Pular para o conteúdo principal

Texto recém-decifrado de 1.700 a.C, antes de Noé, a arca era redonda

arca
De livrinhos infantis a superproduções com Russell Crowe, todo mundo já se acostumou com a imagem da Arca de Noé como uma espécie de transatlântico de baixa tecnologia, com seu casco bojudo e aquela casinha triangular no alto. É realmente chato bagunçar memórias de infância, mas o mais provável é que a arca "original" tenha sido... redonda. E com diâmetro bem maior que a altura. Praticamente uma bolacha recheada gigante. Veja:

Arte Super

Essa é a tese de um dos maiores especialistas do mundo em caracteres cuneiformes, principal forma de escrita da antiga Mesopotâmia. O nome do homem é Irving Finkel, do Departamento do Oriente Médio do Museu Britânico, em Londres. Veja bem, Finkel não está afirmando que achou um relato histórico contemporâneo da inundação que teria destruído a vida na Terra (temporariamente). Até onde sabemos, nada do tipo aconteceu historicamente, embora algumas catástrofes bem mais modestas possam ter inspirado a narrativa. Na verdade, as tabuletas de argila estudadas pelo pesquisador são mais uma prova importante do fenômeno que a gente já encontrou na primeira reportagem desta revista: os autores da Bíblia usaram temas e histórias que circulavam há séculos pelas culturas do Oriente Médio como base de suas narrativas. Mas deram uma interpretação renovada a esse caldo de cultura, introduzindo uma série de ideias diferentes, ligadas à crença num Deus único. Em resumo, a narrativa da Arca de Noé, tal como a da criação, é teologia, e não história.
 Esses humanos são uns chatos
Para entender melhor isso, vamos fazer um pequeno flashback. Você deve estar lembrado de que, segundo o Gênesis, o primeiro casal de humanos foi criado "à imagem e semelhança" de Deus, com o direito de governar sobre todos os outros seres vivos e com inteligência e autonomia moral semelhantes às do Criador. Mas eles desobedecem à ordem de não comer do fruto proibido do Éden e, por isso, são expulsos do Paraíso. 
Começam a ter filhos-o mais velho, Caim, mata o segundo, Abel, aliás-e a humanidade se multiplica pelo planeta. Só que o "jeito Caim de ser" parece que acaba predominando, e Deus fica tão desgostoso com os descendentes dele, extremamente violentos e sanguinários, que decide varrer a humanidade do mapa-com exceção do único homem "íntegro entre seus contemporâneos",  nosso amigo Noé. 
A ideia de que os seres humanos estavam proliferando sobre a Terra também é um ponto importantíssimo das histórias sobre o Dilúvio anteriores à narrativa bíblica. Só que, nos textos mesopotâmicos, como a Epopeia de Gilgamesh ou o Épico de Atrahasis, o problema não era a sanguinolência humana, mas sim... o barulho causado por tanta gente. É sério: segundo essa visão, o Dilúvio teria sido apenas uma forma extremamente draconiana de aplicar a Lei do Silêncio. No Épico de Atrahasis, por exemplo, o deus Enlil diz aos seus companheiros divinos: "O barulho da raça humana se tornou intenso demais para mim/Com a balbúrdia deles sou privado do sono".  
Esse texto é justamente o estudado por Finkel-já se conheciam várias versões dele, mas as novas tabuletas de argila analisadas pelo britânico trazem dados mais precisos sobre a construção da arca. "A ideia do barulho no Épico de Atrahasis provavelmente reflete a superpopulação que, segundo a imaginação do autor, teria surgido antes que os deuses impusessem a mortalidade ao homem", explica. "É uma decisão racional por parte dos deuses, digamos, e não uma decisão moral."
Essa é a principal diferença entre a concepção bíblica e a visão mesopotâmica do Dilúvio. "A preocupação característica dos pensadores judeus que escreveram o Antigo Testamento é com a moralidade. Não que a compreensão das diferenças entre o bom e o mau comportamento não existisse na antiga Mesopotâmia, mas eles não faziam tanto barulho em relação a isso quanto as religiões que surgiram depois", conta Finkel. 
Na narrativa de Atrahasis, os deuses seguem o conselho de Enlil-menos um deles, Enki, que decide dar uma mãozinha para o herói-título da história, cujo nome quer dizer "extremamente sábio". Falando através de um muro de juncos (para não dar na cara que ele estava dedurando o plano dos demais deuses), Enki instrui o humano Atrahasis a construir a arca, dando a entender que ela deveria ser redonda. 
As medidas exatas, segundo o texto, seriam 67,7 metros de diâmetro por 6 m de altura. A matéria-prima: madeira e cordas feitas de fibra de palmeira, recobertas com betume (que é basicamente petróleo que aflora naturalmente no Iraque). Você deve estar pensando que esse treco não ia ser capaz de navegar nem aqui nem na China. De fato, mas a ideia é que ele só precisaria flutuar nas águas revoltas do Dilúvio, então a navegabilidade não seria um grande problema. 
A sequência dos eventos daí para a frente é quase idêntica nos textos da Mesopotâmia e na Bíblia: os animais subindo a rampa da arca de dois em dois, a entrada de Atrahasis e sua família na embarcação e, conforme as águas baixam, tem até a ideia de mandar aves por uma abertura no teto da arca para ver se achavam terra firme. 
Na hora de descer da arca, no entanto, há mais uma diferença importante: na história mesopotâmica, os próprios deuses ficam morrendo de medo da chuvona que causaram, e com fome porque não havia mais humanos para fazer sacrifícios de animais para eles. Por isso, ficam um bocado aliviados quando Atrahasis sai do barco e faz esse favor para eles. No texto bíblico, após o sacrifício, Deus, de forma magnânima, "inventa" o arco-íris como sinal de que não mais destruiria o mundo com água.

Memórias genuínas?
Apesar de tanta motivação teológica por trás do texto, Finkel diz que deve haver algum fato real remotamente refletido por ele. "A história do Dilúvio, na minha visão, é extremamente antiga e deriva de um dilúvio real que aconteceu muito tempo antes da invenção da escrita."
Uma possibilidade é que seja simplesmente uma memória muito distante de alguma grande enchente causada pelos super-rios da Mesopotâmia, o Tigre e o Eufrates, ou então da formação do Mar Negro, a Leste do Mediterrâneo.   

Comentários

ᘉOTÍᑕIᗩS ᗰᗩIS ᐯISTᗩS

Agricultura familiar conectada

  #Agrishow2022euaqui - A revolução tecnológica demorou a chegar, mas finalmente começou a transformar a vida do pequeno agricultor familiar brasileiro. Com o surgimento das foodtechs, aliado ao aumento da confiança na compra on-line de alimentos e na maior busca por comidas saudáveis por parte do consumidor, o produtor de frutas, legumes e verduras (FLV) orgânicos começa a operar em um novo modelo de negócio: deixa de depender dos intermediários — do mercadinho do bairro aos hipermercados ­— e passa a se conectar diretamente ao consumidor final via e-commerce. Os benefícios são muitos, entre eles uma remuneração mais justa, fruto do acesso direto a um mercado que, segundo a Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), movimentou R$ 5,8 bilhões em 2021, 30% a mais do que o ano anterior, e que não para de crescer. DIRETO DA LAVOURA A LivUp é uma das foodtechs que está tornando essa aproximação possível. Fundada em 2016, a startup iniciou a trajetória comercializa

ELAS

  Swanepoel, sempre ela! A modelo Candice Swanepoel sempre é motivo de post por aqui. Primeiro, porque é uma das mulheres mais lindas do mundo. Depois, porque faz os melhores ensaios da Victoria’s Secret. Depois de agradar a todos no desfile da nova coleção, ela mostrou toda sua perícia fotográfica posando de lingerie e biquíni. Tags:  biquini ,  Candice Swanepoel ,  ensaio sensual ,  lingerie ,  victoria's secret Sem comentários » 29/11/2011   às 20h02   |  gatas Lady Gaga é muito gostosa, sim, senhor. A prova: novas fotos nuas em revista americana A estrela pop Lady Gaga é conhecida pela extravagância na hora de se vestir e pelos incontáveis sucessos nas paradas do mundo todo. Agora, a cantora ítalo-americana também será lembrada por suas curvas. A revista Vanity Fair fez um ensaio para lá de ousado em que Mother Monster (como Gaga é carinhosamente chamada pelos fãs) mostra suas curvas em ângulos privilegiados. A primeira foto é

Governo Lula propõe ‘imposto do pecado’ e taxação deve atingir cigarro, bebidas e até veículos

  Um pacotão de novos impostos deve pesar no bolso do contribuinte brasileiro. O governo  Lula  apresentou uma proposta de reforma tributária que inclui a criação do chamado ‘imposto do pecado’. O texto conta com aval dos Estados. Se concretizada, essa taxação passará a ser aplicada sobre produtos como cigarros, bebidas alcoólicas, bebidas todas como açucaradas, veículos enquadradas como poluentes, e também na extração de minério de ferro, petróleo e gás natural. O projeto visa a tributar esses bens e serviços com uma alíquota mais elevada em comparação com outros itens da  economia . A proposta, no entanto, aponta que a definição das alíquotas deve ser estabelecida posteriormente por lei ordinária. Além disso, ainda não está claro se a introdução do imposto do pecado resultará em um aumento da carga tributária em relação ao sistema atual, no qual esses produtos já são taxados com alíquotas mais elevadas. Atualmente, segundo o Sindicato Nacional da Indústria das Cervejas (Sindicerv), c

Sai a lista anual de bilionários da Forbes 2024; veja os 10 mais ricos do mundo

  1. Bernard Arnault (França) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 233 bilhões (R$ 1,18 trilhão) Pelo segundo ano consecutivo, Arnault é a pessoa mais rica do mundo. Sua fortuna cresceu 10% em 2023 graças a mais um ano de faturamento recorde para seu conglomerado de luxo, o LVMH, dono de Louis Vuitton, Christian Dior e Sephora. 2. Elon Musk (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 195 bilhões (R$ 987 bilhões) Como o ranking muda constantemente, Musk ganhou e perdeu diversas vezes o título de "mais rico do mundo", à medida que mudou a valorização das suas empresas, a SpaceX, a Tesla e a rede social X (antigo Twitter). 3. Jeff Bezos (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 194 bilhões (R$ 982 bilhões) Bezos ficou mais rico este ano graças ao excelente desempenho da Amazon no mercado de ações. 4. Mark Zuckerberg (EUA) CRÉDITO, GETTY IMAGES Patrimônio líquido:  US$ 177 bilhões (R$ 895 bilhões) O presidente da Meta enfrenta altos e baixos. Depois

Confira quais são os principais lançamentos do Salão de Pequim 2024

  Com as montadoras chinesas crescendo fortemente no Brasil e no mundo, a edição 2024 do Salão do Automóvel de Pequim irá apresentar novidades que vão impactar não apenas o mercado chinês, como também revelar modelos que devem ganhar os principais mercados globais nos próximos anos Este ano nós do  Motor1.com Brasil  também está lá, mostrando os principais lançamentos que serão realizados na China. Além de novidades que ainda podem chegar ao Brasil, o que vemos aqui também chegará à Europa em breve. Isso sem contar as novidades da  BYD  para o nosso mercado. Audi Q6 e-tron O novo SUV elétrico da Audi se tornará Q6L e-tron. A variante com distância entre eixos longa do já revelado Q6 e-tron fará sua estreia no Salão do Automóvel de Pequim. O novo modelo, projetado especificamente para o mercado doméstico de acordo com os gostos dos motoristas chineses, será produzido na fábrica da Audi FAW NEV em Changchun, juntamente com o Q6 e-tron e o A6 e-tron. Reestilização do BMW i4 BMW i4 restyli

BYD: 2ª geração da bateria Blade chega em 2024 com alcance de 1.000 km

A BYD, gigante chinesa de tecnologia e líder global em carros elétricos e híbridos plug-in, anuncia a vinda da segunda geração da bateria Blade, com lançamento previsto para agosto de 2024. A nova tecnologia promete ser um grande passo com avanços em autonomia, desempenho e custo.  A revelação foi feita recentemente pelo próprio CEO da BYD, Wang Chuanfu, que falou sobre a novidade pela primeira vez em uma reunião de comunicação de resultados financeiros sobre a BYD estar atualmente desenvolvendo um sistema de bateria Blade de segunda geração. A BYD, gigante chinesa de tecnologia e líder global em carros elétricos e híbridos plug-in, anuncia a vinda da segunda geração da bateria Blade, com lançamento previsto para agosto de 2024. A nova tecnologia promete ser um grande passo com avanços em autonomia, desempenho e custo.   A revelação foi feita recentemente pelo próprio CEO da BYD, Wang Chuanfu, que falou sobre a novidade pela primeira vez em uma reunião de comunicação de resultados fina

Invasões do MST chegam a 24 áreas em 10 Estados e no DF

24 propriedades já foram invadidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 11 estados do país durante o chamado Abril Vermelho, segundo dados divulgados na manhã desta terça (16) pelo grupo. As ocupações começaram ainda no fim de semana e, de acordo com o movimento, devem se estender até sexta (19) na Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária. Além das invasões, o grupo promoveu outras seis ações diversas como montagem de acampamentos em alguns estados, assembleias e manifestações. As ações ocorrem mesmo após o  anúncio de um programa do governo federal para a reforma agrária que vai destinar R$ 520 milhões  para a compra de propriedades ainda neste ano para assentar cerca de 70 mil famílias do movimento. Entre os estados que tiveram invasões a propriedades estão Pernambuco – com a terceira ocupação de uma área da Embrapa –, Sergipe, Paraná, São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro, Bahia, entre outros. “Até o momento, a Jornada contabiliza a realização de 30 aç

Veja imagens de novo trem da BYD que circulará no Metrô de São Paulo

O primeiro trem da Linha 17-Ouro, encomendado pelo Metrô de São Paulo à multinacional chinesa BYD, foi entregue na cidade de Guang’an, na China, onde foi fabricado. As imagens divulgadas pelo Governo de São Paulo mostram parte de um lote composto por 14 unidades, previstas para chegar ao Porto de Santos em julho deste ano, por navio. De acordo com o cronograma estabelecido, o segundo trem está programado para chegar ainda em 2026, enquanto os demais serão entregues gradativamente ao longo de 2025. A entrega gradual acompanha o planejamento do Metrô de concluir a obra bruta da Linha 17-Ouro no mesmo ano. Apesar disso, a abertura oficial da linha para o público está agendada apenas para 2026. A Linha 17-Ouro, em reconstrução desde setembro do ano passado, conectará o Aeroporto de Congonhas à rede de transporte sobre trilhos, beneficiando aproximadamente 100 mil passageiros diariamente.  Os trens de monotrilho serão compostos por cinco carros interligados, equipados com sistema de ar-cond