Se houvesse um título para a torcida mais presente, ele também seria do Palmeiras. Ninguém teve estádio mais cheio no Brasileiro de 2016. Foram mais de 32 mil pagantes por partida.
A nova casa, inaugurada em 2014, foi palco e também motivo para polêmicas durante a campanha da conquista do Brasileiro.
canta e vibra
Em dois anos na casa nova, o Palmeiras chegou ao segundo título –Copa do Brasil (2015) e Campeonato Brasileiro (2016). Além de ter a melhor média de público do país neste ano, foi quem teve a maior ocupação média, com 75%, e quem mais arrecadou: mais de R$ 30,7 milhões. A média do preço pago pelo ingresso também foi a mais cara, cerca de R$ 64.
gol do ‘visitante’
O locutor do Allianz Parque protagonizou um dos momentos mais inusitados do time dentro de seu estádio. Pela 32ª rodada, o Palmeiras enfrentava o Sport enquanto o Corinthians encarava o Flamengo, vice-líder. Os corintianos abriram o placar, resultado que deixaria o clube alviverde com seis pontos de vantagem na ponta. Para anunciar o gol no Rio, o locutor da arena anunciou: “Cheirinho de gol no ar. No Maracanã, visitante dois, Flamengo um”, para o delírio dos palmeirenses que vibraram pelo gol de seu maior rival, sem terem que ouvir Corinthians.
punição
No dia 5 de junho, as torcidas organizadas de Palmeiras e Flamengo entraram em confronto no Mané Garrincha, em Brasília, durante o jogo entre as equipes pela sexta rodada. Três meses depois, os clubes foram punidos.
Coube aos palmeirenses a pena de ficar sem vender ingressos por cinco partidas para o setor Gol Norte, onde estão as organizadas. Além disso, o clube arcou com uma multa de R$ 60 mil.
não passa
Em outubro, com a iminência do título, o clima já era de festa nas partidas do Palmeiras em casa. Uma medida da Polícia Militar limitou o acesso à rua Palestra Itália, antiga Turiassu, em frente ao estádio.
Apenas quem tinha ingresso poderia passar. Bebidas alcoólicas também foram proibidas. A decisão irritou torcedores. O presidente do clube, Paulo Nobre, aprovou a decisão, o que apimentou ainda mais sua relação conturbada com as torcidas organizadas do clube.
herói no camarote
Símbolo do Palmeiras campeão da Copa do Brasil de 2015, Fernando Prass passou a ser idolatrado pela torcida após bater o pênalti que garantiu aquele título.
No Brasileiro deste ano, o goleiro vinha sendo novamente destaque. Suas boas apresentações lhe renderam a convocação para a Olimpíada do Rio. Uma lesão no cotovelo durante a preparação com a equipe olímpica, porém, lhe tirou dos Jogos e do restante da temporada.
Sua última partida foi no dia 17 de julho, na vitória por 1 a 0 sobre o Internacional.
Desde então, não deixou de ir ao estádio, mas como torcedor. Do camarote do clube, viu seu substituto, Jaílson, se firmar e o time vencer o título.
esburacado
O Allianz Parque se tornou a casa dos grandes shows e festivais da cidade de São Paulo. Em nove meses, 13 eventos extra-futebol foram realizados no estádio. Eles muitas vezes acarretaram danificações no gramado.
A WTorre, que construiu o novo estádio, tem por direito explorar o local durante 30 anos, exceto em dias de jogos. A única ressalva é que as dependências devem estar em perfeitas condições quando forem devolvidas ao Palmeiras.
No entanto, devido à concentração de público e à proximidade entre shows e partidas, o campo ficou em péssimas condições para algumas rodadas.
O que irritou jogadores, comissão técnica e diretoria, que pediram uma solução mais eficaz.
“Tem show no mundo inteiro, em todos os estádios, e não é possível que só aqui não consegue manter”, esbravejou o diretor de futebol Alexandre Mattos em uma de suas reclamações.
wtorre x palmeiras
A situação do gramado não foi o único capítulo de conflito entre a diretoria palmeirense e a WTorre. Em outubro, o clube ganhou uma disputa da construtora sobre a propriedade das cadeiras do Allianz Parque. Com a vitória, a WTorre tem direito a comercializar 10 mil lugares do estádio. A construtora entendia que tinha por direito 44 mil assentos.
Dias depois, o presidente Paulo Nobre foi cobrado pela construtora após uma confusão envolvendo o dirigente e um torcedor do Flamengo durante o confronto entre as equipes. A responsável pela gestão do local cogitou a registrar um boletim de ocorrência contra o presidente.
O caso fez a WTorre instalar câmeras nas dependências do estádio. Uma delas foi colocada no camarote da diretoria. A pedido, um funcionário do clube a cobriu com fita adesiva e colocou mais fogo na convivência entre as partes.
Campeão, o Palmeiras não liderou o torneio de ponta a ponta. Mas foi quase isso. Das 37 rodadas, a equipe só não esteve na primeira colocação em 11 delas. Os números comprovam a superioridade: em 37 jogos foram 23 vitórias, 8 empates e 6 derrotas. A equipe paulista também mostrou consistência na defesa e força no ataque. Registrou uma média de 1,6 gol por jogo e em apenas uma ocasião perdeu por mais de dois gols de diferença –no 3 a 1 para o Botafogo, no primeiro turno.
da austeridade aos “chapéus”
A contratação de Alexandre Mattos para o cargo de diretor de futebol do Palmeiras, em janeiro de 2015, foi ponto de inflexão na gestão de Paulo Nobre, que havia acabado de passar uma temporada de quase rebaixamento no Brasileiro.
No primeiro ano juntos, Nobre e Mattos contrataram 25 jogadores em processo de reformulação da equipe. Conquistaram a Copa do Brasil.
Em 2016, com a base montada, 13 novos jogadores chegaram, formando assim a equipe que ganharia o título brasileiro.
nobre
Para os envolvidos na política palmeirense, Nobre, investidor, advogado de formação e piloto de rali, era visto desde antes de sua vitória na eleição de 2013 como esperança de renovação do clube com histórico turbulento na última década.
Contudo, a política de austeridade que assumiu no primeiro mandato e o trabalho decepcionante do primeiro diretor de futebol que escolheu, José Carlos Brunoro, levaram à montagem de elenco modesto, que conseguiu subir à Série A do Brasileiro em 2013, mas esteve muito perto de voltar à Série B em 2014.
O presidente Paulo Nobre, da SE Palmeiras, concede entrevista coletiva durante treinamento, na Academia de Futebol, no bairro da Barra Funda. (Foto: Cesar Greco / Fotoarena)
Com a chegada de Mattos, a aproximação de uma patrocinadora (Crefisa) e o empréstimo de mais de R$ 100 milhões ao clube por Nobre, o time reencontrou o caminho dos títulos, do qual estava distante desde a década de 1990 (exceção feita a títulos pontuais, como o Paulista e Copas do Brasil).
A outro lado do saneamento financeiro e das conquistas foi a relação tensa de Nobre com parceiros e parte da torcida. O dirigente envolveu-se em desentendimentos com a diretoria da Crefisa e da WTorre,marcados por reclamações públicas e mesmo represálias de ambos os lados.
Da parte da torcida, Nobre cortou diálogo com organizadas. Além disso, tomou medidas impopulares, como aumento dos preços de ingressos e o apoio ao cerco que a PM tem feito no entorno do Allianz Parque em dias de jogos.
bom de papo
Após ter montado a equipe do Cruzeiro que foi bicampeã brasileira (2013, 2014), Mattos decidiu sair do clube mineiro por desentendimentos com Gilvan Pinho Tavares, que havia sido reeleito para novo mandato de presidente.
Com a garantia de que teria dinheiro à disposição, Mattos pôde colocar para funcionar sua boa relação com empresários e seu poder de persuasão.
Dessa forma, convenceu jogadores a se transferirem ao Palmeiras, que naquele momento se encontrava desmoralizado.
A contratação mais emblemática foi a do meia-atacante Dudu. Disputado fortemente por São Paulo e Corinthians, o jogador decidiu atuar pelo Palmeiras. O “duplo chapéu” foi comemorado pelos torcedores e deu moral ao clube no mercado de contratações.
É digno de nota que algumas das contratações mais badaladas feitas pelo Palmeiras não deram certo: Arouca, Cleiton Xavier, Barrios e Érik. Por outro lado, jogadores pouco conhecidos, apostas de Mattos, se firmaram, como Vitor Hugo, Moisés e Róger Guedes.
Em 2016, o dirigente teve sucesso em mais um “chapéu”: venceu concorrência com os rivais e levou Tchê Tchê, que estava no Audax, e que é nome certo entre os destaques do Brasileiro.
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