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A polêmica da campanha de trânsito infelizmente diz muito sobre o Brasil

Gente boa também mata

O governo federal tirou do ar na quinta (5) a campanha “Rodovida”, criada pela agência de publicidade nova/sb. Se você não ligou o nome à pessoa, foi ela que gerou um bocado de polêmica nos últimos dias. Tudo porque ela faz o seguinte alerta: “Gente boa também mata”. A intenção era de alertar contra “embriaguez ao volante, excesso de velocidade, ultrapassagens irregulares, uso de aparelho celular e não uso de dispositivos de segurança”, segundo o texto do Ministério dos Transportes, responsável pela campanha. São alertas fundamentais em um país que mata uma média de 45 mil pessoas por ano, sem contar os mais de 200 mil feridos. E qualquer pessoa de bom senso há de concordar com isso. Assim sendo, por que a gritaria? O vídeo abaixo, o primeiro e talvez o último da iniciativa, não explica o motivo da celeuma, mas vale assistir para começar a se inteirar do conteúdo.



Qualquer pessoa com um mínimo de boa vontade e capacidade cognitiva normal entende que o alerta é voltado a pessoas boas que, por descuido, descaso ou falta de habilidade, colocam a vida de outras boas pessoas em risco. Ou até as tiram. Porque ninguém está livre de provocar sérios danos no controle de máquinas de mais de 1 tonelada de peso que podem passar dos 100 km/h. Louvável, mas aí chegamos aos cartazes criados para espalhar essa ideia.

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Acredite você ou não, esse foi o pivô do fim da campanha. Ou pelo menos do fim da formatação atual. A agência de publicidade pegou uma série de elementos identificados com “pessoas boas” para mostrar o outro lado da moeda: o de que, atrás do volante, qualquer um pode matar, por melhores que sejam suas intenções e suas condutas. Não apenas resgatar animais, mas também fazer trabalho voluntário.



Mas citar o resgate a animais foi o suficiente para que o deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB-SP) pedisse ao Ministério dos Transportes a “retirada imediata de campanha publicitária, veiculada por este i. Ministério, que alerta sobre o uso de celular ao volante, relacionando protetores de animais ou aqueles que, (sic) forma benemérita, resgatam animais abandonados”. Leia no ofício abaixo, cuja cópia foi obtida pela Coluna do Estadão.

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Pode procurar. Não há menção nenhuma a “quem faz a alegria das crianças” nem a “o melhor aluno da sala”.

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Se você leu os cartazes, viu que eles trazem o contraponto da atitude bacana com a que deve ser evitada. A moça que resgata animais não deveria usar o celular ao volante. O médico dos Doutores da Alegria não deveria beber antes de dirigir. E o melhor aluno da sala não deveria abusar de velocidade. No final, veem a ressalva de que “gente boa também mata” e o pedido correspondente. Se você pensar bem, é uma tentativa bem leve de sensibilizar “gente boa” a agir de forma responsável. Já se fez coisa bem mais pesada por aí, como essa campanha da NHTSA, dos EUA, contra o uso do celular ao volante.



Ou essa, dos caras da TAC (Transport Accident Commission, ou comissão de acidentes de transporte) Victoria, da Austrália. Eles começaram a fazer campanhas em 1989. Naquele ano, as mortes nas estradas daquele Estado australiano, o mais populoso do país, chegaram a absurdos 776 casos. Depois de 20 anos de campanhas como estas, as mortes foram reduzidas para 303. E o vídeo compilado, ao som da bela “Everybody hurts”, do REM, mostra que ainda são 303 famílias perdendo seus entes queridos bestamente.


Imagine perder 45 mil. Por ano.
O meio publicitário não tem o menor pudor em bater pesado na campanha suspensa pelo governo. O site Geek Publicitário detona: “Eu sei, a intenção é boa, mas olha a construção dessa frase. Eu não sei se eles estão querendo dizer que quem resgata animais está realmente autorizado a matar (óbvio que não), ou se as pessoas que resgatam animais podem acabar matando outras pelo simples fato de resgatarem animais”.
Um executivo da área, cujo nome preferimos resguardar, disse o seguinte: “O conceito da campanha é o de que até pessoas boas podem se transformar em assassinas no trânsito se agirem de maneira negligente ou inconsciente. Até aí, tudo bem. O problema é resolver isso criativamente com anúncios que praticamente requerem a leitura do briefing para serem entendidos. A relação entre causa (a negligência/inconsciência por parte de pessoas de boa índole) e efeito (o acidente) não está nada clara, principalmente nas peças de mídia exterior”.
Nossa fonte vai ainda mais longe: “Para mim, o principal problema não é o apontado pelos defensores dos animais – que foi o pivô para a suspensão dessa campanha – mas sim a ineficácia resultante da sua absoluta falta de clareza”. Exatamente. E esse é o ponto: a campanha poderia ser suspensa por ser ineficaz. Por gastar o dinheiro do contribuinte talvez de modo inútil, nunca por uma associação com quem resgata animais. Porque isso mostra uma inversão de valores difícil de aceitar.
Para começar, porque ela passa a mensagem de que qualquer um que resgate animais, ou seja voluntário, ou não coma carne, ou ande de bicicleta ou tome qualquer uma das atitudes eleitas como santas hoje em dia é um iluminado acima de qualquer crítica. Incapaz de errar. Como “gente boa” poderia matar? Assim não pode, assim não dá…
Boa ou má, a campanha chama a atenção para um problema gravíssimo enfrentado no Brasil. Um daqueles a que a gente infelizmente se acostuma e finge que não existe. Se a campanha tem defeitos, ela deve ser corrigida, mas quem determina isso? Mais: é correto tirá-la do ar sem nenhuma alternativa pronta? Por que o governo não aproveitou a balbúrdia para chamar a atenção para a questão, como a campanha pretendia e, por meios tortos, conseguiu? Por último, mas não menos importante: por que o governo cedeu?
Ricardo Trípoli tem uma plataforma de defesa dos animais. Faz sentido, politicamente, que ele defenda os interesses do grupo que o elegeu. Em 14 de dezembro passado, ele também foi eleito líder da bancada dos deputados de seu partido na Câmara. Seu apoio é cobiçado pelo governo Temer, o que torna seus pedidos quase irrecusáveis. A questão é: o deputado agiu bem em pedir a “retirada imediata” de uma campanha com objetivos tão importantes só porque defensores de animais se sentiram ofendidos?
Ao escrever este texto, nos deparamos com opiniões de defesa e de ataque à campanha. Mas os ataques são mais ruidosos. Gente revoltada porque “o melhor aluno da sala” é negro e “pode matar”. Se ele fosse branco, será que a campanha também não seria acusada de racista? Por que, afinal, o melhor aluno da sala não pode ser negro? Não chegamos a ver médicos revoltados por serem colocados em uma foto com nariz de palhaço nem porque a campanha diz que eles também podem matar, mas não duvidamos que existam muitos. A moda agora é problematizar. E qualquer pretexto serve.
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Essa charge, de autor desconhecido, pega uma fábula popular que mostra bem os tempos em que vivemos. Se formos dar ouvidos a todo mundo que tem opinião, não fazemos mais nada nesta vida. É importante fazer o certo: salvar animais, ser voluntário, não jogar lixo na rua, estudar e lutar por progresso. Mas é fundamental salvar vidas em um trânsito assassino como o brasileiro. Que nos desculpem os ofendidos de plantão, mas ir contra qualquer iniciativa neste sentido é ir contra o que realmente importa. Ainda mais pelo receio de danos de imagem que uma interpretação absurda e burra (a de que salvar animais mata pessoas) poderia causar. Os danos causados por nosso trânsito são muito piores. E não têm conserto, só prevenção. Que tal pedirmos a “retirada imediata” de fatores de risco de nossas ruas e estradas? Torcemos para uma indignação remotamente parecida com a causada pela campanha diante de nossas 45 mil mortes anuais, mas sabemos que é como torcer pelo Íbis contra o Real Madrid…

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