Adriana precisou comprar um tanquinho, já que a máquina de lavar não funciona com pouca água
O problema da falta d'água em Itu (SP), que enfrenta racionamento desde fevereiro, tem afetado profundamente a vida dos moradores da cidade. Muitos relatam que já chegaram a ficar até 20 dias sem água nas torneiras. "Hoje, quando vem água, a gente fica que nem criança quando ganha doce. Ninguém acredita que ela chega”, relata a dona de casa Adriana Augusta Galdeno, de 41 anos, moradora do Jardim Aeroporto.
A insatisfação com o problema culminou em um protesto na tarde de segunda-feira (22),na frente da Câmara Municipal, que terminou em conflito com a Tropa de Choque da Polícia Militar.
Segundo a dona de casa, a família teve que mudar a rotina para se adaptar às torneiras secas. "Quando a água chega, geralmente é de madrugada. Por isso, a gente deixa de dormir para poder lavar roupa, louça e até tomar banho. Tomar banho de caneca já virou um hábito. Faz dez dias que não recebemos água. Não posso lavar roupa e faz um dez dias que eu não sei o que é tomar banho de chuveiro, porque só temos como fazer isso de caneca”, diz. Para não deixar a louça suja dentro de casa e, assim, atrair insetos, ela optou por coloca-lás em uma edícula no fundo da casa. "Não sei mais o que fazer", lamenta.
Os comerciantes também enfrentam transtornos, que são traduzidos em prejuízo. Leandro Elias Miguel, de 34 anos, dono de um restaurante na cidade, diz que já gastou cerca de R$ 20 mil nos últimos dois meses. "Não temos água suficiente para dar andamento na rotina da cozinha. Como a situação se agravou muito nos últimos meses, tive que desembolsar essa quantia comprando mais seis caixas d'água, que se juntaram às outras quatro que já tínhamos", explica o empresário, que mantém o restaurante há 21 anos.
Mas os gastos não param por aí. Com o espaço extra para armazenar água, o empresário precisou comprar caminhões-pipa com uma frequência maior, já que as torneiras, segundo ele, estão sempre secas. "Antes pedia o caminhão esporadicamente, mas nos últimos meses passei a pedir um a cada 2 dias. Calculo que já tenha comprado uns 30 caminhões desse, com 10 mil litros de capacidade, gerando um gasto de R$ 11.400", calcula o empresário.
Leandro diz que ainda precisou investir em um tanque ecológico desengordurante para poder limpar as panelas. "Aí eu tenho um gasto de R$ 900 por mês, já que a empresa do tanque aluga a máquina e faz a manutenção dela, que é a troca da água com um produto ecológico, a cada mês", ressalta.
Protesto e conflito
Na tarde desta segunda, cerca de dois mil moradores se reuniram nas ruas do centro da cidade e caminharam até a Câmara Municipal. Um grupo conseguiu abrir à força o portão e invadiu o local e promoveu um quebra-quebra. Manifestantes atiraram pedras, ovos e tomates no prédio da Câmara. A Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada e usou bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar os moradores.
Na tarde desta segunda, cerca de dois mil moradores se reuniram nas ruas do centro da cidade e caminharam até a Câmara Municipal. Um grupo conseguiu abrir à força o portão e invadiu o local e promoveu um quebra-quebra. Manifestantes atiraram pedras, ovos e tomates no prédio da Câmara. A Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada e usou bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar os moradores.
Durante o confronto, um jornalista de 49 anos foi atingido por uma bala de borracha na perna e precisou ser atendido.
Sete pessoas foram detidas, levadas ao 3º Distrito Policial de Itu para prestar esclarecimentos e, em seguida, liberadas.
No fim da tarde três representantes se reuniram com os vereadores, que encaminharam um ofício ao prefeito solicitando que seja decretado o estado de calamidade pública. "Não temos prazo para que este ofício seja respondido, porque não é um documento aprovado em sessão. Mas acredito que o prefeito responda em um curto prazo, até mesmo em consideração aos 13 vereadores que assinaram", afirma Bastos.
Oprefeito da cidade, Antônio Tuize, informou na tarde desta terça-feira (23) que não vai decretar estado de calamidade pública no município. Em coletiva de imprensa, o prefeito afirmou que o decreto de calamidade não será pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas.Versão da Águas de Itu
A Águas de Itu, concessionária responsável pelo serviço, informou que ampliou nesta semana o número de caminhões-pipa para 25, para abastecer os locais mais críticos, além de creches, escolas e unidades de saúde.
A empresa diz que tem feito o que "está ao seu alcance" para atenuar o problema do desabastecimento, agravado pela longa estiagem. "Os principais mananciais da regiões central e do Pirapitingui, respectivamente, estão com menos de 2% de sua capacidade de reservação", diz a empresa.
Segundo a concessionária, o abastecimento é feito em dias alternados nas regiões abastecidas pelos reservatórios do Itaim e Pirapitingui.
Entenda o caso
Os moradores de Itu enfrentam o drama da falta d'água desde 5 de fevereiro, quando a concessionária Águas de Itu implantou o racionamento na cidade. Quando começou, o rodízio era feito apenas nos bairros mais altos, onde a distribuição de água é mais difícil. Nos meses seguintes, o racionamento foi ampliado pelo menos mais três vezes e atualmente está em vigor na cidade toda.Os moradores reclamam que o rodízio não é cumprido como anunciado pela empresa. Há dezenas de relatos de pessoas que chegam a ficar 15 dias sem água. O abastecimento com caminhões-pipa também é alvo de reclamações. Até oatendimento ao consumidor gera queixas, já que muitas vezes o morador fica vários minutos no telefone e não consegue ser atendido. (Veja vídeo ao lado)
Os moradores de Itu enfrentam o drama da falta d'água desde 5 de fevereiro, quando a concessionária Águas de Itu implantou o racionamento na cidade. Quando começou, o rodízio era feito apenas nos bairros mais altos, onde a distribuição de água é mais difícil. Nos meses seguintes, o racionamento foi ampliado pelo menos mais três vezes e atualmente está em vigor na cidade toda.Os moradores reclamam que o rodízio não é cumprido como anunciado pela empresa. Há dezenas de relatos de pessoas que chegam a ficar 15 dias sem água. O abastecimento com caminhões-pipa também é alvo de reclamações. Até oatendimento ao consumidor gera queixas, já que muitas vezes o morador fica vários minutos no telefone e não consegue ser atendido. (Veja vídeo ao lado)
Em 25 de julho, a promotoria de Justiça do Ministério Público instaurou um inquérito civil para apurar a responsabilidade da prefeitura, da agência reguladora e da Águas de Itu no problema de abastecimento de água.
O MP também recomendou à prefeitura que decretasse estado de calamidade pública, o que permitiria à prefeitura realizar obras com mais facilidade, principalmente para aumentar a captação de água, já que o processo de licitação não seria necessário. A prefeitura negou a recomendação, mas anunciou medidas para tentar contornar o problema, como a suspensão de todas as licenças para a construção de novos empreendimentos habitacionais. Em entrevista à TV TEM no dia 7 de agosto, o secretário de Assuntos Jurídicos da cidade, Denis Ramazini, afirmou que a recomendação do MP era desnecessária. "Acreditamos que isso [decreto do estado de calamidade] não era preciso, já que todos os serviços públicos como escolas, postos de saúde e a polícia estão funcionando normalmente. É possível o município dar uma resposta para o problema do abastecimento”, afirmou, na época. (Veja o vídeo ao lado)
Outra alternativa à recomendação do MP foi o decreto que permite à prefeitura captar água em represas particulares da região, mediante indenização aos proprietários.
A sequência de problemas no abastecimento culminou no desligamento da empresa Águas de Itu,anunciado em 18 de agosto. O Grupo Águas do Brasil comprou o direito à prestação dos serviços de água e esgoto na cidade. No entanto, a nova empresa, que chamará Águas da República, ainda aguarda a autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para assumir os serviços.
O Ministério Público em Itu reforça a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, já que os protocolos serão anexados no inquérito e encaminhados ao Poder Judiciário. O prédio do Ministério Público está localizado na Rua Goiás, 194, no bairro Brasil. Ao lado da Delegacia da Mulher.
Comentários