Depois de ler em diversos portais sobre o novo ofício de Gisele Bundchen – dona de casa e rainha do lar –, fiquei com a pulga atrás da orelha: Afinal, o que é ser dona de casa?
Há uns 40, 50 anos, poderia afirmar com todas as letras que do lar é aquela que se dedica exclusivamente aos cuidados da casa e da família, englobando atividades como, limpar eorganizar a casa, cozinhar, fazer compras, cuidar e educar os filhos, cuidar das roupas da família, se dedicar ao esposo. Entretanto, o papel da mulher na sociedade mudou muito nas últimas décadas. Ela pode usufruir sua liberdade, trabalhar, construir carreira, delegar as responsabilidades da casa a um empregado, contar com o auxílio de creches e escolas para poder trabalhar, contar com a tecnologia para poder dar conta das atividades domésticas. Segundo o último Censo do IBGE, 44% das mulheres têm emprego. Hoje, não só a mulher ajuda na renda familiar, como é responsável pelas finanças da família e já assume papel de chefe em muitos lares.
Mas foque comigo: se 44% das mulheres trabalham, então os outros 56% se dedicam exclusivamente aos cuidados da família e do lar. 56% de donas de casa, certo?
Talvez. O conceito de dona de casa se transformou devido à alteração do papel da mulher na sociedade. A nova rotina da mulher exige que ela trabalhe e ainda continue a cuidar da casa e da família. Então te pergunto: seriam essas trabalhadoras de jornada dupla donas de casa também? Porque quando essa mulher chega do trabalho, muitas vezes ela ainda tem que lavar, passar, cozinhar, arrumar. Ainda mais depois da PEC das domésticas que fez com que muita gente dispensasse a empregada ou fechasse apenas com uma diarista, aumentando sua participação no trabalho doméstico. Essa mulher que trabalha é ou não é dona de casa?
O que falar de mulheres abonadas, como dona Gisele? Uma mansão com 6 quartos para se arrumar, 9 banheiros para lavar, dentre outras muitas coisas. Para ela ser considerada dona de casa, ela teria que dobrar seus joelhinhos de ubermodel e esfregar as latrinas? Ainda que assim fosse, que ser humano daria conta de faxinar sozinho 1.300 m2, fazer compras, cozinhar, lavar e passar? Assim sendo, mulheres de posses não podem ser donas de casa, certo?
O caso se aproxima muito das mulheres que ficam em casa mas contam com a ajuda de uma empregada. Afinal, cuidar de tudo numa casa é bastante puxado. Mas uma vez que essa mulher não põe a mão na massa, ela deixa de ser dona de casa?
O que faz de uma mulher ser dona de casa?
Segundo o dicionário Houaiss, dona de casa é a “mulher que administra a casa, cuidando cotidianamente dos afazeres domésticos”, não fazendo qualquer menção ao fato de a mulher ter ou não um emprego, não mencionando se é ela ou não que estraga o esmalte com o cloro. No caso, do lar é a mulher que gerencia, que bota a casa para funcionar. Logo, segundo esta acepção, basicamente TODAS AS MULHERES SERIAM DONAS DE CASA. Exceto em alguns raríssimos casos em que o homem é o cabeça da coisa, pois ainda que o homem faça muitas tarefas domésticas, geralmente é a mulher que administra o que e quando cada coisa precisa ser feita.
Ainda que o Ministério do Trabalho tenha regulamentado, ser dona de casa não é profissão. Pois muitas de nós temos carreira em outras áreas e ainda seguimos esse ofício.
Ser dona de casa é o que, então? Sina, karma?
E a mulher que se dedica exclusivamente aos cuidados domésticos, é menos mulher porque tem mais tempo para fazer as atividades, enquanto outras assumem dupla jornada?
E a mulher que não sabe cozinhar, não curte lavar e limpar, mas é obrigada a manter a casa funcionando? Deixa de ser dona de casa?
Existe a dona de casa mainstream? Dona de casa em tempo integral? “Menas” do lar? CEO em atividades materno-domésticas?
Muitas perguntas, não? A resposta fica para você que está lendo: Afinal, o que é ser dona de casa hoje em dia?
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