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O País vive mais uma vez uma vergonhosa epidemia, dengue mata um brasileiro a cada onze horas

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Registrar a história de Frederico é fundamental. Assim como as de Laís Garcia, 25 anos, e a de seu pai, Henrique Garcia Júnior, 54 anos, e a de Sheila Storel, 38 anos, relatadas nesta reportagem. Eles estão entre os 746 mil brasileiros que tiveram dengue de janeiro até meados de abril, mas quando os números atingem um patamar assim tão dramático, corre-se o risco de passar-se a enxergar a situação somente como um fenômeno incômodo de saúde pública. Perde-se de vista o fato de que cada uma dessas 746 mil pessoas teve sua vida transtornada por causa da doença – e isso, essa dimensão individual, não pode ser pulverizada em estatísticas. Alguns mais, outros menos, todos foram obrigados a se deparar com um sistema de atendimento que não dá conta de prestar auxílio a tanta gente, perderam dias de trabalho, de estudo, de descanso. Sem falar nos 229 cidadãos que morreram até agora em uma epidemia que deveria ter sido evitada.
Hoje, o Brasil é um país acuado pela enfermidade. Em São Paulo, há 401 mil casos. A ameaça da doença tornou-se assunto recorrente e sua prevenção, em muitos casos objeto de obsessão. O empresário Victor Stockunas, 59 anos, preside o condomínio onde mora, em Alphaville, região metropolitana de São Paulo. Colocou na portaria uma placa com os dizeres ‘Agora é guerra’. Também determinou que os seguranças visitem as casas para saber se as medidas de prevenção estão sendo seguidas para evitar o surgimento de criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus responsável pela doença. “Cada um deve fazer a sua parte”, prega.
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A venda de repelentes explodiu. O laboratório Osler, fabricante do repelente Exposis, aumentou em onze vezes sua capacidade de produção para atender as farmácias. De janeiro a abril de 2014, foram produzidos 100 mil frascos do produto. No mesmo período deste ano, o número subiu para 1,1 milhão de unidades. Nas redes de farmácias, o volume de vendas é expressivo. Nas contas da Drogaria São Paulo, houve crescimento de 107% em vendas de repelente comparado ao primeiro bimestre de 2014. Na Ultrafarma, a elevação foi de 195% em relação à 2014. “Nas lojas físicas, em São Paulo principalmente, mudamos o posicionamento dos repelentes que antes ficavam junto aos produtos de verão. Agora, eles ficam no Caixa, com mais visibilidade”, afirma Marcos Ferreira, vice-presidente da Ultrafarma.
Em muitas escolas, a rotina mudou. Na Kid´s School, em Cotia, na Grande São Paulo, as crianças são informadas sobre a importância de se proteger com repelentes e o que fazer para evitar a formação de criadouros. “Professores e funcionários passaram a usar repelente todos os dias”, conta Cátia Pacicco, coordenadora pedagógica da escola. Na UP School, em São Paulo, há pulverização com inseticida quinzenalmente. “Também solicitamos à prefeitura a visita de agentes sanitários”, diz Patrícia Lozano, diretora pedagógica.
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Nos serviços de saúde, imprimiu-se a atmosfera do caos. Centros públicos estão lotados, obrigando a instalação de tendas para tratamento. Na que foi montada na Brasilândia, um dos bairros da capital paulista mais atingidos, já foram realizados 3,7 mil atendimentos desde abril. O local é uma parceria do Hospital Israelita Albert Einstein – um dos mais sofisticados entre as instituições privadas do País - com a Secretaria Municipal de Saúde. Uma equipe com seis médicos, cinco enfermeiros, seis técnicos em enfermagem, três técnicos administrativos e quatro biomédicos prestam o atendimento. Eles saem do hospital, no Morumbi, na zona sul, as seis e meia da manhã, para dar conta de começar a atender na Brasilândia, do outro lado da cidade. “Quando chegamos já tem gente esperando”, conta o infectologista Alexandre Marra. “Trabalhamos mais do que no Einstein, mas queremos ajudar”, diz a enfermeira Maria Roza de Oliveira.
A realidade é menos dura nos hospitais privados, mas mesmo assim houve dias nos quais era preciso esperar horas por atendimento. No Einstein, desde janeiro foram realizados treinamentos com profissionais do pronto-atendimento. No Hospital Sírio-Libanês, também um dos mais sofisticados do País, houve crescimento de 40% no número de pacientes atendidos em comparação ao mesmo período do ano passado. O hospital reforçou a equipe de médicos, enfermeiros e infectologistas e instalou 15 novas poltronas de observação para acomodar mais pacientes.
Muitas razões explicam a gravidade da situação. Algumas são pontuais. Houve a volta da circulação do tipo 1 do vírus (são quatro). Muita gente não havia tido contato com ele e, portanto, não havia desenvolvido anticorpos. Na região Sudeste, particularmente em São Paulo, devido à crise hídrica muitos moradores estocaram água sem o cuidado adequado, aumentando os criadouros.
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Mas há origens crônicas por trás do desastre da dengue. Em primeiro lugar, a política de prevenção, que deveria ser executada de forma contínua pelas esferas federal, estadual e municipal de governos, é falha. E na linha de frente do atendimento ainda hoje encontra-se casos que não recebem o correto diagnóstico ou não são identificados como de risco. Depois, há deficiências estruturais nunca resolvidas que contribuem demais para a repetição das epidemias no País. Entre elas, uma urbanização sem planejamento que ignora a instalação de redes de saneamento básico, de um sistema eficiente de coleta de lixo e que leva ao fim de áreas para o escoamento de água. “A dengue é a doença que mais retrata a urbanização caótica em que vivemos”, diz o infectologista Artur Timerman, autor do livro Dengue no Brasil, Doença Urbana. Se nada for feito, o País continuará sujeito a desastres como o atual. E pode piorar, com a ocorrência também de epidemias do vírus Chikungunya, transmitido pelo mesmo Aedes aegypti. “É uma questão de tempo para que a febre chikungunya se torne outra epidemia”, diz Fernando Gatti Menezes, coordenador médico do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Albert Einstein.
Fotos: Paulo Whitaker/Reuters; Gabriel Chiarastelli, João Castellano/Ag. Istoé 

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