Sexo, chantagem e internet, o suicídio de duas adolescentes depois do vazamento de imagens íntimas. Domingo em destaque
As estudantes Giana Laura, de 16 anos, e Júlia Rebeca, de 17 anos,
nunca se conheceram. Separadas pela extensão geográfica do país – Giana
em Veranópolis, Rio Grande do Sul, e Júlia em Parnaíba, litoral do Piauí
–, suas histórias se cruzaram nas manchetes da imprensa, por causa de
um desfecho trágico. Com apenas quatro dias de diferença, as duas jovens
se mataram, pela mesmíssima razão. Elas haviam descoberto que imagens
íntimas delas, compartilhadas com pessoas em quem confiavam, se
multiplicavam pela internet. Envergonhadas e desesperadas, totalmente
inexperientes, decidiram fugir de uma situação que lhes parecia
intolerável. Ao escolher o suicídio, tornaram-se vítimas, mais um par de
vítimas, de um perigo assustadoramente próximo da nova geração: a
exposição excessiva na internet, e suas terríveis consequências.
As circunstâncias em que as imagens foram divulgadas ainda estão sob investigação. A polícia de Parnaíba apura como um vídeo de poucos segundos, em que Júlia aparece numa relação sexual com uma jovem e um rapaz, se difundiu num aplicativo de bate-papo usado em celulares, o WhatsApp. “É provável que ela mesma tenha compartilhado com alguns amigos num grupo do aplicativo”, afirma o delegado Rodrigo Moreira Rodrigues, da Delegacia Regional da Polícia Civil de Parnaíba. Em Veranópolis, a polícia suspeita que um amigo de 17 anos de Giana enviou a alguns colegas uma imagem da garota com os seios desnudos, capturada por webcam numa conversa entre eles, há seis meses.
fonte-http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/11/sexo-bchantagem-e-internetb.html
As circunstâncias em que as imagens foram divulgadas ainda estão sob investigação. A polícia de Parnaíba apura como um vídeo de poucos segundos, em que Júlia aparece numa relação sexual com uma jovem e um rapaz, se difundiu num aplicativo de bate-papo usado em celulares, o WhatsApp. “É provável que ela mesma tenha compartilhado com alguns amigos num grupo do aplicativo”, afirma o delegado Rodrigo Moreira Rodrigues, da Delegacia Regional da Polícia Civil de Parnaíba. Em Veranópolis, a polícia suspeita que um amigo de 17 anos de Giana enviou a alguns colegas uma imagem da garota com os seios desnudos, capturada por webcam numa conversa entre eles, há seis meses.
As mortes de Giana e Júlia soam como tragédias repetidas. Casos
semelhantes se sucedem em outros países. Nos Estados Unidos, Jesse
Logan, de 18 anos, se suicidou, em 2008, depois que seu ex-namorado
divulgou fotos nuas feitas por ela. No ano seguinte, Hope Witsell, de
apenas 13 anos, tomou a mesma decisão quando fotos dela seminua foram
divulgadas em sua escola, e ela virou alvo de bullying. Com o acesso
quase universal a celulares e tablets, divulgar flagrantes de momentos
privados é uma questão de poucos – e irresistíveis – cliques. Fotos que
revelam o corpo e vídeos de momentos a dois são capturados por câmeras
cada vez mais poderosas e enviados ao parceiro ou pretendente, como
parte do jogo de sedução. Ou como prova de confiança. A prática, comum
entre adolescentes no mundo inteiro, ganhou até nome: “sexting”, um
neologismo formado pela mistura das palavras sexo e texting (o ato de
mandar mensagens de texto pelo celular).
As vitimas da internet
Um levantamento realizado pela ONG SaferNet Brasil, especializada em crimes cibernéticos, revelou que, neste ano, 34% dos jovens entre 16 e 23 anos já namoraram pelo menos uma vez pela rede usando ferramentas de produção de vídeo. O registro de cenas íntimas, seguido da divulgação nas redes sociais, tem causado sérias consequências para as vítimas, como o abandono da vida escolar, humilhações e, em situações mais extremas, o suicídio. O caso mais recente aconteceu na quinta-feira 14, em Veranópolis, no Rio Grande do Sul. Uma jovem de 16 anos se matou depois de descobrir que o ex-namorado teria espalhado imagens dela seminua nas redes sociais. De acordo com o delegado Marcelo dos Santos Ferrugem, responsável pelo caso, os culpados serão enquadrados no Estatuto da Criança e do Adolescente, que considera crime grave a divulgação de fotos e vídeos de crianças e jovens em situação de sexo explícito ou pornografia. No caso da menina de Veranópolis, o principal suspeito é um jovem que teve o nome gravado no chat utilizado para registrar as imagens.
VÍTIMAS
Com quatro dias de intervalo, adolescentes do Rio Grande do Sul (acima)
e do Piauí (abaixo) cometem suicídio para escapar das humilhações
sociais por terem vídeos íntimos vazados na internet. Abaixo,
Júlia deixa um recado no Twitter para sua mãe
Quatro dias antes da morte da adolescente gaúcha, outra garota
experimentou o mesmo drama. Em Parnaíba, no Piauí, Júlia Rebeca, de 17
anos, foi encontrada morta em seu quarto após ter um vídeo íntimo
publicado na internet. As imagens da menina tendo relações sexuais com
um garoto e outra adolescente vazaram nas redes sociais e foram
distribuídas por celulares. A polícia continua apurando o caso, mas como
a jovem foi encontrada pela tia com um fio de uma prancha alisadora
enrolado no pescoço, a principal hipótese é a de suicídio. Retraída nas
últimas semanas, Júlia escreveu uma mensagem de despedida em seu
Instagram e no Twitter: “É daqui a pouco que tudo acaba”. Para a
secretária-adjunta de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres,
Rosangela Maria Rigo, a divulgação de conteúdos íntimos pela internet é
um crime que equivale à violência doméstica. “Casais podem filmar a vida
íntima, o problema é quem tem o controle dessas imagens.”
Se antes a maior ameaça vinha de desconhecidos que invadiam os dispositivos móveis e espalhavam fotos íntimas, os casos mais recentes mostram que o risco agora vem do namorado ou do marido que, ressentido com o término do relacionamento, está disposto a tudo para se vingar. O fenômeno cresceu tanto que ganhou um nome, “pornovingança”. Aconteceu em 2006 com a paranaense Rose Leonel. Sete anos depois de ser exposta por um ex-namorado, ela ainda se lembra do sofrimento. “Ele pedia constantemente para fazermos fotos íntimas até que um dia eu aceitei, para agradá-lo.” Rose conta que eles chegaram a gravar CDs com imagens e vídeos. “Ele prometeu que guardaria tudo em um cofre.” Mais tarde, descobriu que o ex-namorado negociou a abertura de um site com fotos suas por R$ 1 mil. Rose terminou o relacionamento e a ameaça veio em seguida: “Ele disse que destruiria minha vida.”
A paranaense perdeu emprego, amigos e nunca mais saiu de casa
sozinha. Até que, em março deste ano, criou a ONG Marias da Internet,
para dar apoio psicológico e jurídico a mulheres que foram vítimas de
crimes cibernéticos. “Recebo denúncias frequentemente por telefone e
redes sociais e quero fazer alguma coisa para ajudar as pessoas a
enfrentar esse problema”, diz. Outro triste caso que ganhou notoriedade
no País foi a exposição de um vídeo íntimo de Francyelle dos Santos
Pires, de 19 anos, que vive em Goiânia. Mãe de uma menina de 2 anos, ela
teve de mudar a aparência e parar de trabalhar depois de ser massacrada
por mensagens na internet. “Não tenho mais vida, não consigo sair,
estudar nem trabalhar”, afirma. A suspeita é de que a divulgação tenha
sido feita por um ex, Sérgio Henrique de Almeida Alves, de 22 anos. Para
o presidente da ONG SaferNet Brasil, Thiago Tavares de Oliveira, a
legislação para punir os responsáveis por crimes virtuais ainda
engatinha no País. “O Brasil vive um vácuo no que diz respeito à
privacidade na rede.”
Duas propostas, no entanto, foram lançadas recentemente para diminuir a incidência desses crimes. Um projeto em tramitação no Congresso Nacional quer estender a Lei Maria da Penha para delitos virtuais. Ele prevê que qualquer divulgação de imagens, informações, vídeos ou áudios obtidos a partir de relações domésticas, sem o consentimento da mulher, passe a ser entendido como violação de intimidade. Em outubro, o deputado federal Romário (PSB-RJ) também apresentou um projeto de lei que criminaliza a publicação indevida de vídeos. “O criminoso se aproveita da vulnerabilidade gerada pela confiança da pessoa”, diz ele. Para Tamara Biolo Soares, diretora de Direitos Humanos e Cidadania de Justiça da Secretaria de Justiça do Rio Grande do Sul, a sociedade pode ajudar, desautorizando a prática. “As pessoas não podem naturalizar e compartilhar crimes como esses.”
As vitimas da internet
Um levantamento realizado pela ONG SaferNet Brasil, especializada em crimes cibernéticos, revelou que, neste ano, 34% dos jovens entre 16 e 23 anos já namoraram pelo menos uma vez pela rede usando ferramentas de produção de vídeo. O registro de cenas íntimas, seguido da divulgação nas redes sociais, tem causado sérias consequências para as vítimas, como o abandono da vida escolar, humilhações e, em situações mais extremas, o suicídio. O caso mais recente aconteceu na quinta-feira 14, em Veranópolis, no Rio Grande do Sul. Uma jovem de 16 anos se matou depois de descobrir que o ex-namorado teria espalhado imagens dela seminua nas redes sociais. De acordo com o delegado Marcelo dos Santos Ferrugem, responsável pelo caso, os culpados serão enquadrados no Estatuto da Criança e do Adolescente, que considera crime grave a divulgação de fotos e vídeos de crianças e jovens em situação de sexo explícito ou pornografia. No caso da menina de Veranópolis, o principal suspeito é um jovem que teve o nome gravado no chat utilizado para registrar as imagens.
VÍTIMAS
Com quatro dias de intervalo, adolescentes do Rio Grande do Sul (acima)
e do Piauí (abaixo) cometem suicídio para escapar das humilhações
sociais por terem vídeos íntimos vazados na internet. Abaixo,
Júlia deixa um recado no Twitter para sua mãe
Se antes a maior ameaça vinha de desconhecidos que invadiam os dispositivos móveis e espalhavam fotos íntimas, os casos mais recentes mostram que o risco agora vem do namorado ou do marido que, ressentido com o término do relacionamento, está disposto a tudo para se vingar. O fenômeno cresceu tanto que ganhou um nome, “pornovingança”. Aconteceu em 2006 com a paranaense Rose Leonel. Sete anos depois de ser exposta por um ex-namorado, ela ainda se lembra do sofrimento. “Ele pedia constantemente para fazermos fotos íntimas até que um dia eu aceitei, para agradá-lo.” Rose conta que eles chegaram a gravar CDs com imagens e vídeos. “Ele prometeu que guardaria tudo em um cofre.” Mais tarde, descobriu que o ex-namorado negociou a abertura de um site com fotos suas por R$ 1 mil. Rose terminou o relacionamento e a ameaça veio em seguida: “Ele disse que destruiria minha vida.”
Duas propostas, no entanto, foram lançadas recentemente para diminuir a incidência desses crimes. Um projeto em tramitação no Congresso Nacional quer estender a Lei Maria da Penha para delitos virtuais. Ele prevê que qualquer divulgação de imagens, informações, vídeos ou áudios obtidos a partir de relações domésticas, sem o consentimento da mulher, passe a ser entendido como violação de intimidade. Em outubro, o deputado federal Romário (PSB-RJ) também apresentou um projeto de lei que criminaliza a publicação indevida de vídeos. “O criminoso se aproveita da vulnerabilidade gerada pela confiança da pessoa”, diz ele. Para Tamara Biolo Soares, diretora de Direitos Humanos e Cidadania de Justiça da Secretaria de Justiça do Rio Grande do Sul, a sociedade pode ajudar, desautorizando a prática. “As pessoas não podem naturalizar e compartilhar crimes como esses.”
fonte-http://epoca.globo.com/vida/noticia/2013/11/sexo-bchantagem-e-internetb.html
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