Braços abertos: O argentino Guille Freire, fundador da Trocafone, estima que as vendas de aparelhos usados alcancem 10 milhões em 2016 ( foto: Claudio Gatti)
Quando regressou a Buenos Aires, em 2013, após concluir um MBA no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, o argentino Guille Freire, de 33 anos, tinha duas prioridades. A primeira era empreender. A segunda, trocar o iPhone 4 pelo modelo mais recente da Apple. Depois de achar um comprador para o seu velho aparelho em um site de produtos usados, ele marcou um encontro para concluir o acordo e recebeu o pagamento em dinheiro. Mas, quando foi depositar a quantia recebida, descobriu que as cédulas eram falsas.
A saída foi buscar um site similar para comprar um iPhone 5 por um preço mais em conta. Nova frustração. Ao voltar para casa, percebeu que o celular não carregava. Mais do que péssimas experiências, as duas sagas malsucedidas serviram de inspiração para que Freire fundasse a Trocafone, startup especializada na compra e venda de smartphones usados. O Brasil foi o local escolhido para dar o pontapé nesta empreitada, em maio de 2014. “Eu não falava praticamente nenhuma palavra em português”, diz Freire.
“Mas fazia mais sentido iniciar a operação aqui, pelo tamanho do mercado.” Menos de dois anos após sua estreia, a novata é uma das principais expoentes locais dessa vertente no País. Nesse modelo, os consumidores acessam o site da companhia e descrevem as condições do aparelho que planejam vender. Caso haja interesse, a empresa oferece frete grátis para o envio do smartphone. O pagamento é feito via depósito bancário. Os celulares são recondicionados e colocados à venda no próprio portal, com opções de parcelamento e descontos que variam de 40% a 60% do valor de um modelo novo.
E, principalmente, todos os modelos contam com garantia, evitando os problemas enfrentados por Freire em sua terra natal. O setor de celulares usados movimentou US$ 7 bilhões globalmente em 2014, segundo a consultoria americana Gartner. Em 2017, a estimativa é que as vendas dobrem. E esse movimento começa a ganhar escala no Brasil. “Nossa previsão é de que este segmento venda 10 milhões de aparelhos no País em 2016”, diz Freire. Embora não existam dados oficiais sobre esse mercado, para efeito de comparação, o Brasil fechou 2015 com 47,3 milhões de smartphones novos vendidos, de acordo com a consultoria americana IDC.
“O celular usado passa a ser uma opção para o consumidor que busca um aparelho mais sofisticado, mas que já não encontra opções tão acessíveis como há dois anos”, afirma Leonardo Munin, analista da consultoria IDC. O modelo também está atraindo empresas de telefonia e fabricantes de celulares. A entrega de um aparelho usado como parte do pagamento de um smartphone novo cresce como alternativa para combater a queda nas vendas. A Trocafone tem parcerias com Samsung, Motorola, LG, Sony, TIM e Oi e responde pela coleta de celulares em 800 lojas no País.
Freire diz que a novata fechou 2015 com uma receita de R$ 45 milhões e que espera triplicar o negócio em 2016. Depois de captar R$ 16 milhões em duas rodadas de investimento, com participação de fundos como 500 Startups e Wayra, a empresa está perto de anunciar um novo aporte, de R$ 20 milhões. Mas a companhia do empreendedor argentino não é a única a apostar neste filão. Estabelecer parcerias com teles e fabricantes é o foco da Ziggo, fundada em 2014, em Curitiba. “No começo, éramos vistos como uma ameaça por essas empresas.
Hoje, somos aliados”, diz o cofundador Guilherme Macedo. Atualmente, a novata compra celulares de consumidores e de empresas que estão renovando sua base de smartphones. A prioridade são os aparelhos da Apple, Samsung e Motorola. Com preços de venda que variam de R$ 300 a R$ 3 mil, o tíquete médio é de R$ 980. A Telefônica Vivo é uma das operadoras que já possui um programa próprio no qual smartphones e tablets usados abatem o valor de um novo modelo.
Batizada de Vivo Renova, a iniciativa é uma parceria com a americana Brightstar, que recondiciona os equipamentos coletados em mais de 300 lojas da tele. “Crescemos cinco vezes nossa operação em 2015”, diz Marcio Fabbris, vice-presidente de serviços móveis da Telefônica Vivo. Para 2016, a operadora planeja expandir o programa para mais de 2 mil revendas e introduzir o modelo de compra e venda online. “Esse segmento ainda vai ser muito similar ao mercado de carros usados”, diz Fabbris.
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