chefe do país mais poderoso do mundo.
O presidente domina o discurso viralizável na rede. Suas mensagens são exaltadas, com exclamações, adjetivos fortes, piadas e palavras que gritam em letras maiúsculas. “Andam dizendo que sou o melhor escritor em 140 caracteres do mundo. Fica fácil quando é divertido”, tuitou Trump em 2012. Humor e exaltação são eficientes para ganhar a atenção do público. Não tanto para tocar um governo. “Achei que seria mais fácil”, admitiu, após 100 dias na Casa Branca.
A eleição de Trump é um exemplo das redes sociais como campo de batalha da guerra política local e internacional. Países como Rússia, China, Coreia do Norte e os próprios Estados Unidos recrutam exércitos de hackers para conquistar corações e mentes em favor de seus interesses. Em depoimento ao Senado sobre interferências na eleição americana, um advogado do Facebook admitiu que 120 páginas falsas, mantidas por russos, publicaram 80 mil mensagens recebidas por 29 milhões de americanos, diretamente – sem contar aqueles que receberam encaminhamentos da publicação original. Ao todo, afirma a empresa, anúncios e posts patrocinados pela Rússia durante a eleição atingiram 126 milhões de americanos – 40% da população. Pelo menos 20% das mensagens sobre a campanha eleitoral americana, no Twitter, foram criadas por robôs. A rede de mensagens curtas disse ter encontrado 2.752 contas ligadas a “fábricas de informação” russas. O Google afirma que encontrou 18 canais no YouTube ligados a uma campanha de desinformação mantida pelo Kremlin. Nessa guerra, Trump é general, Steve Bannon foi seu estrategista e o Twitter é sua principal arma. Bannon é chefe do Breitbart, site de notícias de extrema-direita responsável por manchetes como “O que você preferiria para seus filhos: feminismo ou câncer?”. Tornou-se guru de Trump na campanha e assessor de governo.
Em vez de “drenar o pântano” de Washington, como prometeu, Trump meteu-se num lodaçal. A Justiça investiga se o governo da Rússia e o comitê de campanha do Partido Republicano trabalharam juntos em ações como a captura e o vazamento de e-mails da candidata adversária Hillary Clinton, do Partido Democrata. Logo após a votação, em novembro de 2016, o governo americano expulsou 35 diplomatas russos, acusados de interferir na eleição. Paul Manafort, ex-diretor da candidatura de Trump, foi preso, em outubro, denunciado por crimes como conspiração contra os Estados Unidos. O conselheiro de campanha George Papadopoulos confessou ao FBI que tentou marcar um encontro entre o governo da Rússia e o comitê eleitoral. Assessores do governo Trump negaram qualquer conluio com os russos, mas, depois de demitidos, mudaram o depoimento. Assessor de Segurança Nacional da Casa Branca por breves 24 dias, Michael Flynn afirmou no início de dezembro ter mentido ao FBI sobre seus contatos. A confissão é parte de um acordo judicial de colaboração. Trump demitiu James Comey, diretor do FBI encarregado de parte das investigações. “Espero que não haja ‘fitas’ de nossas conversas antes que ele comece a vazar para a imprensa!”, tuitou em maio. Em depoimento, Comey acusou o presidente de “querer obter algo” em troca de mantê-lo no cargo. Trump tornou-se suspeito de obstrução da Justiça. Essa mesma acusação levou à abertura de processos de impeachment contra o republicano Richard Nixon, em 1974, e contra o democrata Bill Clinton, em 1998. Nixon renunciou antes de ser impedido. Clinton foi salvo pelo Senado. Trump, por enquanto, tem no Parlamento votos suficientes para escapar. As eleições para o Congresso no meio do ano que vem, contudo, podem complicar sua situação. Basta os republicanos perderem a maioria. Nixon e Clinton enfrentaram problemas com a Justiça quando estavam em segundo mandato, já desgastados. No primeiro ano de administração, apenas Trump viveu tamanho atoleiro.
A eleição de Trump é um exemplo das redes sociais como campo de batalha da guerra política local e internacional. Países como Rússia, China, Coreia do Norte e os próprios Estados Unidos recrutam exércitos de hackers para conquistar corações e mentes em favor de seus interesses. Em depoimento ao Senado sobre interferências na eleição americana, um advogado do Facebook admitiu que 120 páginas falsas, mantidas por russos, publicaram 80 mil mensagens recebidas por 29 milhões de americanos, diretamente – sem contar aqueles que receberam encaminhamentos da publicação original. Ao todo, afirma a empresa, anúncios e posts patrocinados pela Rússia durante a eleição atingiram 126 milhões de americanos – 40% da população. Pelo menos 20% das mensagens sobre a campanha eleitoral americana, no Twitter, foram criadas por robôs. A rede de mensagens curtas disse ter encontrado 2.752 contas ligadas a “fábricas de informação” russas. O Google afirma que encontrou 18 canais no YouTube ligados a uma campanha de desinformação mantida pelo Kremlin. Nessa guerra, Trump é general, Steve Bannon foi seu estrategista e o Twitter é sua principal arma. Bannon é chefe do Breitbart, site de notícias de extrema-direita responsável por manchetes como “O que você preferiria para seus filhos: feminismo ou câncer?”. Tornou-se guru de Trump na campanha e assessor de governo.
Em vez de “drenar o pântano” de Washington, como prometeu, Trump meteu-se num lodaçal. A Justiça investiga se o governo da Rússia e o comitê de campanha do Partido Republicano trabalharam juntos em ações como a captura e o vazamento de e-mails da candidata adversária Hillary Clinton, do Partido Democrata. Logo após a votação, em novembro de 2016, o governo americano expulsou 35 diplomatas russos, acusados de interferir na eleição. Paul Manafort, ex-diretor da candidatura de Trump, foi preso, em outubro, denunciado por crimes como conspiração contra os Estados Unidos. O conselheiro de campanha George Papadopoulos confessou ao FBI que tentou marcar um encontro entre o governo da Rússia e o comitê eleitoral. Assessores do governo Trump negaram qualquer conluio com os russos, mas, depois de demitidos, mudaram o depoimento. Assessor de Segurança Nacional da Casa Branca por breves 24 dias, Michael Flynn afirmou no início de dezembro ter mentido ao FBI sobre seus contatos. A confissão é parte de um acordo judicial de colaboração. Trump demitiu James Comey, diretor do FBI encarregado de parte das investigações. “Espero que não haja ‘fitas’ de nossas conversas antes que ele comece a vazar para a imprensa!”, tuitou em maio. Em depoimento, Comey acusou o presidente de “querer obter algo” em troca de mantê-lo no cargo. Trump tornou-se suspeito de obstrução da Justiça. Essa mesma acusação levou à abertura de processos de impeachment contra o republicano Richard Nixon, em 1974, e contra o democrata Bill Clinton, em 1998. Nixon renunciou antes de ser impedido. Clinton foi salvo pelo Senado. Trump, por enquanto, tem no Parlamento votos suficientes para escapar. As eleições para o Congresso no meio do ano que vem, contudo, podem complicar sua situação. Basta os republicanos perderem a maioria. Nixon e Clinton enfrentaram problemas com a Justiça quando estavam em segundo mandato, já desgastados. No primeiro ano de administração, apenas Trump viveu tamanho atoleiro.
Trump age como se ainda estivesse em campanha. Tem, pendurado na parede da Casa Branca, um mapa dos Estados Unidos dividido entre 30 distritos eleitorais pintados de vermelho (ganhos por seu Partido Republicano na eleição presidencial) e 21 pintados de azul (ganhos pelo Partido Democrata). A mancha vermelha ocupa o centro do mapa – os estados com tradição industrial, na região conhecida como “cinturão da ferrugem”. “Eu venci no voto popular, se você deduzir os milhões de pessoas que votaram ilegalmente”, disse pelo Twitter, ainda em 2016, e repete até hoje. É uma mentira. Hillary Clinton conquistou 48,5% dos eleitores, e ele 46,4%.
Trump não teve o apoio da maioria da população nem parece buscar isso. Governa para os seus. Casado pela terceira vez e dono de cassinos, ofereceu concessões à “maioria moral” descoberta como força política pelo presidente Ronald Reagan nos anos 1980. O eleitor preocupado com questões morais – aborto e homossexualidade, sobretudo – é desde então um dos sustentáculos do Partido Republicano. Para a “maioria moral”, Trump cumpriu sua principal promessa – e maior medo de seus adversários. Nomeou Neil Gorsuch para a vaga de Antonin Scalia na Suprema Corte americana. Nomear um juiz da Suprema Corte é uma das principais atribuições políticas de um presidente dos Estados Unidos. Os nove juízes têm mandato vitalício e, em última instância, decidem o que a Constituição americana quer dizer. A marca que um presidente deixa na Suprema Corte vai muito além de seus dois mandatos possíveis. Os democratas esperavam substituir Scalia, um dos mais consistentes conservadores da Corte, por um progressista apontado por Obama. A nomeação ficou 293 dias diante do Senado – que, de maioria republicana, adiou a votação. Trump apontou Gorsuch, um claro conservador, que foi rapidamente aprovado. Trump é o inimigo do discurso politicamente correto, representado de modo quase caricatural por Hillary Clinton e pelo ex-presidente Barack Obama. “Fiquem avisados de que o governo dos Estados Unidos não aceitará ou permitirá indivíduos transgêneros desempenhando qualquer atividade nas Forças Armadas”, tuitou em julho, ao derrubar uma bandeira do governo Obama. Quando a retirada de uma estátua do general Lee (herói do lado escravagista na Guerra Civil Americana) deflagrou uma batalha campal em Charlottesville, no estado da Virgínia, Trump culpou “os dois lados”. Pouco importou se um lado empunhava tochas e bandeiras com a suástica nazista. Pouco importou se o outro lado empunhava cartazes em favor do amor e da tolerância racial. Enquanto políticos de todos os matizes em boa parte do mundo fazem o possível e o impossível para não associar, ao menos retoricamente, terrorismo e islã, Trump, sempre de olho em sua plateia, fez o máximo de barulho possível ao proibir turistas de sete países de maioria islâmica, em janeiro. “Precisamos BANIR A VIAGEM de certos PAÍSES PERIGOSOS, não algum termo politicamente correto que não ajudará a proteger nosso povo!”, tuitou. Em dezembro, uma terceira versão do decreto foi autorizada pela Suprema Corte – com apoio de Gorsuch.
As mãos de Trump foram mais produtivas para prometer projetos nas redes sociais do que para assiná-los na forma de lei – algo que requer paciência e argumentos para convencer parlamentares. Nos Estados Unidos, o presidente tem menos autonomia para decidir sozinho do que, por exemplo, no Brasil. A proposta de derrubar o plano de saúde pública Obamacare foi derrotada no Congresso, apesar de os republicanos terem maioria na Casa. “O Obamacare é um total e completo desastre – e está implodindo rápido!”, tuitou, em vão, para convencer os parlamentares. O tão prometido muro na fronteira com o México não avançou um tijolo. “A imprensa desonesta não divulga que qualquer dinheiro gasto por nós (a fim de dar agilidade) na construção do Grande Muro será pago de volta pelo México depois”, afirmou. Trump limitou-se à manutenção de trechos antigos e a uma constrangedora conversa com o presidente do México, Peña Nieto, a quem pediu cumplicidade com sua bravata. “Você não pode dizer isso à imprensa”, disse Trump, por telefone, segundo o jornal americano The Washington Post. “Em vez de dizer ‘não vamos pagar’, poderia dizer ‘vamos solucionar’”, propôs. Sua única vitória de peso no Congresso foi a aprovação, em dezembro, de uma lei de reforma tributária que corta impostos de grandes empresas e das famílias mais ricas. É a mudança mais profunda no pagamento de impostos desde 1986. “Estamos entregando um ALÍVIO HISTÓRICO DE IMPOSTOS ao povo americano”, tuitou Trump, ao festejar a aprovação do projeto.
Trump não teve o apoio da maioria da população nem parece buscar isso. Governa para os seus. Casado pela terceira vez e dono de cassinos, ofereceu concessões à “maioria moral” descoberta como força política pelo presidente Ronald Reagan nos anos 1980. O eleitor preocupado com questões morais – aborto e homossexualidade, sobretudo – é desde então um dos sustentáculos do Partido Republicano. Para a “maioria moral”, Trump cumpriu sua principal promessa – e maior medo de seus adversários. Nomeou Neil Gorsuch para a vaga de Antonin Scalia na Suprema Corte americana. Nomear um juiz da Suprema Corte é uma das principais atribuições políticas de um presidente dos Estados Unidos. Os nove juízes têm mandato vitalício e, em última instância, decidem o que a Constituição americana quer dizer. A marca que um presidente deixa na Suprema Corte vai muito além de seus dois mandatos possíveis. Os democratas esperavam substituir Scalia, um dos mais consistentes conservadores da Corte, por um progressista apontado por Obama. A nomeação ficou 293 dias diante do Senado – que, de maioria republicana, adiou a votação. Trump apontou Gorsuch, um claro conservador, que foi rapidamente aprovado. Trump é o inimigo do discurso politicamente correto, representado de modo quase caricatural por Hillary Clinton e pelo ex-presidente Barack Obama. “Fiquem avisados de que o governo dos Estados Unidos não aceitará ou permitirá indivíduos transgêneros desempenhando qualquer atividade nas Forças Armadas”, tuitou em julho, ao derrubar uma bandeira do governo Obama. Quando a retirada de uma estátua do general Lee (herói do lado escravagista na Guerra Civil Americana) deflagrou uma batalha campal em Charlottesville, no estado da Virgínia, Trump culpou “os dois lados”. Pouco importou se um lado empunhava tochas e bandeiras com a suástica nazista. Pouco importou se o outro lado empunhava cartazes em favor do amor e da tolerância racial. Enquanto políticos de todos os matizes em boa parte do mundo fazem o possível e o impossível para não associar, ao menos retoricamente, terrorismo e islã, Trump, sempre de olho em sua plateia, fez o máximo de barulho possível ao proibir turistas de sete países de maioria islâmica, em janeiro. “Precisamos BANIR A VIAGEM de certos PAÍSES PERIGOSOS, não algum termo politicamente correto que não ajudará a proteger nosso povo!”, tuitou. Em dezembro, uma terceira versão do decreto foi autorizada pela Suprema Corte – com apoio de Gorsuch.
As mãos de Trump foram mais produtivas para prometer projetos nas redes sociais do que para assiná-los na forma de lei – algo que requer paciência e argumentos para convencer parlamentares. Nos Estados Unidos, o presidente tem menos autonomia para decidir sozinho do que, por exemplo, no Brasil. A proposta de derrubar o plano de saúde pública Obamacare foi derrotada no Congresso, apesar de os republicanos terem maioria na Casa. “O Obamacare é um total e completo desastre – e está implodindo rápido!”, tuitou, em vão, para convencer os parlamentares. O tão prometido muro na fronteira com o México não avançou um tijolo. “A imprensa desonesta não divulga que qualquer dinheiro gasto por nós (a fim de dar agilidade) na construção do Grande Muro será pago de volta pelo México depois”, afirmou. Trump limitou-se à manutenção de trechos antigos e a uma constrangedora conversa com o presidente do México, Peña Nieto, a quem pediu cumplicidade com sua bravata. “Você não pode dizer isso à imprensa”, disse Trump, por telefone, segundo o jornal americano The Washington Post. “Em vez de dizer ‘não vamos pagar’, poderia dizer ‘vamos solucionar’”, propôs. Sua única vitória de peso no Congresso foi a aprovação, em dezembro, de uma lei de reforma tributária que corta impostos de grandes empresas e das famílias mais ricas. É a mudança mais profunda no pagamento de impostos desde 1986. “Estamos entregando um ALÍVIO HISTÓRICO DE IMPOSTOS ao povo americano”, tuitou Trump, ao festejar a aprovação do projeto.
Fora de casa, Trump tentou pôr em prática sua visão do America First e desfazer a diplomacia de Barack Obama. Em sua primeira semana no poder, descartou a participação dos EUA na Parceria Trans-Pacífica, acordo de comércio entre 12 países da bacia do Pacífico. A parceria era o principal legado de Obama em termos comerciais. Em junho, o presidente anunciou que os EUA se retirarão do Acordo de Paris, que tinha sido fortemente patrocinado por Obama. Pelas regras do acordo, no entanto, uma retirada efetiva do compromisso de reduzir emissões de carbono já assinado só poderá ocorrer em 2020. A alegação é que o tratado é prejudicial à economia americana. Obama patrocinou um acordo nuclear com o Irã. Trump acusou Teerã de descumprir o acordo e delegou ao Congresso aprovar sanções – o que, por ora, não ocorreu. Obama restabeleceu relações diplomáticas com Cuba e exortou o Parlamento a derrubar décadas de bloqueio econômico. Trump expulsou diplomatas cubanos e recrudesceu as relações. Obama se manteve distante de Israel, a ponto de deixar passar no Conselho de Segurança da ONU uma resolução contra assentamentos israelenses na Palestina. Trump anunciou a transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel para Jerusalém, atendendo a uma demanda histórica dos israelenses. Trump anunciou a saída do Acordo de Paris – costurado por anos com a liderança da China e dos próprios americanos. Em vez de liderar uma debandada, isolou-se. Não foi seguido sequer por estados americanos como a Califórnia. Deixou a liderança do combate ao aquecimento global para o chinês Xi Jinping. Obama tentava lidar com a China com parcerias. Trump parece preferir a abordagem tradicional de manter o domínio geopolítico sobre o Pacífico, conquistado na Segunda Guerra, e mantido graças a alianças militares com Japão, Coréia do Sul e Taiwan.
Ao levar seu temperamento agressivo para a diplomacia, Trump ajudou a corroer a sua autoridade e a dos Estados Unidos. Ao discutir com o líder da Coreia do Norte Kim Jong-Un pelas redes sociais, Trump – escolhido democraticamente para liderar a maior economia e o maior arsenal nuclear do mundo – desceu ao nível do pequeno ditador de um país miserável. Pelo twitter, em janeiro, disse que outro teste de mísseis da Coreia do Norte “Não vai acontecer!”. Mas aconteceu. Várias vezes. Em seu primeiro discurso na ONU – cuja fundação foi uma vitória da diplomacia americana –, Trump disse que iria “destruir totalmente” a Coreia do Norte. O presidente bate boca até com aqueles que escolheu, como o secretário de Estado, Rex Tillerson, porta-voz do país no exterior. Ao ouvir de um jornalista que Tillerson o chamara de idiota, Trump pôs em questão mais uma vez sua autoridade: “Se ele disse isso, acho que teremos de comparar testes de QI. Vou lher dizer quem vai vencer”.
Apesar de estar em permanente campanha, Trump é o presidente americano com menor taxa de aprovação, no primeiro ano de gestão, desde o início da série histórica, em 1945. Apenas 37% da população gosta de seu governo, segundo uma cesta de pesquisas de opinião pública organizada pelo site fivethirtyeight.com. Curiosamente, a insatisfação ocorre num período de prosperidade para os americanos. A economia vai bem para patrões e funcionários. Na bolsa de valores, o índice S&P500 registra valorização recorde e acumula 104 meses seguidos de alta (92 deles ainda na gestão Obama). O número de desempregados em outubro – 222 mil – é o menor registrado no país desde 1973. Outros presidentes, como Obama e Clinton, também tiveram dificuldades para aprovar projetos no primeiro ano. A principal diferença entre Trump e seus antecessores é na imagem e no método, não nas ações reais. A fanfarronice nas promessas e a bagunça na Casa Branca passaram a impressão de um governo menos eficiente do que foi até agora.
Trump perdeu 15 altos funcionários ao longo do ano. Disposto a passar longe dos burocratas profissionais de Washington e esnobado por especialistas de prestígio, Trump cercou-se de conselheiros inexperientes, como sua filha e seu genro. Anthony Scaramucci foi demitido após onze dias como diretor de comunicações da Casa Branca. Teve tempo de dar uma entrevista em que chamou o chefe de gabinete Reince Priebus de “esquizofrênico de m..., um paranoico” e dizer, a respeito do estrategista-chefe, “não sou Steve Bannon, não estou tentando chupar meu próprio p...”. Priebus caiu. Seu sucessor, o ex-general John Kelly, derrubou Scaramucci. Semanas depois, conseguiu também a demissão do estrategista-chefe da Casa Branca, Steve Bannon. “Não tem caos na Casa Branca!”, tuitou Trump, numa daquelas negações que, ao se fazerem necessárias, valem como afirmação.
A chegada de John Kelly à chefia de gabinete, em julho, parece marcar uma lenta mudança de tom para Trump e seu governo. Os voluntariosos assessores de campanha que ascenderam à Casa Branca perderam espaço para três militares: além de Kelly, o conselheiro de segurança nacional Herbert McMaster e o secretário de Defesa Jim Mattis. Comandante da invasão americana ao Iraque, em 2003, Kelly tenta organizar o caos. O general limitou a duração de reuniões e a quantidade de pessoas que entram no Salão Oval. Ao estabelecer um horário de expediente na Casa Branca (a partir de 9h ou 9h30), diminuiu o tempo que o presidente dedicava a metralhar suas reações pelo Twitter. Trump acorda às 5h30 e se informa de duas maneiras: pelo canal de Fox News e ao ler notícias da internet impressas em folhas de papel. A papelada encolheu e, nela, os textos radicais do Breitbart ficaram mais raros. Kelly foi convocado para fazer, em nome da ordem, aquilo que o ex-funcionário do Twitter fez por rebeldia quando excluiu, por 11 minutos, a conta @realDonaldTrump. “Agora eu tenho tempo para pensar”, disse Trump.
fonte: Época
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