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O poder dos dissidentes dos sindicatos nas greves pelo Brasil

    
A última segunda-feira, dia 19, terminou em festa na Rua Pirapitingui, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Depois de duas semanas de exaustivas discussões sobre o reajuste salarial de motoristas e cobradores de ônibus, um acordo se desenhava pela primeira vez, em meio a promessas vindas de um carro de som estacionado próximo ao sindicato. Cerca de 4 mil acompanhavam atentos a fala de José Valdevan de Jesus Santos, o Noventa, presidente do Sindmotoristas. Ao fim do anúncio da proposta – aumento de 10% no salário, além de R$ 16,50 de vale-refeição e R$ 850 de participação nos lucros –, a maioria do público ergueu os braços. O acordo estava aprovado. A notícia se espalhou pelas garagens – e não foi bem recebida. Milhares de motoristas e cobradores, ausentes da assembleia de horas antes, não concordaram com o que ouviram. No dia seguinte, São Paulo parou.
Numa ação surpresa, os motores de cerca de 800 ônibus, que deveriam circular pela cidade no dia 20, foram desligados. Com pneus furados e até correias cortadas, veículos interromperam vias. Dos 28 terminais urbanos, 16 foram interditados. Passageiros foram expulsos de ônibus à força no meio do trajeto. Em alguns casos, segundo o secretário de Transportes da prefeitura, Jilmar Tatto, sob a mira de um revólver. Muitos caminharam quilômetros para chegar a seu destino. Alguns, sem dinheiro para o táxi nem para uma carona improvisada, dormiram na rua ou nos próprios terminais. O congestionamento paulistano superou qualquer feriado do ano, com 261 quilômetros de filas. Mais de 1 milhão de pessoas foram afetadas pela paralisação – o SPUrbanuss, o sindicato das empresas, fala em 4 mil veículos parados e 2,6 milhões de passageiros que deixaram de ser atendidos. Trens e metrôs ficaram superlotados. O prefeito Fernando Haddad (PT) considerou a ação uma espécie de “guerrilha”. Houve tumulto, medo e desmaios.
A greve terminou com troca de acusações entre a prefeitura e o governo do Estado, responsável pela Polícia Militar. Tatto acusou a PM de ter sido omissa ao enfrentar os tumultos. Em resposta, o jornalista Márcio Aith, subsecretário de Comunicação do governo do Estado, acusou Tatto de dificultar uma investigação sobre ataques de ônibus neste ano, quando 75 veículos foram queimados durante protestos. Aith revelou que, em março, um deputado estadual do PT e pelo menos 13 integrantes da maior facção criminosa que opera nos presídios paulistas participaram de uma reunião em que foram organizados ataques na sede de uma empresa de ônibus. O deputado era Luiz Moura, um ex-fugitivo da cadeia, condenado por assalto nos anos 1990. Nesta semana, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) julgou abusiva a greve de ônibus em São Paulo. Os sindicatos das empresas e dos motoristas e cobradores de ônibus terão que pagar multa de R$ 200 mil pela greve que afetou a população da cidade nos dias 20 e 21 de maio, conforme reportagem do G1
A prática de greve é assegurada pela Constituição de 1988. Uma lei do ano seguinte regulou seu exercício e impôs regras. Desde então, as negociações ocorrem entre os sindicatos de trabalhadores e de patrões. A suspensão coletiva do trabalho deve ser pacífica e, no caso das atividades essenciais, como a rodoviária, informada com 72 horas de antecedência. Para as demais, apenas 48 horas. Sem aviso prévio, o ato da semana passada em São Paulo não seguiu nenhuma das exigências legais. A ação tão ilegal quanto espontânea abalou a legitimidade do movimento sindical. “As instituições sindicais no Brasil estão mais caducas que as representações políticas”, afirma o cientista político José Paulo Martins Junior, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não tem inovação, a estrutura permanece a mesma da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) dos anos 1940.”
Poucos sentiram tanto o impacto de um movimento grevista inesperado como o PT, de Haddad. No passado, greve era quase sinônimo de PT, um partido ligado ao movimento sindical desde sua fundação, em 1980. Não mais. Um importante dirigente petista de São Paulo disse a ÉPOCA que a presidente Dilma Rousseff está “encastelada” no Palácio do Planalto e, por isso, perdeu a interlocução com movimentos sociais e o sindicalismo pelo país. Para ele, muitos movimentos de trabalhadores são hoje dominados por grupos mais à esquerda do PT e por “aproveitadores de direita”. A greve paulistana pegou de surpresa o próprio sindicato, que não soube traduzir o sentimento dentro de sua categoria. Noventa, o presidente do Sindmotoristas, disse não saber quem ou que interesses moviam o ato. “Um dia aprovam a proposta, no outro param 100% da frota.”
Os dissidentes do sindicato de São Paulo afirmaram que a comemorada assembleia do dia 19, em que se definiu o reajuste salarial de 10% (acima do índice de inflação dos últimos 12 meses, de 6,3%), estava inicialmente marcada para o dia 20. Como a antecipação foi pouco divulgada, dizem, eles não puderam opinar e decidiram parar. “O sindicato nos deu uma punhalada nas costas”, afirmou um motorista da Viação Santa Brígida que engrossava o coro pela mais recente reivindicação: um aumento salarial de até 33%.
Para mediador do Ministério do Trabalho, a greve paulistana ocorreu de baixo para cima,
“como um vulcão”
A palavra de ordem nas ações de trabalhadores é dissidência. Em março, as ruas do Rio de Janeiro foram tomadas por montanhas de lixo em pleno Carnaval, depois de um racha no sindicato dos garis. Descontentes com o acordo de reajuste salarial entre o sindicato e a prefeitura, eles encostaram suas vassouras por oito dias. Só retomaram as atividades após um reajuste de 37%. Num episódio semelhante, a greve dos motoristas cariocas, no início de maio, terminou com uma situação jurídica inusitada. O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus do Rio (Sintraturb) foi intimado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) a pagar uma multa diária de R$ 50 mil por cada dia de greve, caso 70% da frota não circulasse. O mesmo sindicato era contrário à paralisação. Como em São Paulo, a greve no Rio foi articulada por dissidentes. Quem é o responsável? “É um tema tão novo que ninguém sabe como lidar”, diz o advogado trabalhista Waldir Nilo Passos. “Isso mostra quanto estamos carentes de lideranças sindicais.” O Sintraturb recorreu à Justiça para não pagar a cobrança – o processo ainda não foi analisado.
Poucos momentos no Brasil foram mais propícios para uma ebulição de descontentes. A partir da redemocratização, as greves deixaram os pátios das empresas e foram para ruas e praças públicas. A superexposição inspira novas paralisações – exatamente como a ocorrida na última semana, quando motoristas e cobradores de 14 cidades da Grande São Paulo seguiram o exemplo da capital e pararam seus ônibus. Um movimento semelhante ocorreu também em Cuiabá, Mato Grosso. O comportamento grevista, muitas vezes sem controle de seus representantes eleitos, ganhou força às vésperas da Copa, quando prolifera entre os brasileiros a avaliação de que o evento consumiu recursos altíssimos que deveriam ter outros fins. “A Copa é o curto-circuito”, diz o sociólogo Ricardo Antunes, da Universidade de Campinas. “É um momento importante para um movimento que não tem tido voz nos últimos anos.”
Após um vaivém de negociações e sob o risco de multa ao sindicato, a greve de São Paulo foi suspensa depois de 48 horas, na quinta-feira. A trégua não significou o fim dos transtornos. Os motoristas e cobradores dissidentes afirmam já circular, por garagens da capital, um informativo com uma convocação um tanto previsível: um chamado para que trabalhadores encostem seus ônibus no primeiro minuto do dia 12 de junho, data da abertura da Copa do Mundo, em São Paulo. “Não descarto uma paralisação na Copa”, afirma o sindicalista Noventa. “Se não melhorarem a proposta, com certeza os trabalhadores escolherão a melhor hora para outra greve.” Em algum ponto, o sindicato dos motoristas e seus dissidentes ainda concordam.
Braços cruzados dissidentes (Foto: reprodução)

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