William Bonner e Patricia Poeta entrevistam Dilma Rousseff, do PT, no Palácio da Alvorada (Foto: Gabriel Souto/Globo/Divulgação)
A participação da presidente Dilma Rousseff na rodada de entrevistas do Jornal Nacional, da TV Globo, com os candidatos a presidente deu mostras de que a estratégia da campanha dela neste momento é priorizar o eleitorado cativo do PT e estancar uma queda nas pesquisas que vinha se acentuando desde junho. Sabatinada pelos jornalistas William Bonner e Patricia Poeta no Palácio da Alvorada, Dilma evitou criticar os petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão e defendeu programas importantes para o governo federal, como o "Mais Médicos".
"Eu não vou tomar nenhuma posição que me coloque em conflito", disse a presidente e candidata à reeleição após ter sido questionada sobre o motivo de o PT ter tratado o ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e os ex-deputados José Genoino e João Paulo Cunha, todos condenados pelo STF por corrupção, como heróis. "Eu respeito a decisão da Suprema Corte", afirmou Dilma, sem responder se avalizava ou não a forma como seu partido tratou o episódio.
Num raro momento em que saiu da defensiva em busca de sinalizar algo para o futuro, Dilma deixou clara uma opção pela chamada "classe C" ou "emergente": "Criamos as condições para o país dar um salto colocando a educação no centro de tudo. E isso significa que nós queremos continuar a ser um país de classe média, cada vez maior a participação da classe média. Mais oportunidades para todos", afirmo ela, sobre a expansão desse segmento que ganhou força ao longo dos 12 anos de gestão petista e que pode definir a eleição.
Conforme a definição dos marqueteiros e especialistas em pesquisas, Dilma "falou para dentro", ou seja, evitou contrariar o tradicional eleitorado do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fatia que por si só é capaz de manter a presidente na faixa dos 30% aos 40% das intenções de voto, resultado que pode garantir Dilma no segundo turno. O ponto desfavorável para o Planalto dessa opção adotada pela presidente é que a candidata não conseguiu apresentar propostas nem falar aos eleitores que esperam uma mudança dela num próximo governo.
O candidato de oposição Aécio Neves (PSDB) também havia, como Dilma, jogado na retranca no JN, na semana passada, mas conseguira encaixar algumas críticas ao governo federal e apontar uma outra proposta para o futuro. O mesmo fizera Eduardo Campos, na última entrevista que concedeu, na terça-feira (12), véspera do acidente que o matou. O curioso é que, em seus segundos finais na entrevista do JN, Dilma usou uma frase semelhante à proferida por Campos e que se tornou uma espécie de mantra dos correligionários do ex-governador. Campos disse: "Não vamos desistir do Brasil". Dilma encerrou sua entrevista desta segunda-feira com "Eu acredito no Brasil".
Na próxima semana, o JN deverá entrevistar a candidata Marina Silva (PSB), a provável substituta de Campos – a confirmação está prevista para a quarta-feira (20).
Nesta terça-feira (19), é a vez do Pastor Everaldo, do PSC. Assim como Dilma, ele deveria ter sido sabatinado na semana passada, mas as entrevistas foram adiadas por conta do acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos. A ordem das entrevistas foi definida por sorteio, com a presença de representantes dos partidos, e o critério de seleção para as sabatinas são candidatos com pontuação igual ou superior a 3% nas pesquisas Datafolha/ IBOPE mais recentes.
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