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Viagem de moto, foram 52 países, "demos a volta ao mundo em 650 dias"

Marcelo – Quando você se prepara para apresentar um grande projeto, tem de imaginar quantas perguntas farão para derrubar sua ideia. Eu mesmo, em 25 anos trabalhando com tecnologia, já derrubei vários. Como fazer para seu plano de meses não ser descartado em minutos? Trabalhei na minha ideia por seis meses, em segredo, imaginando todas as perguntas que ouviria. Ensaiei a apresentação. Mesmo com tanto preparo, não consegui dormir na noite que precedeu a apresentação. Parecia um novato. Saí da cama cedo. Chamei minha mulher, Bete, para uma conversa. Fui direto: vamos dar uma volta ao mundo numa motocicleta.
Bete – Não foi um convite, mas uma convocação (risos). Logo no início, percebi quanto ele tinha se preparado para as perguntas que eu poderia fazer – e sou boa em questionar. Ele estudou viabilidade, custo, rotas, orçamento. Marcelo faz expedições de moto há 30 anos, tinha quase 700.000 quilômetros de rodagem até aquele momento (início de 2010). Minha única pergunta foi: “Quando a gente viaja?”.

Marcelo – Não achei que a Bete toparia assim fácil (risos). Se eu fizesse o convite e ela não topasse, teria duas alternativas: ou ir sem ela – isso abalaria nosso casamento – ou desistir e culpá-la no futuro próximo pela minha frustração. Mais que uma expedição, eu imaginava que a viagem seria um recomeço profissional para nós dois. No meu projeto, voltaríamos para trabalhar com empreendedorismo, ajudando pessoas a desenvolver ideias. 

Bete – Levamos quase um ano preparando tudo. Marcelo ficou encarregado de aprender a fazer todos os tipos de conserto na moto. Cuidei dos checkups médicos e dos vistos. Tomamos 13 vacinas cada um.  Fiz uma cirurgia para retirada da vesícula, porque um exame mostrou que ela poderia inflamar a qualquer momento – imagine se acontecesse enquanto estivéssemos atravessando o Sudão? Nossas rotas não incluíam áreas turísticas, mas regiões afastadas das capitais. Não dava para arriscar. Os vistos para a moto tomaram muito tempo. São duas autorizações: de importação e de circulação. Cada país tem uma norma própria.
Marcelo Leite e Maria Elisabete Rodrigues (Foto: ÉPOCA)
Marcelo – Partimos com a moto que chamo de companheira (uma BMW 1200 GS) em 25 de abril de 2011. Conseguimos patrocínio para 50% dos custos da viagem – um total de US$ 42.250, ou US$ 65 por dia. No orçamento modesto havia acampamentos, pernoites em residências, comida enlatada e passagens rápidas por países caros, como os Estados Unidos. Na moto, levamos dois baús e uma mala. Num baú, colocamos ferramentas e peças de reposição. No outro, uma barraca e acessórios para acampar. Na mala, com capacidade para 49 litros, itens de uso pessoal. Cada um de nós levou uma calça jeans e uma jaqueta para andar de moto, um shorts, um par de chinelos, luvas, capacete, três camisetas, três peças íntimas e três pares de meias.

Bete – Protetor solar foi essencial. Mas o protetor labial não funcionou. Só pomada para assadura de bebê hidrata e protege a pele depois de uma semana no deserto. Lenço umedecido é prioridade. Nem todo lugar tem chuveiro ou banheiro.
>> Outros depoimentos de História Pessoal

Marcelo – Foram cinco meses nas Américas, um e meio na Europa, seis na África, dois e meio na Oceania e o restante na Ásia. Viajamos três vezes em aviões cargueiros e uma vez de navio. Nossa rotina era organizada. Todos os dias, saíamos cedo e rodávamos até as 14 horas. A tarde era dedicada a resolver problemas práticos, conhecer os lugares e encontrar um local para dormir.

Bete – Viajar a dois é bom porque você pode dividir a atenção com tudo. O foco do Marcelo era a estrada. Tirei muitas fotos de cenas que ele não viu. Na Nicarágua, avistei um homem saindo de uma casa com uma arma na mão. Foi o tempo de gritar “acelera”. Marcelo não viu nada. 
“Na Etiópia, vivi a pior experiência da minha vida. Um senhor nos pediu ajuda para salvar o filho, que estava agonizando. O garoto morreu na nossa frente”, diz Bete  (Foto: Arq. pessoal)
Marcelo – Não foi fácil entrar em alguns países. O visto mais complicado foi do Turcomenistão. Eles não têm interesse nenhum em que estrangeiros entrem lá. Depois de muitas horas de conversa, o governo nos deu um visto de trânsito. Tínhamos cinco dias para atravessar o país por uma rota predeterminada – a imagem da rota foi colada em nosso passaporte. Por todo o país, estão espalhadas fotos do presidente, em papel ou em telões de LCD. A capital, Asgabate, está em reconstrução, toda em mármore branco, porque o presidente sonhou que a cidade era branca e mandou reformar tudo, das calçadas às escolas. Lá, a população segue um código de vestuário. As mulheres usam tranças – as que têm cabelo curto fazem rabinho – e vestem roupas vermelhas, mostrando que trabalham, ou verdes, para as que estudam. Todos os homens usam gravata e calça pretas, com blusa branca.

Bete – A Mongólia foi nosso maior desafio físico. Lá não existe o conceito de banheiro. Banho é algo público. A família paga, uma vez por semana, para tomar banho – todos juntos – em algum lugar que ofereça o serviço. Fora da capital, a população mora em tendas e se banha em rios – mesmo no verão, a água é gelada. Ficamos dez dias sem tomar banho.

Marcelo – Nada é pior do que lidar com a miséria, e ela se mostrou dura demais na Etiópia. Chegamos ao país depois de visitar o Sudão, um país islâmico. No Sudão, conhecemos pessoas humildes. Na Etiópia, são miseráveis. Caminham descalças na rua porque não têm dinheiro para comprar sapatos. No frio, as pontas dos dedos dos pés necrosam por falta de circulação e caem. Na feira, os sapatos são vendidos por pé, não por par. Para a gente, parece um absurdo, mas ter um pé de sapato é considerado status social. Nas plantações do interior, notamos que sempre havia uma criança em cima de um poste, como se estivesse num ninho. Soubemos, depois, que aquela criança é a escolhida para ser o cuidador da roça. É o espantalho da plantação. Ela não brincará nem frequentará a escola. Nunca.

Bete – Na Etiópia, vivi a pior experiência da minha vida. Um senhor, numa charrete, veio nos pedir ajuda. Ele carregava o filho pequeno, agonizando. O menino tinha o rosto coberto por moscas. Não falávamos o mesmo idioma. Pedi ajuda a um policial da fronteira. Como ele não deu atenção, comecei a implorar. O policial me encarou e disse: “Por que você está preocupada? Ele é um em 1.000”. Falei tanto que o policial nos levou para uma ONG que oferecia ajuda médica. O menino morreu na nossa frente. O pai se desesperou. Chorei a noite toda.

Marcelo – A expedição não trouxe apenas amadurecimento pessoal. Depois de 650 dias juntos – ou 15.600 horas –, posso dizer que nosso casamento mudou para melhor.  Antes, se tínhamos uma briga, levávamos o mal-estar por dias, até esquecer por que tínhamos brigado. Na expedição, rodar brigado punha a viagem em risco. Então aprendemos a falar tudo na hora. Até hoje fazemos assim.

Bete – Voltamos para o Brasil em janeiro deste ano, contrariando duas regras da expedição. Viajamos embaixo de chuva e à noite. Molhados e felizes,  chegamos a São Paulo 650 dias depois de nossa partida. 

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