Cumprindo prazos com rigor germânico, a BMW tornou-se oficialmente uma montadora brasileira desde o início deste mês, com o início da operação da linha de montagem da fábrica de Araquari, no norte de Santa Catarina, a primeira unidade industrial da empresa alemã no Brasil e na América do Sul. Exatamente dois anos após anunciar o investimento de € 200 milhões na planta – e apenas 10 meses depois de começar as obras de construção civil –, todas as paredes já estão erguidas, os componentes estão no estoque (a maioria importada da Alemanha, incluindo as carrocerias já pintadas) e os primeiros sedãs 320i Active Flex nacionais começam a ser encaminhados para a rede de concessionárias. As áreas de soldagem e pintura só entram em operação daqui mais um ano.
“Só conseguimos cumprir todos os prazos até agora porque tivemos forte apoio do governo”, afirmou Gerald Degen, diretor da fábrica, em seu discurso na cerimônia que marcou o início da produção, na quinta-feira, 9. Em sua apresentação ele mostrou as centenas de documentos que o empreendimento precisou obter antes de começar a terraplanagem, em abril de 2013. “Eram 50 que viraram 150 licenças diferentes, incluindo Ibama, Fatma, Funai, Eletrosul, Selesc, Autopista (...)”, citou. Entre outras dificuldades, foi necessário elevar a área do terreno de 1,5 milhão de metros quadrados em 3 metros e aterrar um brejo que existia no local. Também foi necessário puxar uma rede elétrica de 5 km para abastecer a planta.
As obras civis da área construída de 500 mil m2 já estão quase concluídas. Os próximos 12 meses serão dedicados ao acabamento final da construção e à instalação do maquinário de armação de carrocerias (soldagem) e do setor de pintura.
Só uma das duas linhas de montagem entrou em operação para fazer duas versões do sedã Série 3, mas a outra, bem ao lado, está em fase final de implantação e começa a montar o crossover X1 a partir de novembro. Depois vêm o hatch Série 1, o outro crossover X3 e, por último, já no fim de 2015, o Mini Countryman (marca que também pertence ao Grupo BMW). “Duas linhas vão fazer cinco carros. Essa diversidade demonstra a flexibilidade produtiva de nossas fábricas, assim como acontece em todo o mundo”, destacou Ludwig Willisch, presidente do BMW Group Americas.
A fábrica conta com 450 empregados, que devem chegar a 1,3 mil até 2016 quando todas as áreas estiverem operando. “Todos foram treinados no centro que montados em Joinville (cidade vizinha). Importamos 60 carros para esse treinamento, dentro de nosso conceito de que nenhum funcionário é treinado no carro que irá para o cliente”, explica Degen. A linha em Araquari é curta e a maior parte das operações é feita de forma manual. No fim, todos os carros passam por testes de dinamômetro e depois rodam em uma pista de testes dinâmicos. A maior parte do espaço da área é ocupada pelo estoque, com milhares de caixas cheias de componentes para uso na montagem.
NACIONALIZAÇÃO
Por enquanto, o nível de utilização de componentes nacionais é bastante baixo. Os bancos já estão sendo fornecidos localmente pela Lear. A Benteler fornece algumas partes do powertrain, como eixos, e faz a montagem de tudo, integrando motor e câmbio importados ao conjunto mecânico em uma área adjacente à linha de produção. Nem os pneus são nacionais – normalmente são os primeiros itens a serem comprados no local de produção, mas os usados pela BMW têm tecnologia run flat, continuam a rodar mesmo depois de furados, e não estão disponíveis no País.
“Teremos nacionalização em torno de 25% neste início e chegaremos aos 30% até o ano que vem, após incluirmos a soldagem e pintura nessa conta”, diz Arturo Piñeiro, presidente do Grupo BMW Brasil, referindo-se na verdade ao valor de compras de fornecedores instalados no Brasil em valor suficiente para abater até 30 pontos porcentuais do IPI, conforme prevê a legislação do Inovar-Auto.
Com capacidade máxima de produção de 32 mil unidades/ano, a BMW se beneficia do regime especial do Inovar-Auto destinado a fabricantes de baixo volume, até 37 mil/ano com investimento mínimo de R$ 17 mil por unidade produzida, por isso poderá até 2017 multiplicar o valor das compras nacionais por 1,3, tornando mais fácil o abatimento desse valor dos 30 pontos do IPI. Contudo, isso traz também o problema de baixa escala, com maior dificuldade de encontrar fornecedores para volumes pequenos, o que obriga a empresa a importar mais componentes.
“O regime é bom para que as fabricantes de carros premium pudessem se instalar no Brasil, mas claro que se o mercado responder bem poderemos fazer ampliações e passar a exportar para países da América do Sul”, explica Gleide Souza, diretora de relações governamentais e institucionais da BMW Brasil. Segundo Piñeiro, no entanto, a exportação ainda é uma meta distante, para depois de 2018. “A capacidade inicial da fábrica foi projetada só para atender ao mercado brasileiro. Só quando isso acontecer é que poderemos pensar em ampliações e exportações.”
Com volume tão alto de componentes importados, não haverá alteração nos preços dos BMW fabricados no Brasil, que seguem iguais à tabela atual. “É preciso considerar que são carros que já vendemos com o desconto de IPI previsto no Inovar-Auto”, informa Piñeiro. Contudo, ele não coloca na conta os 35% de imposto de importação que deixam de ser pagos e têm influência nos demais tributos, pois todos os demais, IPI, ICMS e PIS/Cofins são aplicados em cascata. Ao que tudo indica, será mais uma diferença que entrará na conta para compensar o infindável custo Brasil.
“Esta planta está dentro de nossa estratégia de longo prazo, em que a produção segue o mercado, com plantas altamente flexíveis e produtivas para aproveitar todas as oportunidades”, observou Jen Foerst, vice-presidente global de produção do BMW Group. “Já temos base industrial forte na Alemanha e Estados Unidos, estamos ampliando na China e em breve também teremos planta no México. O Brasil entra nesse mapa como país-chave para a região da América do Sul. Araquari agora é parte de nossa rede mundial.”
MERCADO PROMISSOR
“Esta fábrica mostra o potencial do Brasil para nós. Há apenas quatro anos vendíamos 3 mil carros no País. Em 2013 este número saltou para 17,5 mil (incluindo vendas da BMW e Mini)”, destacou Piñeiro, que espera crescimento tímido para este ano, pouco acima das 18 mil unidades. “Tivemos um ano difícil e 2015 também deverá ser. Lamentavelmente o mercado premium parou de crescer com o vigor que vinha registrando, porque a situação econômica não ajuda, é um problema de falta de confiança. Mas expansões e contrações são normais, não se investe € 200 milhões pensando no cenário de momento. Investimos porque acreditamos no potencial futuro. Temos grandes expectativas para o mercado brasileiro”, enfatizou.
“A BMW acreditou no Brasil porque somos um país de grandes transformações sociais e grande mercado futuro, que não está à beira de um colapso, mas de um novo ciclo de expansão”, alfinetou em seu discurso Mauro Borges, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. “A capacidade inicial de 32 mil deve ser só a primeira tranche desse investimento, pois haverá potencial para muito mais já considerando as exportações”, observou.
A expectativa para o mercado de veículos premium este ano gira em torno de 45 mil unidades, segundo Piñeiro, considerando marcas de prestígio como BMW, Audi, Mercedes-Benz, Land Rover e outras com volumes ainda menores. Para 2015 a projeção é de crescimento moderado, para 50 mil emplacamentos dessas marcas. A estimativa de que esse mercado chegasse a 100 mil/ano a partir de 2017, no entanto, parece ter sido adiada: “Agora fica difícil dizer. O ambiente é muito volátil e não há previsão confiável, mas é provável que esse número fique para depois de 2017”.
Seja como for, a BMW segue com seu projeto de expansão da rede. Hoje a marca tem 43 concessionárias e deverá chegar a 46 até o fim do ano. A meta é alcançar 70 lojas em 2017. Existem, ainda, 32 pontos de venda da Mini. Todos os modelos e versões que não serão produzidos em Araquari continuarão a ser importados.
fonte:http://www.automotivebusiness.com.br/noticia/20685/bmw-comeca-a-produzir-em-araquari
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