Quando o Ford Ka chegou com seu motor tricilíndrico, câmbio longo como uma fenda tectônica e o estilo reformulado, nos ajoelhamos diante dele e agradecemos o quanto ele nos faz economizar. Mas só pudemos constatar a economia levando o carro para uma série de desafios - que você pode conferir clicando aqui. Um deles: o Ford abastecido com etanol teve até de ir de São Paulo a Pirassununga rodando mais de 400 km com dinheiro de pinga. E ele conseguiu.
Agora chegou a vez do Up TSi encarar as mesmas provas impostas ao Ford. Criamos a versão 2.0, revista e aperfeiçoada, do nosso 5+1 Desafios e convocamos a versão Move (a mais barata a partir de R$ 43.490) do Up turbo para uma nova rodada de desafios. Será que conseguiríamos fazer uma viagem que o mundo inteiro adoraria com um tanque de gasolina? Ele aguenta a onda de ficar sem beber, com o sol rachando a cuca no trânsito pesado? Será que ele é mais rápido que um esportivo de verdade? Essas e outras questões a gente responde a seguir: acompanhe.
1º Desafio – Tirar racha (mas dentro de uma pista de corrida)
Média (etanol): 6,6 km/l
Lugar de acelerar é na pista – não na rua. Por isso levamos nosso Up até o autódromo de Interlagos para o primeiro desafio: Quanto ele bebe andando com o pé embaixo? Rodando à média de 108 km/h, o Up conseguiu a média de 6,6 km/l abastecido com etanol. Pouco. Mas melhor que as médias do Ford Ka que, rodando no limite na pista do ECPA em Piracicaba, fez 5,3 km/l com o combustível vegetal.
Para este desafio entramos como convidados no Track Day Time Attack organizado pela FASP (Federação de Automobilismo de São Paulo). E nem tínhamos chance de andar na frente de veículos fuçados, turbinados e preparados para dar sangue na pista. Boa parte deles não se destinavam, exatamente, ao uso diário. Por isso o penúltimo lugar do Up nesse tipo de campeonato informal não representou vexame.
Nas mãos do nosso colaborador Diogo Dias, o Up conseguiu o tempo de 2min23s468. Ele conta que o VW até deu certo trabalho para carros bem mais potentes, mas equipado com pneus de baixo atrito (que não são exatamente aderentes) e sem nenhum preparo especial, o Up até se saiu bem. Lembre-se: o negócio do Up TSi é ser econômico e não rápido.
Chegamos aos 180 km/h no fim da reta dos boxes, bem próximo dos 184 km/h divulgados pela fábrica, algo que poucos carros atingem em um espaço tão curto (cerca de 1,3 km, contando desde o fim da junção).
2º Desafio – Emocionar igual a um esportivo de verdade
Esportividade! É isso o que a gente cobra de carros que carregam as siglas GT, M, AMG, Abarth. Com seu motor turbo de 105 cv e as iniciais TSi gravadas na lataria, natural que o Up fosse alçado ao primeiro degrau desta casta. E aqui está o Punto T-Jet para ser desafiado pelo recém-chegado. O T-Jet custa R$ 68.150 – R$ 24.660 a mais que o Up TSi.
Apesar dos 47 cv a mais e dos 4,3 mkgf extras do 1.4 turbo da Fiat, o Up anda junto até os 140 km/h. A partir daqui ele começa a sumir na frente do T-Jet. A diferença entre eles é de 0,1 s em favor do Fiat no 0 a 100 km/h, mas a vantagem troca de lado aos 120 km/h e sobe para 0,7 s ao romper a barreira dos 140 km/h. Em 400 m, o VW também foi 0,1 s mais ágil. Nas retomadas, nova vantagem para o TSi. De 40 km/h a 80 km/h em terceira marcha, ele levou 5,9 s, enquanto o Fiatprecisou de 6,9 s. De 80 km/h a 120 km/h, em quarta, o VW cumpriu a prova 0,1 s mais rápido que o rival.
A explicação está, em parte, na balança. O Up TSi na versão Move pesa 951 kg, e o Punto, 1.230 kg. É como se Jon Jones, Shogun e Minotouro estivessem dentro do mesmo carro. Há outras questões. O torque do Up, apesar de menor, tem que puxar menos peso e chega mais cedo ao pico: 1.500 rpm. O do Punto só aparece em 2.250 rpm, típico de motor turbo de concepção antiga e sem injeção direta. Nem o câmbio mais curto, especialmente nas três primeiras marchas, salvam o Fiat. Ainda que a rotação suba rápido, você sente o lag da turbina até as 2.500 rotações. No Up a resposta é quase instantânea. Você liga, e quando acelera nem percebe que há uma turbina ali.
3º Desafio – Enfrentar o trânsito pesado da cidade
Média (etanol): 9,4 km/l
Cartão postal de São Paulo, a Avenida Paulista parece congelar os aceleradores dos carros. Neste cenário, fomos comprovar a eficiência do Up abastecido com etanol. O relógio marcava 17h27, o começo do horário de pico na cidade, e lá foi ele cumprir o trajeto, ida e volta, no corredor de concreto. O mesmo relógio marcava 25° C, uma amostra de que inverno por aqui é tão comum quanto galinhas de três pernas. O “anda e para” de semáforos, entradas de alamedas entupidas e ônibus que ziguezagueiam entre os corredores e a faixa da direita consomem 36 minutos do nosso tempo para rodar ínfimos 7 km do percurso. E quer saber? Até que o tempo foi considerado bom. Nossa média de velocidade foi de 11,6 km/h e o consumo de 9,4 km/l. Foi bom? Não, foi excelente.
O Ford Ka, quando passou pelo mesmo teste, fez média de 6,5 km/l rodando com etanol. Ou seja, pode-se concluir que em condições extremas de tráfego, tão comuns nas cidades de médio e grande porte do Brasil atual, o VW é 44% mais econômico que o Ford. Um argumento pra lá de convincente se você quiser compará-los e mais um carimbo de “aprovado” no currículo do Up.
4º Desafio – Fazer uma viagem de sonho com um tanque de gasolina
Viagem de sonho é ir a um lugar que o mundo inteiro é louco para visitar. Assim, saímos de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro, o Cristo Redentor, a ilha de Cagarras, o Corcovado e a Barra da Tijuca (que também é Rio de Janeiro, sim!). OUp TSI fez média de 16,1 km/l na estrada com o derivado da cana, o que daria 805 km de autonomia com os 50 litros do tanque. Mas o teste foi feito em ambiente controlado, sem muitas oscilações de relevo, temperatura e pressão. Por isso já sabíamos que seria bem arriscado cumprirmos os 802 km no trecho de ida e volta entre as duas cidades com etanol. E como esse trajeto é quase o dobro do que fizemos com o Ka (407 km até Pirassununga), enchemos o tanque com 50 litros de gasolina, a R$ 3,09 o litro.
(Antes de pegar a estrada, uma conta boba: quanto se gasta para ir de SP ao RJ? Se você for de avião, comprando passagem com antecedência, daria R$ 640 ida e volta. Com o Up gastamos R$ 154 de gasolina e mais R$ 99,20 de pedágio. Economia de R$ 386,80! De ônibus, um trajeto de seis horas e meia, você gastará entre R$ 184 e R$ 344, no leito. Sem falar que no Rio você corre risco de espancamento sempre que chamar o Uber).
A média de consumo na estrada foi de 18,2 km/l, o que dá 910 km de autonomia. E em alguns trechos mais planos das rodovias, a média passou dos 25 km/l! A vantagem em relação aos demais 1.0 tricilíndricos é que as retomadas de velocidade não precisam ser feitas baixando uma ou duas marchas. Com 16,8 mkgf de torque a 1.500 rpm, você vence aclives e faz ultrapassagens apenas controlando o acelerador. Assim, o giro do motor sobe gradativamente, sugando menos combustível.
5º Desafio – Passar da via local para a expressa da Margina Tietê em menos de 5 segundos
Se você achava São Paulo um caos, é porque ainda não viu como ela ficou depois da genial ideia da Companhia de Engenharia de Tráfego em reduzir em quase 30%, de uma só vez, a velocidade nas Marginais Tietê e Pinheiros, as artérias mais importantes para circulação e a tentativa de funcionamento de uma cidade prestes a entrar em falência múltipla de órgãos. Por isso, o negócio agora é ganhar tempo. Você pode andar a entusiasmantes 50 km/h, e se sentir dentro do jipe Curiosity em Marte, olhando tudo com calma, ou acelerar até os 70 km/h para a via expressa.
Mas o quão rápido dá para fazer isso? Na prática, não dá. Porque você tem de passar por uma via central, que tem radares transbordando pelos bueiros, a 60 km/h. Mas, tudo bem, cinco segundos é um tempo razoável para você sair do estado vegetativo dos 50 km/h para a fisioterapia dos 70 km/h. E o Up passou em mais este teste. Em terceira marcha ele foi dos 50 km/h aos 60 km/h em 1,9 s, e chegou aos 70 km/h em apenas 3,6 s. Em quarta marcha o resultado também foi empolgante: 50 km/h a 60 km/h em 2,2 s, 50 km/h a 70 km/h em 5,3 s.
+1 Desafio – Pagar uma rodada para o Ka
Voltamos ao etanol e, nada mais justo do que o Up desafiar nosso último desafiado. O Ford Ka nos colocou um sorriso no rosto por sua capacidade desmedida de rodar muito com etanol, mesmo na cidade. Mas ele também não foi páreo contra o Up TSi. Circulando apenas em trecho urbano, com o tanque cheio com 51 litros de álcool, você consegue percorrer 586 km com o Ford, que tem média de 11,3 km/l. E isso é bem bom!
Mas o VW alcançou inimagináveis 12,9 km/l rodando apenas na cidade, e mesmo com um litro a menos de capacidade faz, com um tanque, 645 km. São 59 km a mais. Para alcançá-lo, quem estiver no Ka terá de colocar mais 5,2 litros de combustível, o que daria R$ 10,50, ou quatro Stella Artois de 275 ml. Se você estiver de Up passe para o banco do carona e pague essa rodada.
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