Quatro dias após o início da greve dos funcionários da fábrica de São Bernardo, a Mercedes-Benz retomou as negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. As conversas têm o objetivo de acertar um acordo entre as partes para que as 1.500 demissões programadas para o dia 1º não sejam efetivadas. Outra reunião está marcada para as 14h de hoje.
Esta é a primeira rodada formal de discussões entre empregadores e sindicalistas desde a semana passada, quando, após tentativa fracassada de negociação, a empresa anunciou os cortes. Até então, o número não havia sido informado. Apenas na segunda-feira, quando a categoria deflagrou greve, a Mercedes confirmou que seriam 1.500 desligamentos, diante de um excedente de mão de obra que gira em torno de 2.000 pessoas – 20% dos 10 mil funcionários.Na quarta-feira, o presidente do sindicato, Rafael Marques, afirmou que estavam sendo iniciadas conversas para que a montadora participe do PPE (Programa de Proteção ao Emprego), mecanismo lançado pelo governo federal em julho e que permite a redução em até 30% na jornada de trabalho e no salário pago pelo empregador por até um ano. A empresa, por outro lado, alega que a adesão ao plano não é suficiente para solucionar o problema do excesso de pessoal. Na ocasião, o sindicalista garantiu que havia 70% de chances de a companhia concordar em participar do pacote emergencial.
Em nota enviada à imprensa na tarde de ontem, a Mercedes confirmou a reabertura das negociações e disse ser favorável à adoção do PPE. Entretanto, reiterou que “são necessárias medidas adicionais de contenção de custos, como a reposição parcial da inflação no próximo ano”, entre outras alternativas que não foram citadas. “Só assim, a empresa poderá continuar a gerenciar o excesso de pessoas na fábrica gerado pela ociosidade, que hoje é de 50% na unidade, diante de forte crise econômica no País”, acrescentou.
Nos sete primeiros meses de 2015, a venda de caminhões zero-quilômetro no Brasil teve queda de 43,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. No mesmo intervalo, o número de ônibus novos comercializados em território nacional caiu 28,6%. “Lembramos que as expectativas de vendas para o mercado em 2015 são negativas e não existe nenhuma previsão de recuperação no próximo ano”, completou a empresa. Para adequar a produção, já foram usados mecanismos como banco de horas, licença remunerada e lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho).
RECUSADA - Em julho, a montadora propôs aos trabalhadores a redução de 20% na carga horária e de 10% dos salários, além de reajuste abaixo da inflação no ano que vem e congelamento das faixas salariais. A oferta, entretanto, foi rejeitada em votação. Na semana passada, a proposta foi reapresentada, mas os sindicalistas alegaram que não poderiam apreciar algo que já foi recusado pela categoria.
Representantes da direção do sindicato foram procurados pelo Diário ontem, mas não responderam às solicitações de entrevista.
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