Procura por cursos subiu 84% em 2018 e pode esquentar depois de Congresso regulamentar a atividade; IBGE estima que total de idosos mais que dobrará até 2050, chegando a 40 milhões
A quantidade de cuidadores de idosos e o número de interessados em cursos de formação dispararam no Brasil, e a demanda deve crescer ainda mais após a profissão ter sido oficialmente reconhecida.
Há uma tendência de aquecimento desse mercado iniciada em 2007. Entre aquele ano e 2017, o número de profissionais saltou de 5.263 para 34.051, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
O aumento, de impressionantes 547%, faz dessa profissão a que mais cresce no país atualmente.
O Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), por exemplo, teve aumento de 84% na procura por seu curso de formação de cuidadores, em 2018, na comparação com 2017, ano em que a disciplina foi inaugurada – a escola tem unidades em diversos Estados do país.
O mesmo acontece em outros centros de formação, como o Senac, que relata aumento de 40% desde 2015 na procura por seu curso para qualificar cuidadores em 45 unidades paulistas da rede.
E o interesse deve crescer ainda mais nos anos por vir, puxado por dois fatores.
Primeiro, o envelhecimento do Brasil. Segundo o IBGE, o total de indivíduos com mais de 60 anos deve mais que dobrar até 2050, saltando de 9,5% para 21,8% da população e ultrapassando 40 milhões.
O envelhecimento, vale dizer, é tendência global: segundo a Organização Mundial de Saúde, o número de pessoas acima de 60 anos deve chegar a 22% da população mundial até 2050, o equivalente a 2 bilhões.
Outro vetor foi a aprovação no Congresso Nacional, em maio, do projeto de lei complementar 11/2016, que regulamentou a profissão de cuidador de idosos, crianças e pessoas com deficiência ou doenças raras.Para especialistas, essa “oficialização” pelas autoridades deve motivar novos estudantes e profissionais.
Sua previsão ganha força na procura pelo curso em 2019. De janeiro a maio, o número de matriculados beira 50% do total de 2018; a seguir esse ritmo, o Cebrac registrará novo aumento na demanda em 2019.“A regulamentação vai tornar a profissão mais atrativa e melhor remunerada”, opina Ana Carolina Bhering A. do Amaral, coordenadora de saúde e bem-estar do Senac São Paulo.
A entidade relata ter formado 9.000 cuidadores nos últimos cinco anos.
Regulamentação da profissão de cuidador de idosos deve aumentar preparo e qualidade — Foto: Getty Images
Essa crescente exigência de qualificação, inclusive na lei recém-aprovada, mudou o perfil do cuidador: se antes predominavam pessoas próximas – parentes, amigos – e sem formação técnica, agora há cada vez mais profissionais multidisciplinares, treinados sobre legislação, psicologia, nutrição e até situações de emergência e primeiros socorros, como reanimação cardíaca.
Custo X Salário
A maioria dos cursos profissionalizantes para interessados em se tornarem cuidadores de idosos duram entre 9 e 12 meses e têm custo entre R$ 200 e R$ 400 ao mês, em média. No Cebrac, a mensalidade é de R$ 299 durante dez meses, e, no Senac, chega a R$ 1.152 para um mínimo de 160 horas de aulas.
O investimento representa entre um e três meses do salário desse profissional. Cuidadores de idosos recebem entre R$ 1.000 e R$ 1.400, em média, a depender da região do país, do nível de qualificação e do regime de trabalho, segundo empresas de análises de mercado, como a Catho e a Love Mondays.
De acordo com o Caged, o piso salarial de um cuidador é de R$ 998 para jornadas semanais de 42 horas.
Mas essa é uma média nacional. No Estado de São Paulo, a remuneração fica entre R$ 1.250 e R$ 2.100, e a média salarial chega a R$ 1.500.
Já para cuidadores que pernoitam no trabalho, o pagamento mensal fica entre R$ 1.800 e R$ 4.500, segundo dados de entidades como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
Essa média, contudo, deve subir conforme aumente o número de idosos precisando de cuidados de profissionais qualificados, comenta Busignani, do Cebrac.
A oferta de vagas tem potencial de crescer também no setor público, com ambulatórios e hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) agregando novos profissionais.
“Com o envelhecimento da população, a perspectiva é que as prefeituras e os Estados criem centros e unidades para esse público”, diz Busignani.
Já Ana Carolina, do Senac, destaca o ganho para idosos e famílias com as novas competências, como prevenção de doenças, estímulo à autonomia do idoso e aprendizados sobre alimentação e tratamentos humanizados.
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