O secretário-geral da Câmara de São José, Saulo Monteiro de Souza, esteve pelo menos cinco vezes em Campo Grande (MS), em um espaço de menos de um ano, para participar de audiências e depoimentos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Saúde instaurada pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul ou de reuniões e palestras com os assessores do deputado Amarildo Cruz (PT), que presidiu os trabalhos da investigação.
Ao ser questionado por O VALE no mês passado sobre o recebimento de R$ 18.035,60 para prestar consultoria à CPI, ele sustentou que não precisou se deslocar a Campo Grande, fazendo a análise dos documentos a distânci
No entanto, O VALE obteve fotos e um vídeo que comprovam a presença do secretário-geral da Câmara na capital do Mato Grosso do Sul, que fica a 1.107 quilômetros de São José.
Saulo nasceu na cidade e tem parentes morando lá.
Na Assembleia. Em 19 de março de 2013 (uma terça-feira), dois meses antes do início da CPI, Saulo esteve reunido com assessores de Cruz, de quem é amigo pessoal.
Em 17 de junho do ano passado (uma segunda-feira), ele acompanhou o depoimento da secretária de Saúde do Mato Grosso do Sul, Beatriz Dobashi --neste caso, existem fotos e vídeos que comprovam a presença do secretário-geral da Câmara de São José no plenário da Assembleia.
Em 8 de julho do ano passado (uma segunda-feira), ele participou de uma audiência da CPI, assim como em 16 de setembro (que também caiu em uma segunda-feira).
Já em 15 de fevereiro último, quando a CPI já havia sido concluída, Saulo esteve em Campo Grande reunido com a equipe de Cruz.
Nas cinco datas, duas eram dias de expediente na Câmara de São José dos Campos --17 de junho e 16 de setembro.
Desconto. Após ser questionado por O VALE anteontem, Saulo informou que esses dias serão descontados de suas férias.
No entanto, nem ele nem a direção da Câmara informaram qual o valor que será retirado de seu salário, que atualmente é de R$ 12.705.
Já o dia 19 de março de 2013 foi feriado em São José dos Campos e o dia 8 de julho foi ponto facultativo na Câmara devido ao feriado da Revolução Constitucionalista (comemorado no dia seguinte).
O dia 14 de fevereiro deste ano, por sua vez, foi um sábado, também sem expediente na Câmara de São José.
Filiado ao PT, Saulo é advogado. Ele é ligado ao prefeito Carlinhos Almeida (PT), tendo atuado como coordenador da campanha dele ao Paço em 2012, e também tem relação estreita com a vereadora Amélia Naomi (PT), que o nomeou para dirigir a Secretaria-Geral no início de 2013, assim que assumiu presidência da Casa.
O cargo de secretário-geral é o principal na estrutura administrativa do Legislativo.
Questionada por O VALE sobre as viagens de Saulo a Campo Grande, Amélia disse que as mesmas não prejudicaram seu trabalho na Câmara.
“Os dias que eram de expediente serão descontados do salário. O Saulo tem feito bom trabalho e a Câmara não foi prejudicada com as viagens”, afirmou a petista.
Reação. Já o especialista em direito administrativo Alberto Rollo, de São Paulo, considera que houve irregularidades na ida de Saulo a Campo Grande em dias de expediente.
“Se ele faltou ao trabalho em dias de expediente, tem que haver desconto no salário. No serviço público, não pode haver acúmulo de funções no mesmo horário.”
O 2º vice-presidente da Câmara, Shakespeare Carvalho (PRB), seguiu a mesma linha.
“Vou pedir informações, mas no primeiro momento não me parece que as viagens do Saulo a Campo Grande tenham sido uma coisa positiva para a Câmara de São José”, disse Shakespeare.
“Quando o vereador falta na sessão, tem desconto no salário. O mesmo tem que ser aplicado aos funcionários, a não ser que haja uma justificativa”, afirmou o parlamentar.
'Tenho cumprido minhas obrigações'
São José dos Campos
O secretário-geral da Câmara de São José, Saulo Monteiro de Souza, garantiu que as viagens a Campo Grande não prejudicaram seu trabalho em São José dos Campos.
“Prestei serviços à CPI da Saúde como consultor, definindo estratégias, roteiros e aspectos jurídicos, sem obrigatoriedade de atuar presencialmente. Reitero que praticamente todo o trabalho foi realizado a distância”, disse Saulo na nota enviada a O VALE.
“Sobre minha presença em Campo Grande, é importante destacar que o dia 19 de março foi feriado e o dia 8 de julho, ponto facultativo em São José”, afirmou.
Segundo ele, os dias de expediente em que esteve em Campo Grande serão descontados de seu salário.
“Os dias 17 de junho e 16 de setembro (segundas-feiras) serão descontados das minhas férias, conforme combinado com o RH. Por último, o dia 15 de fevereiro, sábado, não há expediente na Câmara de São José”, afirmou o advogado.
“Saliento que em nenhum momento em que precisei me ausentar deixei de realizar minhas obrigações, cumprindo-as a contento.”
Para PSDB, é falta de compromisso
O presidente do PSDB de São José, Anderson Farias Ferreira, criticou a ausência do secretário-geral da Câmara, Saulo Monteiro de Souza, em dias de expediente. “É mais uma demonstração da falta de compromisso com São José dos forasteiros trazidos pelo Carlinhos Almeida e pela vereadora Amélia Naomi para cumprirem cargos de confiança”.
Deputado diz que trabalho foi legal
O presidente da CPI da Saúde na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, Amarildo Cruz (PT), garantiu que não houve irregularidades no trabalho prestado por Saulo Monteiro de Souza. “O Saulo foi contratado para dar consultoria à CPI. Não tinha horário definido. Ele prestou o serviço e recebeu. Não sei quantas vezes veio a Campo Grande”.
fonte: O Vale
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