O esquema de corrupção na Fifa de Joseph Blatter, o cartolão, desmontado por investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, assemelha-se ao petrolão, descoberto pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. A comparação pode parecer absurda. Não é. Não raro, a política imita o futebol – e o futebol imita a política. Com bola ou petróleo, dinheiro continua sendo dinheiro.
Um: delação premiada. A operação do Departamento de Justiça americano deve muito à delação premiada do empresário brasileiroJosé Hawilla, dono da Traffic, maior empresa de marketing esportivo da América Latina. A Traffic fazia negócios com Conmebol e CBF. Hawilla confessou crimes de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Concordou em devolver US$ 151 milhões e delatou os cartolas. A Lava Jato não começou com delações, mas mudou de tamanho quando os investigadores obtiveram a colaboração do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, os primeiros a serem presos.
Dois: consultorias fajutas. Para tentar esquentar as propinas, “co-conspiradores” citados no documento do Departamento de Justiça americano usaram empresas para forjar “serviços de consultoria” a entidades esportivas. Na Lava Jato, empreiteiros e lobistas usaram o mesmo expediente. Contratos de consultoria fajutos serviram para dar aparência de legalidade a repasses de propina.
Três: os chefes nada sabem. Nem Joseph Blatter, presidente da Fifa, nem Dilma Rousseff, presidente do Brasil e do Conselho de Administração da Petrobras durante o petrolão, foram diretamente envolvidos nas investigações do FBI ou da força-tarefa da Lava Jato. Mas o modo como ambos se comportaram perante as denúncias foi similar. O cartola suíço afirmou não ter ciência dos crimes, disse que era impossível monitorar a tudo e todos e disse colaborar com as autoridades. Foi além. Declarou que as investigações só começaram porque a gestão dele cedeu à Procuradoria-Geral da Suíça um dossiê no ano passado. Mas pares dele, entre vices-presidentes e dirigentes de confederações das Américas, foram presos e indiciados. Dilma diz amiúde coisas parecidas: não participou do petrolão, não tinha como saber de nada, prometeu cooperar e assegurou que o governo “não interfere” nas investigações. Seus subordinados na Petrobras, comoPaulo Roberto Costa, Renato Duque, Nestor Cerveró, e colegas de PT, como José Dirceu, Antonio Palocci e João Vaccari, estão presos ou sob investigação.
Quatro: opositores à espreita. Diante de Blatter, está Michel Platini, ex-jogador francês que preside a Uefa, confederação do futebol europeu. Diante de Dilma, Aécio Neves, senador e presidente do PSDB. Um e outro conseguiram poucos resultados em anos recentes, mas aproveitam a repercussão de investigações policiais para pedir a saída do adversário político. “Eu pedi a ele para renunciar: já basta, Sepp”, disse Platini em entrevista coletiva à imprensa estrangeira. A diferença é que, depois das críticas, o francês diz ser amigo do suíço. Não é o caso de Aécio e Dilma, aparentemente. Aécio hesita em pedir o impeachment da petista, mas não perde uma chance de espezinhá-la. "Cai em definitivo a máscara do governo do PT, e o país conhece o pacote de medidas impopulares contra o povo brasileiro", disse o tucano na semana passada, ao comentar as medidas para o ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff.
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