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Eu vi o Brasil na TV

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No domingo 17, os brasileiros se postaram diante da tevê e se prepararam para passar horas ouvindo centenas de deputados federais desfiarem seus votos durante a votação histórica que começou a traçar do destino de Dilma Roussef na presidência. Mal sabiam que iriam assistir a um espetáculo patético, cujo roteiro continha dezenas de erros de concordância gramatical, inconvenientes aclamações a Deus e à família (dos próprios), homenagens a currais eleitorais e as mais variadas ofensas, salgadas por indecorosos destemperos emocionais. Foram longas seis horas que chocaram o País. A cada deputado chamado a votar, mais a população ficava estarrecida com o baixo nível dos representantes do povo – a maioria, ilustres desconhecidos. Ao fim da votação que autorizou a continuidade do processo de impedimento da presidente, a platéia, extenuada, conheceu um novo Brasil. E o retrato que se viu não era nada bonito.
A sequencia assustadora de manifestações de votos, que ora evocavam risos, ora despertavam choro ou raiva, também descortinou vários extratos da sociedade que a maioria dos brasileiros não conhece. Eles estão representados nas diversas bancadas (leia no quadro abaixo) e nos discursos, nada ingênuos, e muito bem pensados, dos deputados. Apesar de estarem sob a mira de milhões de brasileiros, o interesse dos parlamentares eram seus eleitores. Por isso as intermináveis citações a cidades minúsculas do interior do País ou a categorias profissionais, como os corretores de seguros. A citação à própria família também tinha finalidade política: os representantes do povo sabem que a conservadora sociedade brasileira preza, acima de tudo, seus entes queridos e, portanto, buscavam adquirir identificação com seu eleitorado.
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Em uma votação que tinha como principal acusação o crime de responsabilidade cometido pela presidente Dilma Rousseff, era de se esperar que a justificativa dos deputados federais para seus votos favoráveis ou contrários ao seguimento do impeachment fosse, obviamente, a validade ou não da denúncia. Mas o que se viu, no entanto, estava completamente fora desse roteiro. Apenas 20 votantes do “sim” citaram as palavras “crime/crimes” e “pedalada/pedaladas” em seus rápidos discursos, enquanto que 85 parlamentares justificaram seu voto citando “minha família” e 44, “Deus”, segundo levantamento feito por ISTOÉ a partir da transcrição da sessão. Fora isso, os brasileiros puderam acompanhar pela televisão toda a sorte de comportamentos. A deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO), ao ser chamada para votar, teve de ouvir de parlamentares palavras de assédio como “delícia” e “linda”. O deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) levou o filho ao plenário e pediu-lhe que declarasse qual seria o voto do pai. Vaias às mulheres, placas com os dizeres “tchau, querida”, cusparada de Jean Willys (PSOL-RJ) em Jair Bolsonaro (PP-RJ) e distribuição de ofensas foram outras das situações absurdas vistas pelos eleitores que fizeram com que a votação parecesse qualquer coisa, menos algo sério.
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CHOQUE 
Domingo, 17, durante a votação histórica que deu prosseguimento ao 
impeachment: representação de extratos sociais que o País não conhecia
Para o cientista político Humberto Dantas, professor do Insper e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), a votação foi um retrato do Brasil. “A sessão foi pautada pelo patrimonialismo, pela dificuldade de se separar o público do privado”, afirma. “A sociedade tem esses valores. Muitos brasileiros, se estivessem lá, teriam feito a mesma coisa.” São discursos que já estão presentes nas campanhas dos deputados e foram reproduzidos no momento da votação do impeachment justamente para arrecadar mais votos. “Eles pensaram: ‘Tenho meus dez segundos de fama, vou aproveitar’”, afirma Dantas. Falaram, principalmente, em religião e família, as duas instituições mais importantes na vida dos brasileiros. Quando o recorte é feito entre os menos escolarizados e de menor renda, a influência da fé é ainda maior. A falta de conhecimento e envolvimento do povo com a política brasileira também foi refletida na sessão do dia 17. Em um País onde o segundo deputado federal mais votado foi o palhaço Tiririca, é de se deduzir que uma grande parcela da população não leve o processo a sério, assim como muitos deputados no plenário. “Eles falaram a língua que o eleitor entende, que vai pedir emprego para o deputado, vai pedir um favor... É esse o perfil que eles queriam agradar”, afirma Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP).
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Mas se foram os próprios eleitores que colocaram esses parlamentares na Câmara, por que tantos brasileiros se assustaram com o que viram? Para Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esperava-se que, naquele momento, a postura dos deputados estivesse de acordo com a seriedade da situação. “Tratava-se de uma cerimônia estatal. Com a mistura do voto formal e essa quantidade de menções à família, à mãe, etc. ficou muito patente que aquelas pessoas não perceberam a profundidade do que estavam fazendo”, afirma. “Quando há uma quebra do decoro coletiva, como ocorreu, a população perde o respeito pela cerimônia.” Segundo o historiador Marco Antonio Villa, essa postura irresponsável é a mesma desde a criação do parlamento brasileiro, em 1826. “O conjunto era muito parecido com o de hoje – na república velha, na república populista, no regime militar e na redemocratização também.  Esses parlamentares são assim e o Brasil ficou estarrecido no domingo 17”, diz. “O baixo nível de concentração política é consequência do momento eleitoral, em que se permite votar em qualquer pessoa”, afirma. Villa salienta, porém, que o despreparo mostrado pelos deputados não desqualifica a decisão tomada. Nem o fato de apenas 36 deputados terem sido eleitos por obterem quantidade suficiente de votos próprios, sendo que o restante subiu por quociente eleitoral. “Esse argumento não deslegitima a votação, pois o sistema é conhecido e legal”, diz Dantas.
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Apontar o dedo para o eleitor, porém, é um equívoco, segundo Romano, da Unicamp. “Não é verdade que o brasileiro é passivo. Ele é, sim, reprimido”, afirma. “Historicamente, o povo foi adestrado a não participar da política”, diz. Assim, medidas mais drásticas, como uma reforma política, não são foco de pressão popular. A única alternativa é o voto que, apesar de ser um exercício da democracia, é uma maneira extremamente limitada de o eleitorado se expressar. “A candidatura quando chega à urna já é um prato feito para eleitor. Ele não foi convidado a discutir nada, a escolher, portanto dificilmente memoriza seu voto e acompanha o desempenho do candidato.” Dessa maneira o eleitor se torna vítima e cúmplice do sistema, contra a sua vontade. E assim a máquina política brasileira se retroalimenta, com as mesmas famílias e grupos políticos (leia mais no quadro ao lado) conseguindo se manter no poder por anos. A culpa por um parlamento tão despreparado é também, portanto, dos próprios parlamentares e seus partidos, que não têm consciência política nem buscam renovação.
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Se por um lado há muito o que se lamentar, por outro é possível vislumbrar um futuro de participação ativa dos brasileiros na política. As manifestações foram ouvidas, a pressão popular foi seguida e o resultado da votação é legítimo, apesar de demonstrar o baixo nível do parlamento. No final, o tiro dos deputados saiu pela culatra. Se esperavam angariar mais votos ao dizerem o que acreditavam que seus eleitores queriam ouvir, a sensação que os brasileiros tiveram ao assistirem à sessão é a de que é preciso renovação e mais pressão sobre os partidos por nomes mais preparados. O povo sabe o poder que tem e, daqui para frente, não vai mais aceitar parlamentares que não são dignos de representá-los.


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