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Desemprego, fundo do poço é ainda mais embaixo, diz economista da Fipe

São Paulo - O ano começou amargo para o mercado de trabalho brasileiro - e, ao que tudo indica, a situação ainda não chegou ao seu ponto mais crítico.
É o que sugere a mais recente edição do índice Catho-Fipe de Novas Vagas de Emprego, calculado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) a partir do número de oportunidades anunciadas no site de empregos Catho.
O relatório quantifica um impacto da crise já sentido por muitos profissionais brasileiros no início de 2016: a quantidade de vagas de emprego geradas em janeiro deste ano foi 11,4% menor do que a registrada no primeiro mês de 2015.
O tombo não é isolado. Janeiro foi o 19º mês seguido em que o índice mostrou queda na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Nunca houve um período de declínio tão prolongado quanto o atual em toda a série histórica do estudo, que teve início em 2004.
A queda também ocorreu na passagem do ano. Segundo o relatório, o número de oportunidades abertas em janeiro de 2016 foi 2,7% mais baixo do que o registrado em dezembro de 2015.
Para o economista Raone Costa, pesquisador sênior da Fipe, uma guinada em direção à melhora da empregabilidade ainda está longe de acontecer.
Responsável pela elaboração dos indicadores Catho-Fipe, ele falou com exclusividade a EXAME.com sobre o estado atual do mercado de trabalho brasileiro, as consequências mais imediatas da crise para o profissional brasileiro e perspectivas para o futuro.
Veja a seguir os principais trechos da conversa: 
EXAME.com - O mercado de trabalho piorou consistentemente em 2015. Segundo o índice Catho-Fipe, o ano terminou com queda acumulada de 30,7% no número de vagas em relação a 2014 - o maior declínio desde 2009. Por que 2015 foi um ano tão ruim para o profissional brasileiro?
Raone Costa - O crescimento da economia brasileira já está num patamar fraco há bastante tempo. Desde meados de 2011 podemos dizer que nosso PIB vem decepcionando regularmente, ainda que o país só tenha entrado em recessão oficialmente no meio de 2014. A situação atual do mercado de trabalho é consequência direta disso.
O que surpreende é que esse movimento tenha demorado tanto para acontecer. Em meados de 2013, por exemplo, quando nossa economia já crescia menos de 1% ao ano, o mercado de trabalho ainda continuava bom para o profissional brasileiro.


EXAME.com - Por que o mercado de trabalho demorou mais para se deteriorar?
Raone Costa - A intensa crise que estamos vivendo hoje é decorrente da própria vitalidade do mercado de trabalho de alguns anos atrás. Há pouco tempo, a situação era muito diferente da atual: nossa taxa de câmbio orbitava entre 1,5 e 2 reais por dólar, a taxa de desemprego batia mínimos históricos e os dissídios vinham em sua esmagadora maioria acima da inflação. Esse quadro evidentemente pressionava o custo trabalhista para as empresas.
Inicialmente isso era um problema apenas da indústria brasileira, que sofria com a onda de importações chinesas. Os demais setores simplesmente repassavam esse aumento de custo para seus preços. Acontece que esse processo foi se intensificando, e assim a indústria começou sua onda de demissões.
A partir daí outros setores, antes “ilhados” do problema da competitividade internacional brasileira, começaram a ter dificuldades para repassar o aumento de custo para os seus preços, já que os trabalhadores demitidos das indústrias perderam poder aquisitivo. Esse processo levou muito tempo para acontecer, e os demais setores da economia só começaram a sentir a crise com mais força a partir do final de 2014. O efeito sobre o mercado de trabalho finalmente se tornou inevitável em 2015.


EXAME.com - Em janeiro de 2016, o Índice Catho-Fipe de Novas Vagas de Emprego teve queda de 2,7% em relação a dezembro de 2015. Como você avalia esse resultado para o início do ano?

Raone Costa - 
O resultado mostra que o mercado de trabalho segue em ritmo de declínio em 2016. Janeiro é tipicamente um mês em que há aumento na geração de vagas na economia, comparado ao mês anterior. Isso acontece porque dezembro é um mês sazonalmente muito fraco em termos de contratações.

Em média, o índice mostra um aumento de 3,2% na passagem entre dezembro e janeiro, o que revela como essa queda de 2,7% na virada de 2015 para 2016 de fato é bem ruim. Nem mesmo na passagem de 2014 para 2015, quando a economia já estava fortemente em recessão, tivemos queda entre dezembro e janeiro. Na época, o índice subiu 3,5%.


EXAME.com - Já chegamos ao “fundo do poço” do mercado de trabalho ou a situação ainda pode piorar?

Raone Costa - 
Infelizmente acredito que ainda não chegamos ao fundo do poço. Nossos dados mais recentes não mostram nenhum indício de estabilização no mercado de trabalho: o ritmo de vagas geradas continua caindo e a quantidade de vagas por trabalhadores também. Dessa forma, creio que 2016 deve ser outro ano desafiador para o profissional brasileiro.

O outro lado da moeda é que o mercado de trabalho está ficando cada vez melhor para o empresariado brasileiro. Se antes era difícil encontrar mão de obra qualificada a um preço justo para a maior parte das profissões, hoje com certeza a situação é outra.

É claro que a situação ainda é crítica para as empresas. Se até pouco tempo atrás o problema eram os custos trabalhistas elevados, o desafio agora é a falta de demanda interna por produtos e serviços, já que a crise faz com que pessoas comprem menos.
Mas essa distinção é importante, porque significa que, quando esta crise passar, as empresas se verão em um cenário muito positivo, com receitas subindo e custos controlados. Nesse ambiente, certamente podemos pensar que elas voltarão a contratar, melhorando o cenário para o profissional brasileiro. Infelizmente, porém, tudo indica que ainda estamos distantes desse ponto.


EXAME.com - Quais são as consequências mais imediatas desse cenário para o profissional brasileiro?

Raone Costa -
 O principal efeito é o aumento do “valor” do emprego. Hoje, encontrar uma oportunidade de trabalho é algo mais raro do que no passado. Essa mudança vale para todos, tanto para candidatos maduros quanto para jovens em busca do primeiro emprego.

As empresas brasileiras estão lutando para sobreviver em meio à crise atual, e dessa maneira estão tentando cortar custos onde podem. Com isso, o poder de barganha na disputa salarial está hoje nas mãos do empregador, o que leva alguns profissionais a aceitar salários menores do que gostariam.

Os empregadores também estão trocando profissionais mais caros e experientes por outros mais baratos e menos experientes. Nos casos em que o grau de experiência do funcionário de fato não é tão importante, isso pode ser bom para a empresa. Embora esse movimento seja obviamente ruim para o profissional, novamente vale a pena ver os dois lados da moeda. Quando há muitas empresas fazendo isso, o país que sairá desta crise pode ser mais produtivo.


EXAME.com - É possível fazer alguma previsão sobre quando o mercado de trabalho no Brasil vai melhorar? De que fatores depende essa melhora?

Raone Costa - 
A própria crise atual carrega em si a semente da sua melhora: se por um lado o mercado de trabalho está piorando para os profissionais, por outro, ele está ficando melhor para os empresários. Com isso, vai chegar um momento em que produzir no Brasil voltará a ser atrativo, em termos internacionais. A partir daí nosso mercado de trabalho deve voltar a se aquecer - melhorando, portanto, para os trabalhadores, e piorando para os empresários.
Ainda não chegamos a esse ponto, como temos verificado pelos últimos indicadores Catho-Fipe. Prever quando atingiremos esse cenário é uma tarefa muito difícil. O máximo que se pode dizer com segurança é que, aparentemente, o estado do mercado de trabalho não mudará significativamente no futuro próximo.

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