O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o mundo não está pensado de forma globalizada e esse é o maior problema da política mundial atual, em uma entrevista feita para um documentário português e publicada no jornal "Publico" nesta quinta-feira.
"Obama pensa nos americanos, Merkel nos alemães, cada um no seu mandato. O mundo não está pensado de forma globalizada", disse o presidente.
Como exemplo, citou a atuação do FMI (Fundo Monetário Internacional) na solução da crise financeira internacional. "O FMI é muito bom quando a crise é na Bolívia, mas quando a crise é nos Estados Unidos, o FMI não vale nada".
Lula afirmou que a situação econômica dos países europeus se deve ao que chama de "ausência de liderança no mundo". "Essa crise já acontece há anos e as pessoas a aceitaram como se fossem culpadas. Pobre do povo grego. Pagando para quem? Para os bancos franceses, para os bancos alemães".
Ainda sobre a crise na Europa, o ex-presidente disse que a União Europeia é um patrimônio da humanidade e não pode ser destruída.
"Os países europeus ficaram muito dependentes da Alemanha, mas se teve grande importância na unificação da Europa, também foi a grande ganhadora [desse mercado] porque 70% das suas exportações são para a Europa."
Ele ainda aponta que os países europeus poderiam ter resolvido a crise grega "com poucos bilhões" e afirmou ser preciso manter a responsabilidade do bloco europeu.
"Conheci Portugal nos anos 80, a Espanha nos anos 80, e vi a evolução extraordinária. Foi dinheiro transformado em património de um povo. Não pode acabar de um momento para o outro."
POLÍTICA
Durante a entrevista, Lula voltou a falar sobre seu projeto político para a América Latina e a África e seu desejo para a mudança do papel das regiões emergentes. "Temos que trabalhar para interferir na política mundial. Não é possível que o século XXI não seja o século do continente africano e da América Latina".
Nesse sentido, o ex-presidente criticou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por não ter chamado o Brasil para a reunião do G-8. "Se hoje o mundo não vê o Brasil como uma republiqueta das bananas, porque o Obama fez a reunião do G-8 e não chamou o Brasil?".
As críticas aos americanos ainda foram feitas em relação à desvalorização do dólar, quando comentou sobre o papel da China na economia global.
"A China tem um papel importante, só não pode é viver uma crise. Tal como os Estados Unidos têm um papel importante, só não podem é achar que fazem com o dólar o que querem. O mundo fica à disposição do tesouro americano. Não é justo que a gente dependa do dólar."
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