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Em safári fotográfico, encontrar leopardos em seu hábitat é como ganhar na loteria

Afinal, a foto tão cobiçada de um leopardo  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)


Depois de tantos anos sem ver o mais furtivo dos Big Five, consigo fotografar os belos felinos em parques nacionais da Namíbia e de Botsuana



Leopardo deitado em um caminho do Parque Nacional Tsavo-Oeste, em março de 2009 (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Finalmente, quebrei o feitiço! Há oito anos que eu não conseguia fotografar um leopardo na África. Nesta última década realizei dúzias de safáris fotográficos em quase dez países do continente, mas minha última foto de um leopardo (Panthera pardus) datava de março de 2009, quando encontrei um felino deitado à beira de uma estrada do Parque Nacional Tsavo-Oeste, no Quênia.
Até mesmo durante a expedição jornalística “Luzes da África” – 40.000 quilômetros em dez meses por 18 países em 2010 –, não logrei tirar uma foto do bicho. Meu filho Mikael, companheiro de viagem, e eu chegamos a avistar um muito rapidamente no Parque Nacional Nakuru, mas chovia e nem conseguimos apontar as câmeras. O gato sumiu tão rapidamente que nem tenho certeza se era ou não um leopardo – Mikael jura que sim, era!
Depois de tantos anos de jejum, a surpresa aconteceu sem aviso prévio e até mesmo sem receber dicas de outros carros. Rodávamos pelas estradas molhadas do Parque Nacional Etosha, no norte da Namíbia, quando o guia e motorista François Gowaseb deu uma freada brusca e gritou, meio que abafando sua própria voz para não assustar o animal, a frase que eu tanto esperava “um leopardo!”.
São 9h50 da manhã. Havíamos acabado de passar meia hora em companhia de um leão macho que dormia sob a sombra de um arbusto. De cinco em cinco minutos, o leão mudava de posição, levantava a cabeça e voltava a se deitar. Como ele abriu os olhos algumas vezes, conseguimos fotografá-lo e consideramos que nossa manhã era de sorte! Mas encontrar um leopardo a apenas uns 15 metros de distância é acertar no primeiro prêmio da loteria.
Como não havia nenhum outro veículo por ali, François coloca o carro na contramão – nessas horas, vale tudo – para que outro não entre na nossa frente e atrapalhe a visão. Assim, escolhemos o melhor posicionamento para que galhos e plantas rasteiras não encubram a cabeça do animal.
Um leopardo rosnando? Apenas terminando de dar um extenso bocejo  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Ao contrário do leão, o leopardo está bem acordado. Ele está deitado, mas sua cabeça está altiva, olhando fixo para a frente. Só há um ângulo para fotografá-lo, mas, a cada cinco segundos, eu faço um clique para garantir. Faz oito anos que eu não fotografo esse cobiçado felino e posso gastar espaço de memória. Estou com a pesada lente de 500 milímetros focada nele quando ele dá um longo e fotogênico bocejo!
O bicho não muda de posição, mas os cliques continuam. Meus companheiros de viagem Jairo e Amancio possuem teleobjetivas potentes de 400 milímetros e conseguem enquadrar bem o animal. Já os outros colegas de safári, com câmeras menos poderosas ou apenas celulares, sabem que a documentação fica por nossa conta e se deleitam com a cena única.
O leopardo parece querer se mexer. Levanta as patas dianteiras, ergue as traseiras e dá aquela espreguiçada que só felinos fazem, alongando seus músculos, espichando a coluna e desenferrujando os ossos. Seus olhos continuam olhando para o lado direito, fixos. Ele nem se perturba quando um segundo veículo estaciona a nosso lado.
A razão da concentração do leopardo: um grupo de fêmeas e filhotes de impalas-de-cara-preta descansa do outro lado da estrada, sem perceber que o felino está pensando em sua próxima refeição  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Sabemos a razão de sua concentração. Do outro lado da estrada, a uns 50 metros, há um importante grupo de impalas-de-cara-preta(Aepyceros melampus petersi). A subespécie – é o único impala que possui manchas pretas na cara – é endêmica de Etosha. O animal já foi considerado ameaçado de extinção, mas sua população cresceu dentro do Parque Nacional e hoje sua categoria é apenas vulnerável
Já são 10h30. Outro veículo se junta a nós. Além de bocejar cinco vezes e de se levantar, caminhar poucos metros e se deitar na vegetação em duas ocasiões, a cena não se modifica. Quando mais um carro aparece, o leopardo perde seu ângulo de visão. Sinto que estamos atrapalhando a caçada do felino.
O animal, ignorando totalmente os humanos e suas pesadas máquinas de metal, resolve atravessar a estrada. Ele passa pelo pequeno espaço entre nosso veículo e o da frente tão rente que não conseguimos ver seu corpo inteiro. Agora, no mesmo lado que as impalas, ele fica atrás de uma moita, sem fazer nenhum movimento. Mas seus olhos permanecem fixos no potencial almoço.
O leopardo continua concentrado nas impalas-de-cara-preta (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)O felino decide mudar de estratégia, sai da beira da estrada e entra no meio da mata. A posição de nosso veículo agora está péssima. François e eu confabulamos e resolvemos ir ao local onde estavam os impalas. Mas, sentindo o perigo – não de nossa aproximação, mas a de algum predador –, os antílopes também mudam de posição.
Já não vemos mais o leopardo. Sua tática é chegar bem próximo para dar o bote certeiro. Ele não vai gastar energia queimando o disparo e afugentando todos os impalas de uma só vez. Ele precisa ter paciência.
Depois de hora e meia de espetáculo e de adrenalina – e de mais de 300 cliques na minha câmera –, resolvemos deixar o local. Todos os outros veículos passaram bem menos tempo observando o leopardo e somos os últimos a sair. O próximo carro que passar não fará a menor ideia de que, ali, há um leopardo...
Os antigos caçadores do século passado que caminhavam pelassavanas africanas em busca de troféus determinaram que os cinco animais mais perigosos – e, consequentemente, mais difíceis de serem caçados – eram o leão, elefante, o búfalo, o rinoceronte e oleopardo. Eles foram chamados de Big Five.
Hoje, quase todos os fuzis foram substituídos pelas objetivas. Mas, como na caça, realizar um safári fotográfico e conseguir belas imagens inclui um componente essencial de sorte. A expressão usada em inglês para uma saída de observação de animais é “game drive”. Para mim, a palavra “game” tem um duplo sentido. O significado principal é animal selvagem, mas também entendo que tudo isso é um jogo, uma tremenda aposta se você vai ou não encontrar os animais que você busca. A surpresa do leopardo de Etosha foi um bom exemplo desse jogo na natureza, no qual saboreamos a conquista de ter documentado o mais furtivo dos Big Five.
Após o safári na Namíbia, encontrei-me com Giselle Paulino para ir a Botsuana, outro país rico em vida selvagem. Apesar de as chuvas intensas atrapalharem um pouco, um de nossos destinos é a planície de Savuti, parte do Parque Nacional Chobe.
Depois de fotografar uma família de dez elefantes em uma poça de água, voltamos satisfeitos para o camping da reserva quando vemos três caminhonetes paradas na estrada com turistas fotografando, sinal claro de que há algo mais do que um par de impalas.
Como um senhor da savana, o leopardo repousa sobre o galho seco de uma árvore  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Foi uma senhorinha inglesa de uns 75 anos de idade, toda vestida a rigor com seu modelito bege de safári, quem nos avisa que um leopardo está deitado sobre o galho seco de uma árvore.
Oito anos sem leopardos e, agora, um segundo! Nove dias depois do felino em Etosha, vejo outro em Botsuana! A cena do bicho esparramado na árvore é icônica, símbolo da vida selvagem na África. São 17h30, o céu está meio encoberto e o sol se foi. A luminosidade não é das melhores – aliás, está péssima. Mas consigo, entre galhos e folhagens, capturar a imagem do belo animal.
Do alto, o leopardo tem uma visão privilegiada dos momentos dos outros animais (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Logo depois, o leopardo muda de posição e não vejo mais seus olhos e seu focinho. Sem François como motorista, eu mesmo manobro o carro, sigo uma trilha aberta na savana e busco uma posição a 90 graus para vê-lo de frente. Consigo um novo ângulo! Mais uma bateria de cliques.
Mas basta estar desatento por alguns segundos que, ao buscar o animal na árvore, não consigo mais encontrá-lo. Vejo apenas o topo branco de sua cauda desaparecendo no capim alto.
Entendo a estratégia do felino quando descubro, também no meio do mato alto e entre nós e o leopardo, um impala macho. O antílope não se mexe, está congelado: sabe que encara algum perigo. Sua reação é dar uma fungada enérgica, sua maneira de comunicar aos outros impalas que existe uma ameaça a seu redor.
O impala macho pressente o perigo e está atento a qualquer ruído  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Em algum momento, o impala precisará fugir. Se ficar imobilizado, vai ser agarrado com mais facilidade. Mas, não sabendo onde está o leopardo, que direção tomar? O antílope dá mais duas fungadas e resolve apostar em uma rota de fuga. Sai correndo e acerta. Toma o rumo oposto ao do leopardo. Um alívio para nós: desta vez ele escapa!
Ainda procuramos o leopardo, mas o mato alto não permite a visão. Se estivéssemos na seca, haveria apenas uma grama curta amarelada e ele seria visto facilmente. Na época de chuva, as regras do jogo são diferentes para todos.
Felizes, resolvemos regressar ao camping para montar nossa barraca. Dirijo devagar, ainda comentando sobre a observação de meus dois leopardos em nove dias, quando, ao lado da caminhonete, vejo com o canto do olho o pompom branco da caudado leopardo. Ele está a apenas 2 metros de distância do carro, indo na mesma direção que o veículo!
Freio lentamente e deixo o animal ultrapassar o carro. Ele sai do mato e cruza a estrada a nossa frente. O felino continua andando perto da margem esquerda da estrada e sigo-o sem assustá-lo. Predadores como leopardos e leões preferem caminhar em estradase trilhas abertas, sem obstáculos.
Mais meio minuto e o leopardo, sem olhar para trás, volta a cruzar a estrada, da esquerda para a direita. Agora é minha oportunidade de fotografá-lo. Freio, coloco meio corpo para fora do carro e clico três vezes. Apenas a primeira foto está boa; nas duas seguintes, o capim alto encobre a cabeça dele. O leopardo desaparece no mato e nem o pompom branco da cauda consigo mais avistar.
O felino cruza a estrada novamente: esta é minha última chance de fotografá-lo  (Foto: © Haroldo Castro/ÉPOCA)Será que terei de esperar até 2025 para ver o próximo leopardo?
fonte: Época

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