Pular para o conteúdo principal

Especia dia dos Professores: Criado em uma favela, ele virou professor universitário. 'Ser professor permite que se torne mais humano',

Jailson de Souza e Silva é professor da UFF e diretor do Observatório de Favelas (Foto: Alexandre Durão/G1)

Jailson de Souza e Silva é professor da UFF e diretor do Observatório de Favelas (Foto: Alexandre Durão/G1)

Criado em uma favela do Rio, Jailson de Souza e Silva, 54 anos, foi o primeiro integrante da sua família a entrar na universidade. Ele é o caçula de cinco irmãos e viveu na comunidade da Mangueirinha (hoje um conjunto habitacional), em Brás de Pina, Zona Norte da cidade. Pelas bandas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou em geografia, sua origem causava estranheza. “Era o único aluno favelado, um ser exótico, recebia olhares enviesados. Um dia uma colega me falou: 'queria tanto ir na sua casa, nunca entrei em uma favela'. Eu respondi: 'ah, jura? Lá tem leão, girafa, zebra'. Ela ficou sem graça.”Jailson leciona há 32 anos, já foi docente no ensino fundamental e médio na rede particular e privada no Rio e há 23 é professor do curso de licenciatura em geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Fez mestrado e doutorado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) sobre educação popular e pós-doutorado nos Estados Unidos. Autor de vários livros sobre educação, entre eles “Por que uns e não outros?”, sua tese de doutorado que traça a trajetória de estudantes da Maré que chegaram à universidade, e se tornou referência na área de desempenho escolar.
Defensor de políticas públicas voltadas para a superação das desigualdades social, Jailson criou em 2001 o Observatório de Favelas, uma organização social que tem a missão de batalhar pela garantia desses direitos. Confira a seguir a entrevista parte do especial do G1 no Dia do Professor.
G1 - Por que decidiu lecionar?
Jailson de Souza e Silva - Sou primeiro membro da minha família a entrar na universidade. Até então não tinha entrado ninguém com nível superior na minha casa, nenhum médico, arquiteto ou advogado. O meu mundo, o da periferia do Rio de Janeiro, era muito restrito em termos de acesso a esse grupo. E eu comecei a frequentar a igreja com 13, 14 anos, e havia algo muito grande na valorização do conhecimento. Meu pai era um homem semiletrado, mas valorizava muito o conhecimento. Então se tornou natural para mim ter um tipo de ofício, trabalho, profissão, que eu pudesse estar aprendendo e ao mesmo tempo partilhando conhecimento. Ser professor se tornou uma decisão muito definitiva para mim já na adolescência. 
Sempre estudei na rede pública da periferia, tudo que aprendi devo à rede pública. Em 1984 me formei em geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas já dava aulas para o ensino médio à noite. Assim que me formei dei sorte que abriu um concurso na rede municipal do Rio, passei, e nesta época já tinha muita clareza: "Vou viver com dignidade como professor".
G1 - Teve de conciliar mais de um emprego?
Jailson de Souza e Silva - Dava aulas na rede municipal do Rio e fui aprovado no concurso da universidade federal. Trabalhava nos dois empregos. Quando passei para o mestrado em educação na PUC-Rio, larguei a universidade federal, depois até ganhei uma bolsa. Um dia ouvi minha mãe falando para a vizinha que eu era um gênio, pois até me pagavam "um dinheirão" para eu estudar. Ela ficou espantada quando eu falei que ganhava para estudar. Terminei o mestrado e fiz um novo concurso para a UFF, passei e comecei trabalhar com formação de professores de geografia em dedicação exclusiva, onde estou há 23 anos.
G1 - O que te motivava?
Jailson de Souza e Silva - A igreja trabalhava muito com essa questão do importante é você "ser" e não "ter", na contramão da lógica da valorização do consumo. Meu pai era semiletrado, farrista, boêmio, mas gostava muito de ler, e investia prioritariamente na educação como forma de ascensão social. Ele teve cinco filhos, todos homens, eu sou o caçula, ele ganhava muito pouco, era o único provedor, mas não permitia que ninguém trabalhasse até 18 anos. Na cabeça dele, todo mundo tinha de terminar o ensino médio para entrar para as Forças Armadas. A questão do conhecimento era fundamental na minha vida, lia muito, adorava ler, era um leitor voraz e compulsivo, o que me estimulava muito.
 
Jailson de Souza e Silva é professor da UFF e diretor do Observatório de Favelas (Foto: Alexandre Durão/G1)
G1 - Os problemas como salário baixo, estrutura deficitária das escolas, entre outros, fizeram com que você pensasse em desistir da carreira em algum momento?
Jailson de Souza e Silva - Não, porque tinha um projeto muito claro de ser professor de universidade. Dizia para o meu pai que para mim o auge da carreira era ser professor universitário com doutorado de uma universidade federal. Era a minha questão central.
G1 - Já foi vítima de ofensa ou violência na sala de aula?
Jailson de Souza e Silva - Nunca vivi, e acho que há exagero grande sobre isso. Sempre existiram episódios de violência, me lembro quando criança, uma vez, os alunos começaram a tirar os tacos do chão da sala e jogar na classe vizinha. Foi um furor. Mas eu, enquanto professor, sempre trabalhei muito essa questão da relação ética, com muito papo cabeça com os alunos.
Teve uma oportunidade em que eu trabalhei com dez turmas de 5ª série. Quinta série é o horror da escola, professor geralmente odeia trabalhar [neste nível]. As crianças me desafiavam muito. Como estratégia, negociava as notas, com autoavaliação, orientava os alunos sobre seu poder e como o reconhecimento desse poder tem de ser levado em conta. Não tinha insegurança até pelo fato de ter vivido na periferia, tinha muita conversa e não tinha problema em não saber algo.
Quando se fala em violência na escola é sempre a violência dos alunos, não se fala da violência sobre o aluno. A discussão tem de ser levada em conta em todos os níveis. Os conflitos só se tornam violência quando não há um caminho de mediação deles. Eu conheço várias alunos da favela que sabem quando o professor tem medo. O professor tem preconceito e se sente intimidado porque trabalha com um conjunto de juízo de que o aluno é um criminoso em potencial e não tem civilidade. Então é importante levar em conta tanto a violência promovida pelos alunos, quanto pelos professores e pela direção.
G1 - Vale a pena ser professor?
Jailson de Souza e Silva - A imensa maioria de professores que eu conheço melhora de vida em relação à sua origem, pois permite a ascensão social e econômica. Na carreira de professor, assim como a de advogado, tem as pessoas que ganham pouco e as que ganham bem, que melhoram as condições de vida. Mas, principalmente, acho que ao contrário do trabalho do policial, que lida com as piores mazelas, ou o bancário, que tem um trabalho repetitivo, o trabalho de professor permite que você se torne cada vez mais humano. O sentido é formar cidadãos cada vez mais plenos, que tenham ética e habilidades cognitivas desenvolvidas. Isso ninguém me tira. Ser professor permite que a gente se torne um ser mais humano, mais sensível, mais generoso, mais educado no melhor sentido do termo. Vamos torcer para a valorização do professor vir cada vez mais rápida. Educação é importante demais para ficar só na mão do professor, tem de ser um compromisso da família, da comunidade, das lideranças.

Comentários

ᘉOTÍᑕIᗩS ᗰᗩIS ᐯISTᗩS

Agricultura familiar conectada

  #Agrishow2022euaqui - A revolução tecnológica demorou a chegar, mas finalmente começou a transformar a vida do pequeno agricultor familiar brasileiro. Com o surgimento das foodtechs, aliado ao aumento da confiança na compra on-line de alimentos e na maior busca por comidas saudáveis por parte do consumidor, o produtor de frutas, legumes e verduras (FLV) orgânicos começa a operar em um novo modelo de negócio: deixa de depender dos intermediários — do mercadinho do bairro aos hipermercados ­— e passa a se conectar diretamente ao consumidor final via e-commerce. Os benefícios são muitos, entre eles uma remuneração mais justa, fruto do acesso direto a um mercado que, segundo a Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), movimentou R$ 5,8 bilhões em 2021, 30% a mais do que o ano anterior, e que não para de crescer. DIRETO DA LAVOURA A LivUp é uma das foodtechs que está tornando essa aproximação possível. Fundada em 2016, a startup iniciou a trajetória comercializa

ELAS

  Swanepoel, sempre ela! A modelo Candice Swanepoel sempre é motivo de post por aqui. Primeiro, porque é uma das mulheres mais lindas do mundo. Depois, porque faz os melhores ensaios da Victoria’s Secret. Depois de agradar a todos no desfile da nova coleção, ela mostrou toda sua perícia fotográfica posando de lingerie e biquíni. Tags:  biquini ,  Candice Swanepoel ,  ensaio sensual ,  lingerie ,  victoria's secret Sem comentários » 29/11/2011   às 20h02   |  gatas Lady Gaga é muito gostosa, sim, senhor. A prova: novas fotos nuas em revista americana A estrela pop Lady Gaga é conhecida pela extravagância na hora de se vestir e pelos incontáveis sucessos nas paradas do mundo todo. Agora, a cantora ítalo-americana também será lembrada por suas curvas. A revista Vanity Fair fez um ensaio para lá de ousado em que Mother Monster (como Gaga é carinhosamente chamada pelos fãs) mostra suas curvas em ângulos privilegiados. A primeira foto é

Confira quais são os principais lançamentos do Salão de Pequim 2024

  Com as montadoras chinesas crescendo fortemente no Brasil e no mundo, a edição 2024 do Salão do Automóvel de Pequim irá apresentar novidades que vão impactar não apenas o mercado chinês, como também revelar modelos que devem ganhar os principais mercados globais nos próximos anos Este ano nós do  Motor1.com Brasil  também está lá, mostrando os principais lançamentos que serão realizados na China. Além de novidades que ainda podem chegar ao Brasil, o que vemos aqui também chegará à Europa em breve. Isso sem contar as novidades da  BYD  para o nosso mercado. Audi Q6 e-tron O novo SUV elétrico da Audi se tornará Q6L e-tron. A variante com distância entre eixos longa do já revelado Q6 e-tron fará sua estreia no Salão do Automóvel de Pequim. O novo modelo, projetado especificamente para o mercado doméstico de acordo com os gostos dos motoristas chineses, será produzido na fábrica da Audi FAW NEV em Changchun, juntamente com o Q6 e-tron e o A6 e-tron. Reestilização do BMW i4 BMW i4 restyli

Governo Lula propõe ‘imposto do pecado’ e taxação deve atingir cigarro, bebidas e até veículos

  Um pacotão de novos impostos deve pesar no bolso do contribuinte brasileiro. O governo  Lula  apresentou uma proposta de reforma tributária que inclui a criação do chamado ‘imposto do pecado’. O texto conta com aval dos Estados. Se concretizada, essa taxação passará a ser aplicada sobre produtos como cigarros, bebidas alcoólicas, bebidas todas como açucaradas, veículos enquadradas como poluentes, e também na extração de minério de ferro, petróleo e gás natural. O projeto visa a tributar esses bens e serviços com uma alíquota mais elevada em comparação com outros itens da  economia . A proposta, no entanto, aponta que a definição das alíquotas deve ser estabelecida posteriormente por lei ordinária. Além disso, ainda não está claro se a introdução do imposto do pecado resultará em um aumento da carga tributária em relação ao sistema atual, no qual esses produtos já são taxados com alíquotas mais elevadas. Atualmente, segundo o Sindicato Nacional da Indústria das Cervejas (Sindicerv), c

BYD: 2ª geração da bateria Blade chega em 2024 com alcance de 1.000 km

A BYD, gigante chinesa de tecnologia e líder global em carros elétricos e híbridos plug-in, anuncia a vinda da segunda geração da bateria Blade, com lançamento previsto para agosto de 2024. A nova tecnologia promete ser um grande passo com avanços em autonomia, desempenho e custo.  A revelação foi feita recentemente pelo próprio CEO da BYD, Wang Chuanfu, que falou sobre a novidade pela primeira vez em uma reunião de comunicação de resultados financeiros sobre a BYD estar atualmente desenvolvendo um sistema de bateria Blade de segunda geração. A BYD, gigante chinesa de tecnologia e líder global em carros elétricos e híbridos plug-in, anuncia a vinda da segunda geração da bateria Blade, com lançamento previsto para agosto de 2024. A nova tecnologia promete ser um grande passo com avanços em autonomia, desempenho e custo.   A revelação foi feita recentemente pelo próprio CEO da BYD, Wang Chuanfu, que falou sobre a novidade pela primeira vez em uma reunião de comunicação de resultados fina

Sai a lista anual de bilionários da Forbes 2024; veja os 10 mais ricos do mundo

  1. Bernard Arnault (França) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 233 bilhões (R$ 1,18 trilhão) Pelo segundo ano consecutivo, Arnault é a pessoa mais rica do mundo. Sua fortuna cresceu 10% em 2023 graças a mais um ano de faturamento recorde para seu conglomerado de luxo, o LVMH, dono de Louis Vuitton, Christian Dior e Sephora. 2. Elon Musk (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 195 bilhões (R$ 987 bilhões) Como o ranking muda constantemente, Musk ganhou e perdeu diversas vezes o título de "mais rico do mundo", à medida que mudou a valorização das suas empresas, a SpaceX, a Tesla e a rede social X (antigo Twitter). 3. Jeff Bezos (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 194 bilhões (R$ 982 bilhões) Bezos ficou mais rico este ano graças ao excelente desempenho da Amazon no mercado de ações. 4. Mark Zuckerberg (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 177 bilhões (R$ 895 bilhões) O presidente da Meta enfrenta altos e baixos. Depois

Brasileiros estão sentindo no bolso e 79% dizem que preço dos alimentos aumentou

  A mais recente pesquisa realizada pelo Ipec (antigo Ibope) aponta que a maioria dos brasileiros, 79% deles, acredita que o preço dos alimentos aumentou nos últimos meses no país. Enquanto isso, uma parcela menor, representando 9% dos entrevistados, acredita que houve uma queda nos preços dos alimentos. Apenas 11% acreditam que os preços permaneceram estáveis. Aqueles que não souberam ou não responderam correspondem a 1% dos participantes. Além de avaliar a percepção atual, os pesquisadores também investigaram as expectativas para o futuro. Para 64% dos entrevistados, a tendência é de que os preços continuem a subir nos próximos meses. Enquanto isso, 15% acreditam que os valores vão diminuir, e 18% esperam que fiquem iguais aos de hoje. Aqueles que não souberam ou não responderam representam 3%. O levantamento ouviu 2000 pessoas entre os dias 4 e 8 de abril em 129 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos percentuais e um nível de confiança de 95%. Informação: Conexão Pol

Anvisa decreta retirada imediata de marca popular de sal de mercados

  Comunicado da Anvisa: Retirada de Produtos do Mercado A  Anvisa  (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou a retirada imediata de marca conhecida de  sal  dos supermercados. A ação foi tomada após a detecção de uma  substância perigosa  utilizada durante a fabricação desses produtos. Sal Rosa do Himalaia Iodado Moído da Kinino : A Anvisa emitiu a Resolução-RE Nº 1.427, datada de 12 de abril de 2024, ordenando a suspensão da venda, distribuição e uso do lote 1037 L A6 232, produzido pela H.L. do Brasil Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios LTDA. A medida veio após resultados insatisfatórios em testes de iodo, essencial para a prevenção de doenças da tireoide como o bócio. Macarrão da Marca Keishi : Em 2022, a marca Keishi, operada pela BBBR Indústria e Comércio de Macarrão, foi proibida de vender seus produtos devido à contaminação por propilenoglicol misturado com etilenoglicol. A substância tóxica, também encontrada em petiscos para cães que causaram a morte de 40