Complexo da Anchieta faz 60 anos e foi a primeira fábrica da marca fora da Alemanha. Entenda por que fabricante decidiu se instalar no país
Logo ao assumir o posto de presidente da Volkswagen, numa operação ainda em ruínas após a II Guerra Mundial, Heinz Nordhoff avaliou o “tamanho do buraco” que ele teria de fechar.
Heinz Nordhoff, presidente responsável pela reconstrução da VW após a II Guerra Mundial (Arquivo pessoal/Internet)
Aquilo tudo deveria ter sido demolido, mas o brilhante e insurreto Major Ivan Hirst, das forças de ocupação britânicas, não acatou as ordens e decidiu reconstruir aquela fábrica severamente destruída. Com isto, salvou a VW de ter terminado ali mesmo.
Hirst sequer se preocupou muito com os custos, mas foi aí que Nordhoff voltou à baila: ele teria que batalhar para pagar as dívidas já acumuladas e, mais ainda, lutar para concluir a fábrica que estava longe de pronta.
Não seria com as vendas na Alemanha, combalida por ter perdido uma guerra, que ele resolveria aquela pesada equação.
Solução? Expandir para o exterior, coisa que ele já tinha em seu cardápio de seus tempos de General Motors, aliás de sua filial alemã, a Opel. Nordhoff assumiu a fábrica de Wolfsburg no início de 1948, e logo começou a trabalhar obstinadamente.
A equação foi exportar, mas em muitos países a situação era semelhante: as importações eram restritas pelos incentivos dos respectivos governos à produção local. Aí entrou a solução do CKD, que permitiu o início da montagem do popular Fusca em vários países.
Em 1949, Nordhoff, acompanhado de Friedrich Wilhelm Schultz-Wenk, que futuramente se tornaria chefe das operações da VW no país, viajaram para Argentina e Brasil a fim de assuntar qual dos dois países seria melhor para a instalação de uma eventual nova fábrica na América do Sul.
Quando voltaram à Alemanha, ambos já sabiam que a fábrica seria futuramente construída no Brasil.
Neste meio tempo surgiu a Brasmotor, que era o braço industrial da Sabrico, e que montava veículos em CKD, como caminhonetes Chrysler.
Nordhoff e Cecil B. Thomas, presidente da divisão de exportações da Chrysler nos EUA, acabaram fechando um acordo pelo qual a Volkswagen iria completar a linha de veículos da Chrysler no Brasil. Logo, Fuscas
A marca alemã colocou a Brasmotor na jogada, para que esta passasse a montar CKD’s do Fusca a partir de 1951. Em 1953, a Volkswagen se estabeleceu na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga, em São Paulo.
O governo de Juscelino Kubitschek, com seus planos de incentivo para o estabelecimento de fábricas de veículos automotores no país, propiciou condições para o início da construção da Fábrica Anchieta da Volkswagen, no município de São Bernardo do Campo, pertencente à Grande São Paulo.
Curiosamente, tanto a fábrica da Brasmotor quanto a da Volkswagen ficavam próximas, separadas apenas pela Rodovia Anchieta. Daí o fato de o complexo sexagenário da Volkswagen ser comumente chamado de… “Fábrica Anchieta”.
A escolha do local seguiu critérios de acessibilidade, que previam acesso por rodovia, por via fluvial (havia previsão dos Rio Pinheiros e Tietê serem navegáveis, e o acesso seria pela Billings) e por ferrovia (havia um plano de entrar com um ramal ferroviário na fábrica). De todos esses planos, o que vingou mesmo foi o acesso rodoviário que já existia.
Enquanto Fusca e Kombi eram montados na Rua do Manifesto a partir de 1954, as obras em São Bernardo do Campo começaram em um ritmo alucinante. Não demorou muito para o primeiro prédio ficar pronto: é a atual Ala 2.
De uma maneira muito bem bolada, naquela primeira área pronta da fábrica deu para acomodar uma mini-fábrica, onde foi dada continuidade à montagem dos carros em CKD.
Ao mesmo tempo, já se preparava a fabricação do primeiro veículo Volkswagen considerado nacional pelas regras governamentais vigentes: foi a Kombi, cujo primeiro exemplar brasileiro deixou a linha de montagem em 2 de setembro de 1957.
Aí vem a discussão sobre a idade correta da Fábrica Anchieta, visto que ela só viria a ser inaugurada oficialmente no dia 18 de novembro de 1959, com outras alas prontas e já produzindo dois veículos nacionais, a Kombi e o Fusca.
Certamente foram restrições de agenda dos presidentes, do Brasil e da Volkswagen, que acabaram definindo a data da inauguração de uma fábrica que, na verdade, já estava funcionando a todo o vapor possível.
Sua fachada de tijolos coloridos e seu projeto inicial remetem à casa matriz de Wolfsburg. Já naquela época o complexo abrigava milhares de funcionários e tinha um trabalho, digamos, analógico – fortemente manual.
As paredes continuam a ser de tijolinhos, mas a fábrica em tempos atuais, já internamente modernizada com centenas de robôs, demonstra saúde muito maior do que, por exemplo, a vizinha Ford, recentemente fechada.
Isso mostra que todo o sangue, suor e lágrimas de várias gerações de funcionários valeram a pena.
Para quem, como eu, acompanha esta fábrica há tantos anos, resta dizer, e com o orgulho de quem tem batalhado pela história desta empresa no Brasil: feliz aniversário de 60 anos, cara Fábrica Anchieta!
E não esqueçamos que a “nossa” Fábrica Anchieta foi a primeira fábrica da Volkswagen construída fora da Alemanha, outro motivo para o brasileiro se orgulhar dela.
fonte; Quatro Rodas
youtube/Túlio Duarte
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