Você achou que esse momento nunca ia chegar. Muito menos fazer parte da sua vida e povoar a sua casa. Mas não adianta negar ou maquiar a realidade: é preciso entender, respeitar. E aceitar. Não, não estamos falando da mobilização que a legalização do casamento homossexual nos Estados Unidos causou – e coloriu as redes sociais. Aqui, estamos falando de uma tendência que vai afetar diretamente a sua vida – e o seu bolso.
O lançamento do Volkswagen Up TSI escancara uma coisa: o turbo e o downsizingjá estão entre nós, na base da pirâmide social dos carros. E não chegaram só para fazer você ir mais rápido. A feitiçaria tecnológica também faz você ir mais longe. Você, machão que acha que nada substitui a força bruta – e o tamanho – deve ler esta reportagem. E rever seus conceitos.
QUESTÃO DE CONCEITO
Nosso papel aqui é fazer você deixar o preconceito e ter a mente aberta para entender o outro lado. Começamos com o coração: a pequena joia que é o motor do Up TSI (confira mais detalhes virando a página). Apesar de fazer parte da mesma família EA211 do 1.0 aspirado, que está no próprio Up e no Fox, é um conjunto quase inteiramente novo. “Não é só um motor com turbo acoplado. É um conceito totalmente diferente”, diz Roger Guilherme, gerente de Powertrain da VW.
Se as suas referências de motor sobrealimentado de pequena cilindrada são os 1.0 turbo do Gol e da Parati e o 1.0 Supercharged de Ford EcoSport e Fiesta, ambos do início dos anos 2000, pode esquecer. Enquanto esses dois eram mais uma adaptação para se valer de uma redução de imposto, o TSI foi feito desde o princípio com a sobrealimentação em foco. Mas o pulo do gato aqui não é só o compressor. E sim a injeção direta, inexistente nos VW e Ford de 15 anos atrás.
Com ela, o combustível é introduzido diretamente no cilindro, de forma mais precisa e pressurizada. Assim, sobra mais espaço para o ar (que também está sob compressão) e, por consequência, a explosão é mais eficiente e o carro tem mais força. O problema é que, para isso tudo funcionar sem sofrer com a pancada extra, foi preciso reforçar os periféricos do motor.
MOSCA NA TURBINA
O projeto do 1.0 TSI é complexo: bielas, pistões, velas, virabrequim, mancais, volante do motor, cabeçote, válvulas de admissão e escape, filtro de ar e até os pontos de fixação do bloco são novos em relação ao 1.0 aspirado. Há ainda comando variável duplo (contra só na admissão) e triplo circuito de arrefecimento (duplo, no aspirado), além de discos de freio e embreagem maiores e amortecedores mais rígidos.
Mas quem ganha todas as manchetes é o diminuto turbo BorgWarner. Com carcaça de alumínio e componentes internos forjados com superliga de níquel/cromo ele é feito para durar 800 mil km. O rotor da turbina tem apenas 33 mm e o de compressão, 37 mm. E gira até 289 mil rpm! Para ilustrar: se uma mosca pousasse na ponta de uma das pás em giro máximo, estaria voando a 2 mil km/h. A pressão é de 0,9 bar.
Para reduzir o turbo lag, o intercooler é integrado ao coletor de admissão, diminuindo o percurso do ar antes da admissão – mesma solução usada pelo 1.4 TSI do Golf. A válvula de alívio, por sua vez, tem acionamento elétrico, que pode variar a abertura independentemente da pressão do turbo, também minimizando o turbo lag. Não há aquele o espirro característico pela presença de ressonadores instalados junto ao filtro de ar. No final, o sopro de alegria dá fôlego para o 1.0 atingir 105 cv e 16,8 mkgf de torque.
FILHOTE DE CACHORRO
O Up tem pouco e, ao mesmo tempo, muito a ver com a sua referência anterior de carro turbo. Se você se aproximar pela frente e não reparar nos 40 mm extras que o para-choque ganhou para abrigar o radiador auxiliar, nem vai se ligar que esse é não é um Up comum. E se for um cara desligado, não vai perceber nem quando girar a chave. O 1.0 roda limpo e suave. Nada de batida de pino ou a impressão de que aquele negócio vai quebrar em 500 metros.
O que o Up TSI faz diferente, no entanto, é nos excitar como há muito tempo não víamos em um carrinho deste tamanho. Engate a primeira no já conhecido – e muito elogiado – câmbio de cinco marchas e acelere até 2.000 rpm. Continue de pé embaixo e perceba um sorriso de cafajeste aparecer no canto de sua boca. O TSI arranca com disposição e, principalmente, conectado a você. É como um filhote de cachorro que quer transar com qualquer coisa que se mova.
OLHE O CONSUMO. E CHORE!
Nós gostamos de carros refinados, como os Golf e os Focus. Mas há muita alegria em guiar um hatch pequeno no qual você se sente parte da experiência. O Up te faz feliz. E o TSI te leva adiante. O 0 a 100 km/h acontece em 9,7 s, mesmo tempo do Mercedes-Benz CLA 200 e 4,9 s (um terço!) a menos que no Up aspirado. As retomadas são outra surpresa. A de 100 a 120 km/h em 5ª (situação de ultrapassagem em que carros 1.0 sofrem) ocorreu em 6,7 s – um Fox 1.6, de 120 cv, demora 9,1 s para fazer a mesma coisa.
Sim, você pode ir mais rápido sem gastar tanto mais (um Punto T-Jet parte de R$ 60 mil). Mas pouca coisa nessa faixa de preço faz você se sentir tão dentro da experiência. E se isso não for o suficiente, observe os dados de consumo e chore. Com etanol, conseguimos 16,1 km/l na estrada e 12,9 km/l na cidade. Olhando pelo lado da esportividade, do consumo ou da confiabilidade, a conclusão é a mesma: o futuro chegou para todos. E não há porque temer isso.
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