Cerca de 46 mil trabalhadores filiados à central sindical UAW cruzaram os braços nesta segunda-feira em unidades pelo país
DETROIT - Cerca de 46 mil funcionários das 31 fábricas da GM, a maior fabricante de automóveis dos Estados Unidos, entraram em greve nesta segunda-veira, em meio às negociações para um novo acordo coletivo. O movimento, o primiero em 12 anos, é acompanhado de perto pelos políticos a um ano da campanha eleitoral na qual o emprego será um dos temas em discussão. Os empregados são filiados à central sindical United Auto Workers (UAW).
Estamos em greve desde meia-noite — disse Rothenberg. — A greve pode ser um pouco longa.
A produção da GM — salva da bancarrota com bilhões de dólares pelo governo de Barack Obama após a crise de 2008 — estava completamente parada, garantiu Rothenberg.
Ele indicou ainda que o diálogo entre GM e UAW se mantém. Mas, nas negociações, apenas 2% do novo convênio foram pactuados entre as duas partes.
Analistas da indústria automotiva ouvidos pelo Wall Street Journal estimam que a greve possa fazer a montadora perder entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões por dia, e cortar pelo menos um décimo do lucro operacional projetado de US$ 3,5 bilhões no terceiro trimestre até o fim da semana.
Ambas as partes discutem desde julho um novo contrato de trabalho para os próximos anos. Os trabalhadores da Ford e da Fiat Chrysler concordaram em estender seus contratos, mas a gerência da GM foi informada no sábado que o sindicato não o estenderia.
A GM teve vendas sólidas nos últimos anos e, em 2018, registrou lucros operacionais de US$ 11,8 bilhões.
As tratativas na GM estão em ponto morto. "Acordamos apenas 2% das disposições do novo contrato e ainda resta chegar a um consenso sobre os 98%, disse Rothenberg.
Os dois lados discordam especialmente acerta de salários, plano de saúde, estatuto de funcionários temporários e segurança do emprego.
Apresentamos uma oferta sólida para melhorar os salários e lucros e aumentar os empregos americanos de forma substancial — disse à AFP um porta-voz da GM. — Negociamos de boa-fé.
— (A greve) é nosso último recurso — afirmou Terry Dites, principal negociador do sindicado. Nos levantamos em defensa dos direitos fundamentais para os trabalhadores do país.
O sindicato disse que os dois lados discordam especialmente acerca de salários, plano de saúde, estatuto de funcionários temporários e segurança do emprego.
— Nossos integrantes falaram. Esta decisão não foi tomada às pressas — garantiu Ted Krumm, outro negociador. Nas primeiras horas do dia, os trabalhadores formaram piquetes fora das fábricas da GM, acenando placas declarando "UAW On Strike". Durante a paralisação, os membros do UAW receberão US$ 250 por semana do fundo de greve do sindicato.
Em 2007, os funcionários da GM fizeram uma greve que durou dois dias durante negociações contratuais. A paralisação mais significativa ocorreu em Flint, no Estado do Michigan, em 1998, que durou 54 dias e custou à montadora mais de US$ 2 bilhões.
Uma questão política
A greve tornou-se rapidamente uma questão política, à medida que o presidente dos EUA, Donald Trump e os democratas, que querem derrubá-lo em 2020, se manifestaram. Tanto Trump como os democratas vêem os votos dos membros do UAW no Centro-Oeste como cruciais para a vitória nas eleições.
No domingo, Trump foi ao Twitter para exortar o UAW e a GM a "se reunir e fazer um acordo!". O porta-voz da GM, Tony Cervone, disse que a montadora "não poderia concordar mais" com o pedido de Trump.
A CEO da GM, Mary Barra, se encontrou com Trump antes do prazo para o início da greve. Trump criticou a decisão da GM de parar de fabricar carros de pequeno porte em uma fábrica de Lordstown, em Ohio. O estado é fundamental para a reeleição de Trump.
O sindicato quer impedir que a GM feche Lordstown e uma fábrica de montagem em Detroit. O UAW afirmou que os trabalhadores merecem salários mais altos após anos de lucros recordes para a fabricante na América do Norte. A montadora, por sua vez, afirma que os fechamentos de fábrica são necessários e que os salários e benefícios aos trabalhadores da UAW são caros se comparados com fábricas não sindicalizadas no sul dos EUA.
A greve representra um teste tanto para a UAW quanto para a presidente-executiva da GM, Mary Barra, em um momento em que a indústria de veículos dos EUA está enfrentando uma forte queda nas vendas e aumento de custos com o desenvolvimento de veículos elétricos.
Em um comunicado, a montadora afirmou que sua oferta aos trabalhadores da UAW incluíram mais de US$ 7 bilhões em investimentos; 5.400 empregos, a maioria novos; aumentos de salário; benefícios melhores; e ratificação de bônus contratual de US$ 8 mil.
"Negociamos de boa fé e com senso de urgência", afirmou em nota a montadora.
Uma pessoa familiarizada com a oferta da GM disse que a empresa poderia produzir um futuro veículo elétrico na fábrica de Detroit-Hamtramck. A GM também poderia construir uma fábrica de baterias para veículos elétricos em Lordstown e prosseguir com a proposta de venda da fábrica a um grupo afiliado à start-up de veículos elétricos Workhorse Group Inc. Uma nova fábrica de baterias poderia dar a alguns trabalhadores do UAW em Lordstown a chance de permanecer na GM.
O principal negociador do UAW na GM disse que a proposta veio apenas duas horas antes do prazo da greve e culpou a fabricante pela greve. A central sindical definiu a GM como primeira montadora com quem quer concluir negociações trabalhistas.
"Se tivéssemos recebido essa proposta no início do processo, talvez fosse possível chegar a um acordo provisório e evitar uma greve", escreveu o vice-presidente do UAW, Terry Dittes, em uma carta envida à montadora no domingo, de acordo com uma cópia a qual a Reuters teve acesso.
Reflexos da paralisação
O movimento atinge as operações da GM em toda a América do Norte e pode prejudicar a economia dos EUA. Uma ação prolongada também causaria dificuldades para os trabalhadores da GM que trabalham por hora, com pagamento durante a greve ficando bastante reduzido.
Os fornecedores de peças e serviços para as operações da GM nos EUA também podem sofrer o impacto desta greve, assim como revendedores e consumidores.
Kristin Dziczek, vice-presidente de indústria, trabalho e economia do Centro de Pesquisa Automotiva (CAR), afirmou que greve nas fábricas da GM nos EUA vai também causar fechamentos de unidades no Canadá e no México por causa do alto nível de integração da produção.
— Isso terá um efeito grande sobre a economia — disse Kristin.
A GM tem 12 fábricas de veículos, 12 fábricas de motores e transmissões e uma série de outras instalações nos EUA.
fonte: O Globo
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