Com assistência técnica e algumas mudanças no manejo e alimentação do rebanho, produtor dá um salto em produtividade e descobre que pode produzir e ganhar muito mais
A brisa fresca e constante no platô a 1.100 m de altitude, no meio da Serra do Barão, mantém o ambiente agradável para o bem-estar das vacas leiteiras do Sítio Tioró, em Cláudio-MG, mesmo nos dias mais quentes do verão. Olhar as vacas tranquilas, comendo ou descansando naquele sossego é uma das alegrias do produtor Edinaldo Gonçalves Pereira. Em dois anos de adesão ao Programa Educampo-Sebrae/Danone, ele vem pondo em prática seu desejo de, mesmo num pequeno espaço, produzir leite com qualidade, tecnologia e alta produtividade.
Nascido naquelas alturas, há 50 anos, Pereira cresceu, juntamente com os irmãos, ajudando o pai nas lidas no cafezal. O leite só começou por volta de 1990, com umas vaquinhas mestiças, que eram cobertas por um touro Holandês, que foi espalhando filhas com maior vocação leiteira pelo sítio. Naquela época, a produção de leite ficava entre 15 e 20 litros por dia. Em 1995, com matrizes melhores, passou a 300 litros. Daí, então, pegaram gosto pela atividade e a família chegou a atingir 1.300 litros por dia, com 70-80 vacas em lactação.
Nesse avanço contaram com pastejo rotacionado de capim-mombaça, em 11 ha. Edinaldo Pereira, muito afeito à tecnologia, sempre acreditou na melhoria do potencial do sítio e do rebanho, principalmente quando passou da marca de 15 litros de leite/vaca/dia. Porém, esbarrava na posição dos irmãos que não compartilhavam das mesmas ideias que ele. “Daí não houve jeito. O melhor foi se separar e cada um ficar com seu pedaço de terra e fazer o que achava mais acertado”, diz.
Assim, em 2009, nasceu o Sítio Tioró 1, a parte de 17 ha que coube a Edinaldo. Junto com a terra, teve direito a 20 vacas e oito novilhas. “Como sabia que meus conceitos de profissionalismo exigiam assistência técnica, o primeiro passo foi aderir ao Programa Educampo Sebrae/Danone”, conta ele, citando que passou, então, a receber a consultoria do veterinário Frederico Guabiraba.
“Hoje, quase tudo é praticamente Holandês, com graus de sangue variando de 7/8 a 15/16”, cita. Esse trabalho de melhoramento genético segue graças ao programa de acasalamento da central ABS Pecplan, com foco na obtenção de matrizes longevas, com boa eficiência reprodutiva e maior teor de sólidos, sobretudo, proteína, valorizada pela indústria que compra o leite.
“Nesse período, as vacas também recebem concentrado, pois, se assim não for, a produção média cai dos 30 litros de leite/vaca/dia para uns 23. Isso porque a pastagem limita a ingestão suficiente de nutrientes”, explica o técnico. Para administrar tal situação, já no ano que vem terá silagem de milho suficiente. Hoje, são destinados 10 ha para o cultivo de milho, em plantio direto, que alcança uma produtividade média de 51 t/ha, com um teor de matéria seca de 28%, a um custo de R$ 55/t.
“Desde 2010, estamos utilizando aveia como cobertura vegetal, e isso proporcionou melhor reposição de potássio no solo, o que favoreceu a cultura”, observa Claudinei Luís Gonçalves, que trabalha na lida do sítio, num sistema de parceria com Pereira. Na realidade, esse tipo de acordo surgiu com a intenção de utilizar na atividade alguém que assumisse os mesmos compromissos que o produtor e que também tivesse um retorno financeiro melhor. Pensado e feito. Procurou o sindicato para fazer um contrato dentro da lei para que nenhuma das partes viesse a ter problemas futuros.
Gonçalves, que já estava cansado da labuta nas fundições de ferro da região, viu na nova atribuição a oportunidade para fazer o que gostava, com mais tranquilidade e ganhando mais, o que significa 7% de participação da receita bruta com a venda do leite, o que lhe possibilita uma renda equivalente ao dobro do que ganhava trabalhando em fundições. Segundo Pereira, assim, ele conta com parceiro que tem o mesmo interesse que ele: fazer de tudo para elevar a produtividade, reduzir os custos e garantir a qualidade do leite.
À pergunta sobre reprodução, Pereira diz que tal fator tem apresentado uma melhora significativa nesses dois anos, o que pode ser confirmado pelo número de vacas em lactação em relação ao número total de vacas: 86%. A média de produção de leite por vaca, nos últimos doze meses, é de 25 litros. “Nossa meta é elevar o número de vacas que mantenham essa média. Para isso, estou formando um rebanho, sem comprar nenhum animal de fora”, assinala Pereira, que se orgulha da eficiência na cria e recria das bezerras.
A idade do primeiro parto das novilhas, em 2010, foi aos 27 meses, com peso entre 450 e 500 kg (70% do peso de uma vaca adulta), enquanto, antes, ficava na média dos 36 meses. Ao contrário do que pensava anteriormente, por achar que não havia nenhuma vantagem, agora Pereira introduziu o manejo do pré-parto e já se convenceu, na prática, dos benefícios que esse método traz.
Sobre as bezerras, diz que logo depois de nascerem recebem os cuidados no umbigo e quatro litros de colostro. Em seguida, vão para o bezerreiro individual, onde recebem 8 litros de leite, divididos em duas vezes ao dia, por trinta dias. Desde a primeira semana, recebem também ração adequada à idade, formulada no próprio sítio.
Na segunda fase, passam a receber 6 litros de leite; também, uma parte de manhã, e a outra, à tarde, até completarem 60 dias de idade, quando são desmamadas, em geral, com 80 kg, o dobro do peso ao nascimento. Separadas em lotes padronizados, ficam num piquetinho onde recebem silagem e concentrado até os 120 dias. Aí entram na fase de recria 1, até os 300 dias de idade, recebendo 2 kg de concentrado, mais pasto (no inverno recebem silagem). A fase recria 2 começa aos 301 dias de idade até a cobertura, em geral, aos 15 meses, com peso de 350 kg.
No item arraçoamento, o Sitio Tioró também vem se aprimorando, pois o produtor percebeu que o custo com o concentrado estava meio ‘desbalanceado’. A relação entre os gastos com o concentrado e a renda bruta do leite estava em 39%, explica o técnico, e agora a meta é que se mantenha nos 37% para menos. “Pode parecer irrisório reduzir 2%, mas no cômputo final, considerando que é de R$ 0,29 por quilo de concentrado, conseguimos economizar R$ 2.000 por ano. Para as condições do sítio, é muito dinheiro”.
Nova dieta melhorou proteína – Hoje, o produtor fornece uma dieta única, total mix. “Isso facilita muito na lida, já que somos apenas dois para fazer todo o serviço”, diz Gonçalves, observando ainda que fazer a nova dieta ajudou a melhorar o teor de proteína do leite, de 3,20% para 3,29%, na média dos últimos doze meses. Entusiasta da tecnologia, Pereira adianta que em 2012 vai começar a produzir silagem de grãos reidratados, pois já está convencido das vantagens, tanto nutricionais quanto econômicas dessa opção.
As vacas em lactação consomem a mistura de silagem de milho com o concentrado na proporção de 32 kg de silagem, mais 10 kg de concentrado e 2 kg de polpa cítrica, no inverno, em três tratos diários. No verão, além do pastejo nos piquetes de mombaça, recebem 10 kg de concentrado, sem polpa cítrica. A produção diária em 2009/2010 foi de 576 litros, passando 830 litros em 2010/2011, o que significou um salto na produtividade de 13.700 para 18.000 litros/ha/ano.
Nesses dois anos, graças ao incremento do negócio, Pereira se animou em fazer algumas melhorias na propriedade, se preparando para crescer. Com recursos próprios advindos do leite, fez investimentos da ordem de R$ 24.500. Os principais foram na reforma da sala de ordenha; construção do bezerreiro individual, tipo argentino; instalação de bebedouros entre cada dois piquetes; aquisição de um tanque resfriador com capacidade para 2 mil litros de leite; cobertura do cocho; calçamento da área de descanso; reforma do galpão para melhor armazenar ingredientes do concentrado.
Também adquiriu um trator, financiado pelo Programa Mais Alimento/Pronaf, parcelado em oito anos, tudo para ser pago com o leite. Já com a propriedade organizada e com o potencial de crescimento na ponta do lápis, Pereira tem claro até onde pode chegar. “Quando iniciei no Educampo, a minha meta era chegar aos mil litros de leite/dia, mas em dois anos já estou triscando nessa marca; agora sei que posso chegar a 1.500 litros, na mesma toada que tenho vindo até aqui, e espero chegar em 2013-13, explorando todo o potencial do sítio”, diz ele.
Para isso, serão 64 vacas em lactação, com a média diária projetada para 28 litros/vaca/dia; redução da idade da primeira cria de 27 para 24 meses; descarte voluntário de 13 vacas/ano, ao preço médio de R$ 4 mil, e descarte involuntário de 16 vacas. “Pode parecer um pouco de pretensão, mas graças à assistência técnica a gente começa a fazer as coisas sabendo por que faz e até onde pode chegar. Não é mais aquela coisa de ouvir falar e tentar fazer como outros fizeram. Agora faço, sei por que e tenho ideia de até onde posso chegar”, arremata.
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