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COMPORTAMENTO: Doentes felizes O futebol, o Corinthians e a linha que separa a paixão do vício




Parecia final de Copa do Mundo. Uma final do tempo em que dava gosto torcer pela seleção brasileira. Do tempo em que jogar futebol não parecia ser um “bico”, uma mera “escada” para garotos-propaganda de telefone celular, aparelho de barba, linguiça... Na quarta-feira (4), final da Libertadores, São Paulo acordou dispersa.
Foi um dia de produtividade baixa para corintianos e anticorintianos. Os rojões começaram a estourar de manhã, muito antes do início da partida decisiva entre Corinthians e Boca Juniors. A cada estampido, uma provocação no trabalho e nas ruas. O incômodo na boca do estômago tirava a fome. A angústia tirava a concentração. A ansiedade tirava da cadeira.
Essa é a sina de quem gosta de futebol – independentemente da camisa que defenda. Quando o time em questão é o Corinthians, a paixão e o ódio assumem outra proporção. Tudo é exagerado, intenso. Há alguma coisa nesse time, nessa nação, que os outros times não têm. É esse atributo impalpável, difícil de definir, que tanto encanta e incomoda.
Talvez o que faça a diferença seja a valorização coletiva e visceral daquilo que os corintianos definem como “raça”. A torcida não exige que o jogador seja um craque, mas espera total entrega de quem veste a camisa. Quem, dentro de campo, representa o bando de loucos do lado de fora tem de suar sangue e não desistir nunca.
Para os corintianos do passado, a garra era uma questão de sobrevivência. Foi assim para os dois pintores de parede, o sapateiro, o cocheiro e o trabalhador braçal que em 1910 se reuniram no bairro paulistano do Bom Retiro para criar o time.   
Para os corintianos de hoje, a garra é mais que uma questão de sobrevivência. É também um estilo de vida. Você olha um corintiano, independentemente da classe social a qual ele pertence (sim, há vários milionários que torcem pelo time, ao contrário do que afirmam os preconceituosos) e já sabe mais ou menos o que ele pensa e como age diante dos obstáculos que a vida impõe.
Essa unidade em torno de um grupo, essa previsibilidade comportamental é movida por um fervor que tem tudo para dar certo e para dar errado. Ele dá certo quando a vitória em um jogo funciona como um estímulo permanente. A glória faz cada torcedor se sentir um vitorioso. A lembrança de uma conquista difícil o socorre nos momentos difíceis. O emprego está ruim, a mulher está chata, tudo parece mais ou menos, mas a cena inesquecível da conquista o faz acreditar que, de vez em quanto, até o impossível acontece.  O fervor pelo time dá errado quando toma conta da vida do sujeito e o leva a cometer atos impensados, desperta a violência e o crime. É milimétrica a linha que separa a paixão do vício. E, em alguns casos, ela é menos reta e mais um novelo -- um emaranhado de emoções conscientes e inconscientes.
É importante que cada torcedor – do Corinthians ou de qualquer outro time – reflita sobre o espaço que o futebol ocupa em sua vida. Existem pesquisadores que se dedicam a estudar isso e dão pistas importantes. É o caso de Robert J. Vallerand, do Laboratório de Pesquisa sobre o Comportamento Social, da Universidade de Quebec, no Canadá.
Ele define a paixão pelo futebol como uma forte inclinação em direção a uma atividade que os indivíduos gostam ou amam. É algo que eles valorizam e na qual investem tempo e energia. Vallerand diferencia dois tipos de paixão: a harmoniosa e a obsessiva.
A paixão harmoniosa é aquela que faz o sujeito se sentir forte, feliz, revigorado a cada vitória. Ela é motivada pela vontade e leva o sujeito a desempenhar um papel social de respeito às normas e respeito às pessoas. O torcedor que demonstra esse tipo de paixão costuma ter a autoestima elevada e um alto grau de satisfação com a vida.
A paixão obsessiva é perturbadora. Envolve um sentimento de urgência incontrolável. A pessoa passa dias ou a vida inteira perturbada pelos fatos e pelos sentimentos que envolvem o time. Não pensa em outra coisa. Perde o emprego, mas não perde um jogo importante. Perde o aniversário do filho, um casamento, um enterro de uma pessoa próxima, mas não perde a partida. Quem sofre desse tipo de paixão está propenso a infringir as regras sociais. É alguém que perturba constantemente os torcedores de outros times ou sente ódio cego por eles.
Em geral, os obsessivos são pessoas com propensão à baixa autoestima ou extrema necessidade de aceitação social. Para eles, o futebol deixa de ser um esporte e passa a ser parte fundamental da identidade. Torna-se praticamente a única fonte de satisfação de necessidades emocionais básicas, como sentir-se querido e aceito.
Os obsessivos demonstram um engajamento rígido e uma persistência exagerada quando o objetivo é satisfazer essa paixão. Como em outros campos da nossa existência, a rigidez pode ser tornar um atraso de vida.
A paixão obsessiva pelo futebol não acomete apenas os corintianos. Nem apenas os brasileiros. Vallerand encontrou o mesmo comportamento entre torcedores de vários países da Europa e do Canadá. Ele estudou os hooligans, da Inglaterra, e os torcedores da França e da Itália na final da Copa do Mundo de 2006.
Os conselhos dele são universais. É fundamental que o torcedor e a família observem sinais de dependência psicológica. Quando se torna obsessivo e começa a atrapalhar outros campos da vida, o prazer deixa de ser prazer para virar sofrimento. É o mesmo fenômeno que ocorre em outras compulsões. Seja por sexo, amor, comida, jogo, bebida, drogas etc.
Quem vive uma paixão harmoniosa está no comando da própria vida. Tem liberdade de escolha. Quem vive uma paixão obsessiva torna-se escravo. Que tal um teste? Responda, com sinceridade, as questões abaixo:
 “Torcer pelo meu time atrapalha outras atividades da minha vida”
“Tenho dificuldades de controlar a urgência de saber tudo sobre meu time e apoiá-lo sempre”
“Pelo meu time seria capaz de pagar uma fortuna por um ingresso no mercado negro”
“Pelo meu time eu poderia perder um compromisso importante, como o aniversário de meu filho, um casamento, ou o funeral de alguém da família”
“Quando faço outra coisa que não seja assistir a um jogo, fico o tempo inteiro pensando nele”
“Minha mulher (ou meu marido) sempre reclama da minha paixão pelo futebol”
“A paixão pelo futebol afetou seriamente a qualidade do meu relacionamento”
“Meu parceiro (ou parceira) e eu tivemos sérias discussões por causa da minha paixão pelo futebol”
“Prefiro deixar de ver minha namorada (ou namorado) que deixar de acompanhar os jogos do meu time”
“É difícil encontrar um parceiro (ou parceira) que entenda minha paixão por futebol”
Se a maioria das afirmações acima corresponde ao que você pensa ou sente, fique atento. Paixão é boa, desde que o apaixonado não perca o comando de sua vida.
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)
E você? De que tipo é a paixão que você sente pelo seu time? O que achou da Libertadores? Conte pra gente. Queremos ouvir sua opinião. 

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