Segundo matéria do GQ Globo, Isabela Aroca Silva, de 33 anos, sempre teve disforia de gênero, mas não sabia do problema até procurar ajuda, no meio do ano de 2020.
Com claros problemas de identificação com o seu corpo – principalmente com os seios – a moça recorreu a testosterona e até mudou de nome. Passou a se identificar como Bruno. Mesmo com tantas mudanças, Isabela procurou terapia e diz ter se reencontrado.
Seu relato, cedido ao “GQ GLOBO”, é cheio de autoconhecimento, arrependimentos e sequelas.
O relato
Isabela teve o primeiro contato com a chamada “Teoria Queer” em 2013, aos 26 anos, através da leitura das obras do filósofo Michel Foucault, um influenciador da teoria. Ao ter contato com as obras, Silva se sentiu “acolhida” e definiu a obra como persuasiva e tentadora. Neste momento, Isabela passou a se identificar como homem trans e mudou seu nome para Bruno.
Não iniciou o tratamento hormonal em um primeiro momento. Levou quase 02 anos para iniciar a intervenção hormonal. “Nesta época, eu era muito ligada à política, inclusive filiada a um partido de esquerda. Dentro deste meio, o reconhecimento foi quase que instantâneo, ninguém no partido me via como mulher, eu era Bruno, era um homem trans e pronto. Já fora deste círculo, a situação era diferente. As pessoas não entendiam, para muitos, eu era, ainda, Isabela”, relatou ao GQ.
Em 2015, Isabela conheceu o Feminismo Radical e entendeu que o movimento reivindica a abolição de gênero porque a feminilidade não é inerente à mulher. De acordo com ela, ela não deixava de ser mulher por não ser feminina e muito menos era um homem por causa disso. Consciente disso, Isabela descobriu que ela é uma mulher, homossexual, não feminina. Voltou a ser Isabela.
Mesmo com a nova descoberta e identificação, ela ainda se sentia desconfortável com o seu corpo, especificamente com os seus seios, prejudicando a sua autoestima e segurança para se relacionar. Para resolver esse problema, ela recorreu aos hormônios masculinos.
Sem esclarecimentos sobre os efeitos colaterais da hormonização (tratamento hormonal), ela aderiu ao tratamento e se arrepende até hoje. O tratamento a causava dores tão fortes que a impossibilitavam de sair da cama. “Pode parecer exagero, mas posso jurar que senti meu útero atrofiar. Havia dias que a região do meu quadril latejava e queimava de tanta dor, era insuportável. Conhecia outras pessoas que estavam passando pelo mesmo procedimento que eu à época, perguntei sobre as dores, mas todas me disseram que era normal – normal? É normal sentir tanta dor ao ponto de não conseguir andar? -, então, continuei o tratamento e logo parei de menstruar”.
Enfrentado as dores do tratamento, Isabela enfrentava problemas emocionais relacionados ao seu antigo casamento e decidiu procurar ajuda psicológica. Em poucos meses de tratamento psicológico, a terapeuta identificou o que está realmente incomodando e ela já conseguiu resolver parte dos problemas que lhe afligem.
Faz três meses que ela parou o tratamento hormonal (que não resolveu em nada seus problemas de identificação corporal e ainda lhe causou fortes dores e sequelas), as dores físicas ainda estão presentes na sua rotina, mas já voltou a menstruar.
“Ainda hoje, 3 meses desde de que interrompi a hormonização, as dores continuam e já até cheguei a pensar em voltar atrás e injetar testosterona no meu corpo novamente. Resisto, afinal, ele está apenas respondendo ao que aconteceu durante meses, se readaptando. Antes da hormonização, meu ciclo menstrual era regular, eu menstruava por 3 dias, minha TPM era bem leve e não sentia cólicas. Hoje, é diferente, menstruo 7 dias, tenho uma TPM pesada e muita cólica, muita mesmo”.
fonte: Estudo Nacionais.com
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