Pular para o conteúdo principal

Dia da Mulher: O mundo segundo as mulheres

Resultado de imagem para O mundo segundo as mulheres





Como outros países do mundo tratam as mulheres? Como é ser estrangeira em uma cultura diferente da nossa? O Estado ouviu 25 brasileiras que moram ou já moraram em países da América, Europa, África, Ásia e Oceania sobre como é a vida e como se sentiram em cada um desses lugares 
China Xangai

ANA CAROLINA PEREIRA TURTELLI,40 ANOS, ENGENHEIRA

Ao longo da minha vida, morei na China, nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas o momento em que mais senti o machismo foi quando voltei ao Brasil. Quando me mudei para a China, tive muito medo, fiquei muito apreensiva por causa da diferença cultural e dos relatos de vigilância e o controle do governo sobre as pessoas.
Lá o machismo existe, mas de uma maneira diferente do que ocorre no Brasil. Sempre me respeitaram muito. Nunca recebi um olhar ou uma cantada andando na rua. Também não tinha preocupação com a roupa que iria usar. Lá, as mulheres usam roupas curtas e isso não é um problema para ninguém.
Mas, existe uma cultura machista, especialmente de que o homem pode tudo dentro do casamento. O motorista da minha família, por exemplo, achava que meu marido era gay por não ter uma amante.
De todo modo, na China, eu era muito respeitada por todos. Por isso, estranhei quando cheguei ao Brasil e percebi que só meu marido era respeitado, que só davam ouvidos para o que ele falava ou queria. Nos restaurantes, perguntavam a ele o que iríamos pedir para comer e nunca para mim, e ele era servido primeiro.
O que mais me chocou aqui é que não são só homens que têm esse tipo de comportamento, mas mulheres também. Além de que, no Brasil, a mulher é julgada por tudo o que faz: trabalhar fora, não trabalhar, sair sozinha, cuidar dos filhos, dividir as tarefas de casa com o marido. O brasileiro é muito mais conservador e machista do que imagina.

Holanda Amsterdã


PATRÍCIA RIBEIRO DE SOUZA NANIA,27 ANOS, ENGENHEIRA

Na Holanda, eu nunca me preocupei ao sair de casa à noite ou passar por lugares escuros ou vazios. Não tinha medo de sofrer algum tipo de abuso. Evitava, claro, lugares onde sabia que havia alto índice de violência, como todas as pessoas lá fazem, homens e mulheres.
Não é como em São Paulo, em que volto correndo da academia para casa às 21h porque estou sozinha e fico com medo.
Minha impressão é que lá os homens respeitam mais as mulheres em festas, ninguém encosta em você ou tenta te agarrar, independentemente do jeito como você se veste ou dança. É libertador não ter que se preocupar com esse tipo de problema.
Eu também achava muito legal o fato de os holandeses, de uma maneira geral, não fazerem distinção entre brincadeiras de menino e de menina. Fiquei na casa de uma família em que a menina jogava hóquei de grama e o menino gostava de brincar de casinha.

Canadá Montreal


AMANDA BARACHO TRINDADE,26 ANOS, VETERINÁRIA

Eu não sei dizer se o grau de conforto que sinto no Canadá se deve a um tratamento diferente que recebo como mulher ou pela relação social ser diferente com todos, independentemente do gênero.
Aqui, há um respeito muito grande com todos, e eles têm uma “zona de conforto da proximidade”, ou seja, consideram desrespeitoso se aproximar muito de alguém, seja com um homem ou uma mulher.
No Canadá eu me sinto completamente segura para qualquer coisa, nunca tive nenhum medo com relação à violência. Eu posso sair para caminhar às duas da manhã sem medo, eu posso voltar a pé de um bar de madrugada, posso usar a roupa que eu quiser que ninguém vai olhar.
No verão, as meninas vão trabalhar de shorts e tudo bem, ninguém diz nada nem as trata diferente por isso. Eu, particularmente, não me sinto confortável com isso, acho estranho, mas elas se sentem à vontade.
Aqui se você está em um bar, as pessoas não reparam para a roupa que você está usando, e os homens não vão te comer com os olhos. Aqui o corpo é um propriedade de cada um, e os canadenses respeitam muito isso. Em uma balada, ninguém vai te pegar pela mão, na sua cintura ou tentar te beijar. Se você andar de shorts na rua, ninguém vai mexer com você.
Sinto-me completamente livre aqui para fazer o que quiser, beber, dançar, me vestir, sair sozinha ou acompanhada, a hora que quiser. A única diferença é que, por ser brasileira, toda vez que digo minha nacionalidade para um homem, ele solta uma risadinha.

Cuba Havana


AMANDA COTRIM,29 ANOS, PESQUISADORA

Não é diferente apenas ser mulher em Cuba, em relação ao Brasil, mas ser cidadão na Ilha. A despeito de ser um país latino e, como outros, machista, Cuba encontra muitos motivos para se distanciar do “título” machista. Talvez a grande diferença seja a politização sobre o que é ser mulher em Cuba. Desde muito jovens, aos 14 anos, as meninas começam sua formação política. No Brasil temos inúmeros movimentos feministas, mas eles não alcançam representatividade institucional. Em Cuba foi criada em 1960 a Federação das Mulheres Cubanas, um braço que funciona dentro do sistema político, cujo objetivo é envolver as mulheres nas questões econômicas, sociais e políticas do país. Por isso, em Cuba, diferentemente do Brasil, a política não é negada à mulher. E não me refiro apenas à política institucional – já que as mulheres em Cuba ocupam 40% dos cargos políticos –, mas à política enquanto prática social e ética.
Também é relevante citar que em Cuba a interrupção da gravidez é legal. A mulher tem o direito de interromper uma gestação até os três meses, com acompanhamento médico e da família. Essas diferenças contribuem para algo essencial na constituição de nós mulheres: auto-estima/empoderamento.
Apesar de haver machismo, como homens que se sentem no direito de “assobiar” para as mulheres nas ruas, por exemplo, em Cuba nenhuma mulher morre por ser mulher. Eu andava pelas ruas da principal cidade cubana e me sentia absolutamente tranquila. Essa sensação de que você não será estuprada, não importa a roupa que você vista ou o caminho que você faça, é libertador.
Isso interfere em tudo, no seu caminhar, na sua respiração, na sua auto-estima. Por que isso influencia uma dinâmica social, vai haver mais pessoas nas ruas, mais mulheres confraternizando, nos bares, nas praças, não importa a hora do dia.
Voltar sozinha, de um bar, às três da manhã, pegar uma “máquina” (um carro coletivo) sozinha, com um motorista homem e me sentir em paz, é impagável. Essa conquista da segurança social para todos, mas principalmente para as mulheres, veio por meio de uma transformação maior: uma mudança social de mentalidade, de educação, de políticas públicas, de sistema.

África do Sul Johannesburgo


JULIANE BITTENCOURT,39 ANOS, GESTORA DE PROJETOS

A vida na África do Sul não é fácil para a mulher. Pelo menos na comparação com o Brasil onde, bem ou mal, ainda andamos na rua depois das 18h e usamos o transporte público. Na África do Sul, depois das 18h ninguém anda a pé pela rua.
O estupro é uma realidade muito forte em algumas regiões e tem um impacto muito grande nas vidas das mulheres. Lá, eu me sentia sem liberdade, não tinha coragem de sair sozinha à noite, mesmo que de carro.
Por ser estrangeira, acho que tinha um sentimento maior de medo do que as sul-africanas. Quando ia para o centro da cidade, mesmo durante o dia, muitas vezes me sentia incomodada com o olhar dos homens.
Apesar de todo o receio, viajei sozinha pela África, mesmo com todos me dizendo que era perigoso. Passei alguns apertos, mas me permiti fazer o que queria que era viajar. No entanto, muitas outras coisas eu não me permitia, como usar saias acima do joelho, uma blusa que mostrasse a barriga ou simplesmente ir a pé à padaria às 19h, como faço no Brasil. Podem parecer pequenos detalhes, apenas uma besteira, mas que fazem muita diferença no dia a dia.

Espanha Barcelona e Granada


SABRINA DE CAMPOS,36 ANOS, EMPREENDEDORA SOCIAL

Minha vida como mulher na Espanha é segura. Me sinto completamente segura em comparação com outros países que vivi, como México e Brasil. E sentir segurança física provoca uma sensação de paz de ir e vir. Esta sensação me permite sorrir mais, confiar mais nas pessoas e ter uma predisposição em aceitar convites a qualquer hora e lugar, pois sei que a probabilidade de que me ocorra algo ruim provocado por outra pessoa é mínima em comparação com outros países.
De modo geral a liberdade que sinto é absoluta. Isso não significa que não existam matizes culturais a serem levados em conta. Vivo entre Barcelona e Granada e é bastante distinta a tolerância à diversidade e pensamento igualitário que vejo em Barcelona comparado ao conservadorismo e apego às tradições e religião em Granada.
É algo sutil. Nada agressivo a ponto de ser difícil de conviver. Mulheres latinas, em especial as brasileiras, adquirimos uma resiliência importante por vivermos em alerta constante no nosso país de origem. Então sabemos apreciar e agradecer quando estamos em um país amigável e mais igualitário.
Eu me permito fazer tudo o que quero na Espanha, assim como em qualquer lugar do mundo. Nunca me limitei pelo fato de outros, da cultura ou dos aspectos da sociedade tentarem me limitar. Atribuo isso não somente à minha personalidade, mas obviamente aos privilégios que tenho por estar numa posição social, cultural e étnica que me favorece frente à maioria das mulheres em condições de vulnerabilidade.
Então aproveito esta vantagem inerente para poder apoiar e favorecer mais mulheres, para que tenham as mesmas ou melhores condições que a minha. Recentemente fui palestrante internacional da FemTalent.cat (rede de parques tecnológicos da Cataluña) e uma frase que disse para animar as mulheres da plateia foi: "Já passou da hora de assumirmos a liderança em todos os processos de proteção da vida. Afinal, somos metade das pessoas na Terra e a outra metade, fomos nós que parimos".

Suécia Boliden

CAMILA HOLANDA,30 ANOS, CONTADORA

A Suécia é um país onde a igualdade de gênero é um tema bastante discutido no dia-a-dia. Há uma semana, por exemplo, tive uma reunião de avaliação com a minha chefe e um dos assuntos na pauta foi justamente se alguma vez eu tinha vivenciado dentro da empresa algum tipo de discriminação pelo fato de eu ser mulher.
Apesar de, em geral, achar o ambiente bastante igualitário, comecei a notar o quanto homens – especialmente os mais velhos e em cargos de chefia – não levam minha opinião ou meu trabalho tão a sério quanto levam o dos meus colegas homens. O que é claramente agravado pelo fato de, além de mulher, eu ser estrangeira.
Por outro lado, essa mesma empresa não vê problema algum em contratar uma mulher durante a gravidez, mesmo que ela venha a ficar de licença maternidade durante os próximos meses – na Suécia, a licença pode chegar a mais de um ano.
Aqui, vivencio um alto grau de liberdade. Jamais fui assediada na rua mesmo quando morava em um bairro estudantil e, muitas vezes, grupos de rapazes saiam à noite alcoolizados. Durante uma ocasião em que surgiram relatos de que estudantes estavam sendo paradas na rua por um “homem estranho", os próprios alunos criaram um grupo de apoio às colegas com o objetivo de "escoltar" gratuitamente qualquer mulher que não se sentisse segura voltando para casa sozinha.
Em bares e boates, qualquer tipo de assédio às mulheres é motivo de expulsão do agressor do local e, dependendo da gravidade, os próprios seguranças chamam a polícia. Outro aspecto interessante aqui é que a maioria dos homens aprecia quando a mulher toma a iniciativa na paquera, já que ninguém considera isso uma tarefa predominantemente masculina.
Por causa disso tudo, me permito sair à noite para a balada e voltar de transporte público sozinha, permito tomar a iniciativa na paquera, morar sozinha sem medo. Não há nada que eu não me permita aqui por ser mulher.

Estados Unidos Nova York


RAQUEL GARCIA,29 ANOS, ANTROPÓLOGA

Tendo morado em outros países ao longo dos últimos cinco anos, vejo um grau de liberdade muito maior para ir e vir, principalmente à noite. As usuais cantadas e fiu-fius não acontecem com tanta frequência. Quando acontecem, me sinto muito mais segura para reagir, sem medo de apanhar ou ser atacada. Não coloco, por exemplo, o perigo de um assédio como parte da equação na hora de escolher o que irei vestir. De toda forma, sinais para conscientização sobre agressões sexuais no transporte público existem, como nas grandes cidades do Brasil.
A pressão para "ser mulher" é bem parecida com a do Brasil. Espera-se que suas unhas, cabelo e maquiagem estejam feitos às 8h e que seu corpo esteja dentro do padrão.
E mesmo trabalhando em uma organização internacional que prega a equidade de gênero, ainda vejo muito claramente a dissonância entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Um colega homem que decide trabalhar de casa um dia porque seu filho está doente é um excelente pai, um pai presente. A mulher que precisa fazer isso ainda é vista como pouco profissional.
É preciso fazer uma ressalva que sou um ponto fora da curva na realidade de muitas mulheres imigrantes aqui nos Estados Unidos. Como no Brasil, as realidades nos EUA são diversas. Sou branca, moro em uma região boa de Manhattan, trabalho para uma organização internacional (com passaporte diplomático) e posso pegar um táxi ou Uber quando quero ou preciso.
Nossas identidades são fragmentadas e múltiplas e ninguém é só 'mulher' e 'imigrante': outros elementos da realidade de outras mulheres imigrantes fazem a vida delas completamente diferente da minha.

Estados Unidos São Francisco


MARINA SEGATTI,33 ANOS, PROFESSORA, BABÁ E ATIVISTA

Ser mulher, lésbica, imigrante e latina morando na Baía de San Francisco perpassa várias dessas identidades. Passei a maior parte dos 10 anos que estou aqui trabalhando no serviço doméstico, cuidando de crianças. Na maioria das vezes, é isso que cabe à mulher latina: participar na economia informal limpando casas, trabalhando de babá ou cuidando de idosos.
Uma das maiores liberdades que sinto aqui é saber que, se eu precisar, posso fazer um aborto seguro sem ser criminalizada. Sinto-me livre ao andar pelas ruas segurando a mão da minha parceira ou ao ser afetuosa com ela em lugares públicos.
Sinto-me livre quando decido adotar uma aparência masculina, pois sei que não serei alvo de chacota. Para a mulher nos Estados Unidos, riscos sempre há. A mesma lógica de violência contra a mulher que existe no Brasil também existe nos EUA. Não estou imune.
Não andar à noite sozinha em lugares que não conheço, saber onde e quando beber – porque aqui também culpabilizam a vítima – e lidar com o assédio sexual em festas, principalmente enquanto brasileira que é frequentemente objetificada, são alguns exemplos.
Nesse sentido, há sempre esse estado de vigilância. O que me permito fazer como mulher aqui, de certa forma, é o que eu me permito fazer como mulher e ponto, independentemente de onde estou. Eu assumo os riscos e não me limito. Eu viajo e saio muito sozinha, por exemplo. E o mais importante: eu não me calo diante das injustiças e me uno a outras mulheres brasileiras, buscando o empoderamento e fortalecimento conjunto.

Escócia Glasgow


RAQUEL DA SILVEIRA RAM,39 ANOS, MÉDICA

Vivo na Escócia há 10 anos e, apesar da diferença cultural, gosto muito da vida que levo aqui. Trabalho como médica e me sinto valorizada e respeitada como mulher e profissional. É uma cultura que preza muito a liberdade de opinião, independentemente de origem ou gênero.
Na Escócia, a mulher tem voz ativa e total apoio do governo. Existem diferentes iniciativas e políticas de governo voltadas para a mulher.
Gosto do fato de poder desfrutar de privilégios por ser mulher. Por exemplo, tenho direito a licença maternidade de um ano. E posso escolher trabalhar meio período se isso beneficiar meus filhos. Eu me sinto livre para ir e vir e, principalmente, para expressar minhas opiniões. Em nenhum momento durante esses anos me senti menos por ser mulher. Claro que, como estrangeira, tenho que batalhar mais duro para ter meu lugar ao sol.
Além disso, me sinto segura, tanto nas ruas quanto no meu ambiente de trabalho. A lei aqui é bem clara quanto a qualquer tipo de atitude que possa ser percebida como assédio ou racismo.

Finlândia Joensuu


LAÍS LEITE,26 ANOS, PSICÓLOGA


Apenas considerando o aspecto mulher, ser mulher na Finlândia é muito confortável. Mas ser mulher negra e estrangeira tem suas particularidades, para não dizer inconveniências.
Já me ocorreu algumas vezes, em bar e parada de ônibus, por exemplo, de homens finlandeses virem falar comigo perguntando de onde sou e bater um papo. Só que na Finlândia é muito raro pessoas desconhecidas conversarem. Os finlandeses consideram que estão invadindo o espaço pessoal do outro. Mas o fato de ser mulher negra estrangeira, por "algum motivo", faz com que alguns homens finlandeses se permitam "invadir" o meu espaço. Se eu fosse mulher finlandesa ou homem estrangeiro, isso não aconteceria.
Mesmo assim, sinto um grau muito alto de liberdade, semelhante ao que senti quando morei na Alemanha. Meu nível de estresse e até mesmo de raiva reativa – como um constante estado de alerta ao machismo que sentia no Brasil – desapareceram. Meu corpo e estado mental estão mais relaxados e confortáveis.
Ando de bike na Finlândia, e o caminho da universidade até minha casa passa por uma floresta. Tem várias florestas no meio da cidade. Nas primeiras vezes que percorri esse caminho à noite, estava completamente tensa e alerta a qualquer barulho e movimento. Agora, aprecio a paisagem, sinto o ar fresco e olho para o céu em busca de alguma aurora boreal. Temos tantas coisas para apreciar nas nossas cidades brasileiras, em pequenos trajetos de bike ou até mesmo caminhando, mas não temos condições de desfrutar porque o medo não permite.
Aqui ando onde quiser e na hora que quiser. Outro exemplo: os finlandeses têm uma tradição muito forte com sauna. E nas saunas masculinas e femininas as pessoas ficam nuas – nas saunas mistas, de biquíni ou maiô. A nudez ou semi-nudez (feminina) é tão tranquila e desinteressante. Esse desinteresse é mágico! Não sinto olhos em mim, muito menos assédio. Nunca me senti desconfortável em uma sauna pública aqui na Finlândia.

Portugal Lisboa


JULIE BAZACAS,31 ANOS, PUBLICITÁRIA

A vida da mulher em Portugal é segura, mas, por ser brasileira, terminamos sofrendo alguns preconceitos que já estão enraizados na sociedade portuguesa. É um desafio na hora de conhecer novas pessoas ou se relacionar com pessoas mais conservadoras. Existe esse estigma da mulher brasileira estar interessada em casamento com estrangeiros e não ter uma "boa índole" segundo eles.
É triste ver isso mas, ainda assim, é um preconceito que não oferece perigo no dia a dia. Na vida que eu levo me sinto 100% livre como mulher. Posso sair a qualquer horário do dia e da noite e caminhar para qualquer lugar.
É mesmo raro sofrer assédio nas ruas e, quando acontece, eles são tão menores que os do Brasil que realmente não existe muito contato com aquele medo que eu já estava acostumada a sentir.
Eu uso as roupas que eu quero, sem medo. Eu me permito caminhar à noite, mesmo por caminhos que não conheço. Eu permito me defender. Como aqui a violência contra nós é menor, sinto que posso falar o que penso e expor minhas ideias (especialmente em relação aos nossos direitos como mulher) com mais liberdade do que no Brasil.
Nem saberia dizer o que não me permito fazer, mas ainda existem "lugares de homem" aqui em Lisboa onde prefiro não ir para não dar chance ao azar e terminar sofrendo algum tipo de desrespeito. Mesmo aqui, a gente escuta casos de abuso e homens tentando tirar vantagens ou se achando no direito de fazer o que quiser se uma mulher está em situação vulnerável.
Situações do tipo: "vou te levar para casa, você tá bêbada" e aí estupram a menina e vão embora. Por causa disso, eu realmente parei de confiar em homens, por mais legais que eles pareçam.
Ainda assim, a sensação é mesmo de bastante segurança e, com isso, de liberdade.

Turquia Instambul


LAILA WINTHER,29 ANOS, ECONOMISTA

Na Turquia, a mulher acaba definindo o tamanho de sua saia ou do decote em razão do lugar aonde vai. Não me sinto muito à vontade de usar roupas muito decotadas, principalmente para utilizar transportes públicos. Em lugares mais conservadores, por exemplo, costumo colocar uma calça e blusa que cubra os ombros mesmo no verão. Mas em outros bairros, mais modernos, já cheguei a ver meninas com top.
Uma das maiores belezas que vejo na Turquia é a coexistência pacífica de contrastes. Foi aqui que vi meninas usando mini-saias abraçadas com amigas com o véu, e foi aqui que conheci as mulheres mais modernas, assim como as mais conservadoras de minha vida.
Na Turquia, grande parte da força de trabalho ainda é formada por homens, e é normal que as mulheres deixem de trabalhar para cuidar do lar ou da criação dos filhos. Essa decisão não pertence totalmente a elas, uma vez que são raras as creches para crianças com menos de dois anos de idade. Alguém da família acaba cuidando da criança.
Ainda há um longo caminho a ser traçado para que se atinja uma sociedade com total igualdade entre homens e mulheres na Turquia. Já vi algumas mudanças. Antes, quando a mulher casava, perdia os sobrenomes de solteira e adotava somente aquele do marido. Quando casei, em julho de 2016, tive o direito de, por meio de uma solicitação simples, manter meu sobrenome de solteira e adicionar o do meu marido.

Angola Luanda


THAÍS JUSTEN,29 ANOS, ANALISTA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Minha vida na Angola é muito parecida com a que eu tinha no Brasil. Trabalho de segunda a sexta, vou ao cinema, saio com os amigos, faço exercícios na Marginal de Luanda, vou à praia... Luanda é tão quente e úmida quanto o Rio de Janeiro, então uso basicamente as mesmas roupas.
É claro que a sociedade aqui ainda é muito centrada no homem. É comum ouvir comentários machistas ou cantadas enquanto ando na rua. Mas como boa brasileira que sou, não me intimido. Respondo de volta, e os caras logo param.
Moro no centro e faço muita coisa a pé: mercados, trabalho, restaurantes. Saio também para a balada sozinha sem problemas. Durante o dia, até me permito andar de candongas – os táxis azul e branco, parecidos com as vans do Rio –, mas procuro sentar próximo de outras mulheres ou do motorista.
De noite, só utilizo os táxis de cooperativas com motoristas credenciados e rastreáveis. De resto, evito andar sozinha ou ir à áreas que não conheço depois das 22 horas, coisa que também evitaria se estivesse no Rio de Janeiro, por exemplo.

Chile Santiago


ENUSA ZANATTA,35 ANOS, ADVOGADA

Ainda existe muito questionamento sobre a mulher priorizar a carreira profissional antes de ter família. Constantemente, questionam as mulheres que dão prioridade para o trabalho e não para a família, como o fato de postergar a maternidade, por exemplo. Isso às vezes é incômodo na vida cotidiana no Chile.
De maneira geral, sinto mais liberdade em andar sozinha ou dirigir sozinha à noite que no Brasil, já que o Chile tem menores índices de violência. Também sou mais tranquila quanto ao meu aspecto físico, já que não existe tanta pressão de parte das outras mulheres com a estética. Mas não me permito abusar de roupas extravagantes ou decotes, como se costuma usar no Brasil, por exemplo. O Chile é um país bastante conservador.

Arábia Saudita Jeddah


LAMIS MAZLOUM,26 ANOS, DONA DE CASA FORMADA EM ADMINISTRAÇÃO


Sou brasileira-libanesa e vivi minha inteira no Brasil, mas sempre ia para o Líbano. Casei e meu marido trabalha na Arábia Saudita, então passamos a morar aqui.
Em Jeddah, quase todos os restaurantes têm uma seção só para famílias e outra totalmente separada, onde entram só homens solteiros –, mas não mulheres solteiras. É proibido que homens solteiros entrem na ala familiar. E é proibido que mulher solteira entre na seção dos solteiros.
Sou muçulmana e para mim é natural cobrir o cabelo, com o véu. Não uso lenço. O certo seria usar e cobrir o cabelo, não o rosto inteiro. Mas aqui tem muita mulher que usa a burca, que é a vestimenta preta do fio de cabelo ao dedo do pé, cobrindo tudo.
Posso andar no shopping sozinha. Posso andar na praia sozinha. Eu ia para uma academia que é só para mulheres – impossível entrar algum homem. Mas mulher não pode dirigir aqui. Quando não saio com meu marido de carro, pego Uber.
Em uma ocasião, fiquei com um pouquinho de medo. Em geral não uso véu, mas depois dessa situação preferi começar a usar o véu quando saio de casa sem o meu marido. Porque os homens mexem. Não é que usar o véu vai me proteger, mas talvez na cabeça dos homens a mulher que usa o véu é mais reservada do que a mulher que não usa. É como no Brasil: mulher de minissaia na rua é comparável à mulher sem véu na Arábia Saudita.
Saio de casa com uma vestimenta preta, a abaya, porque é obrigatório. Não mostro uma curva do meu corpo. Falam que tem a polícia religiosa aqui e que se eu estiver andando na rua sem essa vestimenta vão chamar minha atenção.
Abraçar e beijar na rua é proibido. Demonstração de afeto não pode. No máximo, andar de mãos dadas. Se eu estiver andando na rua com meu marido e nos abraçarmos ou nos beijarmos, podemos levar uma multa. Meu marido pode levar alguns dias na cadeia. Sei de casos em que um homem e uma mulher estavam andando juntos na rua, e a polícia religiosa pediu o documento para saber se eram casados. Se não forem, podem levar multa ou bronca.
Não tenho liberdade de usar o que quero. Aliás, posso usar o que quero, mas tenho que usar a vestimenta para cobrir roupa e corpo. Na praia, tem uma parte que homem pode entrar no mar, mas mulher não pode. Nem que seja de roupa. Biquini, maiô, short: nem preciso falar, né? Nem sonhando. É uma liberdade moderada. Não sou livre, mas também não sou presa. Tento viver minha vida conforme os limites que as mulheres têm aqui.

Timor Leste Díli


SIMONE ASSIS,44 ANOS, PSICANALISTA PARA CEO-ONG

O Timor-Leste é uma nova nação que vem construindo ao longo destes anos de independência uma identidade própria, mas claramente regida por uma cultura patriarcal. O papel da mulher é definido por regras sociais e tradicionais.
Depois de 17 anos vivendo aqui, enfrentando desafios e preconceitos, principalmente por ser estrangeira e mulher, me sinto muito feliz por ter conquistado meu espaço, ajudando na criação de programas de apoio na luta pela igualdade de gênero, contra o casamento precoce, incesto e tantos outros problemas que afetam as mulheres e crianças deste país . Como CEO em uma organização com mais de 50 funcionários, senti na “pele” o que é ser uma mulher em posição de autoridade no país. Como estrangeira tenho mais liberdade para atuar na esfera pública do que uma mulher timorense, a quem na maioria das vezes é relegado único e exclusivamente o papel de “dona de casa”.
Mas, para se fazer ouvir e respeitar, leva-se anos e é uma conquista na qual nem todas as mulheres, mesmo estrangeiras, são bem sucedidas. No dia a dia a falta de liberdade de caminhar em segurança pelas ruas depois do anoitecer ou de usar um táxi por causa de assédio sexual é algo que ainda me deixa assustada e insegura.
Este olhar dos homens para a mulher como objeto ou ser inferior ainda, infelizmente, é uma realidade que pouco a pouco vem sendo mudada. Na capital já vemos muitas jovens rejeitando o casamento “arranjado” e questionando a cultura de dotes. São mudanças que vão pouco a pouco se refletindo no nosso dia a dia.
Como estou no Timor-Leste por opção e amo este povo e esta pequena linda nação, prefiro respeitar a cultura local e não quebrar as regras do que seria culturalmente aceito. Por isso, evito exposição pública entre mim e meu marido com beijos e carícias, usar um biquíni na praia onde os timorenses costumam ir, me “intrometer” na conversa dos homens sem ser convidada a isso, andar no banco do carona em um táxi, etc.
No entanto, me permito participar na luta pela igualdade de gênero, reafirmar meu papel como mulher, profissional, esposa e mãe, mostrando que posso desempenhar todas estas funções muito bem.

Austrália Melbourne


LUÍSA CRUZ,27 ANOS, GERENTE DE SATISFAÇÃO DO CLIENTE

Ser mulher em um país como a Austrália me permitiu ter mais liberdade do que sendo mulher no Brasil. Eu me sentia mais segura para sair nas ruas, sem tanto medo de assédio ou violência. Tinha um grau de liberdade maior do que no Brasil, apesar de às vezes ser mais sexualizada por ser brasileira.
Alguns disseram que eu era exótica e outros perpetuavam o estereótipo de brasileira ser sexy. Sempre me permiti fazer o que quisesse no Brasil e até sofri por isso porque fui assaltada várias vezes e assediada, como as brasileiras são. Na Austrália, agia da mesma forma, me permitia fazer o que quisesse. Mas nesse período em que morei lá não tive nenhum incidente por ser mulher. Exceto a hipersexualização de alguns por ser brasileira. Foram poucas as vezes em que precisei estar sozinha, mas não deixei de fazer coisas sozinha. Confesso que ser uma mulher significa sempre ter medo de andar na rua sozinha, no Brasil ou na Austrália. Mas talvez por eu ter nascido num país violento essa sensação me acompanha.

Reino Unido Londres


BIANCA DAVIES,28 ANOS, DESIGNER


Sinto que em geral tenho uma grande liberdade dentro do Reino Unido como mulher, principalmente se comparado ao Brasil. Tive de repensar meu conceito sobre ser mulher. Acho que no Brasil eu aprendi sobre certas “fragilidades” e certos “limites” que vêm com o fato de ser mulher. E essas fragilidades e limites eu não via por aqui. Coisas tidas no Brasil como “bonitinha, delicada e bonequinha” aqui são tidas como “imatura, mimada e superficial”.
Tive de aprender a ser uma mulher mais forte e independente, esse é o normal aqui. No Reino Unido, a igualdade entre os sexos é consideravelmente maior se comparada ao Brasil. Por exemplo, mesmo casada, nunca tive que pedir permissão ou dar satisfação sobre a minha vontade de sair sozinha para lugar x ou y, também nunca houve uma expectativa ou obrigação sobre os trabalhos domésticos, que, bem como as nossas contas, são divididos pela metade.
Meus medos e receios como mulher são poucos. Desde quando recebi a proposta de escrever um pequeno relato sobre a minha vida em Londres, tive receio de trazer problemas de primeiro mundo para a discussão. Eu não me permito, por exemplo, ser mãe neste momento. O meu medo de ser substituída no trabalho é maior do que a minha vontade de um bebê. O medo de me ausentar do trabalho – que por sinal oferece uma licença maternidade super interessante – e ficar de fora de muitos projetos e mudanças faz o meu “projeto baby” quase impossível.
seguro que a maioria das cidades do Brasil, é frequente ler no jornal sobre estupro e assédio. Eu me permito elogiar colegas do mesmo sexo e do sexo oposto. Em Londres, as pessoas elogiam mesmo, sem julgamentos, e é super bacana. Eu me permito ir para onde quiser, usando o que quiser e com quem quiser.

França Paris


ANA LAURA NASCIMENTO,25 ANOS, ATRIZ MARIONETISTA E PALHAÇA, E PROFESSORA DE TEATRO


Ser mulher na França, para mim, é ser exotizada. Quando você fala para um francês que é brasileiro, o Brasil evoca muitas imagens positivas na cabeça das pessoas. Mas essas imagens positivas, muitas vezes, trazem clichês racistas, homofóbicos, transfóbicos e sexistas.
Quando comecei a trabalhar na França, na minha primeira semana de trabalho, colegas mostraram vídeos de bailarinas brasileiras dançando nuas e perguntando se eu usava calcinha fio dental. Eles achavam que isso era uma forma de puxar assunto sobre o Brasil. Assim como já fui a uma festa – isso já me aconteceu algumas vezes – e alguém perguntou: "Você é brasileira? Você é uma mulher de verdade?". No momento em que a pessoa me perguntou isso pela primeira vez, não entendi o que era. Demorei para entender que era realmente um comentário transfóbico. Porque existe a fama das transexuais brasileiras na França.
Fora o clichê da mulher brasileira como prostituta. Tenho muito respeito pelas trabalhadoras do sexo. Mas quando você não é prostituta e é abordada na rua por uma pessoa que sabe que você é brasileira, e ela propõe um programa... É muito chato. E a pessoa insiste porque, na cabeça dela, uma mulher brasileira vai aceitar. É um clichê que as mulheres brasileiras vivem no mundo.
Existe muito assédio na rua aqui. Não conheço pessoas que foram assaltadas com uma arma na França – só uma que já foi assaltada com uma faca. Claro que em Paris, cidade grande e turística, existe muito furto e roubo. Mas é mais raro de acontecer do que no Brasil. Então, se estou na rua e sou abordada por alguém, por um assédio ou alguma situação chata que mulheres do mundo todo vivem, como sei que a violência pode subir menos – é um risco, sempre –, mas como sei disso, tenho mais coragem de responder.
Se sofro assédio, tenho coragem de falar em voz alta que isso é um assédio e que essa situação não está correta, isso não é o momento, não é ocasião, não é feito dessa forma. Você tem mais coragem de enfrentar a pessoa, sabendo que ele vai ser menos violenta com você.
Outra coisa positiva é não ter medo de estar nas ruas à noite. Saio na rua em Recife à noite, mas sempre existiu o medo de ser assaltada e estuprada. Na França, esse medo é bem menor. Consigo chegar na minha casa às 3 horas, 4 horas da manhã, sozinha ou acompanhada, e ter menos medo.

Argentina Buenos Aires


FLÁVIA OLIVEIRA,25 ANOS, RELAÇÕES PÚBLICAS


Ser mulher na Argentina não difere muito da minha vida como mulher em São Paulo, onde eu nasci. Ambas as cidades são grandes metrópoles, com privilégios e problemas comuns às cidades. A Argentina até é um país com tradição na militância política e social, mas ainda existe um longo caminho a ser percorrido quanto à igualdade de gêneros, quebras de paradigmas e rompimento de padrões estéticos.
Ao mesmo tempo em que você vê pela rua uma liberdade muito grande de estilos e pensamentos, existe ainda um padrão estético para a mulher muito cruel e inatingível. Minha mudança para a Argentina veio em um momento muito particular em que eu estava buscando autoconhecimento. Antes de morar aqui, nunca tinha parado para pensar o que significa ser mulher e como a sociedade nos reserva um papel secundário. É comum as pessoas pensarem que na Argentina existe muito mais liberdade para a mulher em comparação ao Brasil, principalmente pelo que acaba sendo mostrado nas mídias internacionais.
Grande parte é verdade. Existem muitos movimentos de mulheres que vão às ruas questionando a sociedade sobre diversos temas relacionados à igualdade de gênero. Por outro lado, quando você para e olha cuidadosamente os números de violência contra mulher, ou quando você liga a televisão para ver um noticiário qualquer, vai percebendo que existe um longo caminho a ser percorrido e que a realidade aqui quanto ao feminicídio é muito parecida com a do Brasil.
Acredito que pelo fato da Argentina, em especial Buenos Aires, ser uma capital relativamente segura quanto à criminalidade, a liberdade dos indivíduos acaba sendo maior, mas isso não é reflexo de uma sociedade igualitária em termos de gênero. Um caso recente foi o “Tetazo”, que aconteceu em todo o país em resposta a um abuso policial contra um grupo de mulheres que estava fazendo topless em Mar del Plata, no litoral argentino.
Vinte policiais foram escoltar para fora da faixa de areia três meninas porque elas estavam fazendo topless, o que resultou em uma manifestação no país inteiro de mulheres sem camisa questionando a sexualização dos mamilos femininos em detrimento dos masculinos.
Isso é incrível porque coloca cada vez mais mulheres em contato com o feminismo e gera uma discussão coletiva sobre o tema. Não acho e nunca achei que ser mulher fosse fator limitante do que posso ou não posso fazer. Os mesmos cuidados que tenho aqui são os que aprendi a ter no Brasil e que valeriam para qualquer lugar do mundo. Atenção ao caminhar sozinha à noite, não tomar bebida de estranhos, não pegar carona com estranhos depois da balada.

Índia Mumbai


ANA DOURADO,30 ANOS, PUBLICITÁRIA

Mumbai, para mulheres, é a cidade mais segura para se viver na Índia. É tipo São Paulo. É a cidade mais cosmopolita e uma das maiores da Índia. É a menos tradicional e menos conservadora, principalmente para mulheres. Minha vida, sendo estrangeira e morando em Mumbai, não é tão diferente do que seria minha vida morando em Belo Horizonte ou em São Paulo.
A empresa onde trabalho tem alguns cuidados comigo. Quando trabalho até tarde, eles me levam até em casa e vai um assistente da empresa fazendo a segurança para me deixar em casa. A empresa contratou uma equipe de segurança e tenho o cartão deles. Se eu tiver qualquer problema, se for assediada na rua, se achar que alguém me seguindo, posso ligar.
Não é nada chocante e nada fora da curva, algo que não encontre no Brasil. A empresa é nova, indiana, e está em vários países. Então, o clima é bem aberto. Tem várias mulheres em cargos de liderança.
Mumbai, por ser uma cidade com muitos estrangeiros, tem um respeito extra por eu ser estrangeira. As pessoas entendem que venho de outra cultura, que me visto de um jeito diferente e me porto de um jeito diferente. Mas há coisas que não dá para fugir. Todo mundo me pergunta quantos anos eu tenho. Quando digo que tenho 29, eles já encaixam: “Então você é casada?” Respondo que não, e eles: “Mas você não vai se casar?” Na índia, com 29, 30 anos, você tem que estar casada, encaminhada na vida. Isso lá é muito forte mesmo.
Há barreiras relacionadas a sexo que atingem mais as mulheres, mas os homens também. Comprar camisinha é um super tabu. Até comprar absorvente é meio clandestino, escondido. Você vai a um canto da farmácia, sabe? Ninguém fala sobre sexo. As pessoas inclusive fazem muito pouco sexo. Sexo ainda é coisa para depois do casamento mesmo. Sendo mulher e morando lá, não tem a menor chance de falar sobre sexo com amigos ou amigas indianas.
Agora, quando pensamos nas mulheres indianas em geral, a vida é uma merda. A instituição principal da sociedade é a família. E é uma família super, super patriarcal. Quando a mulher casa, e 99% dos casamentos são acordados entre famílias das mesmas castas com interesses em comum, a esposa vai morar na casa do marido. Geralmente, com os sogros. E vive todo mundo junto.
Acontece uma coisa muito cruel, que é o infanticídio, super frequente. Ou as mães quando descobrem que estão grávidas de meninas abortam – embora seja ilegal saber o sexo da criança por ultrassom. Ou, quando as meninas nascem, são negligenciadas. Se ficam doentes, os pais não levam para o hospital, não levam para tomar vacinas, não são alimentadas corretamente e acabam morrendo.
Se tem que dar alguma preferência para essas crianças irem para a escola, é claro que os meninos vão porque depois são eles que vão trabalhar. E porque essas meninas eventualmente vão sair de casa, vão para a casa do marido. Consideram como se fosse uma perda investir naquela menina. Então, as meninas têm menos acesso à educação.
Muitas trabalham, mas só até casar. Depois que casam, as mulheres passam a se dedicar para a família ou, quando continuam trabalhando, é só até ter filhos. São raríssimas as mulheres mais velhas que continuam trabalhando depois de ter filhos. Às vezes, fazem bico de faxineira. E, na maior parte das vezes, quando ganham dinheiro, os maridos pegam esse dinheiro porque são eles que administram as contas da casa. É bem cruel.
Se o marido morre, como a mulher está na casa da família do sogro, elas se tornam viúvas e são expulsas de casa, mas não podem voltar para a casa dos pais. Se sofrem algum tipo de agressão física ou verbal, também não conseguem sair da casa dos sogros porque não têm grana ou profissão. E divórcio na Índia também é super recente e super tabu. Sempre converso com amigos de lá e eles dizem: “Não, é super comum agora o divórcio na Índia”. Eu pergunto: “Quantos casais divorciados vocês conhecem?” E eles sempre falam: “Nenhum. Ninguém. Porque ninguém se divorcia”. As mulheres ficam muito vulneráveis.

Russia Moscou


LORENA STEPHANIE S. SANTOS,23 ANOS, DIRETORA DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL NA AIESEC

Para entender o cenário da mulher na Rússia é importante analisar o contexto histórico do país, que ainda reflete uma sociedade mais conservadora e patriarcal do que a brasileira. Por outro lado, o país teve vários marcos, como a primeira mulher a ir ao espaço, e destaca a força da mulher russa que supera o inverno e cuida da família, enquanto o marido está servindo ao país.
No começo, devo admitir que tive vários choques culturais – a maioria relacionada à questão de gênero. Nas primeiras reuniões percebi, por exemplo, que se tínhamos de organizar a sala e carregar cadeiras, eu era a primeira a levantar e tentar arrumar, mas as meninas olhavam pra mim com desaprovação e me pediam pra que eu esperasse porque os homens que deviam carregar as cadeiras. Isso se repetiu em várias ocasiões e com diferentes mulheres.
São tradições culturais por vezes bastante sutis, desde como sentar à mesa, quem carrega as sacolas, quem cozinha. Percebi que a divisão de tarefas baseada em gênero ainda é muito forte – e em geral as pessoas não questionam sobre isso. Fico feliz que só o fato de eu questionar e esclarecer para a equipe o que eu considero justo em uma conversa aberta fez com que eles refletissem sobre o tópico.
Além disso, as mulheres russas têm uma preocupação muito grande com a aparência – que eu acreditava que já fosse bastante no Brasil. Isso me assustou um pouco no início, porque mesmo nos encontros mais informais elas pareciam impecáveis. Conversei com algumas colegas, que me esclareçam que ainda existe uma pressão social para que elas estejam sempre dentro dos padrões de beleza.
As expectativas padrão para a vida são também bastante convencionais: casar e ter filhos logo no começo dos 20s. Quando comento com as pessoas que ainda vou concluir a universidade ou que não tenho planos de me casar tão cedo, é notável que isso é considerado no mínimo estranho.
Outro ponto que me chamou a atenção é que a Rússia valoriza muito as artes e os esportes. Em geral as pessoas, independentemente do gênero, possuem alguma habilidade como pintura, dança, música ou praticam algum esporte. Nessas áreas com certeza as mulheres russas se destacam e mostram o seu talento.
Mas apesar dessas diferenças e de saber que, como estrangeira, tenho regras culturais diferentes, não sinto que eu tenha menos liberdades. E até me sinto mais segura ao andar sozinhas nas ruas em relação ao que sentia no Brasil, pois os índices de criminalidade aqui são muito mais baixos.
Também não sinto os meus direitos sendo privados por ser mulher. Mas claro que ajuda o fato de eu ter um trabalho e conviver com um determinado grupo de jovens universitários que compartilham dos mesmos valores que eu. Em muitos momentos tive que me adaptar à cultura local, ao mesmo tempo em que buscava entendê-la para então poder questionar.

Quênia Nairóbi


NATASHA LEITE,30 ANOS, TRABALHADORA HUMANITÁRIA

Minha vida como estrangeira no Quênia é bastante privilegiada, o que acaba me protegendo de 90% das micro-agressões e violências sistêmicas que as maiorias das mulheres daqui enfrenta. Eu tenho muito mais liberdades do que as quenianas, mas ainda não tantas quantos meu colegas homens.
Na verdade, meu grau de liberdade é limitado, especialmente porque eu não dirijo. Depois de certos horários, por exemplo, eu não ando na rua sozinha a pé. Até por uma falta de infraestrutura. Não existem muitos postes de luz nas ruas nem calçadas para caminhar. Fora que eu aparento não ser daqui, o que me torna mais vulnerável.
Mas acho que, em geral, não há muitas coisas que eu não me permito fazer ou que me limitam aqui. Uma coisa que parece bobeira é não usar roupas que mostram muito as pernas, especialmente se eu estou caminhando na rua durante o dia. É um nível de assédio desproporcional. Eu tenho amigas que pararam de usar shorts aqui pela mesma razão.

Cingapura Cingapura


MARLISE MOTA RODEMBUSCH,47 ANOS, PEDAGOGA E FOTÓGRAFA

A nossa família é brasileira, mas estávamos morando já havia 8 anos em Miami, nos EUA. Quando começamos a conversar sobre a possibilidade de nos mudarmos para Singapura, essa questão de viver na Ásia, a ideia de como as mulheres são vistas e tratadas por aqui e a “diversidade cultural” me assustavam um pouco.
Essa diversidade propicia, sim, a convivência entre pessoas de diferentes culturas e religiões: taoístas, budistas, muçulmanos, cristãos e hindus. Cada mulher se comporta dentro de suas crenças, e todas convivem sem problema nenhum.
Dessa forma, minha vida como mulher aqui é igual à vida que eu tinha em Miami ou no Brasil. Uso as mesmas roupas que usava, faço todas as coisas que fazia lá, vou à academia, dirijo, frequento os mesmos lugares que frequentava sem a menor restrição. O fato de interagir com tantas pessoas e culturas diferentes faz com que o tempo todo se aprenda algo novo.
Com toda essa mistura cultural, com tantas influências diferentes, cada povo faz o possível para manter vivas suas tradições e crenças. Dessa forma, é preciso respeitar as peculiaridades de cada crença. Por exemplo, se vou visitar um templo hindu, sei que preciso cobrir meus ombros e não posso usar um shorts. Se for visitar uma casa de chineses, vou deixar meus sapatos fora da casa. E, para mim isso não fere minha liberdade, pois apenas estou respeitando a crença desse povo.
No dia a dia não há nada que não me permita fazer. Se for fazer uma corrida na rua, vou de shorts e camiseta, mas posso ter ao meu lado uma mulher de calças e camisetas de manga longa e usando véu correndo ao meu lado. Ambas estão praticando esporte, simples assim.
Acho que o grande aprendizado que tiramos dessa experiência é que Cingapura é um país que se esforça para respeitar e conviver com a diversidade. É um país inclusivo no verdadeiro sentido da palavra. Nossas crianças são educadas desde cedo a respeitar a diversidade e a conviver no mesmo espaço sem tentar impor o seu ponto sobre coisas que nossa cultura não aceita ou que não acreditamos. O ponto é respeitar para viver em harmonia.
Conversamos e debatemos com nossos filhos o tempo todo, cada situação vivida, mas aprendemos que não cabe a nós mudar a crença das pessoas.
Existe machismo sim. Em muitas culturas a mulher não tem voz e, infelizmente, no meu ponto de vista, a celebração das conquistas da mulher está muito longe para elas, mas quem disse que elas enxergam tudo isso como algo ruim? Não sei.
Viver essa experiência e ver meus filhos – Lucas, de 16 anos, um adolescente, e Manoela, de 12 anos – se relacionando com pessoas com costumes e crenças tão diferentes das nossas, sem preconceito e em total harmonia só reafirma que não poderíamos ter feito escolha melhor. O que nossa família está vivendo aqui só vai nos tornar pessoas melhores, sem esquecer nunca do que acreditamos.

Comentários

ᘉOTÍᑕIᗩS ᗰᗩIS ᐯISTᗩS

ELAS

  Swanepoel, sempre ela! A modelo Candice Swanepoel sempre é motivo de post por aqui. Primeiro, porque é uma das mulheres mais lindas do mundo. Depois, porque faz os melhores ensaios da Victoria’s Secret. Depois de agradar a todos no desfile da nova coleção, ela mostrou toda sua perícia fotográfica posando de lingerie e biquíni. Tags:  biquini ,  Candice Swanepoel ,  ensaio sensual ,  lingerie ,  victoria's secret Sem comentários » 29/11/2011   às 20h02   |  gatas Lady Gaga é muito gostosa, sim, senhor. A prova: novas fotos nuas em revista americana A estrela pop Lady Gaga é conhecida pela extravagância na hora de se vestir e pelos incontáveis sucessos nas paradas do mundo todo. Agora, a cantora ítalo-americana também será lembrada por suas curvas. A revista Vanity Fair fez um ensaio para lá de ousado em que Mother Monster (como Gaga é carinhosamente chamada pelos fãs) mostra suas curvas em ângulos privilegiados. A primeira foto é

Agricultura familiar conectada

  #Agrishow2022euaqui - A revolução tecnológica demorou a chegar, mas finalmente começou a transformar a vida do pequeno agricultor familiar brasileiro. Com o surgimento das foodtechs, aliado ao aumento da confiança na compra on-line de alimentos e na maior busca por comidas saudáveis por parte do consumidor, o produtor de frutas, legumes e verduras (FLV) orgânicos começa a operar em um novo modelo de negócio: deixa de depender dos intermediários — do mercadinho do bairro aos hipermercados ­— e passa a se conectar diretamente ao consumidor final via e-commerce. Os benefícios são muitos, entre eles uma remuneração mais justa, fruto do acesso direto a um mercado que, segundo a Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), movimentou R$ 5,8 bilhões em 2021, 30% a mais do que o ano anterior, e que não para de crescer. DIRETO DA LAVOURA A LivUp é uma das foodtechs que está tornando essa aproximação possível. Fundada em 2016, a startup iniciou a trajetória comercializa

GM está saindo de suas torres de sede em Detroit

  A General Motors  planeja transferir sua sede global para o novo complexo  Hudson  ’s em Detroit em 2025, abandonando sua icônica localização no Renaissance Center.  A GM  continuará a ser proprietária do RenCen, como é chamado, e se juntará a uma parceria com a imobiliária Bedrock, a cidade de Detroit e o condado de Wayne para reconstruir o conjunto de torres que dominam o horizonte de Detroit. A GM será a inquilina âncora do projeto Bedrock's Hudson's Detroit, que foi construído no local da antiga loja de departamentos JL Hudson. Esta será a quarta sede da GM em Detroit. A localização fica na Woodward Avenue, onde a GM estabeleceu sua primeira sede em 1911. A GM assinará um  contrato de arrendamento  de 15 anos para os andares superiores de escritórios do complexo Hudson, juntamente com espaços no nível da rua para exibir seus veículos e para atividades públicas.  Hudson's Detroit  é um empreendimento de 1,5 milhão de pés quadrados que, de outra forma, contará com lojas

Invasões do MST chegam a 24 áreas em 10 Estados e no DF

24 propriedades já foram invadidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 11 estados do país durante o chamado Abril Vermelho, segundo dados divulgados na manhã desta terça (16) pelo grupo. As ocupações começaram ainda no fim de semana e, de acordo com o movimento, devem se estender até sexta (19) na Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária. Além das invasões, o grupo promoveu outras seis ações diversas como montagem de acampamentos em alguns estados, assembleias e manifestações. As ações ocorrem mesmo após o  anúncio de um programa do governo federal para a reforma agrária que vai destinar R$ 520 milhões  para a compra de propriedades ainda neste ano para assentar cerca de 70 mil famílias do movimento. Entre os estados que tiveram invasões a propriedades estão Pernambuco – com a terceira ocupação de uma área da Embrapa –, Sergipe, Paraná, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Bahia, entre outros. “Até o momento, a Jornada contabiliza a realização de 30 aç

Mais uma derrota do Governo: Câmara aprova urgência para projeto que autoriza “força policial” contra MST

  A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (16) o projeto de lei PL 895/23, que estabelece sanções administrativas e restrições a ocupantes e invasores de propriedades rurais e urbanas. Uma das medidas previstas no projeto é a permissão do uso da força policial para expulsar invasores de propriedades sem a necessidade de uma ordem judicial. A urgência na tramitação do projeto ocorre em meio a recentes invasões de terras cometidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) como parte das ações do Abril Vermelho. Pelo menos 24 propriedades foram invadidas pelo MST em 11 estados até a segunda-feira (15). O projeto estava pendente de votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). No entanto, deputados da oposição e do Centrão conseguiram aprovar um requerimento de urgência para que o projeto fosse votado em sessão plenária. A decisão de votar a urgência foi criticada por parlamentares governistas, que consideraram uma “quebra de acordo” alegando que o projeto não

Mulher leva morto em cadeira de rodas para sacar empréstimo de R$ 17 mil e pede a ele: ‘Assina’

  Funcionários do banco suspeitaram da atitude de Érika de Souza Vieira Nunes e chamaram a polícia. O SAMU foi ao local e constatou que o homem, identificado como Paulo Roberto Braga, de 68 anos, estava morto há algumas horas.  Na delegacia, ela disse que sua rotina era cuidar do tio, que estava debilitado. A polícia apura se ela é mesmo parente dele. Um vídeo, feito pelas atendentes, mostra que a todo tempo ela tentava manter a cabeça do homem reta.  “Tio, tá ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, o que eu posso fazer eu faço”, afirma a mulher. Mulher tenta fazer morto assinar documento — Foto: Reprodução  Ela mostra o documento e afirma que ele tinha que assinar da forma que estava ali e diz: “O senhor segura a cadeira forte para caramba aí. Ele não segurou a porta ali agora?”.  De acordo com a apuração da TV Globo, o valor já estava pré-aprovado.  Por volta de 19h, a mulher ainda prestava depoimento na delegacia. A

Servidores de 470 institutos se juntam à greve de universidades federais; veja lista

A greve é liderada pela Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra) e une mais de 60 seções sindicais. Além dos Institutos Federais, 18 universidades já aderiram à paralisação. No último dia 11, o presidente Lula se reuniu com membros da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) para tentar conter a greve, exatamente um mês após o início da greve dos servidores técnicos administrativos (TAEs), em 11 de março. O encontro aconteceu mesmo com a declaração do ministro da Economia, Fernando Haddad, que afirmou a impossibilidade de um reajuste neste ano. Exatamente por isso, a greve continua com cada vez mais instituições aderidas. Quais são as reivindicações da greve? Segundo o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), a greve levanta demandas que datam de 2015, ano em que se nego

Brasil registra um acidente de trabaho a cada 51 segundos

  Um acidente de trabalho é registrado a cada 51 segundos no Brasil, de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Esse número coloca o Brasil no topo da lista de países mais perigosos para os trabalhadores, ficando atrás apenas de China, Índia e Indonésia. Só em 2022, o país registrou 612,9 mil acidentes, que causaram 2.538 mortes, um aumento de 22% em relação a 2021. De acordo com o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (SINAIT), Bob Machado, o aumento no número de acidentes laborais é um reflexo da atual situação da inspeção do trabalho no País. “O Brasil conta, hoje, com o menor contingente de auditores-fiscais do trabalho (AFTs) dos últimos 30 anos, operando com uma quantidade de profissionais bem abaixo da ideal. Isso dificulta muito o trabalho de fiscalização nas empresas e abre brechas para que mais acidentes aconteçam”, disse. Dados da OIT e do Ministério Público do Trabalho (MPT) mostram que as principais causas de acidentes