Maioria teve cortes profundos no pescoço feitos pelos estilhaços de metal; algumas lesões foram confundidas com facadas ou tiros. VÍDEO explica o defeito que provoca recalls inclusive no Brasil.
Estilhaços do airbag se alojaram no meu olho direito e na minha bochecha... Fiquei cega do olho direito na hora", descreveu Stephanie Erdman, sobre como ficou gravemente ferida na explosão do airbag de seu carro, em 2014, nos Estados Unidos.
Em vez de salvar vidas, esses equipamentos defeituosos abrem forte demais e lançam estilhaços de metal contra os ocupantes do veículo (veja mais no vídeo acima). Eles foram produzidos pela Takata, uma das maiores fornecedoras de airbags do mundo.
Stephanie teve sorte de poder contar sua história e deu um rosto ao maior recall da história: mais de 30 milhões de veículos de diversas marcas foram chamados de volta às oficinas em todo o mundo.
No Brasil, são quase 3 milhões (confira a lista dos recalls); mas a minoria atendeu aos chamados.
Até agora, 16 mortes foram ligadas aos "airbags mortais", nos EUA e na Malásia.
Entre as vítimas, a maioria mulheres, estão uma grávida no fim da gestação e seu bebê, um garoto de 13 anos que pegou o carro escondido dos pais e a ex-namorada do filho de Clint Eastwood
Histórias de mortos e sobreviventes, reunidas pelo G1, chocam pelo modo como tudo aconteceu. A maioria teve cortes profundos no pescoço feitos pelos estilhaços de metal. Algumas lesões foram confundidas pela polícia com facadas ou tiros.
O rosto do caso
Stephanie Erdman, 29 anos, se acidentou em setembro de 2013, em Destin, Flórida (EUA)
Stephanie Erdman testemunhou em comissão do Senado americano em 2014 (Foto: Gary Cameron/Reuters)
Esta tenente da Força Aérea americana é o rosto do caso dos “airbags mortais”. Ela teve uma lesão no olho direito e fraturou o nariz na explosão do airbag de seu Honda Civic 2002. Meses antes, a Takata tinha revelado ao mundo que existia o defeito.
Em 2014, ao testemunhar em uma comissão no Senado americano sobre o caso, Stephanie se queixou de que nem a Honda e nem a Takata tinham feito esforços suficientes para alertar os proprietários desses carros. "Minha visão nunca será a mesma. Eu nunca serei a mesma”, disse.
Ferimentos confundidos com facadas
Hien Thi Tran, 51 anos, morreu em setembro de 2014, em Orlando, Flórida (EUA)
Quando a polícia chegou ao local da morte de Hien Tran, os investigadores pensaram que estavam diante de uma mulher esfaqueada. Tanto que eles já buscavam um suspeito.
Tran morreu no hospital 3 dias depois e a autópsia revelou que a causa da morte foram cortes no pescoço causados por fragmentos de plástico e metal.
Uma semana depois da morte, segundo o “New York Times”, o aviso de recall do Honda Accord que ela dirigia chegou à casa dela. O carro também tinha sido chamado em 2009, mas os primeiros donos não atenderam ao recall.
Garoto de 13 anos ao volante
Morreu em julho de 2015, em Mercy County, Pensilvânia (EUA)
Um menino que, aparentemente, pegou o carro escondido dos pais morreu na explosão do airbag de um Honda Accord 2001. O acidente aconteceu de madrugada.
Em circunstâncias não explicadas, ele saiu da pista e foi parar em uma área verde, atingindo uma árvore. Reportagens locais disseram que o adolescente não usava cinto de segurança.
Ele teve de ser retirado das ferragens e morreu dias depois do acidente, após passar por diversas cirurgias.
Foi namorada do filho do Clint Eastwood
Jewel Brangman, 26 anos, morreu em setembro de 2014, em Los Angeles, Califórnia (EUA)
Jewel Bragman é uma das vítimas dos airbags da Takata; ela foi namorada do ator Scott Eastwood (Foto: Reprodução/Instagram)
Jewel ia de San Diego para Los Angeles dirigindo um Honda Civic 2001 alugado quando bateu em uma van. Os estilhaços de metal lançados na explosão do airbag causaram ferimentos no pescoço e ela teve uma lesão cerebral, que a levou à morte, segundo o processo aberto por seu pai contra a montadora. Ele também processou a empresa de aluguel do carro.
A Honda disse que o Civic tinha sido comprado em um leilão e recuperado. A montadora afirma que o carro foi chamado para recall em 2009 e 2013, mas nunca foi reparado. Jewel alugou o veículo 1 mês antes da morte.
Ela era modelo e instrutora de ginástica, e namorou Scott Eastwood, filho do ator e diretor Clint Eastwood. Em entrevista à revista "GQ Australia", no ano passado, ele disse que o fragmento de metal entrou como um projétil no corpo de Jewel: "Quebrou a espinha dela".
Carro estava parado
Kristy Williams, se acidentou em abril de 2010, em Morrow, Geórgia (EUA)
O processo de Kristy Williams relata que o airbag do carro dela, um Honda Civic 2001, explodiu quando ela parou em um sinal vermelho. Os estilhaços atingiram seu pescoço e cortaram uma artéria. Ela conseguiu reduzir a hemorragia até ter a ajuda de um pedestre. Mesmo tendo sobrevivido, sofreu um derrame e ainda registra danos cerebrais.
Kristy teve de abandonar o sonho de ser policial. A família fez um acordo confidencial com a Takata e a Honda em 2011.
Estava no fim da gravidez
Law Suk Leh, 43 anos, morreu em julho de 2014, na Ilha de Bornéu (Malásia)
Law estava no estágio final da gravidez quando bateu seu Honda City 2003. Segundo a agência Reuters, ela foi atingida no pescoço por um estilhaço de metal de 2,5 centímetros. Chegou a ser socorrida, mas não resistiu ao ferimentos.
Os médicos conseguiram tirar o bebê com vida, mas a menina 2 dias depois. Law também deixou outro filho, de 7 anos.
Ficou cego do olho direito
Corey Burdick, 26 anos, se acidentou em maio de 2014, em Lake County, Flórida (EUA)
Corey Burdick, uma das vítimas dos airbags da Takata, ficou cego de um olho (Foto: Reuters)
Corey se envolveu num acidente sem gravidade a caminho do trabalho. O airbag de seu Honda Civic 2001 explodiu com a colisão e lançou um estilhaço de metal contra o olho direito dele. Ele ficou desfigurado no momento do acidente e nunca mais voltou a enxergar com esse olho.
A Honda disse que o carro foi chamado para recal, mas Corey afirma nunca ter recebido um aviso.
Primeiro caso da Ford
Joel Knight, 52 anos, morreu em dezembro de 2015, em Kershaw, Carolina do Sul (EUA)
Outro caso em que a morte foi investigada inicialmente como homicídio e o primeiro envolvendo um veículo que não era da Honda.
A picape Ford Ranger 2006 que Knight dirigia atingiu uma vaca, mas o acidente foi considerado leve. Os estilhaços de metal atingiram o pescoço do motorista, que morreu por causa da hemorragia.
Até então as picapes Ranger 2006 não tinham sido chamadas para recall. “Se ele soubesse, teria consertado. Uma coisa que deveria salvá-lo, tirou a vida dele”, lamentou a viúva, Ann Knight, ao “New York Times”, em 2006.
Airbag de segunda mão
Karina Dorano, 18 anos, se acidentou em março de 2017, em Las Vegas, Califórnia (EUA)
Na ocorrência mais recente envolvendo os "airbags mortais", Karina se machucou em seu Honda Accord 2002. O caso é emblemático também porque mostrou uma brecha nas tentativas de prevenir acidentes com os airbags mortais: o equipamento no carro dela não era original.
O airbag que estava no carro de Karina pertencia a um Accord 2001, que tinha sido relacionado no recall dos airbags, mas nunca compareceu. Para a Honda, ele foi instalado posteriormente, pois o Accord 2002 dela tinha histórico de perda total e foi recuperado para ser revendido.
Os estilhaços do airbag da Takata deixaram Karina gravemente ferida: fragmentos de metal foram retirados pelos médicos das cordas vocais dela.
Ia tomar vacina quando se acidentou
Delia Robles, 50 anos, morreu em setembro 2016, em Riverside County, Califórnia (EUA)
O airbag do carro de Delia explodiu após a colisão com uma picape que fazia uma conversão à esquerda. Segundo o filho dela contou à KCAL-TV, Delia estava indo tomar uma vacina contra gripe e dirigia em velocidade baixa. Ela foi socorrida, mas morreu no hospital.
O carro da vítima, um Honda Civic 2001, tinha sido chamado para vários recalls desde 2008, mas nunca atendeu, segundo os registros. A Honda disse que enviou muitas cartas ao endereço de Delia, mas não se sabe se ela as recebeu. Ela comprou o carro no fim de 2015, segundo a montadora.
Três meses antes do acidente, este Civic estava entre os que a agência de transportes dos EUA alertava para que não fossem mais usados, devido ao altíssimo risco de mau funcionamento dos airbags.
Fim do sonho de ser enfermeira
Huma Hanif, 17 anos, morreu em março de 2016, em Fort Bend County, Texas (EUA)
Huma teve um acidente comum com seu Honda Civic 2002 perto da cidade de Houston. "A gente vê acidentes como este todo dia. Ela devia ter saído do carro com poucos ferimentos”, disse o xerife Troy Nehls, à TV CBS, na época. Mas Huma morreu instantaneamente, com cortes no pescoço provocados por estilhaços de metal do airbag.
O carro, que foi comprado usado, tinha sido chamado para o recall em 2011. Mas a família disse que nunca recebeu nenhum aviso.
Huma queria ser enfermeira e, na noite anterior à sua morte, completou os formulários para a faculdade. A família fez um acordo judicial com a Takata em 2016.
No estacionamento da escola
Ashley Parham, 18 anos, morreu em maio de 2009 em Midwest City, Oklahoma (EUA)
A adolescente morreu após o airbag do Honda Accord 2001 que ela dirigia explodir num acidente considerado leve, no estacionamento da escola dela. A família de Ashley fez um dos primeiros acordos legais com a Honda e a Takata. Segundo o site "Automotive News", a negociação incluiu um fundo de investimento em nome do irmão dela, que também estava no carro na hora do acidente.
Estava com marido e bebê
Nida Fatin Mat Asis, 29 anos, morreu em abril de 2016, na Malásia
A médica Nida estava dirigindo seu Honda City 2006, enquanto transportava a família depois do plantão do marido, que também é médico. Ela bateu o carro. O filho, no banco de trás, nada sofreu. O marido ficou levemente ferido, mas viu que Nida sangrava muito, do nariz à boca. Ela morreu na hora.
Abdullah Mokti também não entendeu quando recebeu o atestado de óbito que dizia que a causa da morte de sua mulher era um pedaço de metal que entrou pela boca da mulher e se alojou na base do crânio dela. O fragmento também quebrou os dentes e o nariz de Nida.
Mokti disse à agência Associated Press que desconhecia o recall e nunca tinha recebido nenhum aviso da Honda. O carro, usado, tinha sido comprado em 2012. A Honda disse que mandou avisos em 2015 ao primeiro dono, cujo contato tinha em seu banco de dados.
Ficou 2 anos tetraplégica e morreu
Patricia Mincey, 77 anos, se acidentou em junho de 2014, Jacksonville, Flórida (EUA)
O acidente com Patricia aconteceu no Dia dos Pais (comemorado em junho, nos EUA) de 2014. Foi uma colisão em baixa velocidade, mas, por causa da força da explosão do airbag do Honda Civic 2001, ela ficou tetraplégica. Passou 2 anos sem poder se mover, falar ou mesmo respirar sozinha. E morreu devido a complicações.
O carro dela foi chamado para o recall dos airbags 4 dias depois do acidente. A família fez um acordo com a Takata em 2016.
Ferimentos confundidos com tiro
Hai Ming Xu, 47 anos, se acidentou em setembro de 2013, Alhambra, California
Sua morte também foi investigada inicialmente como homicídio. O acidente aconteceu dois dias depois do de Stephanie Erdman, no estacionamento de um restaurante onde ele trabalhava.
Seu carro, um Acura (marca de luxo da Honda) TL 2002, bateu no muro do prédio ao lado e o airbag foi acionado. A bolsa explodiu, atirando estilhaços de metal contra o rosto do motorista.
Ao chegar ao local, a polícia acho que Xu tinha levado um tiro no rosto.
Deixou 2 filhos
Norazlin Haron, 44 anos, morreu em junho de 2016, na Malásia
O bombeiro que atendeu a ocorrência disse que ficou surpreso por Norazlin ter morrido no acidente, que ele considerou de pequena proporção. Seu Honda City 2005 colidiu com uma Mercedes, e ela foi encontrada com um grave ferimento no peito.
A sobrinha de Norazlin, que estava no banco do carona, e os dois filhos dela, de 9 e 12 anos, sentados no banco de trás, nada sofreram. Os ocupantes do outro carro também não se machucaram.
O veículo tinha sido chamado para recall 1 mês antes. A Honda disse que enviou avisos, mas o conserto nunca foi realizado.
Aviso chegou tarde
Kylan Rae Langlinais, 22 anos, se acidentou em abril de 2015, em Lafayette, Louisiana (EUA)
Kylan foi atingida no pescoço por estilhaços do airbag, sofreu uma hemorragia severa e morreu 4 dias depois, no hospital.
A convocação para o recall do Honda Accord 2005 dela foi feita 2 dias depois do acidente.
fonte: Globo/Autoesporte
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