Para a consultoria internacional Eurasia, o tamanho do ajuste fiscal necessário é tremendo e o novo governo deve dar apenas o primeiro passo para o reequilíbrio das contas públicas
O impeachment da presidente Dilma Rousseff não encerrará por completo a crise na qual o Brasil se encontra. Com o ambiente político nacional altamente polarizado e um nível crescente de descontentamento nas ruas, quem quer que esteja no terceiro andar do Palácio do Planalto enfrentará muitas dificuldades para governar. Mas um governo liderado pelo presidente Michel Temer trará tanto boas e más noticias.
A boa notícia é que uma agenda de reformas essencias para voltar a um crescimento econômico mais sustentável, mas politicamente muito dificeis, vão ser enfrentadas. Apesar das nuvens cinzas no horizonte, o plano de voo do novo governo comandado pelo presidente Michel Temer contará com alguns trunfos. O primeiro será recorrer a um choque de confiança como estratégia política. Ao trocar o ministério e nomear uma equipe econômica com mais credibilidade, o governo Temer dará um importante passo para romper a quase paralisia administrativa que assola Brasília há meses e, com isso, começar a recuperar a confiança dos investidores, estrangeiros e nacionais.
Um segundo ativo relevante do futuro presidente será o apoio no Congresso. Dada a necessidade de muitos políticos de obter recursos de poder (cargos e verbas) em um ano de eleição municipal sem contribuição financeira de empresas, não faltarão incentivos para se aproximar do próximo governo. Temer, portanto, deverá contar com uma ampla maioria parlamentar nos próximos meses, numericamente suficiente até para aprovar emendas constitucionais.
Com esse capital político, o novo governo será capaz de implementar mudanças e fazer avançar alguns itens de sua agenda legislativa. Projetos como o da a abertura do pré-sal, dareforma das estatais e a melhoria dos marcos regulatórios na área de infraestrutura logística muito provavelmente avançarão nesses primeiros meses. Isso deverá ajudar a desanuviar a desconfiança do empresariado, tornando o ambiente mais propício aos investimentos.
A má noticia é que nem todo esse capital político se traduzirá em apoio incondicional ao presidente Temer. O descontentamento nas ruas, com o aumento de desemprego e a queda na renda, limitará o raio de ação do novo governo. Por serem bastante impopulares, medidas estruturais essenciais para lidar com o desequilíbrio das contas públicas, como as reformas da Previdência, ou que reduzem a rigidez do gasto em itens como educação e saúde, deverão andar bem mais lentamente e enfrentarão mais resistências. Nessa frente, Temer terá de manter a discussão aberta para administrar bem as expectativas de médio e longo prazo.
Isso significa que o governo Temer deverá ser de transição, o início de um longo e doloroso ajuste que exigirá uma segunda onda de reformas depois das eleições de 2018. O tamanho do ajuste fiscal a ser encaminhado é tremendo, e o governo Temer dificilmente representará mais que um primeiro passo para reequilibrar as contas fiscais.
A grande incógnita de um governo Temer, contudo, continuará sendo a Lava Jato. O PMDB, afinal, foi aliado do PT durante boa parte da última década e várias de suas lideranças estão sendo investigadas. Embora as investigações tendem a a desacelerar até o fim do ano, muitas revelações ainda podem surgir nos próximos meses. O risco para Temer, embora baixo, é o de ver a narrativa de seu governo em comparação ao do PT mudar de “choque de credibilidade” para “trocar seis por meia dúzia”. Se isso acontecer, Temer não apenas perderá apoio rapidamente, mas a pressão para o TSE convocar novas eleições deverá aumentar significativamente.
Christopher Garman é managing director da Eurasia, autor da consultoria internacional de risco político
João Augusto de Castro Neves é diretor da Eurasia
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