A revolucionária escritora americana Rita Mae Brown diz que a definição de insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Ironicamente, do ponto de vista do marketing, a insanidade é não repetir exaustivamente a estratégia quando se sabe que o resultado final é positivo. Nos últimos anos a GM viu a Fiat se dar muito bem com o Palio Fire, um modelo veterano que continuou sobrevivendo ao lado do seu sucessor – vale lembrar que o Fire, responsável por aproximadamente 55% das vendas totais do Palio, ajudou o compacto a fechar como o carro mais vendido de 2014.
Viu também o Gol G4 conviver com o G5 por meia década e alcançar bons resultados como o produto mais em conta do portfólio da Volkswagen. Se a estratégia deu certo com os rivais, a GM resolveu seguir os passos e aprimorar a receita. É mais ou menos assim que surge o Onix Joy, um carro que traz as mudanças mecânicas do Onix renovado, mas mantém o design antigo do modelo.
FÁBULA
A explicação da marca é que o durante o desenvolvimento do facelift do modelo, as clínicas feitas com consumidores mostraram que o Onix de cara intacta ainda contava com aceitação acima do normal. A verdade é que desde o fim do Celta e da aposentadoria do Classic, a GM não tinha nenhum carro para brigar entre R$ 30 mil e R$ 40 mil.
Sem um produto inédito na prateleira para os próximos meses, a solução mais rápida e barata encontrada foi manter os dois Onix convivendo ao mesmo tempo. Partindo de R$ 38.990 e oferecido apenas com motor 1.0, o Joy se posiciona como a versão mais barata ao custar R$ 5.900 a menos do que o Onix renovado. É o GM mais em conta.
A única diferença em relação ao Onix que você conhece desde 2012 é a inscrição Joy na tampa traseira. O quadro de instrumentos tem nova grafia e troca a cor azul pela laranja; o painel central traz dois tons (preto e cinza); os bancos têm novo revestimento e o puxador das portas muda para posição mais ergonômica. O acabamento é honesto, mas traz algumas rebarbas aparentes e abre mão de recursos simples, como as forrações laterais no porta-malas – algo até aceitável para um modelo de entrada, desde que ele não custe quase R$ 40 mil. Outros detalhes que minam o entusiasmo de quem leva um Onix Joy são a chave simples que não traz os botões de trava e destrava das portas, os comandos dos vidros elétricos no console central, a falta de ajuste da altura do banco do motorista e do volante e a impossibilidade de ter o sistema My Link de segunda geração, um dos grandes trunfos do modelo. Por R$ 2.500 extras há apenas uma central ao estilo aftermarket com TV, DVD, entrada USB, Bluetooth e projeção para smartphone que aé meio lenta e passa longe da competência do My Link. Entre os itens de série, destaque para a direção elétrica progressiva, o sistema OnStar simplificado (com serviço de rastreamento em caso de furto e diagnóstico de itens do veículo), ar-condicionado, vidros dianteiros elétricos, faróis com máscara negra, alerta de mudança de marcha e de pressão dos pneus e painel digital.
DEJA VÙ
Em busca da melhora no consumo, o Joy ganhou câmbio manual de seis marchas e atualizações no motor 1.0 de 80 cv e 9,8 mkgf de torque. Junto com uma dieta de 31 kg, as mudanças fazem com que o Onix fique até 14% mais econômico, segundo a GM. O Inmetro dá médias de 10,8 km/l na estrada e 9,1km/l na cidade quando abastecido com etanol.
A virtude mais fácil de notar é que o Onix está menos áspero e mais silencioso, principalmente em altas velocidades. Um dos méritos fica com a nova transmissão, bem escalonada, com engates curtos e macios.
O compacto também está mais estável e inclinando bem menos em curvas que exigem mais da carroceria, tudo graças à suspensão recalibrada e agora 1 cm mais baixa. Junte a isso a direção mais precisa – elétrica e não mais hidráulica – e o resultado é um Onix Joy muito mais gostoso de conviver do que um Onix LS, antiga configuração que fazia o papel de versão de entrada.
Com lista de equipamentos mais recheada e preço quase equivalente ao do seu antecessor, o Joy pode ajudar o Onix a abrir vantagem em relação ao Hyundai HB20, atual vice-líder no ranking de vendas. Deu certo antes. Deve dar certo agora. É o que o marketing tenta fazer todos acreditarem.
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