Pular para o conteúdo principal

O petista inabalável, Eduardo Suplicy, da lona ao nocaute

 O ex-senador Eduardo Suplicy (Foto: Victor Affaro/ÉPOCA)

O ex-senador Eduardo Suplicy (Foto: Victor Affaro/ÉPOCA)

O ex-boxeador e ex-senador de 75 anos milita como um jovem de 20, resiste ao cinismo da política atual e, resvalando no cômico, consagra-se como o petista inabalável




Nesta semana, um dos expoentes mais longevos do Partido dos Trabalhadores, Eduardo Suplicy, foi alçado ao ar por duas vezes: do chão ao púlpito e do chão à delegacia. Em ambas as ocasiões, Suplicy, de 75 anos, agiu como um militante de 20. Na manhã do domingo (24), Suplicy imiscuíra-se na multidão que ocupava a quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo. Era o lançamento da candidatura à reeleição de Fernando Haddad para a prefeitura. Dois marmanjos foram à beira do tablado e ergueram Suplicy pelas axilas, como se tira uma criança desajeitada da piscina. A calça social do ex-senador ameaçou embaraçá-lo, mas o cinto preto cumpriu sua missão. O público delirou: “Suplicy, Suplicy!”. O ex-senador é afagado como um mascote. E, como tal, é leal na glória e na tormenta. Na manhã seguinte, o mascote recebeu um telefonema. Era Verinha, do movimento dos sem-terra. A polícia militar estava no Jardim Raposo Tavares para remover 350 famílias de um terreno da prefeitura. O ex-senador apelou a Haddad, a secretários. Pensava que a remoção seria adiada. Não foi. Suplicy correu ao local. Um ônibus fora depredado por manifestantes e a polícia repreendia com vigor. Quando uma retroescavadeira se aproximou, cercada por policiais armados com cassetetes, Suplicy atirou-se ao chão. Avisou à PM que só sairia dali carregado. Quatro marmanjos – agora da PM – o puxaram pelas axilas e, 200 metros depois, o largaram num camburão. “Vai mais devagar, senão vocês rasgam a minha roupa”, pediu Suplicy. No caminho para a delegacia, Suplicy contou de seu passado de boxeador aos algozes: “Treinei boxe por seis anos e lutei no campeonato da Gazeta Esportiva, que noticiou ‘Suplicy saiu da lona para ganhar por nocaute’”. Ele foi liberado pelo delegado três horas depois. Nocaute.


Eduardo Matarazzo Suplicy é professor, economista, um dosfundadores do PT. Foi de deputado estadual a senador por São Paulo. Em 2014, derrotado por José Serra (PSDB), deixou o Senado depois de 24 anos. Agora, tenta uma cadeira na Câmara dos Vereadores – mais para ajudar, com seu prestígio, o impopular prefeito Haddad. Apágina de Suplicy no Facebook acumula mais de 600 mil seguidores. Para comparar com um Eduardo de outra espécie, a deCunha tem 260 mil. Em junho, Suplicy convidou a galera para sua festa de aniversário pelas redes – e a turma foi às centenas cumprimentá-lo numa praça do centro da cidade. Sua foto sendo carregado pela PM virou meme de todo tipo. É impreciso o momento em que Suplicy passou da política ao folclore. Nem Joana Mabarah, sua funcionária há três décadas, sabe explicar. “Debaixo do homem sério, tem o cômico. Sempre foi assim. Ele também é muito teimoso”, diz Joana. “Está sempre atrasado. Quando está no carro, solta um ‘pare aqui! Vou descer’ – e desce. Uma vez, desceu no meio da Avenida Rubem Berta, em São Paulo. Atravessou a pé, de mala e tudo. Quando pulou a mureta, caiu de cara no chão, no meio da vala, do mato. Ele se levantou e saiu correndo, como se nada tivesse acontecido.”

O jeitão de Suplicy – a ingenuidade simpática, a pureza de princípios, a disposição inquebrantável para fazer o que acha moralmente certo – sempre foi sua maior virtude (para os eleitores) e seu maior defeito (para os políticos). Coerência nunca lhe faltou. Nem aptidão para ser o Quixote que muitos adoram curtir e compartilhar, mesmo que não votem nele.
Deixar o Senado não mudou Suplicy. Ele mantém a mesma agenda agitada – e a mesma fa-la len-ta, de sílabas preguiçosas. Acompanhá-lo exige paciência. Do cérebro à língua, as ideias de Suplicy parecem encontrar obstáculos. As que sobrevivem chegam aos poucos. Os dedos também não têm pressa. Ao me receber, ele pede cinco minutos para responder a e-mails. Digita no laptop como um pianista. Uma tecla por vez, como que para sentir o tom da nota. Nas estantes, há livros e fotos: com os filhos João e Supla, músicos; três com Lula sindicalista, Lula presidente e Lula palestrante. Nenhuma com Dilma.
Pronto! Suplicy volta-se para mim com alegria e uma pergunta: “Você já tem o meu livro?” – e estende a obra Renda de cidadania. Mesmo diante do sim, ele entrega uma cópia. Passa, então, a falar de Utopia, do inglês Thomas More. “Ao tempo em que a Inglaterra dominava a Índia e os Estados Unidos, um membro da corte da Inglaterra chegou a ser presidente da Câmara dos Comuns e... [longa divagação]. Eles têm essa cultura de não violência”, diz Suplicy. Foram 40 minutos para concluir o raciocínio, que percorreu cinco séculos, envolveu a vida, a obra, a história e as semelhanças entre o economista Philippe Van Parijs, seu predileto, o ativista político Martin Luther King, o indiano Mahatma Gandhi e o teórico John Rawls. Tudo para explicar como ele se inspirou nesses homens para protestar pacificamente. Alguém telefona. Suplicy atende. Quer saber de sua agenda. “Mais rápido, Valéria, please”, ele diz à funcionária. Valéria e Joana organizam a vida do petista. Eis que, de súbito, Suplicy se levanta. Está atrasado para encontrar Haddad e o pessoal da subprefeitura da Mooca numa churrascaria. Joana avisa Suplicy: “Fica na Radial Leste-Oeste, é perto do Metrô São Joaquim”. Como pode o subprefeito da Mooca marcar um almoço no bairro japonês da Liberdade? “É Radial Les-te. Você põe lá no Waze?”, me pede Suplicy. O aplicativo de mapas indica um lugar diferente: Itaquera. “Por que ela falou São Joaquim se é Itaquera?”, Suplicy pronuncia “i-ta-cu-é-ra”. A teima prossegue entre Joana e Suplicy. “É Radial Leste-Oeste.” E o ex-senador, bravo: “Leste! Radial Leste!”. 
Eduardo Suplicy (PT), candidato a vereador em São Paulo, foi detido na manhã desta segunda-feira, 25, durante reintegração de posse na zona oeste (Foto: SÉRGIO CASTRO/ESTADÃO CONTEÚDO)
O prefeito já estava lá. Eles conversaram pouco e foram muito fotografados. O subprefeito da Mooca, Evandro Reis, agradeceu a presença de Haddad. O prefeito falou. Um vereador falou. O ex-senador aguardava sua vez. Mas ninguém passou a ele a palavra. Haddad ganhou um boné de cidadão da Mooca e uma camisa do Juventus. Suplicy não ganhou nada. Mas do que o ex-senador recebeu ao longo do almoço o prefeito mal chegou perto: elogios e pedidos de selfies de quase toda a churrascaria. E Suplicy atendia a todos, só sorrisos. Ele se percebe, nas ruas e na internet, como uma piada? “Ah”, Suplicy acena com a cabeça. “É bom viver de maneira feliz, com bom humor. As pessoas me tratam com todo o carinho. Às vezes, até com exagero. Meses atrás, no metrô, uma moça me disse ‘Te amo!’, me abraçou e veio me dar um beijo na boca. O metrô andou, caí no colo de outro passageiro e ela no meu. Aí, alguém filmou e vilari... como chama... viralizou.”
“Você já tem o meu livro, Renda de cidadania?” Mesmo diante do sim, ele entrega uma cópia da obra sobre seu projeto
Nos jornais, a aliança de sua ex-mulher Marta Suplicy com Andrea Matarazzo (PSD) era a notícia. Antes de falar da guinada política de Marta, seu telefone toca. Ele me pede para atender. “Celular do senador Suplicy.” “Oi, é Genoíno.” Suplicy põe no viva-voz. “Genoíno? José Genoíno?”. “Isso mesmo. Tô ligando para dar um abraço bem grande, companheiro. Você está sendo corajoso, coerente e fiel.” Suplicy agradece. “Poxa vida... sabe que quase todos os parlamentares do PT do Brasil me ligaram?” Suplicy não se esqueceu de Marta. Cita momentos políticos com a ex-petista, o namoro de quatro anos, o casamento de 36. Até que solta: “Ela nem me consultou”.
Estamos chegando a sua casa. Joana liga. Quer saber se ela acertara o local do restaurante. “Não. Era onde eu tinha imaginado. Vou falar de mansinho, porque você é, às vezes, muito teimosa.” “Só dessa vez”, diz Joana. “Hoje eu tinha razão”, ele diz. “Então, é um a zero para você hoje, Suplicy.”

Comentários

ᘉOTÍᑕIᗩS ᗰᗩIS ᐯISTᗩS

Agricultura familiar conectada

  #Agrishow2022euaqui - A revolução tecnológica demorou a chegar, mas finalmente começou a transformar a vida do pequeno agricultor familiar brasileiro. Com o surgimento das foodtechs, aliado ao aumento da confiança na compra on-line de alimentos e na maior busca por comidas saudáveis por parte do consumidor, o produtor de frutas, legumes e verduras (FLV) orgânicos começa a operar em um novo modelo de negócio: deixa de depender dos intermediários — do mercadinho do bairro aos hipermercados ­— e passa a se conectar diretamente ao consumidor final via e-commerce. Os benefícios são muitos, entre eles uma remuneração mais justa, fruto do acesso direto a um mercado que, segundo a Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), movimentou R$ 5,8 bilhões em 2021, 30% a mais do que o ano anterior, e que não para de crescer. DIRETO DA LAVOURA A LivUp é uma das foodtechs que está tornando essa aproximação possível. Fundada em 2016, a startup iniciou a trajetória comercializa

ELAS

  Swanepoel, sempre ela! A modelo Candice Swanepoel sempre é motivo de post por aqui. Primeiro, porque é uma das mulheres mais lindas do mundo. Depois, porque faz os melhores ensaios da Victoria’s Secret. Depois de agradar a todos no desfile da nova coleção, ela mostrou toda sua perícia fotográfica posando de lingerie e biquíni. Tags:  biquini ,  Candice Swanepoel ,  ensaio sensual ,  lingerie ,  victoria's secret Sem comentários » 29/11/2011   às 20h02   |  gatas Lady Gaga é muito gostosa, sim, senhor. A prova: novas fotos nuas em revista americana A estrela pop Lady Gaga é conhecida pela extravagância na hora de se vestir e pelos incontáveis sucessos nas paradas do mundo todo. Agora, a cantora ítalo-americana também será lembrada por suas curvas. A revista Vanity Fair fez um ensaio para lá de ousado em que Mother Monster (como Gaga é carinhosamente chamada pelos fãs) mostra suas curvas em ângulos privilegiados. A primeira foto é

Confira quais são os principais lançamentos do Salão de Pequim 2024

  Com as montadoras chinesas crescendo fortemente no Brasil e no mundo, a edição 2024 do Salão do Automóvel de Pequim irá apresentar novidades que vão impactar não apenas o mercado chinês, como também revelar modelos que devem ganhar os principais mercados globais nos próximos anos Este ano nós do  Motor1.com Brasil  também está lá, mostrando os principais lançamentos que serão realizados na China. Além de novidades que ainda podem chegar ao Brasil, o que vemos aqui também chegará à Europa em breve. Isso sem contar as novidades da  BYD  para o nosso mercado. Audi Q6 e-tron O novo SUV elétrico da Audi se tornará Q6L e-tron. A variante com distância entre eixos longa do já revelado Q6 e-tron fará sua estreia no Salão do Automóvel de Pequim. O novo modelo, projetado especificamente para o mercado doméstico de acordo com os gostos dos motoristas chineses, será produzido na fábrica da Audi FAW NEV em Changchun, juntamente com o Q6 e-tron e o A6 e-tron. Reestilização do BMW i4 BMW i4 restyli

Governo Lula propõe ‘imposto do pecado’ e taxação deve atingir cigarro, bebidas e até veículos

  Um pacotão de novos impostos deve pesar no bolso do contribuinte brasileiro. O governo  Lula  apresentou uma proposta de reforma tributária que inclui a criação do chamado ‘imposto do pecado’. O texto conta com aval dos Estados. Se concretizada, essa taxação passará a ser aplicada sobre produtos como cigarros, bebidas alcoólicas, bebidas todas como açucaradas, veículos enquadradas como poluentes, e também na extração de minério de ferro, petróleo e gás natural. O projeto visa a tributar esses bens e serviços com uma alíquota mais elevada em comparação com outros itens da  economia . A proposta, no entanto, aponta que a definição das alíquotas deve ser estabelecida posteriormente por lei ordinária. Além disso, ainda não está claro se a introdução do imposto do pecado resultará em um aumento da carga tributária em relação ao sistema atual, no qual esses produtos já são taxados com alíquotas mais elevadas. Atualmente, segundo o Sindicato Nacional da Indústria das Cervejas (Sindicerv), c

Sai a lista anual de bilionários da Forbes 2024; veja os 10 mais ricos do mundo

  1. Bernard Arnault (França) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 233 bilhões (R$ 1,18 trilhão) Pelo segundo ano consecutivo, Arnault é a pessoa mais rica do mundo. Sua fortuna cresceu 10% em 2023 graças a mais um ano de faturamento recorde para seu conglomerado de luxo, o LVMH, dono de Louis Vuitton, Christian Dior e Sephora. 2. Elon Musk (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 195 bilhões (R$ 987 bilhões) Como o ranking muda constantemente, Musk ganhou e perdeu diversas vezes o título de "mais rico do mundo", à medida que mudou a valorização das suas empresas, a SpaceX, a Tesla e a rede social X (antigo Twitter). 3. Jeff Bezos (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 194 bilhões (R$ 982 bilhões) Bezos ficou mais rico este ano graças ao excelente desempenho da Amazon no mercado de ações. 4. Mark Zuckerberg (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 177 bilhões (R$ 895 bilhões) O presidente da Meta enfrenta altos e baixos. Depois

BYD: 2ª geração da bateria Blade chega em 2024 com alcance de 1.000 km

A BYD, gigante chinesa de tecnologia e líder global em carros elétricos e híbridos plug-in, anuncia a vinda da segunda geração da bateria Blade, com lançamento previsto para agosto de 2024. A nova tecnologia promete ser um grande passo com avanços em autonomia, desempenho e custo.  A revelação foi feita recentemente pelo próprio CEO da BYD, Wang Chuanfu, que falou sobre a novidade pela primeira vez em uma reunião de comunicação de resultados financeiros sobre a BYD estar atualmente desenvolvendo um sistema de bateria Blade de segunda geração. A BYD, gigante chinesa de tecnologia e líder global em carros elétricos e híbridos plug-in, anuncia a vinda da segunda geração da bateria Blade, com lançamento previsto para agosto de 2024. A nova tecnologia promete ser um grande passo com avanços em autonomia, desempenho e custo.   A revelação foi feita recentemente pelo próprio CEO da BYD, Wang Chuanfu, que falou sobre a novidade pela primeira vez em uma reunião de comunicação de resultados fina

Imagem do ditador Nicolás Maduro aparece 13 vezes em cédula de votação

O ditador Nicolás Maduro aparece 13 vezes na cédula de votação das eleições venezuelanas marcadas para 28 de julho. A imagem do ditador também aparece bem-posicionada na cédula, ocupa todo o topo e quase toda a coluna esquerda do documento. A cédula é emitida pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão controlado pelo regime do ditador. No canal estatal de televisão, o ditador comentou as críticas que sofreu após divulgação do documento. “ Temos 13 fotos legalmente, como ocorreu em outras eleições, porque temos 13 movimentos políticos, todos muito poderosos, da esquerda, do marxismo-leninismo, do comunismo, do cristianismo, dos movimentos sociais, do ecologismo, que apoiam unitariamente a candidatura ”. Informações: Diario do Poder/ https://diariodopoder.com.br/exteriores/imagem-do-ditador-nicolas-maduro-aparece-13-vezes-em-cedula-de-votacao

Setores citam prejuízo e repudiam judicialização da desoneração

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu monocraticamente pontos da lei que prorroga a desoneração da folha de pagamento de municípios e de diversos setores produtivos até 2027. Na avaliação do magistrado, a norma não observou o que dispõe a Constituição quanto ao impacto orçamentário e financeiro. O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu pontos da lei que prorroga a desoneração da folha de pagamento de municípios e de diversos setores produtivos até 2027. Na avaliação do magistrado, a norma não observou o que dispõe a Constituição quanto ao impacto orçamentário e financeiro.  O governo está forçando a barra sobre um tema que já foi decidido pelo Congresso. O governo não aceita a decisão do Poder Legislativo. O governo não mostrou disponibilidade no ano passado para debater esse tema. Retirou a urgência nesse ano. Uma semana depois de retirar a urgência, entra no STF. O diálogo sempre vai existir, o governo é que não mostra disposição