A crise dos semicondutores, que já ocorre há alguns meses, vem se agravando e não dá sinais de melhora em curto prazo. Esses componentes eletrônicos são chips utilizados em diferentes mecanismos do carro, mas os fabricantes do setor sofrem com a falta de fornecimento após a pandemia causada pelo Coronavírus.
Prevendo uma grande redução nas vendas, as fábricas de veículos deixaram de encomendar semicondutores. Porém, esses itens, curiosamente, tiveram maior demanda em outros setores industriais, pois também são aplicados a eletrodomésticos, celulares, computadores e similares: esses produtos tiveram alta devido à expansão de atividades remotas na pandemia.
O resultado foi uma lacuna quando as fábricas de automóveis voltaram a solicitar tais chips. Devido à escassez, os preços dos semicondutores dispararam e os prazos de entrega foram às alturas. Na outra ponta, esses itens são fundamentais para a montagem dos carros novos: sem eles, muitas empresas têm sido obrigadas a interromper a produção.
Chevrolet está entre as mais afetadas
Uma das mais afetadas é a Chevrolet: sem ritmo de produção, a multinacional viu seu principal produto, o Onix, despencar da liderança do ranking de vendas. A fábrica da marca em Gravataí (RS) só voltará a operar normalmente em julho. Já na unidade de São Caetano do Sul (SP), a produção ficará suspensa até agosto, pelo menos.
A Chevrolet se justifica informando que os automóveis mais avançados necessariamente carregam maior conteúdo eletrônico. O fabricante cita um publicado pela consultoria Deloitte, que aponta que a eletrônica representa 40% dos custos de um veículo atualmente, cerca de 50% mais do que uma década atrás.
Já um levantamento feito pela própria Chevrolet revela que os semicondutores estão distribuídos da seguinte maneira em carros mais tecnológicos a combustão: 30% entre os sistemas de segurança, 30% entre os sistemas de conforto e conveniência, 25% entre os sistemas de conectividade e 15% entre os sistemas de propulsão.
Fabricantes à espera de semicondutores
Vários outros fabricantes também estão sem veículos para entregar. As unidades industriais da Volkswagen em Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR) estão com a produção suspensa por ao menos 10 dias desde ontem (7). Para a fábrica de São Bernardo do Campo (SP), a multinacional também avalia a necessidade de parada.
Neste mês, a Nissan foi outra que paralisou os trabalhos por no mínimo cinco dias na fábrica de Resende (RJ): de lá, saem os modelos Kicks e V-Drive (antigo Versa). E isso é o que se tem até o momento.
Por outro lado, os grupos Stellantis e Toyota mantiveram as encomendas de semicondutores e, agora, tiram proveito da situação. Conforme o AutoPapo já publicou, um forte trabalho de planejamento, somado à queda da concorrência no mercado, fez a Fiat saltar para a liderança de vendas no Brasil no mês passado.
Porém, os bons resultados recentes não são garantia de sucesso no futuro. Isso porque a crise no fornecimento de semicondutores não deve passar tão cedo. Para piorar, outros insumos, como espuma e plástico, também começaram a ficar escassos, representado desafio extra para os fabricantes de veículos.
Tendência negativa
“A tendência é piorar. É uma situação crítica, e que pode continuar por anos, conforme projeções de especialistas do ramo, diferente do que se considerou no início”, diz Flávio Maia, diretor da AutoMAIA Veículos, localizada em Belo Horizonte (MG), e diretor de marketing e planejamento da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais (Assovemg).
Certamente, outras montadoras ainda vão amargar os efeitos da escassez global dos semicondutores.”
É o que prevê Maia. Em 2021, a expectativa é que até 300 mil veículos podem não ser fabricados no Brasil. “Ainda vamos enfrentar por um tempo o que estamos perdendo agora”, conclui.
Crise global de semicondutores
Nos Estados Unidos, entre grandes grupos automotivos, o fechamento de maio aconteceu com menos 850 mil veículos produzidos.
No México, o quadro mais crítico é enfrentado pela Volkswagen, que informou a paralisação da fábrica em Puebla por três semanas pela falta de semicondutores. Na mesma situação, está a fábrica da Stellantis em Toluca, que terá sua linha de montagem parada por duas semanas.
Na América do Norte, os fabricantes mais afetados foram, nessa ordem: Ford, General Motors, Stellantis, Subaru, Volkswagen, Honda, Nissan, Toyota, Tesla e Mazda. No continente como um todo, as montadoras estimam perda de 1 milhão de veículos, nos registros até o fim de maio.
Na Europa o cenário se repete. A Audi estabeleceu regime de meio período de jornada para 10 mil funcionários, diante da escassez de componentes eletrônicos para seguir com o ritmo satisfatório nas fábricas. A multinacional se junta à Ford, que no continente europeu interrompeu os trabalhos em três países.
No Japão, entre as montadoras que interromperam parte da produção estão Toyota, Honda, Nissan, Mitsubishi e Suzuki, com um impacto estimado na produção de mais de 500 mil veículos. Na Argentina, as vendas em junho também devem ser afetadas.
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