Graças à cooperação com os Estados Unidos e à nova Lei Antiterrorismo, autoridades brasileiras conseguem prender um grupo que planejava atentados na Olimpíada
Há cerca de um mês, o presidente interino, Michel Temer, se reúne todas as manhãs com o general Sérgio Etchegoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Só com ele. Sem nenhum outro ministro ou assessor na sala, Etchegoyen apresenta a Temer um detalhado relatório diário das informações trocadas entre a Agência Brasileira de Inteligência, as Forças Armadas e a Polícia Federal, com órgãos de inteligência internacionais, sobre asegurança da Olimpíada no Rio de Janeiro. Etchegoyen se tornou, para Temer, uma espécie de czar antiterrorismo do Brasil. Há cerca de dez dias, informou o presidente que um grupo começava a preparar atos terroristas na competição. “A inteligência [informação] é dos americanos”, explicou Etchegoyen. Na semana passada, Temer foi avisado de que os pedidos de prisão e de buscas seriam encaminhados à Justiça. No começo da noite da quarta-feira (13), o presidente foi informado de que a PF localizara os suspeitos e os prenderia na sexta-feira cedo. Temer deixou o Planalto mais tarde que o habitual, após as 22 horas, e logo depois, já no Palácio do Jaburu, foi alertado de que a PF precisaria ir às ruas antes, já na quinta-feira. Chamou Etchegoyen, o ministro da Justiça,Alexandre de Moraes, e o diretor-geral da PF, Leandro Daiello. Ficou combinado que anunciariam no fim da manhã – com sobriedade – aprimeira operação antiterrorismo do país.
Logo cedo, 130 policiais federais, parte deles do Comando de Operações Táticas, começaram a cumprir 12 mandados de prisão, dois de condução coercitiva e 20 de busca e apreensão em dez estados para desarticular o grupo “Defensores da Sharia” (série de princípios religiosos e de costumes expressos nos textos sagrados muçulmanos), suspeito de manter contatos com o Estado Islâmico e planejar atentados. Começava a Operação Hashtag, comandada pela até pouco tempo obscura Divisão Antiterrorismo da PF.
As investigações começaram após avisos do FBI, o Federal Bureau of Investigation, às agências de inteligência do Brasil, em especial a Abin, sobre a movimentação de jovens suspeitos na internet. Os presos figuram entre os cerca de 50 alvos vigiados pela inteligência brasileira, com o auxílio de agências internacionais. Eles nunca tinham se encontrado pessoalmente – apenas quatro já tinham se reunido ao vivo. O grupo de jovens presos não tinha um líder que os orientava, mas os dois principais membros da página do Facebook, que mais geravam engajamento dos demais, eram Leonid El Kadre e Allisson Luan de Oliveira. A Polícia Federal vigiou mensagens que o grupo trocava entre si por meio de aplicativos de celular, como WhatsApp e Telegram, e com o Estado Islâmico, pelas redes sociais Facebook e Twitter. Desde 10 de maio, com ajuda do Facebook, a polícia monitorava mensagens trocadas pelo grupo em um ambiente fechado. Oziris Moris Lundi dos Santos, que se autodenominava Ali Lundi, escreveu: “Fugir da jihad não salvará ninguém da morte. Você morrerá ou como um covarde, ou como um mártir”. O monitoramento começou em abril e seguia o roteiro de outras investigações: análise de riscos e validação das informações trocadas no grupo para discernir o que era apenas bravata e o que poderia ser, de fato, uma ameaça. O perfil dos alvos encaixava-se no grupo que é hoje considerado o de maior risco: jovens recém-convertidos ao islamismo, de todo o país, que se frustraram com o tom pacifista das mesquitas brasileiras e partiram para a internet em busca do radicalismo do Estado Islâmico. As mensagens eram agressivas, comemoravam os atentados terroristas em Orlando, nos Estados Unidos, e na França.
fonte: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/07/o-terrorista-tecla-ao-lado.html
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