O protesto do engenheiro Talles de Faria Oliveira, que recebeu o diploma usando roupas femininas com palavras contra homofobia, dividiu opiniões entre alunos e engenheiros formados pelo Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos. O instituto alega que não discrimina alunos por sua orientação sexual.
Em um sistema que mantém fóruns entre estudantes e ex-alunos do ITA, o protesto de Talles, que acusa o instituto de ser machista e elitista e de aplicar uma meritocracia que não funciona, repercutiu e dividiu opiniões. Uma das postagens afirma que a iniciativa foi desrespeitosa com a ocasião na qual foi feita - a formatura - e acusa Talles de querer se promover.
Em um sistema que mantém fóruns entre estudantes e ex-alunos do ITA, o protesto de Talles, que acusa o instituto de ser machista e elitista e de aplicar uma meritocracia que não funciona, repercutiu e dividiu opiniões. Uma das postagens afirma que a iniciativa foi desrespeitosa com a ocasião na qual foi feita - a formatura - e acusa Talles de querer se promover.
Já outra defendeu que os abusos cometidos pela instituição devem ser denunciados.
A manifestação também gerou reação da Associação dos Engenheiros do ITA (AEITA), que afirmou estar neutra sobre o ocorrido e que o engenheiro tem o direito de protestar.
“Talles tem o direito de protestar, como qualquer um, e ele exerceu esse direito. Defendo o direito de que ele faça o seu protesto em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer modo, pois o único responsável pelos seus atos é ele mesmo. Por fim, o que ninguém fez foi desejar felicidades aos mais de 80 novos engenheiros formados pelo ITA, que passam a fazer parte da comunidade de ex-alunos, e dizer: sejam bem-vindos! Cabe a vocês tornarem esta Associação, este país e suas instituições mais justas, humanas e igualitárias”, diz a nota assinada pelo presidente, Marcelo Dias Ferreira.
Outros casos
Após a repercussão da ação de Talles, outros alunos manifestaram depoimentos de casos de homofobia e perseguição dentro da instituição. Eles fazem parte do grupo Agita, que representa o público LGBT no ITA. O grupo existe desde 2011 e conta com 65 membros.
Após a repercussão da ação de Talles, outros alunos manifestaram depoimentos de casos de homofobia e perseguição dentro da instituição. Eles fazem parte do grupo Agita, que representa o público LGBT no ITA. O grupo existe desde 2011 e conta com 65 membros.
A atual rainha do grupo, o estudante de engenharia da computação, Flávio Rodrigues de Almeida, conta que sua orientação rendeu diversos apelidos preconceituosos na instituição.
“Existem muitos casos de perseguição por parte de professores, que aproveitam sua posição para usar discurso de ódio. Com isso, eles incitam os alunos a praticarem essa violência. A gente acaba se organizando em grupo e se isolando, para não ser alvo de violência e preconceito”, comenta o estudante de 23 anos.
“Existem muitos casos de perseguição por parte de professores, que aproveitam sua posição para usar discurso de ódio. Com isso, eles incitam os alunos a praticarem essa violência. A gente acaba se organizando em grupo e se isolando, para não ser alvo de violência e preconceito”, comenta o estudante de 23 anos.
A estudante de engenharia aeroespacial, Rafaela Godoy, 21 anos, é homossexual e conta que trancou o curso após a perseguição. Em um dos episódios, a estudante conta que beijava a companheira durante um churrasco de turma, e que um funcionário teria tentado beijá-las a força.
“O instituto impõe pressão de todos os lados e estamos sempre cercados para sermos punidos pelo menor deslize. Eles colocam a perseguição como algo comum, um monitoramento necessário. Quando você é homossexual e mulher você se coloca sobre um número redobrado de ‘cuidadores’”, conta. Ela deixou a instituição no segundo ano e passa por tratamento psicológico.
Henrique Lacerda se formou com Talles no último sábado e conta que a guerra psicológica a que foi submetido após assumir aos colegas sua orientação sexual é reflexo da política do próprio ITA.
“Quando entramos, o que nos é dito é que qualquer coisa que a instituição ache reprovável pode nos expulsar. Todos têm medo de sair porque o ITA é o sonho de todos que estão ali. Isso coloca os alunos em uma guerra e faz parecer que a perseguição é comum”, comenta.
Outro lado
O ITA foi novamente procurado nesta quarta-feira (21), mas não retornou até a publicação da reportagem. Em nota enviada ao G1 na terça (20), o ITA informou que "não discrimina alunos por sua orientação sexual, gênero, condição social, credo ou raça. A reitoria repudia qualquer ato de homofobia ou discriminação", diz trecho da nota.
O ITA foi novamente procurado nesta quarta-feira (21), mas não retornou até a publicação da reportagem. Em nota enviada ao G1 na terça (20), o ITA informou que "não discrimina alunos por sua orientação sexual, gênero, condição social, credo ou raça. A reitoria repudia qualquer ato de homofobia ou discriminação", diz trecho da nota.
Comentários