Era para ser um prédio de escritórios moderno como nunca houvera na Venezuela – um orgulho cosmopolita para um país machucado por décadas do pior tipo de populismo provinciano. Teria duas torres envidraçadas de 45 andares, um heliponto e vista para as exuberantes montanhas do Parque Nacional Él Avila, no centro de Caracas. Em 1993, David Brillembourg, um empresário que fez fortuna explorando petróleo, idealizou o projeto como um centro comercial e financeiro, o primeiro da capital da Venezuela. A torre, originalmente batizada de Confinanzas Financial Center, foi abandonada com apenas 60% do prédio concluído em 1994. Havia apenas um enorme esqueleto de concreto. Naquele ano, Brillembourg morreu, e o setor bancário da Venezuela passou por uma forte retração.
O presidente Hugo Chávez chegou ao poder em 1999. Em 2007, quando a economia da Venezuela dava os primeiros sinais da ruína que logo viria a se instalar no país, centenas de sem-teto invadiram o prédio. Não havia elevadores. Para subir os primeiros dez andares, que foram projetados como um estacionamento, os moradores passaram a usar mototáxi. Dali para cima, só mesmo com as pernas. Os últimos andares não têm sequer paredes externas. O edifício tem padaria, cabeleireiro, açougue, bar e uma igreja. Água e energia elétrica chegam por meio de gambiarras. O fotógrafo Jorge Silva, da agência Reuters, passou semanas no local em 2014 para retratar a vida de seus moradores. A Torre de David, como ficou conhecida, tornou-se a maior favela vertical do mundo. Pode ser vista de qualquer ponto de Caracas. Em uma cidade falida e violenta, a Torre de David projeta a longa sombra da falência do Estado venezuelano depois de 16 anos de chavismo.
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