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Os riscos da pílula anticoncepcional




Mãe de três crianças, a carioca Elizângela Barbosa, de 32 anos, morreu em setembro num hospital de Niterói, no Rio de Janeiro. A causa da morte: aborto realizado numa clínica clandestina. Elizângela não tinha condições de cuidar de um quarto filho. Precisava voltar a trabalhar. O corpo da auxiliar administrativa Jandira dos Santos, de 27 anos, desaparecida em agosto, foi enterrado dias após a morte de Elizângela. Fora encontrado carbonizado dentro de um carro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Grávida de quatro meses, Jandira fizera o aborto em outra clínica ilegal. Tinha medo de perder o emprego por causa da gravidez, resultado de um relacionamento efêmero. A crueza das mortes chocou o país e reacendeu a polêmica sobre o aborto.
Se o debate se arrasta por décadas e parece longe do fim, uma nova safra de pesquisas, nacionais e internacionais, sugere um caminho para reduzir as chances de que outras mulheres se exponham ao sofrimento – e ao risco de perder a vida – enfrentado por Elizângela, Jandira e outros milhões de brasileiras. Uma pesquisa da Universidade de Brasília estima que 20% das brasileiras fazem aborto durante a vida reprodutiva.
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Os novos estudos sugerem que contraceptivos mais seguros do que a pílula,   o método mais popular no Brasil, poderiam diminuir o número de gestações não planejadas. São três tipos de contraceptivos: um implante sob a pele que libera hormônios para impedir a ovulação e dois tipos de dispositivos colocados dentro do útero, mais conhecidos como DIU. Eles contêm cobre ou hormônio.  Tornam o ambiente intrauterino hostil ao encontro do espermatozoide com o óvulo. Considerados de longa duração, podem ficar no corpo entre três e dez anos (leia o quadro). Apesar das vantagens, são pouco usados no Brasil. Apenas 4,5% das mulheres usam DIU, e 0,4% implante. A pílula é o contraceptivo preferido de 71,3% das brasileiras, segundo levantamento realizado a pedido do Ministério da Saúde em 2006. “A oferta de opções contraceptivas não está na quantidade e no alcance necessário, como mostra o número de mulheres que engravidam sem planejar”, diz a epidemiologista Maria do Carmo Leal, da Fundação Oswaldo Cruz. Uma pesquisa coordenada por ela revelou que 55% das gestações no Brasil não são planejadas.
 
RELAÇÃO DIRETA Luis Bahamondes, da Unicamp. Sua pesquisa mostra que a prevenção eficaz da gravidez evita abortos (Foto: Erich Schlegel/AP/ÉPOCA)
Um estudo publicado em agosto por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que os métodos de longa duração são uma ferramenta importante para evitar abortos. O uso do implante subdérmico, do DIU de cobre e do hormonal poderia ter evitado entre 1.056 e 1.412 abortos, em quase 21 mil mulheres atendidas em dez anos no Hospital da Mulher, da Unicamp. “Esses métodos não dependem de que a mulher se lembre de usá-los, como acontece com a pílula. Por isso, são altamente eficazes”, diz o ginecologista Luis Bahamondes, coordenador do estudo. As mulheres atendidas na Unicamp também usaram uma injeção hormonal a cada três meses. Ela reduz a chance de esquecer de tomar o medicamento, mas não a elimina inteiramente. Estatísticas internacionais sugerem que 6% das mulheres engravidam se há falha no uso. A segurança oferecida pelos DIUs e pelo implante é maior. Entre 0,2% e 0,8% das mulheres engravidam com o DIU nas falhas como o deslocamento do dispositivo. Para o implante subcutâneo, a gravidez é menor: 0,05%. Com a pílula, chega a 9%. Quase uma em cada dez se há erro no uso.
A impopularidade dos métodos de longa duração no Brasil começa pelo fato de apenas um deles – o DIU de cobre – ser distribuído na rede pública. O sistema intrauterino que libera hormônios e o implante subdérmico não fazem parte das opções oferecidas pelo Ministério da Saúde. Estão disponíveis apenas em consultórios particulares. O preço dos dispositivos, somado ao custo da colocação pelo médico, pode chegar a R$ 2 mil. A Agência Nacional de Saúde Suplementar determina que os planos de saúde cubram a colocação do DIU de cobre e do hormonal, mas não há exigência para cobertura do implante na pele. O oferecimento na rede pública aumentaria o acesso aos métodos de longa duração. “Já pedimos uma reunião com o Ministério da Saúde, para solicitar que sejam incluídos na política de planejamento familiar”, diz Marta Franco Finotti, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. 

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que a inclusão de novos medicamentos na rede pública depende da comprovação da eficácia e do custo-benefício.
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A eficácia está estabelecida por dados acumulados desde o lançamento do DIU com hormônio, na década de 1990, e de implantes, nos anos 1980. O custo-benefício foi calculado num estudo divulgado no mês passado por um pesquisador da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, em parceria com uma consultoria de mercado e uma empresa farmacêutica, patrocinadora do estudo e produtora do DIU hormonal e de uma marca de implante. Segundo o estudo, o preço dos métodos de longa duração equivalem a quase três anos do gasto mensal com contraceptivos de curto prazo, como a pílula, nos EUA. Como duram entre três e cinco anos, o custo final é equivalente ou menor.

Mesmo a existência do método de prevenção de longo prazo na rede pública não garante seu uso. É o que acontece com o DIU de cobre. Ele é distribuído pelo Ministério da Saúde, mas muitas mulheres reclamam que é difícil colocá-lo nas unidades básicas de saúde de seus municípios. “Quando procuram por esse método, são incentivadas a usar pílula ou preservativo”, afirma a educadora Simone Ferreira, da organização não governamental S.O.S Corpo, de Pernambuco, que promove ações educativas para formar lideranças femininas no Estado.
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O problema não acontece só em municípios de Pernambuco. A dona de casa Gleiciane Mota, de 23 anos, tentou colocar o DIU de cobre em postos de saúde de duas cidades diferentes do Estado de São Paulo: na capital e em Campinas, no interior. Não conseguiu. Na primeira vez, em São Paulo, Gleiciane acabara de ter o primeiro filho, Dylan, hoje com 4 anos. A médica disse que não fazia o procedimento e que ela deveria esperar por outro profissional. A fila era tão grande que, com medo de engravidar, Gleiciane aceitou usar as injeções trimestrais de anticoncepcional. Em razão de efeitos colaterais, trocou para a pílula comum. Seis meses depois, estava grávida do segundo filho, Aaron, de 1 ano e meio. “Eu sabia que me esqueceria de tomar, por isso queria o DIU desde o começo”, diz Gleiciane. Após o nascimento de Aaron, ela tentou colocar o DIU de novo, desta vez num posto de Campinas, onde mora atualmente. Também não conseguiu. A médica recomendou que ela pedisse a outra profissional. Ela estava de férias e, depois, saiu de licença. Gleiciane recorreu à Unicamp para colocar o DIU.
A dificuldade enfrentada por mulheres como Gleiciane se deve, muitas vezes, menos à falta do DIU de cobre na unidade de saúde e mais ao despreparo dos profissionais. “Pode acontecer de o médico não se sentir seguro para fazer o procedimento, por falta de experiência ou porque contraria seus valores religiosos. Então, ele encaminha a paciente a outro profissional”, afirma o ginecologista Adalberto Aguemi, médico da prefeitura de São Paulo. A agenda apertada dos médicos nas unidades de saúde também contribui para que optem por prescrever a pílula. É mais rápido do que colocar o DIU. “O ideal é marcar dois horários para fazer o procedimento”, diz a ginecologista Celina Sollero, responsável pela área de saúde da mulher da Secretaria de Saúde da prefeitura de Campinas. “Mas é difícil conseguir esses horários durante o período menstrual da mulher, quando o procedimento deve ser feito. Muitas unidades sofrem com a falta de ginecologistas.”
Outra barreira é a resistência ao uso do DIU. Problemas de saúde causados por um dos primeiros modelos a chegar ao mercado americano, na década de 1970, criaram mitos que duram até hoje nos EUA – e no Brasil. Pacientes americanas sofreram infecções graves, causadas pelo material usado no dispositivo pioneiro, chamado Dalkon Shield. Os casos levaram a empresa à falência e culminaram com o aperfeiçoamento dos modelos novos. O temor persiste. Muitas pacientes se recusam a usar. Ainda há médicos que resistem a prescrever para mulheres que nunca tiveram filhos, com medo de que a colocação seja difícil ou de uma possível infecção que cause infertilidade.

A publicação recente de estudos, que lembra uma campanha não declarada, tenta mudar a percepção pública sobre os métodos de longa duração. No final de setembro, a Sociedade Americana de Pediatria recomendou que os profissionais orientem adolescentes sexualmente ativas a usar o implante subdérmico, o DIU hormonal e o DIU de cobre como contraceptivos de preferência. No início deste mês, um estudo da Universidade de Washington reafirmou a segurança dos métodos para as jovens. Os resultados sugerem que a taxa de gravidez em 1.400 adolescentes que usaram um dos três métodos foi inferior à média nacional. Apenas 3,4% ficaram grávidas, em comparação com 15,9% das adolescentes do país. Menos de 1% fizeram abortos, enquanto a estimativa nacional é de 4%. “Como os métodos de longa duração são eficazes, há menos mulheres que engravidam sem planejar e, consequentemente, não há necessidade de um aborto”, afirma a epidemiologista Gina Secura, autora do estudo.
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A adoção de contraceptivos de alta eficácia não protege contra doenças sexualmente transmissíveis nem é garantia de que gestações não planejadas deixarão de acontecer. Mesmo quando o uso é perfeito, há uma margem de falha do próprio método. Isso significa que o risco de abortos inseguros pode ser reduzido com os métodos de longa duração, mas não extinto. “Só planejamento familiar não resolve o problema do aborto”, diz a antropóloga Debora Diniz, pesquisadora de bioética e gênero da Universidade de Brasília. “Por que continuamos a punir uma mulher que sofreu uma falha do método, que errou ao usá-lo ou que tomou uma decisão equivocada?” O país precisa discutir com seriedade o direito das mulheres à escolha, mas não se pode esquecer que ele começa na possibilidade de acesso ao melhor método de contracepção, diferente de mulher para mulher.
Proteção duradoura e reversível (Foto: Época)

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