Presidente do México Peña Nieto
Presidente da Argentina, Marcelo Macri
Davos Fórum Econômico Mundial
No Fórum Econômico Mundial, em Davos, há painéis fixados em todos os cantos com mensagens devidamente pensadas para atingir o público-alvo que freqüenta o evento: o investidor bem sucedido e que busca expandir seus negócios. Um dos cartazes,
posicionado na parede do pequeno terminal de vans que transportam os participantes dentro da cidade, diz o seguinte: ‘pegue a van, relaxe e faça contatos”. Em Davos, tudo é pretexto para iniciar conversas que possam render, no futuro, até mesmo uma fusão de empresas. Pudera. Um típico participante do Fórum desembolsa nada menos que US$ 30 mil para estar ali, transitando sob temperaturas negativas nos diversos pontos da cidade que abrigam eventos. Cada minuto é, portanto, precioso. Por isso não é de se estranhar o pouco caso de Davos em relação ao Brasil este ano. Depois de três participações seguidas defendendo um discurso de retomada de crescimento que jamais se concretiza, o país vem se tornando, literalmente, perda de tempo para os frequentadores. “Há um sentimento de indiferença, desinteresse das pessoas”, avalia o economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, participante assíduo do Fórum.
Na gélida estação de esqui suíça, onde o frio ultrapassa facilmente - 10 graus e a neve dificulta a locomoção pelas ruas estreitas da cidade, os comentários colhidos pela reportagem sobre o país causam certo constrangimento. Ao se deparar com um brasileiro, participantes franzem a testa e estampam no rosto expressão de lamento. Em seguida, perguntam sobre as Olimpíadas, com ar de descrença sobre a real execução dos Jogos no Rio de Janeiro. O interesse para aí. A empolgação de outros tempos não existe mais. “O Brasil submergiu enquanto o México está prestes a se graduar, ou seja, abandonar a condição de emergente e se tornar desenvolvido”, avalia o economista Ian Bremmer, sócio da consultoria Eurasia, sediada em Washington. O antagonismo entre Brasil e México é assunto recorrente entre os observadores da América Latina que transitam pelo local. E para essa avaliação leva-se em conta não apenas os indicadores econômicos, mas também o protagonismo de cada país no evento. O presidente mexicano Enrique Peña Nieto comparece anualmente a Davos com uma enorme comitiva de empresários – era figurinha carimbada mesmo antes de ser eleito. O mesmo acontece com Mauricio Macri, recém-empossado presidente da Argentina. Como prefeito de Buenos Aires, chegava anualmente ao Fórum como a única voz argentina capaz de dar algum alento aos investidores calejados pelos malfeitos de Cristina Kirchner na economia local. Como presidente, é hoje um dos destaques do evento. É o homem que conseguiu trazer de volta o filho pródigo que por tantos anos se enveredou pelo caminho do populismo e do intervencionismo estatal. “Estamos sendo, inclusive, chamados a investir na Argentina”, conta o empresário brasileiro Bernardo Gradin, da Graal Investimentos, que investe em projetos de bioenergia e etanol.
Em Davos, imagem é tudo. E a do Brasil, há pelo menos três anos, guarda arranhões profundos. Em 2014, a presidente Dilma, torcendo o nariz, se deslocou até a cidade suíça em sua primeira visita ao Fórum no intento de transmitir aos investidores a imagem de que seu governo “tomaria jeito” e cuidaria da política fiscal. Levou consigo uma comitiva composta por ministros e empresários, e fez uma série de reuniões bilaterais com investidores e presidentes de multinacionais. Tomou o palco principal do evento, ao lado do fundador do Fórum, Klaus Schwab, para discorrer sobre quão atrativo era o Brasil. Schwab disse, ao final, que depois de sua apresentação, havia voltado a ter confiança no país. Dois anos transcorreram desde então e a crise se aprofundou de forma não vista desde a década de 1990. Dilma jamais retornou a Davos, mas enviou seus dois ministros da Fazenda desde então: Joaquim Levy e Nelson Barbosa.
Em Davos, imagem é tudo. E a do Brasil, há pelo menos três anos, guarda arranhões profundos. Em 2014, a presidente Dilma, torcendo o nariz, se deslocou até a cidade suíça em sua primeira visita ao Fórum no intento de transmitir aos investidores a imagem de que seu governo “tomaria jeito” e cuidaria da política fiscal. Levou consigo uma comitiva composta por ministros e empresários, e fez uma série de reuniões bilaterais com investidores e presidentes de multinacionais. Tomou o palco principal do evento, ao lado do fundador do Fórum, Klaus Schwab, para discorrer sobre quão atrativo era o Brasil. Schwab disse, ao final, que depois de sua apresentação, havia voltado a ter confiança no país. Dois anos transcorreram desde então e a crise se aprofundou de forma não vista desde a década de 1990. Dilma jamais retornou a Davos, mas enviou seus dois ministros da Fazenda desde então: Joaquim Levy e Nelson Barbosa.
A vida do atual ministro, que esteve pela primeira vez no Fórum, se complicou ao pisar em solo suíço. Como era a única autoridade brasileira no local, Barbosa teve de responder a perguntas sobre o derretimento das ações da Petrobras devido à queda do preço do barril do petróleo abaixo de US$ 30, a disparada do dólar a patamar recorde no Plano Real, a manutenção da taxa de juros em 14,25% pelo Banco Central, o número de 1,5 milhão de vagas fechadas no ano passado e divulgado pelo Caged, e a piora das previsões do FMI sobre a economia brasileira. O ministro tentou desviar e se disse otimista com o que ouviu, sobretudo, de empresários durante o Fórum. “Vamos voltar a criar emprego ainda em 2016”, prometeu, depois de uma sequência de reuniões bilaterais que incluíam desde o presidente do Walmart, David Cheesewright, ao secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jacob Lew. O problema é que Davos deixou de acreditar nas promessas do Brasil. Ainda que a agenda de Barbosa tenha sido repleta de conversas, o ministro não integrou os principais debates que tratam das perspectivas para os países emergentes e a América Latina. Autoridades brasileiras costumavam liderar esse tipo de conversa em anos anteriores -- até mesmo Guido Mantega era disputado. Este ano, o principal painel sobre o futuro da região foi conduzido pelo presidente mexicano Peña Nieto. Nada pessoal contra Barbosa, mas Davos dá sinais claros de que uma nova liderança se consolida no mundo emergente e na América Latina. E não é o Brasil.
Não bastasse a posição de “patinho feito” relegada ao país devido à crise econômica e à falta de credibilidade do governo, a Operação Lava Jato acertou em cheio muitos dos “Davos Men” brasileiros.André Esteves, que estava preso até o final de dezembro em Bangu 8, no Rio de Janeiro, era frequentador assíduo do evento. Passava os quatro dias internado em salas de reuniões com investidores da Ásia e do Oriente Médio, de onde saía apenas para encontrar-se com autoridades brasileiras. Quando Dilma foi a Davos e recebeu empresários para um encontro, Esteves moldou sua agenda para poder estar disponível para a presidente – e na reunião, foi classificado como “adulador” pelos empresários presentes. Desta vez, ele não veio. E o Fórum ainda não sabe muito bem o que fará se o banqueiro quiser comparecer no ano que vem. “Há muito tempo não tínhamos um caso assim, de um participante tão renomado sendo preso. Não acontecia desde o caso da Enron, em 2001”, explicou um dos organizadores. Outras ausências decorrentes da Lava Jato também foram sentidas entre os freqüentadores mais assíduos.Odebrecht, Petrobras e Andrade Gutierrez enviavam representantes ao Fórum anualmente. Mas em 2016, seja pela crise ou pelo constrangimento, ninguém compareceu. Marcelo Odebrecht, que há sete meses passa seus dias no Complexo Médico Penal, em Pinhais, no Paraná, já viveu dias gloriosos em Davos. Foi laureado, em 2006, com o titulo de jovem líder global do Fórum Econômico Mundial – distinção considerada a porta de entrada para ascender na hierarquia da organização. A cadeia, contudo, colocou os planos em pausa.
Comentários